As emoções influenciam a saúde mais do que
você imagina
Não é raro associarmos
que situações que envolvem estresse provocam cansaço, irritação e podem até
elevar a pressão arterial por alguns momentos. A relação entre problemas de
saúde físicos e emocionais não é bem uma novidade. Entretanto, pouco se sabe sobre
como as emoções influenciam a saúde. Muitas pessoas ainda conservam uma lógica
de separação entre corpo e mente, sem considerar um contexto holístico ou até
mesmo as conexões entre processos tão dinâmicos e complexos que ocorrem no
organismo.
Os sintomas físicos ou
emocionais constituem um aviso do corpo de que algo não anda tão bem como
deveria. Pode aparecer na forma de uma irritação devido a uma alteração
hormonal ou uma dor de barriga desencadeada por estresse, preocupação ou
ansiedade. “Quando não damos vazão às nossas questões internas, o nosso corpo
grita por ajuda. Então, o sintoma é um pedido de socorro“, explica Gabriela
Hostalácio, psicóloga e psicanalista.
Ela destaca que um
corpo físico doente se torna incapaz de proporcionar uma vida equilibrada. Isso
porque, segundo a especialista, “o emocional é nossa ferramenta mais potente, e
é a única capaz de nos proporcionar saúde e bem-estar.”
Assim, o
autoconhecimento e a reflexão sobre processos internos são essenciais durante
um diagnóstico e acompanhamento médico. Nesse sentido, é fundamental que o
profissional de saúde também esteja atento à compreender as questões emocionais
e psicológicas do paciente. “É importante que eu me comunique abertamente com
meus pacientes para entender suas preocupações, emoções e estresse. Assim, eu
reconheço que esses aspectos podem ter um impacto direto na saúde da pele”,
explica a dermatologia Dra. Lyvia Salem.
• Visão holística do corpo humano
Ao longo do
desenvolvimento médico e científico, os cuidados e tratamentos relacionados a
doenças e problemas de saúde passaram a ser vistos com maior foco. Ou seja, a
medicina convencional costuma tratar essas questões para encontrar uma visão
resolutiva do problema local. No entanto, em alguns casos, isso pode ser
desencadeado por outros fatores.
“Muitas vezes
conseguimos sanar aquilo que estava nos incomodando, o que reforça a crença da
facilidade”, explica Gabriela Hostalício. “O problema é que o sintoma ou aquela
parte doente volta, algumas vezes da mesma forma, outras vezes com
manifestações diferentes”, acrescenta a psicanalista. No ritmo intenso da vida,
esquecemos que o corpo é formado por essa complexa rede física e emocional.
Por outro lado, os
conhecimentos científicos já apontavam para essa relação a partir de estudos e
pesquisas acadêmicas. Para Camila Ferraz, nutricionista e psicanalista, a
ciência já percebeu que há uma intrínseca relação entre o estresse e alterações
no corpo.
A especialista explica
que, de forma recorrente, o estresse provoca uma alteração na produção de
citocinas – proteínas que modulam a função de outras células -, o que pode
influenciar o sistema imunológico e levar a um quadro de inflamação crônica.
“Então, a gente vai
ter uma alteração de dopamina, o paciente vai se sentir mais cansado, mais
desanimado, sem motivação”, justifica. A nutricionista destaca ainda que quando
há uma alteração na produção de insulina, o paciente pode ter cada vez mais fome,
não só pela questão emocional da busca do prazer imediato, mas devido a essa
desregulação.
• Sinais e sintomas ligados às emoções
Os sintomas físicos
que indicam uma alteração emocional no organismo – ou vice-versa – possuem uma
profunda relação entre si. Gabriela Hostalácio explica, por exemplo, que a
própria recorrência de uma doença ou alteração no corpo pode indicar que a
causa precisa ser melhor investigada.
No livro Pele
psicossomática, psicanálise (Sarvier), organizado por Gabriela e outros
autores, há capítulos e debates importantes sobre o olhar do profissional de
saúde sobre o tema. Os relatos destacam uma profunda relação entre as doenças
de pele e o impacto ou influências psicológicas que elas passam a sofrer.
Ainda assim, neste
momento, é importante que o profissional esteja focado em compreender essas
dinâmicas e não busque culpabilizar o paciente. “Entender que a somatização não
é intencional ajuda o médico e o paciente a trabalhar aspectos velados e mais profundos
daquele sintoma, facilitando o caminho para a cura e bem-estar daquele que
sofre”, destaca Gabriela.
Além disso, a médica
dermatologista Lyvia Salem destaca que é importante encorajar os pacientes para
práticas que envolvam autocuidado e hábitos saudáveis para o corpo, “não apenas
para cuidar da pele externamente, mas também para promover o bem-estar emocional“,
complementa. Ela lembra ainda que não basta uma “receita de bolo”, mas
orientações realistas que estejam adequadas à realidade socioeconômica e
comportamental do paciente.
Segundo a
dermatologista, é fundamental que exista um fomento à empatia clínica dentro do
consultório. Isso permite que o paciente se sinta confortável e tenha suas
questões emocionais respeitadas. “Ao demonstrar empatia, o paciente se sentirá
mais à vontade para compartilhar suas emoções e compreender melhor a relação
entre seu estado emocional e sua saúde física”, destaca Lyvia Salem.
• Como observar a influência das emoções
na saúde?
Abordar as questões
físicas e ligadas às emoções a partir de uma visão ampla e dinâmica do fenômeno
possibilita com que tenhamos, cada vez mais, um crescimento na divulgação de
conhecimentos e informações. Gabriela Hostalício destaca que é importante:
1. Fornecer conteúdos com responsabilidade
sobre o tema;
2. Os profissionais de saúde precisam
compreender que o protagonista é o paciente;
3. O paciente deve entender que ele é parte
do tratamento.
Na visão de Camila
Ferraz, isso pode ser visualizado a partir de seus próprios atendimentos com os
pacientes. Em um dos casos, o uso de medicamentos se tornou ineficaz no combate
à insônia e ao longo das investigações foi possível identificar uma relação
comportamental. As preocupações sociais e as demandas do trabalho haviam
influenciado a qualidade do sono do paciente e, em certa medida, tornado
ineficaz o efeito do medicamento.
“Quando ele se sentiu
confortável com essa situação, o sono foi melhorando. Com o tempo a medição foi
substituída por fitoterápicos, até que não precisasse de mais nenhum dos dois”,
destaca Camila. Nesse sentido, não se pode descartar a relevância dos conhecimentos
sobre o corpo físico, mas é importante relacioná-los com fatores psicológicos –
como as emoções -, sociais e culturais em que o paciente está inserido.
Fonte: Vida Simples
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