Afinal, como aceitar com naturalidade o
envelhecimento feminino?
Cabelos grisalhos,
linhas de expressão, rugas são registros do efeito do tempo sobre o corpo das
pessoas. Entretanto, nem todos com esses sinais são tratados da mesma forma.
Enquanto homens mais velhos são vistos de forma positiva, como símbolos de
poder, sabedoria e até atraentes, as mulheres sofrem com a descriminação. O
envelhecimento feminino é quase proibido e o corpo e a aparência das mulheres
são julgados, apesar de se tratar de um processo natural.
·
Envelhecimento
feminino ainda é um tabu
O machismo e o
etarismo são os principais responsáveis por esse cenário. Na sociedade, marcada
pelo patriarcalismo, o valor da mulher está restrito à aparência e à
jovialidade. Quando o tempo passa e esses aspectos não estão mais dentro do
padrão estabelecido, mulheres passam a sofrer ainda mais violências e pressões
estéticas.
“Trata-se de uma
sociedade machista, patriarcal, onde os homens se autorizam a ditar as leis”,
explica Sylvia Loeb psicóloga e cocriadora do movimento Minha Idade Não Me
Define. “[Homens] acham que podem ultrapassar qualquer limite em relação à
mulher, que é vista como objeto de uso e como tal podem fazer o que quiserem
com ela.”
Um exemplo recente, é
o caso de Yasmin Brunet. A modelo, que participa da edição 2024 do Big Brother
Brasil, foi alvo de comentários de outros participantes sobre o seu corpo e
idade. Ela “não era mais a mesma”, pois estava “velha” e “comendo demais”, disseram.
O caso reflete como a
sociedade enxerga as mulheres e revela algumas das pressões que elas sofrem.
Além da cobrança pelo corpo perfeito, também questionam sua idade. Uma mulher
aos 35 anos está longe da idade reconhecida para idosos no Brasil. Mesmo se fosse
direcionada para uma mulher acima de 65 anos, a carga pejorativa da palavra
“velha” também é discriminatória no contexto em que foi utilizada.
·
O envelhecimento
feminino será o retrato do futuro
A partir da reflexão
“E se eu deixasse de pintar o cabelo?”, a jornalista e autora Camila Balthazar
iniciou uma jornada para entender por que o cabelo branco era visto como
inadequado para mulheres. Essa jornada se tornou o cerne de sua nova
obra, “Sem tinta”, lançada pela editora
Paraquedas. Em seu livro, Camila explora como a questão vai além da escolha da
cor do cabelo. Ao pesquisar sobre padrões de beleza, envelhecimento e história
das tinturas, a autora revela que o cabelo grisalho está ligado a questões de
gênero, raça, classe social, saúde, feminismo e preconceito relacionado à
idade.
O que Camila explora
em seu livro representa o etarismo e
as pressões estéticas que mulheres maduras sofrem. Entretanto, isso é um
cenário contraditório e insustentável. O que as estatísticas mostram é que o
Brasil já é um país mais envelhecido e feminino. Segundo o levantamento do
Censo de 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% em 12 anos. Além disso, as mulheres são maioria da população, com 51,5%
dos habitantes. O Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) aponta ainda que,
em 2060, o número de idosos vai ultrapassar o de jovens e chegar à porcentagem
de 25,5% da população.
Mundialmente, o
cenário não é diferente. Desde 2019, de acordo com levantamento da ONU, o número de pessoas com mais de 65 anos é maior que o de
crianças. Isso porque as pessoas estão vivendo mais
e tendo menos filhos.
Pensar no futuro é uma
chance de ressignificar como se olha para a velhice, especialmente, no caso das
mulheres. “No Brasil, ‘jovem’ é elogio e ‘velho’ xingamento. Embora não seja,
as pessoas enxergam dessa forma”, aponta a escritora e palestrante, Cris Pàz.
Ela indica algumas
justificativas para isso. “O velho nos fala da nossa finitude. Ele fala que
estamos nos aproximando da morte e não estamos acostumados a lidar com o
conceito da morte”, explica. “A gente acredita também que o envelhecimento é
deixar de servir a sociedade, deixar de ter uma utilidade.”
·
Libertação de
estereótipos passa pela coragem de quebrar padrões
Essa relação
utilitária que a sociedade tem com seus membros acaba afastando as pessoas
idosas do convívio social. “Nós não nos acostumamos a colocar os mais velhos na
convivência. A convivência intergeracional não é uma realidade”, finaliza.
