Os problemas legais da Shein, a gigante
chinesa da moda que avança no Brasil
A marca
chinesa Shein faz sucesso no Brasil e no mundo
pelos seus preços extremamente baixos e pela grande variedade de ofertas. Mas a
sua ascensão no mercado de fast fashion não é isenta de
problemas.
No Japão e nos Estados Unidos, a
empresa de vestuário online enfrenta problemas jurídicos devido a reclamações
dos seus concorrentes, ao mesmo tempo em que na China o governo está investigando a marca.
A sua expansão colocou
a Shein no centro do furacão no momento em que a empresa busca entrar no
mercado de ações.
A loja de roupas
japonesa Uniqlo está processando a marca por supostamente copiar uma de suas
bolsas, apelidada de 'Mary Poppins'.
O processo exige que
Shein pare de vender seu produto, que, segundo a Uniqlo, é muito parecido com
sua mini bolsa de ombro. É uma cópia “inferior e ilegal”, alegou a Uniqlo.
A bolsa Uniqlo ficou
famosa nas redes sociais por ser compacta e, ao mesmo tempo, muito espaçosa.
Por isso o apelido 'Mary Poppins': no filme estrelado por Julie Andrews, a babá
tira centenas de objetos de sua bolsa mágica.
A Shein, fundada na
China, mas com sede em Singapura, não comentou o processo até o momento.
Já a Uniqlo afirmou
nesta quinta-feira (18/1) que está buscando uma indemnização de perto de
US$ 1,1 milhão (R$ 5,4 milhões) pelo que considera uma violação da
sua propriedade intelectual.
·
A guerra legal contra
seu rival nos EUA
A loja Temu também é
uma plataforma de compras online em rápido crescimento. Enquanto a Shein detém
a maior participação no mercado de fast fashion dos Estados
Unidos, a empresa chinesa Temu se tornou o aplicativo mais baixado do país no
ano passado.
Em poucos meses, a
Temu deixou sua marca nos Estados Unidos e seu negócio cresceu rapidamente.
No Brasil, a
plataforma de vendas online ainda não é tão conhecida, mas já tem um aplicativo
disponível para download desde a metade do ano passado e tinha previsão de
iniciar suas entregas até o final de 2023.
Seu modelo de negócio
se aproxima de nomes como Amazon e Shopee, em que as estratégias incluem a
comercialização direto da fábrica, com preços mais baixos que a concorrência.
A marca rivalizou
diretamente com a Shein nos EUA, e os dois gigantes agora travam uma batalha
judicial.
A Shein processou a
Temu alegando que a empresa contratou influenciadores digitais para fazer
comentários desfavoráveis contra sua marca nas redes sociais.
Já a Temu denunciou
sua rival perante o sistema de Justiça dos EUA por suposto roubo de propriedade
intelectual e por violar a lei antitruste do país ao impedir que seus
fornecedores trabalhassem com a concorrente.
A Temu alegou que a
Shein usou supostas “táticas de intimidação ao estilo da máfia” para forçar
seus fornecedores a romperem relações com a empresa.
A loja de roupas
classificou o processo como “sem mérito” e prometeu uma contraofensiva legal.
“Acreditamos que este processo não tem mérito e nos defenderemos
vigorosamente”, disse a marca.
·
Investigação na China
Ao mesmo tempo, o
governo chinês está conduzindo uma revisão das práticas de manipulação e
compartilhamento de dados da empresa, de acordo com o jornal The Wall Street
Journal.
O órgão regulador da
internet chinesa está estudando como a Shein trata as informações de seus
parceiros, fornecedores e trabalhadores na China e se a empresa tem capacidade
para proteger esses dados, segundo o jornal ouviu de fontes próximas do
assunto.
O governo também
estaria interessado no tipo de dados coletados na China que a empresa divulgará
aos reguladores nos Estados Unidos, já que Shein pretende abrir seu capital no
país.
A marca não comentou o
assunto.
·
Expansão da Shein na
América Latina
A gigante da moda
começou a fabricar roupas no Brasil em 2022 e agora planeja enviar produtos de
sua fábrica brasileira para outros mercados latino-americanos.
A diretora de produção
brasileira, Fabiana Magalhães, comentou que “a ideia é que até 2026 o Brasil
esteja pronto para abastecer a América Latina”.
A empresa possui uma
rede de armazéns em todo o mundo, incluindo centros de distribuição no Brasil e
no México.
Considerado um
país-chave na sua estratégia de expansão pela América Latina, a Shein pretende
que o México entre no seu esquema de “mercados integrados”, oferecendo produtos
de vendedores externos juntamente com os seus próprios produtos.
Marcelo Claure,
presidente da Shein para a América Latina, disse no ano passado que o país
poderia até se tornar não apenas um fornecedor para a América Central, mas
também potencialmente assumir o mercado dos Estados Unidos.
