segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Prisão de Bolsonaro pode transformá-lo em mártir como a facada de 2018, alerta pesquisador

Acuado pelas investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de 2022 e outros crimes, Jair Bolsonaro e seus aliados reuniram apoiadores na Avenida Paulista (SP), na tarde deste domingo (25), para demonstrar força política e esquentar os motores para a corrida eleitoral deste ano.

Em entrevista ao GGN, Almeida alertou que a prisão de Bolsonaro neste momento de furor entre seus apoiadores radicalizados poderia transformá-lo em mártir, o mesmo efeito político da facada que recebeu na eleição de 2018.

“A ideia de que Bolsonaro pudesse sair do preso no domingo seria de uma exploração midiática gigantesca por parte desses grupos, porque recai novamente na construção da figura do líder. Ter a passagem pela cadeia é prova de martírio. Isso é fundamental para a construção de um discurso mobilizador”, disse Almeida.

>>> Leia a entrevista completa abaixo:

·        O que esse ato promovido por Bolsonaro representa para a democracia brasileira e o que esperar dele?

Alexandre Almeida: É um ato que, seguindo o que a Constituição determina, pode ser realizado. Não há um impedimento que possa evitar esse evento. [O que espera dele] Vai depender muito dos próximos desdobramentos, porque a política funciona com uma velocidade muito rápida. A manifestação se propõe a defender o estado democrático de direito, mas vamos ver como se isso se dará.

·        O ato pode ser considerado uma afronta ao Supremo, diante das investigações da Polícia Federal que mostram que os ataques de 8 de janeiro foram uma evidente tentativa de golpe? 

Almeida: É um ato de enfrentamento, de marcar uma clara posição. A direita está voltando às ruas e parece que será uma manifestação com bastante gente. Tudo vai depender também do que será dito ali, se é uma manifestação com a finalidade de defender o estado democrático de direito. Outra coisa é que esses políticos, esses organizadores não controlam as pessoas que vão até lá. Já vi isso em muitas manifestações. Inclusive, as que contam com a presença dessas personalidades. Não há um controle das pessoas que estão ali, as pessoas vão ali pedir as suas demandas. Eu apostaria que, certamente, vão ter ataques ao Supremo. Vai ter uma tentativa de fiscalização por parte dos organizadores, para evitar esse tipo de fotografia em manchete de jornal. Mas, não sabemos como pode acabar, até porque temos pessoas do primeiro escalão do governo sendo ouvidas pela polícia, sendo presas, há um processo de unir essas pessoas e suas responsabilidades e puni-las, a gente não tinha visto isso antes. Eu acho que também tem a questão das pautas do dia [que podem inflamar o público]. A fala de Lula sobre o Holocausto vai ser muito explorada nessa manifestação, até porque é uma direita brasileira simpática à direita de Israel. Outros temas estão surgindo, como o caso da Ilha de Marajó. São elementos catalisadores dessa massa, que pode se comportar de forma contrária àquilo que a organização espera.

·        GGN: Como estão as redes bolsonaristas na véspera do ato? Há notícias dando conta de que grupos estão falando em guerra civil. O Observatório tem monitorado esses grupos?

Almeida: O que o Observatório mapeou até agora é que tem o pessoal mais exaltado, que fala de um enfrentamento, “é preciso enfrentar o Supremo Tribunal Federal”. Nas redes sociais das principais personalidades bolsonaristas, todas estão chamando para o evento. Toda essa rede virtual de apoio ao bolsonarismo ela está se mobilizando. Mas não é somente um ato em defesa do Bolsonaro, há outros elementos em questão, como a eleição municipal. Essa manifestação na Avenida Paulista também serve como palanque, palco para pré-candidato. É lá que eles irão fazer seu discurso, e tentar ganhar votos [para criar] um partido conservador. Já anunciaram que vão levar 200 mil fichas de apoiamento do partido.

·        Considerando que Bolsonaro está inelegível, qual você diria ser o objetivo do ato?

Almeida: Sim, é especialmente uma ideia de tomar a rua. Sem dúvida, o uso da internet nas eleições é importantíssimo, ela muda cenários, não é algo que deva ser desprezado. Mas tomar as ruas é importante. Isso faz parte da cultura de diversos campos políticos, estar nas ruas e nessas manifestações. De figuras que são pré-candidato a vereador a deputado estadual. Há diversos aí nessa manifestação, para além da defesa de Bolsonaro. Mas para Bolsonaro, é sim uma manifestação para marcar posição. Para ele dizer: ‘Olha, estou estou aqui me defendendo. Estou sendo perseguido’. Faz parte da construção desse mito político do líder. Essa ideia de um um líder perseguido injustamente, essa é a narrativa.

