quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

FMI afirma que o crescimento da economia russa, como em 2023, está melhor do que o previsto

A economia russa está tendo um desempenho melhor no que diz respeito ao crescimento do que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinha previsto anteriormente, disse o economista-chefe do fundo, Pierre-Olivier Gourinchas, antes da divulgação do relatório Perspectivas Econômicas Mundiais.

"Penso que o quadro geral é certamente aquele em que a economia russa tem tido um desempenho melhor em termos de crescimento do que o que previmos. Isso é algo que vimos repetidamente em 2023", disse Gourinchas aos repórteres.

O FMI reviu em alta a sua previsão de crescimento econômico para a Rússia em 2024 em 1,5 ponto percentual, para 2,6%, de acordo com a última atualização do relatório do FMI.

"O crescimento na Rússia está projetado em 2,6% em 2024 e 1,1% em 2025, com uma revisão para cima de 1,5% em relação aos números de outubro de 2023 para 2024, refletindo a transição de um crescimento mais forte do que o esperado em 2023 devido ao alto nível de gastos militares e consumo privado, apoiados pelo crescimento salarial em um mercado de trabalho restrito", afirmou o FMI em sua atualização.

A agência financeira também disse que um declínio esperado nos preços globais do petróleo pode não ter necessariamente impacto na economia russa, porque as receitas energéticas do país já estavam limitadas pelo teto do preço do petróleo imposto pelo G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido).

"É claro que a situação no caso da Rússia é um pouco mais complicada, como bem sabem, porque também existe um limite máximo para o preço do petróleo estabelecido pelo G7, e por isso, mesmo que os preços globais do petróleo diminuíssem, então isso não teria necessariamente um impacto direto nas receitas petrolíferas russas, dependendo da aplicação e implementação da disparidade no preço do petróleo", disse Gourinchas aos jornalistas.

No entanto, o economista-chefe destacou que um declínio nos preços globais do petróleo pesaria "mecanicamente" nas receitas de exportação da Rússia, dado que o país é um grande exportador do combustível fóssil.

O FMI afirmou ainda, no relatório desta terça-feira (30), que os preços médios anuais do petróleo devem cair cerca de 2,3% em 2024.

Em dezembro de 2022, o G7, a União Europeia (UE) e a Austrália introduziram um limite de preço para o petróleo russo de US$ 60 (R$ 298,28) por barril. No final de 2023, o G7 reforçou o controle sobre o cumprimento do limite de preços e impôs uma série de sanções contra empresas e petroleiros individuais que transportam petróleo russo, alegadamente em violação das restrições.

 

       Analista: afastamento da Rússia do euro é forma de 'se desligar dos meios de pagamento' do Ocidente

 

A Rússia cancelou o euro do seu Fundo de Bem-Estar Nacional, como mais uma forma de se dissociar dos métodos de pagamento ocidentais e, por sua vez, se aproximar dos seus parceiros do BRICS, afirma a professora da Universidade de Uppsala, María Cristina Rosas, em entrevista à Sputnik.

"A decisão do governo de Vladimir Putin tem a ver com a necessidade de separar a Rússia dos métodos de pagamento ocidentais, devido às sanções impostas. Por outro lado, vemos a sua intenção de reforçar as relações com a China e outros parceiros do BRICS", assegura a especialista em referência ao bloco que ambas as nações compõem junto com Índia, África do Sul e Brasil.

No dia 19 de janeiro, o Ministério da Economia da Rússia anunciou o cancelamento total da parte do euro do fundo estatal e soberano da Rússia, de modo que a reserva estratégica do país consiste atualmente apenas em rublos, yuans e ouro.

"Em dezembro de 2023, uma parte dos ativos do Fundo de Bem-Estar Nacional russo nas contas do Banco [Central] da Rússia, no valor de ¥ 114,9 bilhões [cerca de R$ 79,7 bilhões], 232.584,5 quilogramas de ouro e € 573,7 milhões [aproximadamente R$ 3,07 bilhões], foi convertida em 2,9 trilhões de rublos [mais de R$ 160,6 bilhões]", disse a pasta. Após a decisão, a conta na moeda gerida pela União Europeia (UE) foi fechada a zero.