A presença crescente
da Shein na América Latina ocorre no momento em que a empresa enfrenta oposição
de alguns legisladores nos Estados Unidos que defendem a eliminação de uma
isenção tarifária usada por empresas de comércio eletrônico que enviam produtos
de baixo custo da China diretamente aos compradores, segundo a agência de
notícias Reuters.
Uma ideia semelhante
foi colocada em debate pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, para controlar o que
descreveu como “concorrência desleal” entre empresas chinesas e produtores
locais.
O tema voltou a ser
discutido no governo Lula, que propôs aumentar o imposto de importação para
compras internacionais de até US$ 50 feitas em plataformas digitais. Mas o
Ministério da Fazenda ainda não tomou uma decisão final sobre o tema e o
tributo segue zerado.
·
Duras críticas
A Shein, muito popular
entre os jovens, tem sido criticada pelo seu modelo de negócio fast
fashion baseado na produção de um grande volume de peças de vestuário,
com muita rotatividade e a preços muito baixos, o que gera um forte impacto
ambiental.
As críticas mais duras
vêm de investigações jornalísticas que acusam a marca de trabalhar com
fornecedores que violam as leis trabalhistas.
A empresa se defende
dizendo que tem realizado “auditorias internas periódicas” e que opera um
código de conduta “estrito” que cumpre a lei. “Quando são detectadas violações,
tomamos medidas adicionais, que podem incluir a rescisão”, afirmou a Shein.
Sobre os direitos de
propriedade intelectual, a marca tem sido criticado por supostamente copiar o
trabalho de designers pouco conhecidos, algo que a Shein nega.
Um executivo sênior da
Shein disse à BBC no final de 2021 que eles têm uma equipe que analisa os novos
designs oferecidos por seus fornecedores antes de serem oferecidos em seu site,
para tentar filtrar possíveis imitações.
Desde o seu lançamento
em 2008, a empresa, fundada pelo empresário chinês Chris Xu, tornou-se um dos
maiores mercados de moda online do mundo.
Em 2022, o seu valor
de mercado foi estimado em cerca de US$ 100 bilhões, mbora essa estimativa
tenha caído significativamente durante uma ronda de angariação de fundos no ano
passado, segundo a Reuters.
Ø
Shein: os motivos do sucesso da marca de
moda chinesa
É uma cena comum no
YouTube, no TikTok e no Instagram: uma adolescente despeja um monte de roupas
da Shein em sua cama e experimenta cada peça para exibí-la aos seus seguidores.
A popularidade da
marca chinesa de fast fashion explodiu durante a pandemia.
Mas, se você tiver mais de 30 anos, provavelmente nunca ouviu falar dela.
De olho em compradores
preocupados com as tendências (e custos), a gigante opera exclusivamente pela
internet e adiciona surpreendentes 6 mil novos itens a seu catálogo
diariamente.
Mas também é alvo de
críticas sobre seu impacto ambiental, falta de transparência e acusações de que
copia pequenos designers, o que a Shein nega.
Explicamos a seguir os
motivos por trás do enorme sucesso da empresa.
·
1. É uma marca barata
- R$ 58 é o preço médio de seus produtos
Os pouco conhecidos
fundadores da Sheinside começaram sua sociedade em 2008, liderados pelo
empresário Chris Xu, que trabalhava com marketing digital e vendia vestidos de
noiva pela internet.
Com um nome abreviado,
Shein (pronuncia-se She-in), a empresa assumiu sua forma atual cinco anos
depois.
Embora seja sediada na
China, a empresa visa principalmente clientes nos Estados Unidos, Europa e
Austrália com seus tops, biquínis e vestidos a preços baixos - R$ 58 em média.
Hoje, é um dos maiores
nome do fast fashion, enviando produtos para 220 países.
A crise da covid-19
deu à empresa um impulso nas vendas, diz Richard Lim, presidente da consultoria
independente Retail Economics.
"Os lockdowns significavam
que muitos consumidores passavam mais tempo navegando online, e isso ajudou a
ampliar sua presença e a alcançar um público mais amplo com mais rapidez."
Embora a empresa não
divulgue informações financeiras, o provedor de dados CB Insights estima que as
vendas da Shein chegaram a 63,5 bilhões de yuans (R$ 54,4 bilhões) em 2020.
Mas os preços dos
produtos da Shein também levantaram questões sobre sua pegada ambiental, como
muitos de suas rivais.
É um grande desafio,
com a indústria da moda sendo responsável por até 8% das emissões globais de
carbono, de acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas.
Roberta Lee, uma
estilista de moda sustentável, destaca que Shein e outras marcas de fast
fashion costumam usar tecidos de poliéster, que dependem "da
extração de petróleo e carvão" para serem fabricados e não se biodegradam
como os materiais naturais.
