quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

‘Violência do Hamas não pode ser combatida com violência’: jovens israelenses se recusam a servir Exército

A guerra em Gaza continuará ao longo de 2024, garantiu Israel, que segue bombardeando o enclave palestino, três meses depois do ataque de 7 de outubro. O Exército anuncia que os seus reservistas em breve farão uma pausa na guerra, a fim de se prepararem para combates prolongados. São 360 mil no total, além do Exército regular, mas, neste contexto, alguns israelenses se recusam a se alistar.

A guerra de longa duração entre Israel e o Hamas exige a rotação de tropas armadas e, em particular, de reservistas israelenses. No entanto, alguns destes jovens estão se recusando a participar. É o caso de Sofia Orr, uma das vozes da juventude israelense, que pede o fim do conflito. Ela mora em Pardes Hanna-Karkur, ao norte de Tel Aviv.

Sofia tem 18 anos, idade suficiente para ingressar no Exército. No entanto, ao ser convocada, ela não pestanejou. “Em fevereiro, eu me recusei a servir o Exército israelense e, por isso, irei para a prisão militar", afirmou à RFI.

A jovem é uma das figuras do movimento “Mesarvote”, um grupo antimilitar que hoje conta com várias dezenas de membros. “A maioria das pessoas neste país tem esse espírito militar, que apoia o Exército, seja o que for que aconteça, e isso, claro, inclui entes queridos. Às vezes me chamam de traidora ou de judia raivosa. É muito difícil”, confidencia.

·        'Devemos fazer a paz'

Seu rosto tornou-se público, assim como o de seu amigo Tal Mitnick, o primeiro a se recusar a cumprir o serviço militar desde 7 de outubro. Ele foi condenado na semana passada a uma pena inicial de um mês de detenção.

“Você pode ter isenção, fazer com calma e não ser humilhado publicamente por isso. Mas isso não é uma opção para mim. Sinto que tenho que falar sobre isso publicamente e tentar causar o máximo de impacto possível”, garante Sofia Orr.

Desde então, ela tem repetido incansavelmente. “A violência extremista do Hamas não pode ser combatida com mais violência. Quero fazer parte da solução e não do problema. É preciso fazer a paz, não há outras opções”, finaliza a jovem.

Cinco brigadas israelenses serão em breve retiradas ou redistribuídas. Os reservistas também farão uma pausa para se prepararem para o “combate prolongado”, informou o Exército de Israel. Para David Rigoulet-Roze, pesquisador associado do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas e editor-chefe da revista “Orient Stratégique”, este anúncio do Exército indica que a guerra entra “em uma nova fase".

“Segundo as declarações das Forças Armadas de Israel, trata-se de uma redistribuição com o objetivo de lhes permitir retomar o seu trabalho, portanto há uma lógica econômica e, passo a citar o Exército israelense: 'Estamos planejando a gestão das forças que operam no terreno, examinando o sistema de reservas, a economia, a renovação das forças e a continuação dos processos de treinamento de combate dentro das Forças Armadas.' Então, existe um sistema de rodízio que hoje funciona, o que mostra que estamos entrando em uma nova fase. Isso já foi mencionado diversas vezes", disse o especialista.

“A primeira fase seria a dos bombardeios massivos, a segunda da operação terrestre e a terceira fase seria de menor intensidade, particularmente no norte de Gaza. Isto corresponderia aos pedidos americanos, em particular de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança de Joe Biden, que esperava, a partir de janeiro, que houvesse efetivamente operações de menor intensidade. Mas isso não significa mudança de estratégia, faz mais parte de um planejamento de longo prazo”, analisa o pesquisador.

·        Impacto econômico e orçamental para Israel

Como salienta David Rigoulet-Roze, as razões para esta retirada dos reservistas israelenses podem ser estratégicas, mas também econômicas. “Foram mobilizados 360 mil reservistas, o que representa entre 10 e 15% da força de trabalho israelense, especialmente nas pequenas e médias empresas. Esta é a essência da estrutura econômica. Há, portanto, um claro impacto econômico. Há também um impacto orçamental, com um déficit que rondará os 8%. Mas, além disso, também podemos nos questionar sobre as modalidades de redistribuição. Alguns levantam a possibilidade de que unidades sejam realocadas no norte do país, com potencial abertura de uma frente, na fronteira com o Líbano”, explica.