O Fundo de Bem-Estar Nacional russo é uma reserva estatal vital destinada a estabilizar o orçamento nacional em caso de queda nos rendimentos e a satisfazer as necessidades do país a longo prazo. É financiado através de contribuições do excedente orçamentário federal do setor de petróleo e gás, bem como de rendimentos provenientes de recursos autogeridos.

•        Tendência mais definida

O afastamento da Rússia do euro é o mais recente capítulo do seu distanciamento das potências ocidentais. Em meados de 2021, o fundo deixou de investir o capital em ativos de dólar. Para 2022, fez o mesmo para contas em libras esterlinas e ienes japoneses.

No entanto, o movimento feito por Moscou é extremamente relevante em uma altura em que se posiciona como o primeiro colocado na Europa em termos de paridade de poder de compra e existe um bom relacionamento entre a Rússia e vários aliados, como a Índia ou nações do continente africano, como demonstrado em 2023 pela segunda cúpula Rússia-África.

"A tendência seria usar apenas rublos e, nesse sentido, teria que negociar com os seus principais parceiros [...] para realizar trocas. Algo que Moscou tem a seu favor é a chefe do Banco Central, Elvira Nabiullina, que tem conseguido manobrar de forma a reduzir os impactos desfavoráveis das sanções que o Ocidente tem aplicado à Rússia. Portanto, tem também um papel fundamental na gestão da política monetária", explica a especialista.

Outro aspecto que Rosas destaca é a decisão de Moscou de manter parte de sua reserva em ouro, pois isso lhe permite maior margem de manobra e liquidez diante de qualquer situação adversa na economia.

Da mesma forma, o euro não tem boas perspectivas para oferecer nem a Moscou nem a qualquer outro Estado, depois de problemas passados como as crises econômicas de 2008 e o Brexit, cujas consequências foram combinadas com a pandemia de COVID-19, e um impacto adverso das sanções que as nações do bloco impuseram contra a Rússia pela operação militar especial na Ucrânia.

Atualmente, a UE tenta "apoiar Kiev e gastar mais na defesa, devido à pressão dos Estados Unidos e à alegada percepção de insegurança gerada pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia em um efeito dominó", enfatiza Rosas.

"Anteriormente, a Europa prosperou muito na sua integração quando as responsabilidades de segurança recaíam financeiramente sobre os EUA, mas desde a administração de Donald Trump [2017-2021] até agora foi dito aos parceiros europeus: 'É preciso gastar mais no apoio financeiro à Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] porque a maior parte do financiamento é fornecida por Washington e não é justo'", acrescenta ela.

•        Outras nações podem seguir o exemplo

Segundo a doutora em relações internacionais pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), outras nações já estão seguindo o exemplo da Rússia de se separarem dos sistemas de pagamentos ocidentais, aos quais mais poderão ser acrescentados em breve.

Por exemplo, em março de 2023, os líderes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Xi Jinping, concordaram em negociar entre si com as suas próprias moedas e não com a de origem norte-americana. Da mesma forma, os membros do BRICS procuraram produzir uma moeda própria.

"Assim como falamos de um processo de desdolarização, neste momento estamos assistindo a um processo de deseurização. Ao mesmo tempo, vários países africanos já realizam transações com o yuan, além de terem linhas de crédito com a China", lembra Rosas.

Outro lugar do planeta onde esta busca por outras moedas está presente é a América Latina e, em grande parte, isso se deve aos avanços de Pequim em questões econômicas.

"A China se tornou um credor muito importante para a América Latina. Concedeu empréstimos à Argentina, ao Equador, à Venezuela, por exemplo, e todos em yuan. Sei que a Europa tem pequenos programas de apoio para a região e apenas para alguns países", explica.

Prova disso é a análise anteriormente realizada pela Sputnik às declarações de responsáveis de 193 países da Organização das Nações Unidas (ONU) nos meios de comunicação social. Representantes de 68 nações apoiaram o abandono do dólar ou declararam que estão tomando medidas nesse sentido.

Ao mesmo tempo, muitos Estados compreenderam que a moeda dos EUA é um perigo não só como meio de pagamento, mas também como instrumento de poupança.

Alguns países estão tomando medidas mais específicas para reduzir a dependência da sua população em relação às moedas estrangeiras. Entre eles está o Vietnã, que proibiu os depósitos de longo prazo em outras moedas.