·        Então Bolsonaro pode se tornar um mártir? Isso pode afetar a democracia ou render mais atos a favor dele?

Almeida: É possível sim. É possível sim, e nós tivemos o exemplo em 2018, quando ele levou a facada. E agora começa a circular nas redes que Adélio [Bispo, preso pela facada] será solto. Outro tema que pode ser explorado em discursos na manifestação de domingo. Bolsonaro talvez não seja pessoalmente tão incisivo nessas questões, porque deve ser moderado, mas claro as pessoas que estão lá no palanque podem verbalizar isso, e ele não tem controle sobre as pessoas. Então essa é a ideia de um mártir. A narrativa de perseguição por parte do sistema judicial é excelente para ele.

·        Em seu discurso, Bolsonaro pretende abordar três grandes temas: as políticas de seu governo, a ‘perseguição’ que alega estar sofrendo e o futuro do País. Como interpretar essa estratégia?

Almeida: Faz parte dessa narrativa de construção do líder, né? É um líder que defende um legado. Qual é esse legado na fala dele? Por exemplo, que foram quatro anos sem a ameaça comunista. Com a volta do Partido dos Trabalhadores, vai bater em algumas teclas como, por exemplo, o caso da Ilha do Marajó. Eles vão dizer: ‘olha, a gente avisou’. Vai um pouco para esse caminho, de defender legado. E a fala de futuro do país é sempre um futuro catastrófico com o PT. É só o caos, a destruição e miséria. Isso faz parte do discurso populista.

·        Como o bolsonarismo tem se mantido ativo ou mobilizado mesmo fora do governo? Há pautas específicas sendo trabalhadas? O Observatório tem notado alguma estratégia especial nas redes?

Almeida: Falando um pouco em cima da minha pesquisa. É uma das perguntas problema, o que será da direita, o que será do bolsonarismo. Um primeiro elemento é dividir a direita do bolsonarismo. O bolsonarismo é parte da direita, não representa toda a direita, e a sua eleição abriu uma janela de oportunidades para um segmento político. Bolsonaro inelegível ou preso não significa [o fim] do grupo. Isso abre uma janela de oportunidades para toda a direita. (…) Se a gente acha que a vitória do Lula significou a volta de um cordão sanitário da democracia em torno da direita, tá muito enganado. O jogo tá rodando ainda, e principalmente, não há só Bolsonaro agora. É a bola da vez, mas há outras figuras políticas que trabalham no campo da cultura [propagando conservadorismo] que estão ganhando muito espaço.

 

       As suspeitas sobre a manifestação de Bolsonaro. Por Luiz Nassif

 

De um observador da cena internacional:

O maior perigo dessa manifestação bolsonarista, com Caiado e o apoio financeiro de algumas das fortunas do Agro, é uma tentativa de reeditar um Horst Wessel caboclo, para redourar os brasões hora tisnados de Jair Bolsonaro. A imagem de um mártir é o que ex-presidente e seus meninos precisam para tirar o foco de suas mazelas e atrair milhões de novos incautos.

•        Sobre Horst Wessel

Horst Wessel era membro da Sturmabteilung (SA), a ala paramilitar do Partido Nazista, que se tornou um símbolo de propaganda na Alemanha nazista após seu assassinato em 1930 por dois membros do Partido Comunista da Alemanha (KPD).

·        Juventude e ativismo político

Horst Ludwig Georg Erich Wessel nasceu em 9 de outubro de 1907, em Bielefeld, Vestfália, Alemanha. Ele era filho de um pastor luterano e estudou direito em Berlim. No entanto, ele abandonou os estudos em 1926 e ingressou no Partido Nazista. Wessel rapidamente se tornou uma figura proeminente nas SA, conhecido pela sua violência e fanatismo. Ele também foi um talentoso poeta e compositor e compôs a canção “Die Fahne hoch” (A Bandeira no Alto), que mais tarde se tornou o hino do Partido Nazista.

·        Assassinato e martírio

Em 14 de janeiro de 1930, Wessel foi baleado e morto em seu apartamento por dois membros do KPD. As circunstâncias exatas da sua morte permanecem obscuras, mas a propaganda nazi retratou-o como um mártir morto pelas suas convicções políticas. A sua morte foi amplamente divulgada pelo Partido Nazista, que a utilizou para incitar o sentimento anticomunista e retratar-se como vítima de violência.