As mulheres podem
sofrer ainda mais com isso. “Ao se identificar com esses atributos pejorativos
[pouca utilidade, dispensável], a mulher pode se deprimir e em casos mais
graves, entrar em estados psicológicos e emocionais muito graves”, aponta
Sylvia Loeb.
O envelhecimento
feminino é algo natural, o problema está em como as pessoas percebem isso e
como lidam com a passagem do tempo. Essa fase pode ser um período de
maturidade, busca por novas vivências e quebra de padrões.
“Se eu não quebrasse
os paradigmas, os paradigmas me quebravam”, declara Cris Pàz. A fala tem
relação com como ela se percebe na sociedade e como ela lida com os padrões.
“Essa deve ser a postura da mulher no mundo de hoje. Não se curvar ao machismo,
não se curvar ao mundo que quer que todo mundo seja padrão.”
·
Como redescobrir a
vida após os 50 anos
A maturidade também
trouxe uma descoberta valiosa para Claudia Arruga, criadora de conteúdo
digital. “Sabemos que a grande libertação de se chegar aos 50 anos é
constatar que o que importa agora é a nossa opinião.”
Claudia criou o
perfil cool50s (legal aos
cinquentas) há cinco anos. A intenção era publicar conteúdos que ela e outras
mulheres da sua geração se identificassem. Dos anos 80, tendo entrado na casa
dos 50, os temas que rondavam seu universo eram estabilidade no trabalho ou
mudança de carreira, mais tempo para se cuidar e como passar os próximos anos.
As conversas com as
amigas mudaram de tom. Os filhos, já crescidos, não eram mais o assunto
principal. “O bacana também é falar sobre filmes, trabalho, novos projetos
profissionais, trocas sobre a menopausa e claro, estética”, comenta. “Também
trocamos ideias sobre como estamos lidando com os nossos pais, uma experiência
complexa e desafiadora.”
Nos comentários do seu
perfil, Claudia viu a busca de mulheres por novas vivências nesse período.
“Elas estavam buscando um amadurecimento criativo, cheio de experiências que
possam substituir a obsessão pela juventude eterna”, declara. “Mulheres que descobriram
que ter um repertório interessante pode ser surpreendente e que nos tornam
mulheres muito mais poderosa.”
Sobre os padrões e
discriminação que as mulheres sofrem, Claudia aponta sobre a importância de
olhar para si. “A cobrança em cima das mulheres é como uma gincana onde você
não vence nunca. Cada dia se colocam mais e mais obstáculos. Eu escolhi colocar
o meu [foco] nas novas experiências que quero ter”, comenta.
Ø
10 lições que “desaprendi” na vida quando
cheguei aos 50 anos. Por Ana Paula Borges
No dia 1º de novembro,
fiz aniversário. Meio século, 50 anos. Durante o dia, recebi uma
série de mensagens de felicitações de amigos e familiares. No meio daquela onda
de carinho e afeto, uma das mensagens me deixou especialmente tocada.
Uma amiga de longa
data, entre um emoji e outro, me perguntou: “O que você aprendeu de mais
importante até aqui?”. Naquele momento, não tive resposta e receio que ainda
não a tenha encontrado. Entretanto, posso compartilhar com vocês, o que
“desaprendi”. Sim, desaprendi.
Mais do que colocar
novas coisas em minha mochila particular, venho procurando retirar. Às
vezes, me sinto entulhada com um monte de coisas, ideias, crenças, utensílios e
receios que já não posso carregar mais. Há alguns anos já sentia esse peso, mas
com o senso de urgência que agora me assola, não posso carregá-lo mais. Pelo
menos de forma consciente.
Preciso andar
mais leve. Não necessariamente para andar mais rápido, mas para andar
melhor.
Segue, então, o que,
até agora, tenho procurado desaprender:
·
Não há uma forma melhor do que a outra, o
que há são coisas diferentes
Houve um tempo em que
olhava o mundo de uma maneira lógica, racional e linear. Acreditava em um tipo
de justiça pequena, óbvia, que apenas parte de mim conseguia alcançar.
Acreditava mesmo que havia uma espécie de mapa e que se o seguíssemos à risca,
as coisas dariam certo. Essa ideia maluca também se aplicava a comportamentos e
crenças. Havia comportamentos, ideias e jeitos melhores do que os outros,
acreditava eu.
