sábado, 23 de março de 2024

Aliados atribuem reprovação popular a falas de Lula e sugerem evitar Bolsonaro e polêmicas

Aliados de Lula (PT) apontam nos bastidores que as oscilações desfavoráveis ao governo na nova pesquisa Datafolha se devem a declarações do presidente, em particular ao enfrentamento com Jair Bolsonaro (PL) e a comentários sobre temas polêmicos, como Gaza e Venezuela.

Oficialmente, no entanto, a gestão Lula minimiza os resultados do levantamento divulgado nesta quinta-feira (21). Para eles, medidas econômicas e a entrada em vigor de novas políticas vão contribuir para a reversão do quadro.

A pesquisa aponta que Lula vê sua aprovação empatar tecnicamente com a rejeição a seu governo. Ele tem 35% de ótimo/bom, 33% de ruim/péssimo e 30% de regular (no levantamento anterior, esses índices eram de 38%, 30% e 30%, respectivamente).

O Datafolha fez nesta terça (19) e quarta-feira (20) 2.002 entrevistas com eleitores de 147 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.

O ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), Paulo Pimenta, diz não ver grande oscilação na pesquisa, por estar dentro da margem de erro. Por isso, evitou nomear fatores que tenham contribuído para a variação.

"Não tem nenhuma grande oscilação nas pesquisas desde início do ano passado. Temos um país polarizado, e essa polarização se mantém. Na medida em que as políticas públicas cheguem para a população, esse porcentual de regular vai se transformar em bom ou ótimo", afirma.

O chefe da comunicação no governo cita como medidas que deverão ter impacto em breve o Escola em Tempo Integral, que terá 1 milhão de matrículas em março, o programa Pé de Meia, que começa os pagamentos na próxima terça-feira (26), e a assinatura neste semestre dos contratos do Minha Casa Minha Vida.

Reservadamente, interlocutores do chefe do Executivo dizem que as falas de improviso e impulsos do presidente têm sido o maior obstáculo de Lula nas pesquisas de opinião do seu governo.

As opiniões críticas ao mandatário, contudo, não chegam a ele desta forma. De maneira mais calibrada, esses aliados buscam explicar que entrar em temas controversos pode acabar afastando ainda mais o eleitorado de centro.

Hoje, aliados dizem buscar isolar Bolsonaro e dialogar com quem está no centro. A dificuldade é que o chefe do Executivo mantém as críticas ao seu antecessor, buscando antagonizar com ele, e assim mantendo o rival nos holofotes.

Citam como exemplo a fala do petista em que comparou as ações de Israel na Faixa de Gaza às de Adolf Hitler. A declaração foi repudiada por igrejas evangélicas, e bolsonaristas surfaram. Sugerem também um distanciamento do ditador venezuelano Nicolás Maduro.

Um ministro fora do núcleo político mantém a mesma posição, apontando que o governo deve focar em um trabalho resiliente e redução da temperatura em assuntos que descreve como laterais.

Há uma ala de petistas mais à esquerda, contudo, defende um enfrentamento mais amplo ao bolsonarismo. Segundo eles, não caberia apenas a Lula, como também seus ministros, criticá-lo.

Aliados de Lula atribuem a verborragia sincera dele a uma dificuldade de compreensão do impacto das redes sociais na comunicação.

Um auxiliar palaciano afirma: nos governos 1 e 2, o que ele falava demorava para chegar às pessoas e a repercussão era bem menor. Agora, circula rapidamente em vídeos curtos e acaba sendo amplamente utilizado por adversários.

Outro ponto de preocupação do presidente e que, segundo auxiliares, tem impacto nas pesquisas é o preço dos alimentos. Para isso, Lula convocou reunião de emergência no Planalto na semana passada.

O discurso da busca por "melhorar a vida das pessoas", com ganhos no emprego, na renda e na qualidade de vida, tem sido a tônica do terceiro mandato do petista, mas os apelos ganharam novos contornos diante da avaliação de que resultados positivos em indicadores econômicos, como o PIB no ano passado, ainda não se reverteram em maior otimismo entre parte dos brasileiros.

Outro ponto de crítica é a comunicação do governo como um todo. Por isso Lula pediu na reunião ministerial, na segunda-feira (18), que os ministros saiam em defesa da gestão e divulguem as ações com mais eficácia, não apenas aquelas das pastas que comandam.

Nesta quinta-feira (21), em discurso para jovens no lançamento do Plano Juventude Negra Viva, em Ceilândia, ele cobrou publicamente todos os ministros presentes, pedindo que as ações estejam em seus discursos e que eles viajem pelo país.

Passou então a ser cogitado uma espécie de governo itinerante, com mais ministros acompanhando Lula durante as viagens aos estados.

Outro foco para a melhoria da imagem do governo são discursos voltados para as mulheres, relembrando nas falas a luta pela equiparação salarial com os homens, mas evitando temas mais controversos como aborto.

Parlamentares de oposição, por sua vez, dizem que a queda de popularidade de Lula é natural devido a falhas do governo.

"É natural que caia, a gente está vendo que governo está sem rumo. A economia está mal, a segurança, um desastre, e Lula está falando bobagem o tempo todo", diz o deputado Alberto Fraga (PL-DF).

Integrante da bancada da bala, ele afirma que a gestão petista não apresentou nenhum projeto estruturado para reduzir a violência.

