Aliados atribuem reprovação popular a falas
de Lula e sugerem evitar Bolsonaro e polêmicas
Aliados de Lula (PT)
apontam nos bastidores que as oscilações desfavoráveis ao governo na nova
pesquisa Datafolha se devem a declarações do presidente, em particular ao
enfrentamento com Jair Bolsonaro (PL) e a comentários sobre temas polêmicos,
como Gaza e Venezuela.
Oficialmente, no
entanto, a gestão Lula minimiza os resultados do levantamento divulgado nesta
quinta-feira (21). Para eles, medidas econômicas e a entrada em vigor de novas
políticas vão contribuir para a reversão do quadro.
A pesquisa aponta que
Lula vê sua aprovação empatar tecnicamente com a rejeição a seu governo. Ele
tem 35% de ótimo/bom, 33% de ruim/péssimo e 30% de regular (no levantamento
anterior, esses índices eram de 38%, 30% e 30%, respectivamente).
O Datafolha fez nesta
terça (19) e quarta-feira (20) 2.002 entrevistas com eleitores de 147 cidades.
A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
O ministro da Secom
(Secretaria de Comunicação Social da Presidência), Paulo Pimenta, diz não ver
grande oscilação na pesquisa, por estar dentro da margem de erro. Por isso,
evitou nomear fatores que tenham contribuído para a variação.
"Não tem nenhuma
grande oscilação nas pesquisas desde início do ano passado. Temos um país
polarizado, e essa polarização se mantém. Na medida em que as políticas
públicas cheguem para a população, esse porcentual de regular vai se
transformar em bom ou ótimo", afirma.
O chefe da comunicação
no governo cita como medidas que deverão ter impacto em breve o Escola em Tempo
Integral, que terá 1 milhão de matrículas em março, o programa Pé de Meia, que
começa os pagamentos na próxima terça-feira (26), e a assinatura neste semestre
dos contratos do Minha Casa Minha Vida.
Reservadamente,
interlocutores do chefe do Executivo dizem que as falas de improviso e impulsos
do presidente têm sido o maior obstáculo de Lula nas pesquisas de opinião do
seu governo.
As opiniões críticas
ao mandatário, contudo, não chegam a ele desta forma. De maneira mais
calibrada, esses aliados buscam explicar que entrar em temas controversos pode
acabar afastando ainda mais o eleitorado de centro.
Hoje, aliados dizem
buscar isolar Bolsonaro e dialogar com quem está no centro. A dificuldade é que
o chefe do Executivo mantém as críticas ao seu antecessor, buscando antagonizar
com ele, e assim mantendo o rival nos holofotes.
Citam como exemplo a
fala do petista em que comparou as ações de Israel na Faixa de Gaza às de Adolf
Hitler. A declaração foi repudiada por igrejas evangélicas, e bolsonaristas
surfaram. Sugerem também um distanciamento do ditador venezuelano Nicolás Maduro.
Um ministro fora do
núcleo político mantém a mesma posição, apontando que o governo deve focar em
um trabalho resiliente e redução da temperatura em assuntos que descreve como
laterais.
Há uma ala de petistas
mais à esquerda, contudo, defende um enfrentamento mais amplo ao bolsonarismo.
Segundo eles, não caberia apenas a Lula, como também seus ministros,
criticá-lo.
Aliados de Lula
atribuem a verborragia sincera dele a uma dificuldade de compreensão do impacto
das redes sociais na comunicação.
Um auxiliar palaciano
afirma: nos governos 1 e 2, o que ele falava demorava para chegar às pessoas e
a repercussão era bem menor. Agora, circula rapidamente em vídeos curtos e
acaba sendo amplamente utilizado por adversários.
Outro ponto de
preocupação do presidente e que, segundo auxiliares, tem impacto nas pesquisas
é o preço dos alimentos. Para isso, Lula convocou reunião de emergência no
Planalto na semana passada.
O discurso da busca
por "melhorar a vida das pessoas", com ganhos no emprego, na renda e
na qualidade de vida, tem sido a tônica do terceiro mandato do petista, mas os
apelos ganharam novos contornos diante da avaliação de que resultados positivos
em indicadores econômicos, como o PIB no ano passado, ainda não se reverteram
em maior otimismo entre parte dos brasileiros.
Outro ponto de crítica
é a comunicação do governo como um todo. Por isso Lula pediu na reunião
ministerial, na segunda-feira (18), que os ministros saiam em defesa da gestão
e divulguem as ações com mais eficácia, não apenas aquelas das pastas que
comandam.
Nesta quinta-feira
(21), em discurso para jovens no lançamento do Plano Juventude Negra Viva, em
Ceilândia, ele cobrou publicamente todos os ministros presentes, pedindo que as
ações estejam em seus discursos e que eles viajem pelo país.
Passou então a ser
cogitado uma espécie de governo itinerante, com mais ministros acompanhando
Lula durante as viagens aos estados.
Outro foco para a
melhoria da imagem do governo são discursos voltados para as mulheres,
relembrando nas falas a luta pela equiparação salarial com os homens, mas
evitando temas mais controversos como aborto.
Parlamentares de
oposição, por sua vez, dizem que a queda de popularidade de Lula é natural
devido a falhas do governo.
"É natural que
caia, a gente está vendo que governo está sem rumo. A economia está mal, a
segurança, um desastre, e Lula está falando bobagem o tempo todo", diz o
deputado Alberto Fraga (PL-DF).
Integrante da bancada
da bala, ele afirma que a gestão petista não apresentou nenhum projeto
estruturado para reduzir a violência.