Com o tempo, entendi
que, na grande maioria das vezes, não há necessariamente um caminho mais
correto. O que existe são muitos e muitos caminhos diferentes, cada um com o
seu conjunto de implicações associadas. Tendo consciência do ônus e do bônus de
cada um, qualquer um pode servir e ser bom. Quanto mais compreendia isso
profundamente, menos controladora ficava.
·
Ninguém muda ninguém, no máximo, inspiramos
a mudança
Um dia, eu achei que
podíamos mudar as pessoas. Achei que se explicasse, falasse, tentasse mostrar
por “A mais B”, a outra pessoa poderia entender meu ponto de vista e mudar.
Obviamente, que dentro dessa lógica, tinha tendência a achar que o meu jeito
estava certo e o da outra pessoa desajustado.
Hoje sei
que ninguém muda ninguém. Quantas e quantas vezes, nem eu consigo mudar a
mim mesmo, mesmo desejando que isso aconteça, quanto menos o outro. Nós só
mudamos quando o desconforto de ser quem somos se torna maior do que o conforto
de manter as coisas como estão.
E esse processo não
pode ser terceirizado ou motivado por ninguém além de nós mesmos.
·
Filhos são realmente seres independentes e
não uma extensão de nós
Certamente que a minha
presença na vida dos meus filhos sensibilizou-os e moldou-os em vários aspectos
de seus comportamentos, hábitos e visões de mundo. Mas, até pouco tempo, achava
que essa “interferência”, ou se preferirem “educação”, tinha maior peso do que
hoje acho que tenho. Eles são muito mais eles próprios, do que uma boa parte de
mim e do pai deles. E, sendo assim, assistir aos seus crescimentos é sempre
surpreendente e imprevisível.
Também pode ser
bastante desafiador, se continuarmos achando que eles são extensões de nós
mesmos e que o retrovisor de nossas vidas pode ser um balizador para a vida
deles. Não, não pode. Eles são seres autônomos, únicos e independentes. Mesmo.
·
Minimizamos os ônus das nossas escolhas,
afoitos em recolher os bônus
Sempre me considerei
bastante otimista e com boa resiliência para assumir mudanças de rotas e certos
deveres. Olhando para trás, percebo que fiz muitas disrupções. Em algumas
delas, entretanto, afoita para recolher os bônus, minimizei os ônus e “paguei o
pato”, me sobrecarregando muitas vezes.
Em vários momentos,
superestimei minha capacidade de lidar com alguns sentimentos, sensações e
situações. E, por isso, vivi muito tempo com a síndrome da mulher
maravilha cansada. Hoje sou mais cautelosa e procuro olhar algumas jogadas
a frente, mesmo sabendo que minha capacidade preditiva esbarra na entropia da
própria vida.
·
É mais importante dizer mais “não” do que
“sim”
Por muitos anos,
acreditei que dizer muitos sims era aproveitar a vida. “Sim”
para encontros, projetos, trabalhos, conversas e entretenimento era o mesmo que
estar viva e dizer sim para a vida.
·
Com a completude de mais da metade da minha
vida, ficou cada vez mais necessário priorizar, pois, definitivamente, não
há tempo para tudo.
Separar o que é
importante, do que é urgente e do que é banal não é fácil, mas eu preciso. Caso
contrário, me perco de mim mesma e começo a me distanciar do que realmente
quero e me faz feliz. É preciso ter uma rotina com menos atividades e mais ação
real, com mais sentido. Aprendi, então, a antes de aceitar um convite, me
perguntar calmamente: quero realmente isso?
·
Para os outros, minha opinião é pouco
importante, mas minha escuta é valiosa
O que eu penso pouco
importa para os outros e para o mundo. Trata-se apenas de um conjunto de frases
e sentenças aglutinadas com a tentativa de um sentido por trás. Realmente
acredito que tenho muito pouco a dizer ou eventualmente a ensinar ao outro. E, quando
sinto que tenho algo a compartilhar, escrevo.
Quando coloco as
palavras no papel, digo, mesmo que ninguém ouça. Mas isso não significa que
comecei a me desconectar ou distanciar das pessoas. Isso não. Mas compreendi
que muito mais importante do que dizer é ouvir. É disso que eu e os outros
realmente precisam.