 

Ø  Para aliviar economia, Israel anuncia retirada de tropas militares em Gaza

 

As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram a retirada de milhares de seus soldados na Faixa de Gaza, nesta segunda-feira (01/01), configurando o primeiro recuo significativo das tropas de ocupação no território palestino desde a intensificação da guerra, em 7 de outubro.

As autoridades de Tel Aviv informaram, em comunicado, que estariam retirando, pelo menos temporariamente, cinco brigadas militares ainda nesta semana, incluindo os reservistas.

De acordo com as IDF, a 828ª Brigada, a 261ª Brigada e a 460ª Brigada, composta por tropas em serviço ativo, retornarão às suas “missões normais de treinamento”. Já a 551ª Brigada e a 14ª Brigada, composta por reservistas, voltarão para casa e retomarão seus “trabalhos normais”.

Apesar do anúncio, o órgão israelense deixou claro que a medida não significa o fim dos combates em Gaza nem de um afrouxamento da ocupação na região, uma vez que, neste fim de semana, o próprio primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu destacou que as hostilidades vão continuar por “muitos meses a mais”. 

De acordo com o porta-voz das IDF, Daniel Hagari, o regresso dos soldados permitirá um “alívio considerável para a economia” e possibilitará “reunir forças” para os futuros combates na região: “os objetivos da guerra exigem combates prolongados e estamos nos preparando adequadamente”.

A decisão de Tel Aviv tem como objetivo mitigar os danos econômicos do país. Um dos fatores que tem denegrido a economia israelense foi a convocação de mais de 300 mil reservistas para intensificar os ataques no território palestino. A medida teve sérias implicações para a nação, uma vez que, sem força de trabalho, muitas empresas foram obrigadas a encerrar ou a reduzir suas operações.

Além disso, os Estados Unidos, seu maior aliado, têm sido cada vez mais pressionado pela comunidade internacional, ordenando portanto o Estado judeu a uma guerra “menos intensa”, com menos civis mortos.

Em dezembro, altos funcionários de Washington haviam informado ao canal norte-americano CNN que a expectativa era de que a atual fase da operação terrestre contra o sul de Gaza durasse várias semanas antes mesmo do recuo dos militares israelenses.

Mais de 200 mortes em menos de 24 horas

No entanto, mesmo após o anúncio, os palestinos continuaram sendo hostilizados por ataques terrestres e aéreos nesta terça-feira (02/01), principalmente na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza.

Já na região norte, Israel afirmou ter matado dezenas de militantes nas últimas 24 horas. Além disso, civis informaram que um campo de refugiados central de Al-Bureij foi bombardeado pelos soldados israelenses.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, com a morte de mais 207 palestinos em apenas um dia, o número de fatalidades na região já ultrapassou a marca dos 22 mil nesta terça-feira. Por outro lado, as autoridades israelenses contabilizam cerca de 1.200 de seus civis mortos, principalmente durante a primeira ofensiva, em 7 de outubro.

 

Ø  Suprema Corte de Israel derruba reforma judicial e impõe dura derrota a Netanyahu

 

A Suprema Corte de Israel derrubou nesta segunda-feira (01/01) a reforma judicial promovida pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com a qual se pretendia reduzir o papel do Poder Judiciário e ampliar os mecanismos pelos quais este se submeteria ao Poder Executivo.

A lei recebeu em julho passado a sua primeira aprovação pelo Knesset, o Parlamento de Israel, apesar das diversas manifestações massivas contrárias a ela ocorridas em Tel Aviv durante o ano, algumas delas depois daquela vitória legislativa..

Segundo o diário Haaretz, oito dos 15 juízes da Suprema Corte consideraram que a reforma de Netanyahu “prejudicariam gravemente a democracia e o equilíbrio entre os poderes” em Israel.

O ministro da Justiça, Yariv Levin, aliado de Netanyahu e arquiteto da reforma, utilizou uma estranha argumentação para criticar a decisão da Suprema Corte, mencionando a ofensiva contra a Faixa de Gaza para dizer que a medida “demonstra o oposto do espírito de unidade exigido atualmente para o sucesso de nossos soldados no front”.

Ainda assim, disse que o governo não desistirá do projeto. O discurso do setor de extrema direita que apoia Netanyahu lembra as críticas feitas pelos aliados do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

Assim como Bolsonaro no Brasil, o premiê israelense também é alvo de investigações por possíveis crimes de corrupção, razão pela qual a oposição ao seu governo considera que esse é o verdadeiro motivo por traz do projeto governista.

 

Fonte: RFI/Opera Mundi

 

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