O fato é que "a desdolarização está avançando e a conversa tem ocorrido no BRICS" e em outras nações do Sul Global, conclui Rosas.

 

       Rússia: uso de moedas nacionais e criação de alternativa ao SWIFT acompanham desdolarização

 

A presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, declarou em entrevista à Sputnik que os países do BRICS já superaram o G7 em peso na economia global e estão reduzindo sua dependência da antiga infraestrutura financeira, intensificando as transações em moedas nacionais e criando suas próprias plataformas.

Em relação a novas plataformas de comunicação de informações financeiras, a Sputnik questionou em que ferramentas os países do BRICS estão trabalhando para substituir o sistema SWIFT.

"A Rússia tem o seu próprio sistema de mensagens financeiras, que é uma alternativa ao SWIFT, propomos aos países se conectarem a ela. Um total de 159 participantes estrangeiros de 20 países já se juntaram. Alguns outros países têm uma infraestrutura semelhante", disse Nabiullina.

Ela acrescentou que os países têm interesse em desenvolver este tipo de plataformas já que surgiram riscos de utilização da infraestrutura de transações internacionais existente, o SWIFT, e muitos países estão considerando alternativas para pagamentos internacionais.

A presidente do Banco Central da Rússia disse que o processo está relacionado com a desdolarização.

Trata-se, ressaltou Nabiullina, da "transição para moedas nacionais e para infraestruturas de transações que as sanções não possam afetar".

Ao ser questionada sobre a trajetória da economia global, ela observou que "o crescimento da economia global está desacelerando. No entanto, foi possível evitar uma forte contração. Essa probabilidade este ano é um pouco menor do que no ano passado. Foi possível evitar a recessão".

 

       Orbán não duvida que suposto plano da UE para minar economia húngara seja real: 'São capazes disso'

 

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, disse nesta terça-feira (30) que não tem dúvidas de que a União Europeia (UE) é capaz de minar a economia do país e que esta decisão pode levar a um "Armagedom".

De acordo com o Financial Times (FT), a UE ameaçou perturbar a economia da Hungria caso Budapeste vetasse a ajuda do bloco à Ucrânia durante a cúpula na próxima quinta-feira (1º).

"Então o Armagedom teria chegado à Hungria. Isto é o que está escrito no documento publicado pelo Financial Times", disse Orbán, acrescentando que não tem dúvidas de que o documento é real.

Em um documento elaborado por responsáveis da UE e visto pelo FT, Bruxelas delineou uma estratégia para visar explicitamente as fraquezas econômicas da Hungria, pôr em perigo a sua moeda e provocar um colapso na confiança dos investidores, em uma tentativa de prejudicar "o emprego e o crescimento" caso Budapeste se recusasse a levantar seu veto de ajuda a Kiev.

O primeiro-ministro acrescentou que os responsáveis do bloco europeu "são capazes disso".

O premiê afirmou ainda que está pronto para tomar uma decisão conjunta com os outros 26 países da UE sobre o financiamento da Ucrânia na cúpula de 1º de fevereiro, se tiver garantias de que o montante precisará ser aprovado todos os anos por unanimidade.

"Decidimos fazer uma proposta de compromisso: ok, não concordamos em alterar o orçamento. Não concordamos que € 50 bilhões [cerca de R$ 268,2 bilhões] devam ser dados [à Ucrânia], é uma quantia enorme [...] Mas tudo bem, a Hungria está disposta a participar na decisão dos 27 Estados se for garantido que decidiremos todos os anos se continuaremos a enviar este dinheiro ou não. E esta decisão anual deve ter a mesma base jurídica de hoje: deve ser unânime", disse Orbán em entrevista à revista de notícias Le Point.

Em dezembro de 2023, a Hungria vetou a ampliação do orçamento da UE para 2024-2027 para acomodar 50 bilhões de euros (cerca de R$ 265 bilhões) em ajuda macrofinanceira à Ucrânia. Na ocasião, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse aos jornalistas que esperava que os líderes da UE aprovassem por unanimidade a ajuda financeira à Ucrânia no início de 2024, com a próxima cúpula extraordinária da UE marcada para 1º de fevereiro.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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