A marca chinesa
insiste que seu método de produção de roupas em pequenos lotes é mais
eficiente.
Um porta-voz disse que
seu modelo de negócios "equilibra os desejos e necessidades dos
consumidores e o processo de estoque".
A empresa também diz
que deseja usar mais tecidos reciclados e que emprega uma tecnologia de
impressão de elementos gráficos e estampas que é menos poluente do que a
tradicional.
·
2. Muita variedade -
600 mil produtos à venda
A qualquer momento, a
Shein tem até 600 mil produtos à venda.
Ela conta com milhares
de fornecedores terceirizados, bem como cerca de 200 fabricantes contratadas,
perto de sua sede em Guangzhou.
No que o autor e
especialista em tecnologia chinesa Matthew Brennan definiu como "varejo em
tempo real", empresas menores ao longo de sua cadeia de suprimentos são
alimentadas com informações de tendências ou do desempenho de certos produtos.
Com base nesses dados,
eles produzem um lote de 50 a 100 itens de um estilo. Se for bem? A Shein pede
mais. Se não for, é descontinuado.
A Shein pode criar um
novo item em cerca de 25 dias. Para muitos varejistas, pode levar meses.
A companhia acelerou o
modelo "testar e repetir", que ficou famoso com empresas como a
H&M e a dona da Zara, Inditex.
Apenas 6% catálogo
estoque de Shein permanece à venda por mais de 90 dias, segundo apurou a BBC.
A empresa envia
pedidos para seus clientes diretamente, principalmente a partir de um depósito
de 1,5 milhão de m² nos arredores de Guangzhou.
Mas suas entregas
costumam levar pelo menos uma semana para chegar em mercados como Estados
Unidos e Reino Unido, em comparação com concorrentes que oferecem entrega no
dia seguinte à compra.
·
3. É muito popular nas
redes sociais - 250 milhões de seguidores
Usando um exército de
influenciadores, de estudantes "embaixadores" a estrelas de reality
shows, a Shein acumulou mais de 250 milhões de seguidores em seus canais de
mídia social.
A presença online de
Shein tem impulsionado seu sucesso "à medida que aumenta o conhecimento da
marca e o envolvimento" com os consumidores, diz Emily Salter, analista de
varejo da GlobalData.
Direcionar publicidade
e patrocinar influenciadores no Instagram e TikTok ajudou a torná-la relevante
entre os compradores mais jovens.
A empresa também
realiza shows ao vivo em suas plataformas para promover seus produtos.
"Isso é menos
usado por marcas ocidentais, mas tem um enorme potencial para impulsionar as
vendas, como evidenciado na China", diz Salter.
No entanto, o uso de
dados de clientes gerou preocupações no Reino Unido.
A Shein foi
recentemente acusada no Reino Unido de incentivar clientes a fornecer dados
pessoais em troca de descontos e outras recompensas.
O presidente do Comitê
de Relações Exteriores britânico, Tom Tugendhat, disse: "Milhões de
pessoas estão cedendo seus dados pessoais em troca de roupas baratas. Quando o
preço é muito bom, você tem que se perguntar quem está realmente pagando e como".
·
4. Uma equipe de
criação enorme - 200 designers
Criar uma gama
colossal de produtos e estilos com rapidez exige que a Shein empregue 200
designers, entre os mais de 7 mil funcionários.
Mas a marca foi
acusada de violação de direitos autorais e enfrenta processos judiciais de
empresas como a fabricante das botas Dr. Martens, embora negue qualquer
irregularidade.
Um executivo sênior da
Shein disse à BBC que ela também tem uma equipe que analisa novos projetos de
seus fornecedores antes de chegarem ao site, para tentar filtrar quaisquer
problemas de violação de direitos, e afirmou que a empresa leva esse assunto a
sério.
Embora a marca tenha
pago mais de US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhões) para designers independentes até
agora, ainda é alvo de acusações de plágio de empresas menores.
Algumas afirmam q: :ue
a Shein supostamente copiou suas criações e vendeu itens semelhantes a um custo
menor.
A Shein realizou
recentemente uma competição para jovens designers com um prêmio de US$ 100 mil
(R$ 550 mil) em uma tentativa de melhorar sua imagem.
Além disso, uma
investigação recente da BBC News revelou que anúncios de emprego para
trabalhadores nas fábricas e armazéns da Shein em sites de recrutamento
chineses diziam que pessoas de certas origens étnicas, incluindo uigures, não
devem se inscrever.
A Shein disse que não
financia ou aprova os anúncios e que está comprometida em "manter altos
padrões de trabalho".
Um porta-voz de Shein
afirmou à BBC que ela tem "uma política de tolerância zero para trabalho
forçado e infantil e discriminação".
Fonte: BBC News Mundo
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