·
O autoconhecimento não é um caminho
solitário
Nunca, na história da
humanidade, tivemos tantas portas para nos autoconhecer. Há uma profusão de
técnicas, cursos e profissionais competentes que procuram nos ajudar a
compreender o mundo e a nós mesmos. Muito se tem falado, da necessidade de
estar só e de se seguir um caminho quase espartano para o despertar. Frases
como: “melhor sozinho do que mal-acompanhado” ou “não suporto nada que tira a
minha paz”, são máximas do século XXI. Somos seres relacionais, mas não
toleramos algo ou alguém que “invada” nosso espaço e nos empurre para o
desconforto.
Estar só com nós
mesmos, nos ensina uma série de coisas. Mas estar com os outros, também. A
relação com a nossa família, nossos filhos, nosso trabalho, nossos amigos e
amores têm muito a nos ensinar. Pensar sobre as coisas podem nos ajudar a
mudar, mas é o sentimento a grande mola propulsora da transformação. Por isso,
entendo que nenhum professor é maior do que as relações que atraímos para
nossas vidas. Uma paz criada por uma vida sem troca, não pode ser uma paz real.
·
O simples é raro e um luxo
Complicamos. Temos a
tendência a complicar. Somos confusos e complexos. Nos afastamos na natureza e
nos aproximamos do mundo das premissas, dos achismos, dos espelhamentos, dos
caprichos e fragilidades do ego. Temos dificuldade em mostrar o que sentimos,
temos dificuldade em pedir o que precisamos, temos receio de dizer quem somos.
Tendemos a complicar e procurar os caminhos mais difíceis.
Passamos a vida
procurando algo, tentando encontrar o elixir com as respostas e nos confundimos
e agitamos. Eu era tanto assim, que tenho uma tatuagem nas minhas costas com a
palavra “simplicidade”, quase como um alter ego que diz: “seja simples!”.
Hoje, procuro sentir
mais e pensar menos. E seguir essa trilha do corpo confortável e do coração
manso, tem me ajudado a entender o caminho da simplicidade.
·
Terei sempre minha alma viva como uma
criança, apesar do meu corpo estar cansado
Não enxergo mais sem
óculos. O contorno da minha face não está mais junto ao meu maxilar. Minha pele
começa a ser salpicada com manchas senis e brancas, mas quando estou calma e
conectada comigo, ainda sinto a Ana criança, com 3, 4 anos. Sinto-a tão
presente.
Apesar do peso e do
tempo sobre a matéria, tenho convicção de que sou alma e espírito. E
que minha essência é atemporal e desejosa de conexão, pertencimento e
luz duradoura. Com esse entendimento encharcando cada uma das minhas células,
tenho mais gratidão, vivo ainda mais apaixonada pela vida e por estar
experienciando esse planeta lindo.
·
É menos sobre performance, propósito e
missão e mais sobre ser
Dos meus 20 aos 45
anos, estive no modo fazer, estudar, realizar, me estruturar materialmente.
Havia sempre um objetivo a ser atingido: casar, ter filhos, ser promovida,
receber uma nova titulação e buscar meu propósito e sentido de vida.
Até no campo da
espiritualidade, a ideia de meta estava presente. Eu ainda não
desaprendi a ser assim. Ontem mesmo falava com meu marido sobre isso. Sinto-me
em fase de transição. Não sou mais orientada para performance e produção, mas
não sei ainda como ser diferente. Sei intuitivamente que entrei em um novo
ciclo, mas não consigo operacionalizar esse novo estado em meu dia-a-dia.
Sinto-me, vez por outra, perdida, com a sensação de que deveria estar fazendo
algo que não sei bem o que é. Ainda não desaprendi a ver as coisas sob a ótica
da realização, mas já aprendi que vivo aprendendo e, por isso, sei que vou
chegar lá.
Há mais outras coisas
que tenho desaprendido e que continuo a deixar para trás. Sinto que quanto mais
percebo que pouco sei, mas sei. É uma sensação boa, de ir se despindo de tantas
certezas que tinha. É confortável para mim, ir me despindo de minha autoimportância.
Essa sensação de estar perdendo as certezas, convicções e a armadura me
proporciona outro tipo de força. Uma força mais branda. Mais invisível. Mas, eu
gosto.
E você, o que tem
desaprendido nesses últimos anos? O que tem deixado ir?
Fonte: Vida Simples
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