"Não apresentou
nenhuma política que viesse a combater traficantes, o crime organizado",
afirma.
O deputado Evair de
Melo (PP-ES), vice-líder no governo de Bolsonaro, diz que "Lula está
colhendo o que plantou". "Quem planta vento colhe tempestade. Mentiu
além da conta, bravata demais e pouco entrega. A economia derretendo. Para quem
ainda tinha, acabou a boa vontade", afirma.
Ø Aprovação e reprovação do governo Lula empatam, diz Datafolha
As taxas de aprovação
e de reprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a
patamares de empate técnico em março, apontou pesquisa Datafolha divulgada
nesta quinta-feira, seguindo a linha de sondagens mais recentes que captaram
movimentos de piora na avaliação da gestão petista.
Segundo o instituto,
35% dos entrevistados aprovam o governo Lula, enquanto em dezembro, o grupo
correspondia por 38%, indicando uma oscilação negativa dentro da margem de erro
de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A reprovação ao
governo passou a 33% em março, ante 30% em dezembro, variação também dentro da
margem.
Os que avaliaram o
governo como regular somam 30%, mesmo patamar verificado em dezembro.
O cenário com
tendência negativa já havia sido captado por outras pesquisas recentes, levando
o presidente a convocar uma reunião ministerial para pedir que seus ministros
trabalhem para fazer com que população perceba os resultados das ações do
governo.
Realizada entre a
terça e a quarta-feira desta semana com 2.002 entrevistados, a sondagem pode
ter sintonizado o rescaldo de eventos controversos para o governo: a polêmica
criada com Israel quando Lula acusou, em 18 de fevereiro, o governo do país de
atuar contra os palestinos como Hitler fez com os judeus na Segunda Guerra
Mundial; e um ato público de Bolsonaro em São Paulo com grande quantidade de
aliados, em 25 de fevereiro.
Existe a
possibilidade, diz a Folha, de a pesquisa divulgada nesta quinta também ter
sido influenciada pela agenda de valores, cansaço com o sistema político,
polarização e uma sensação de desassistência do Estado, apesar dos dados
positivos na economia.
Outro setor que pode
ter pesado nas respostas dos entrevistados diz respeito à segurança pública.
Recentemente, o Executivo teve de lidar com a primeira fuga de detentos de um
presídio federal de segurança máxima. Os dois escaparam de penitenciária no Rio
Grande do Norte em fevereiro e ainda não foram recapturados.
O Datafolha apontou
que a percepção popular também está dividida sobre o saldo das ações do
governo: 44% responderam que a administração Lula tem mais vitórias do que
derrotas, enquanto 42% consideram o contrário. Para 3%, as vitórias e derrotas
estão na mesma proporção e 6% não veem nem uma coisa nem outra.
A pesquisa mostra
ainda que a taxa de aprovação de Lula está tecnicamente empatada com a de seu
antecessor, Jair Bolsonaro, que no mesmo período de seu mandato, em 2020,
quando registrou 33% de aprovação. Na ocasião, o governo Bolsonaro era
reprovado por 38% e 26% o consideravam regular.
Ø
58% acham que Lula fez menos do que se
esperava até agora, segundo Datafolha
Para 58% dos eleitores
ouvidos pelo Datafolha em nova pesquisa sobre o governo Lula (PT), o presidente
fez menos do que poderia à frente do Palácio do Planalto pela terceira vez. Já
24% acham que ele entregou o prometido, e 15%, que superou as expectativas.
Os dados foram
colhidos em 2.002 entrevistas nesta terça (19) e quarta-feira (20), com margem
de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos. Eles se assemelham aos
aferidos em dezembro pelo instituto, e isso não constitui boa notícia para
Lula.
Aos três meses de
mandato, achavam que o presidente estava fazendo menos do que poderia 51%. O
índice se manteve estável em 53% na pesquisa seguinte, de seis meses, e chegou
ao nível atual com os 57% de dezembro.
O governo até aqui tem
sido marcado por uma profunda dedicação à disputa política com o bolsonarismo.
As agruras judiciais do antecessor de Lula, Jair Bolsonaro (PL), e as
revelações sobre a trama urdida a seu redor para uma tentativa de golpe a fim
de permanecer no poder ocupam boa parte da energia do governo.
Entre políticos, há
duas leituras: isso acaba sufocando eventuais boas notícias, como as que vêm da
economia, mas também têm o condão de manter a parte mais ativa do eleitorado
energizada. A primeira visão parece se cristalizar com o questionamento acerca
do desempenho de Lula.
Na pesquisa geral, ele
viu as curvas de aprovação e reprovação se aproximarem, num empate técnico pela
primeira vez. Ainda goza de avaliação aceitável (35% de ótimo e bom), mas os
sinais de cansaço popular se avolumam.
A sensação de marasmo
também é vista quando o Datafolha questiona aos eleitores se sua vida pessoal
melhorou ou não sob Lula-3, algo que não havia sido feito ainda neste mandato.
A resposta: ficou igual para 56%, melhor para 25% e pior, para 20%.
Em relação à
capacidade de entrega do presidente, são mais insatisfeitos os evangélicos, com
67% do grupo achando que Lula fez menos do que poderia. Concordam com isso 67%
daqueles entre 35 e 44 anos, 64% dos com ensino médio, 65% de quem ganha entre
2 e 5 mínimos e 66% dos mais instruídos.
Já acham que o petista
fez mais que o esperado 22% daqueles com 60 anos ou mais e 24% dos eleitores
com ensino fundamental.
Fonte: FolhaPress
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