terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Eduardo Ramos: Foi como ver as portas do inferno se abrirem!

Teve Deltan Dallagnol sorridente, o hipócrita-mor, clamando contra “abusos do STF que violam nossas liberdades constitucionais” (sic…) e os “abusos do Governo Lula”.

Teve Michelle Bolsonaro em oração lacrimejante com direito à voz entrecortada pelo choro ao final, defendendo Israel e uma mistura maior e definitiva entre política e religião.

Teve Tarcísio, o “Fala Mansa”, como bem o descreveu o Nassif em artigo histórico, prevendo ser ele – concordo totalmente! – a maior ameaça à nossa democracia e estabilidade política. Comovido, agradeceu o governador o fato de “não ser ninguém”, até ser reconhecido por Bolsonaro. Astuto como uma raposa, coloca-se como o herdeiro do espólio do futuro condenado à prisão.

Teve Zema, teve Jorginho, teve Caiado. E teve um “pastor”, o Malafaia, que afirmou: “Eu não vim aqui atacar o Supremo. (…) Mas eu vim fazer, eu vim mostrar para vocês a engenharia do mal para prender Jair Messias Bolsonaro. A engenharia do mal para tirar o estado democrático de direito”, disparou Malafaia.

“Se eles te prenderem, não vai ser para tua destruição, mas para a destruição deles. Você vai sair de lá exaltado”, disse. (fonte, GGN).

Essa fala do Malafaia foi a tônica, a essência, o MOTIVO na verdade, da manifestação, seu maior objetivo: criar um discurso, uma RETÓRICA do “mártir perseguido”, do “injustiçado” pelas “forças do MAL”. Para uma plateia de fanáticos imbecilizados, quase que na totalidade religiosos, nada pode ser mais eficaz e provocador de uma manipulação máxima. Os zumbis do bolsonarismo criam em si mesmos mais adoração pelo mito, mais sensações psíquicas de que se trata de “um homem de bem perseguido pelos comunistas”, e sandices, aberrações cognitivas semelhantes.

A PM (de Tarcísio, lembremo-nos…) fala em 600.000 pessoas. Bolsonaristas vão falar em dois milhões, a USP, por métodos científicos fala em 185.000. Não importa muito, para o que Bolsonaro queria, foi um sucesso o público presente e seu entusiasmo fanático. Mas equivocam-se todos os bolsonaristas, se acham que é ou foi o suficiente como “demonstração de força” para impedir a continuidade das investigações e julgamentos que virão, sobre armação e tentativa de golpe, genocídio, falsificação de carteira de vacina, roubo de joias, etc. etc. – algumas condenações, PARA QUE A JUSTIÇA SE CUMPRA, terão que alcançar Bolsonaro nos próximos meses.

Sobre o título desse artigo, uso eu, mas com honestidade máxima, algumas das palavras de Jesus: “O diabo é o pai da mentira!”

Farsas, mentiras, distorções da verdade, criação de mundos-matrix horrendos, tudo isso fez e faz parte dessa seita maligna, o bolsonarismo.

A fala mansa de Tarcísio, as lágrimas de Michelle, a indignação de Dallagnol, o “apelo à pacificação” do sr. “Arminha”, o genocida, tudo isso se encerra, exemplifica absolutamente a frase citada dos Evangelhos.

A manifestação deste domingo foi como assistir as portas do inferno se abrindo. Mais uma vez.

 

Ø  Antidemocracia em curso. Por Bruno Alcebino da Silva

 

A manifestação, ou melhor, reunião dos antidemocráticos deste domingo (25), convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, teve como objetivo atacar as instituições democráticas, incluindo o Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e especialmente o ministro Alexandre de Moraes, além do atual governo. No entanto, antes mesmo de começar os discursos inflamados e as tentativas de pressionar o Supremo em relação às investigações do ex-presidente, o evento já começava a dar sinais de desrespeito à lei.

Afinal, o trânsito de gado na Avenida Paulista é proibido desde 1894 por uma lei municipal. Imagine só a cena: apoiadores do ex-presidente marchando pela avenida, carregando suas bandeiras (do Brasil e Israel) e entoando seus slogans, enquanto vários grupos de gado, aparentemente extraviados de alguma fazenda, caminham tranquilamente ao lado deles, em si são semelhantes e iguais. Parece até cena de filme de comédia, mas é a triste realidade da “comilança de capim” que ocorreu durante a tarde de domingo.

A manifestação realizada na Avenida Paulista foi um evento de grande envergadura e relevância política, que reuniu uma quantidade significativa de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Convocada por ele próprio, a manifestação teve como objetivo principal defender a anistia a si e aos indivíduos detidos durante os eventos ocorridos em 8 de janeiro, que foram classificados como tentativas de golpe de Estado.

Anistia é o perdão que pode ser dado a indivíduos que precisam responder por seus crimes na Justiça. De acordo com Gleisi Hoffmann, presidente do PT,  em postagem no X (antigo Twitter):

Pedir anistia é confissão de culpa. Bolsonaro é réu confesso. É o que faltava depois de tantas provas. — Gleisi Hoffmann (@gleisi) February 25, 2024

No entanto, por trás das aparentes demandas por pacificação e perdão, as investigações em andamento lançam uma sombra preocupante sobre as verdadeiras intenções por trás desses discursos. A operação Tempus Veritatis, conduzida pela Polícia Federal, revelou uma série de evidências que apontam para uma estratégia coordenada para minar as instituições democráticas do país. Entre as figuras centrais nesse complexo enredo de ataques antidemocráticos, está o ex-presidente Jair Bolsonaro. Suas conexões com grupos extremistas e seus discursos incendiários são elementos cruciais nas investigações em curso. As provas coletadas sugerem uma clara tentativa de desestabilização do Estado de Direito, com o objetivo final de consolidar um poder autoritário.