"Não apresentou nenhuma política que viesse a combater traficantes, o crime organizado", afirma.

O deputado Evair de Melo (PP-ES), vice-líder no governo de Bolsonaro, diz que "Lula está colhendo o que plantou". "Quem planta vento colhe tempestade. Mentiu além da conta, bravata demais e pouco entrega. A economia derretendo. Para quem ainda tinha, acabou a boa vontade", afirma.

 

Ø  Aprovação e reprovação do governo Lula empatam, diz Datafolha

 

As taxas de aprovação e de reprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a patamares de empate técnico em março, apontou pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, seguindo a linha de sondagens mais recentes que captaram movimentos de piora na avaliação da gestão petista.

Segundo o instituto, 35% dos entrevistados aprovam o governo Lula, enquanto em dezembro, o grupo correspondia por 38%, indicando uma oscilação negativa dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

A reprovação ao governo passou a 33% em março, ante 30% em dezembro, variação também dentro da margem.

Os que avaliaram o governo como regular somam 30%, mesmo patamar verificado em dezembro.

O cenário com tendência negativa já havia sido captado por outras pesquisas recentes, levando o presidente a convocar uma reunião ministerial para pedir que seus ministros trabalhem para fazer com que população perceba os resultados das ações do governo.

Realizada entre a terça e a quarta-feira desta semana com 2.002 entrevistados, a sondagem pode ter sintonizado o rescaldo de eventos controversos para o governo: a polêmica criada com Israel quando Lula acusou, em 18 de fevereiro, o governo do país de atuar contra os palestinos como Hitler fez com os judeus na Segunda Guerra Mundial; e um ato público de Bolsonaro em São Paulo com grande quantidade de aliados, em 25 de fevereiro.

Existe a possibilidade, diz a Folha, de a pesquisa divulgada nesta quinta também ter sido influenciada pela agenda de valores, cansaço com o sistema político, polarização e uma sensação de desassistência do Estado, apesar dos dados positivos na economia.

Outro setor que pode ter pesado nas respostas dos entrevistados diz respeito à segurança pública. Recentemente, o Executivo teve de lidar com a primeira fuga de detentos de um presídio federal de segurança máxima. Os dois escaparam de penitenciária no Rio Grande do Norte em fevereiro e ainda não foram recapturados.

O Datafolha apontou que a percepção popular também está dividida sobre o saldo das ações do governo: 44% responderam que a administração Lula tem mais vitórias do que derrotas, enquanto 42% consideram o contrário. Para 3%, as vitórias e derrotas estão na mesma proporção e 6% não veem nem uma coisa nem outra.

A pesquisa mostra ainda que a taxa de aprovação de Lula está tecnicamente empatada com a de seu antecessor, Jair Bolsonaro, que no mesmo período de seu mandato, em 2020, quando registrou 33% de aprovação. Na ocasião, o governo Bolsonaro era reprovado por 38% e 26% o consideravam regular.

 

Ø  58% acham que Lula fez menos do que se esperava até agora, segundo Datafolha

 

Para 58% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha em nova pesquisa sobre o governo Lula (PT), o presidente fez menos do que poderia à frente do Palácio do Planalto pela terceira vez. Já 24% acham que ele entregou o prometido, e 15%, que superou as expectativas.

Os dados foram colhidos em 2.002 entrevistas nesta terça (19) e quarta-feira (20), com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos. Eles se assemelham aos aferidos em dezembro pelo instituto, e isso não constitui boa notícia para Lula.

Aos três meses de mandato, achavam que o presidente estava fazendo menos do que poderia 51%. O índice se manteve estável em 53% na pesquisa seguinte, de seis meses, e chegou ao nível atual com os 57% de dezembro.

O governo até aqui tem sido marcado por uma profunda dedicação à disputa política com o bolsonarismo. As agruras judiciais do antecessor de Lula, Jair Bolsonaro (PL), e as revelações sobre a trama urdida a seu redor para uma tentativa de golpe a fim de permanecer no poder ocupam boa parte da energia do governo.

Entre políticos, há duas leituras: isso acaba sufocando eventuais boas notícias, como as que vêm da economia, mas também têm o condão de manter a parte mais ativa do eleitorado energizada. A primeira visão parece se cristalizar com o questionamento acerca do desempenho de Lula.

Na pesquisa geral, ele viu as curvas de aprovação e reprovação se aproximarem, num empate técnico pela primeira vez. Ainda goza de avaliação aceitável (35% de ótimo e bom), mas os sinais de cansaço popular se avolumam.

A sensação de marasmo também é vista quando o Datafolha questiona aos eleitores se sua vida pessoal melhorou ou não sob Lula-3, algo que não havia sido feito ainda neste mandato. A resposta: ficou igual para 56%, melhor para 25% e pior, para 20%.

Em relação à capacidade de entrega do presidente, são mais insatisfeitos os evangélicos, com 67% do grupo achando que Lula fez menos do que poderia. Concordam com isso 67% daqueles entre 35 e 44 anos, 64% dos com ensino médio, 65% de quem ganha entre 2 e 5 mínimos e 66% dos mais instruídos.

Já acham que o petista fez mais que o esperado 22% daqueles com 60 anos ou mais e 24% dos eleitores com ensino fundamental.

 

Fonte: FolhaPress

 

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