·        Propaganda e legado

A morte de Wessel foi explorada por Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista, que o transformou numa figura de culto. Sua canção “Die Fahne hoch” tornou-se o hino do Partido Nazista e sua imagem foi usada em cartazes, selos e outros materiais de propaganda. Wessel também foi condecorado postumamente com o Distintivo de Ouro do Partido, uma das maiores honrarias do Partido Nazista.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o uso da música e da imagem de Wessel foi proibido na Alemanha. No entanto, ele continua a ser uma figura controversa e o seu nome ainda está associado ao extremismo de extrema direita.

 

Ø  O grande ato ou a grande bravata? Por Luís Felipe Miguel

 

O ato deste domingo foi uma cartada importante para Bolsonaro.

Ele teve um único propósito: escapar da cadeia. Com o ato, quis atingir dois objetivos que servem a esse propósito.

O primeiro é mostrar que tem força popular. Passar, a um Judiciário tão preocupado com o impacto político imediato de suas ações, o recado de que não é fácil mexer com ele.

Idealmente, o recado seria de que sua prisão geraria uma revolta popular espontânea, poria fogo no país. Mas nem Bolsonaro acredita nisso.

Mostrar que tem capacidade de mobilização já está de bom tamanho. O problema é que métrica vai ser usada para calcular isso.

Com tanto investimento na convocação do ato, ele tem que ser realmente gigantesco, pelo menos tão grande quanto os maiores de seu período na presidência.

Claro que as Carlas Zambellis e os Nikolas Ferreiras vão dizer de qualquer jeito que foi monumental e contar o público na casa dos milhões. Mas o recado que Bolsonaro quer passar não é pro cercadinho. É pra fora. E aí tem que ser mais convincente.

O segundo objetivo é forçar a direita a se unir em torno dele – exatamente no momento em que as investigações se fecham e a prudência recomenda ganhar distanciamento. Por isso a pressão sobre os governadores, Tarcísio de Freitas em primeiro lugar, para que compareçam.

Muitos vão comparecer, mesmo sabendo do potencial desgaste. Mas, se eu fosse Bolsonaro, não contaria muito com a lealdade deles. Afinal, todo político é proverbialmente um peixe ensaboado – sempre escapa das mãos de quem quer prendê-lo.

O desafio de Bolsonaro é se manter dentro do script – evitar bravatas, novos ataques ao Supremo, novas ameaças à democracia.

Ele é um covarde – esse é um dos traços que o definem. Sempre amarela quando o confronto parece sério. Mas um de seus medos é o medo de se assumir como covarde diante de seus seguidores. Por isso, a tentação de soltar uma bravata é grande.

 

Ø  Blogueiro Paulo Figueiredo ameaça STF ao lado de Eduardo Bolsonaro

 

O blogueiro de extrema-direita, Paulo Figueiredo, neto do ex-ditador João Baptista Figueiredo, ameaçou em alto e bom som o Supremo Tribunal Federal (STF) durante uma live nas redes sociais.

Ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), Figueiredo confessou que a manifestação deste domingo (25), na Avenida Paulista, em São Paulo, teve sim como objetivo pressionar a Suprema Corte e chega a dizer: “a única maneira de vocês manterem as pessoas caladas vai ser através da força”, disse.

“E como alguns, e eu me coloco entre eles, não vão se calar, vocês vão precisar de baionetas. Vocês vão ter baionetas? E de quem virão essas baionetas, das Forças Armadas?”, ironizou.

O corte do vídeo foi postado por Vinícios Betiol, mestre em Geopolítica e autor do livro “A arte da guerra online: como enfrentar as redes de extrema direita na internet”.

 

Ø   Bolsonaro não consultou ninguém para ato na Paulista; nem os filhos

 

O ato na avenida Paulista deste domingo (25), foi ideia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) junto com o pastor Silas Malafaia. E mais ninguém. Segundo Felipe Pereira, do UOL, ele não consultou os filhos e tampouco o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Para os filhos, a atitude de Bolsonaro faz parte de seu "instinto político". Segundo eles, este jeito de resolver as coisas é um atributo d ex-presidente que ajudou a leva-lo ao Planalto.

·        Virou piada

A iniciativa acabou aprovada por parlamentares bolsonaristas, que pode levar milhares de pessoas a São Paulo. Por outro lado, a falta de consulta aos aliados virou motivo de piadas de políticos aliados e também da oposição.

O pastor teria virado o conselheiro político de Bolsonaro, segundo eles.

Flopado ou cheio, uma coisa é certa para todos. O evento é de responsabilidade de Bolsonaro e mais ninguém. O PL está de fora e não pode ser vinculado ao que acontecer.

 

Fonte: Jornal GGN/Fórum

 

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