As descobertas das investigações são profundamente alarmantes, mostrando um padrão de comportamento que vai desde a disseminação de desinformação sobre o sistema eleitoral até a articulação de planos para interferir no processo eleitoral e promover atos que desafiam os pilares da democracia. O envolvimento de figuras proeminentes do governo e militares de alta patente em tais ações é particularmente preocupante, sugerindo uma tentativa de subverter as regras democráticas em favor de interesses próprios.

A revelação de uma estrutura paralela de inteligência, encarregada de monitorar autoridades e pressionar militares a aderirem ao golpe, representa uma ameaça grave à estabilidade democrática do Brasil. A presença de governadores e parlamentares aliados de Bolsonaro no evento, juntamente com o discurso em favor da anistia aos envolvidos nos eventos de janeiro, destaca a urgência de uma resposta enérgica por parte das instituições democráticas do país.

Em face desses desafios, é fundamental que as instituições democráticas brasileiras atuem de forma eficaz para garantir a integridade do Estado de Direito e a preservação das liberdades individuais. A responsabilização dos envolvidos nessas ações é crucial para evitar que episódios semelhantes ocorram no futuro e para fortalecer a democracia brasileira diante de ameaças tão sérias.

·        A burguesia e os discursos antidemocráticos

A recente manifestação bolsonarista traz à tona as controvérsias e lutas relativas à democracia na América Latina, oferecendo uma nova perspectiva sobre as condições e consequências da revolução burguesa na região. É interessante notar que, mesmo após as revoluções burguesas ocorridas em todos os países latino-americanos, a consolidação da democracia tem sido um desafio constante. Ao invés disso, as experiências democráticas têm sido episódicas e interrompidas, refletindo um cenário onde os valores e instituições democráticos se encontram constantemente em confronto com valores oligárquicos, caudilhescos, privatistas e autoritários.

À vista disso, o bolsonarismo emerge como um fenômeno complexo, entrelaçando-se com interesses da burguesia e promovendo discursos antidemocráticos que alimentam sua base de apoio. Na interseção desses elementos, vemos uma narrativa que busca consolidar poder e perpetuar privilégios, muitas vezes às custas da democracia e dos direitos fundamentais.

A relação entre o bolsonarismo e a burguesia é simbiótica, onde há uma convergência de interesses econômicos e políticos. Setores da burguesia viam no governo Bolsonaro uma oportunidade para implementar políticas favoráveis aos seus negócios, como desregulamentações e cortes de impostos, enquanto o governo buscava apoio financeiro e influência junto a esses setores poderosos.

Nesse contexto, os discursos antidemocráticos ganham espaço como ferramenta para manter e expandir o poder. Ataques às instituições democráticas, deslegitimação da imprensa e intolerância com vozes dissidentes tornam-se características marcantes do bolsonarismo. Essa retórica busca minar os pilares da democracia, enfraquecendo a participação cidadã e consolidando um poder centralizado e autoritário.

Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que o bolsonarismo não é monolítico e enfrenta resistência tanto dentro quanto fora das elites econômicas. Movimentos sociais, organizações da sociedade civil e parte da própria classe burguesa têm se posicionado contra os excessos autoritários e os retrocessos democráticos promovidos pela retórica.

A presença dessa manifestação bolsonarista, à semelhança de outros movimentos regionais, revela uma cultura política permeada por ideais e práticas autoritárias. Os slogans e lemas proclamados durante o evento, como “ordem e progresso” ou “paz social”, tentam justificar ações antidemocráticas sob o pretexto de restaurar a ordem e a estabilidade. Diversos grupos, incluindo militares, líderes religiosos evangélicos, burocratas e outros, estavam presentes, exercendo uma influência considerável no cenário político. Juntos, eles constituem uma força coesa, impactando significativamente as estruturas democráticas estabelecidas em todo o país.

Apesar dos esforços do bolsonarismo e da extrema direita em retratar uma imagem de participação política e apoio popular, a realidade revela uma profunda desconexão entre os fundamentos democráticos e amplos setores da sociedade. Sob a influência dessas correntes políticas, muitos cidadãos se vêem marginalizados e afastados, perdendo o senso de conexão tanto com o governo quanto com as instituições democráticas. A partir desse contexto, o bolsonarismo e a extrema direita encontram oportunidades para minar ainda mais os princípios democráticos e a coesão social.

Por meio de estratégias como a disseminação de desinformação, a polarização da opinião pública e a demonização de grupos minoritários, esses movimentos políticos buscam manter sua influência e expandir sua agenda. Ao criar um clima de medo, divisão e intolerância, eles promovem uma narrativa de “nós contra eles”, onde qualquer dissidência é vista como uma ameaça.

Em última análise, a ascensão do bolsonarismo também está intimamente ligada a uma onda global de populismo de direita, caracterizada por uma retórica inflamada, promessas simplistas e uma abordagem autoritária à política. Nesse contexto, as políticas e declarações controversas de Jair Bolsonaro encontram eco em um segmento da população desencantada e desiludida com o status quo.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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