sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Ministros de Lula saem em defesa de padre Júlio Lancellotti, alvo de pedido de CPI em SP

Alvo de um pedido de CPI na Câmara Municipal de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti recebeu apoio de ministros do governo Lula contrários à comissão.

O ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, publicou em seu perfil na rede X (antigo Twitter), nesta quinta-feira (4), que Lancellotti é o “padre dos pobres” e fez associações bíblicas sobre o risco de uma CPI.

O ministro afirmou que “Jesus já nos alertou que o caminho dos que cuidam dos necessitados e injustiçados não seria fácil”. “Espero que o bom senso prevaleça e deixem o Padre dos pobres trabalhar em paz.”

Para Messias, o padre exerce um trabalho imprescindível junto à população de rua.

A polêmica surgiu depois que o vereador Rubinho Nunes (União-SP) protocolou um pedido de CPI Câmara Municipal para apurar a atuação de ONGs na Cracolândia. O padre seria um dos investigados.

Também pelas redes sociais, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que uma CPI contra o padre é “inacreditável” e “parece uma tentativa de perseguição a defensores da justiça social”.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, publicou que “a instalação de uma CPI para investigar o padre Júlio, além de uma arbitrariedade criminosa, é também inconstitucional, já que não há fato determinado a ser investigado”.

Aos 75 anos, o padre Júlio Lancellotti popularizou o uso do termo “aporofobia” para descrever aversão, medo, à pobreza como uma das razões para falta de assistência à população de rua.

·        Prefeito Ricardo Nunes ligou para padre Júlio Lancellotti a fim de “tranquilizá-lo” sobre possível CPI

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), conversou por telefone com o padre Júlio Lancellotti e com d. Odilo Scherer, cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo, para tranquilizá-los a respeito de uma eventual abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal da cidade.

As ligações ocorreram na quarta (3) e na quinta-feira (4), respectivamente.

Padre Júlio é apontado como um dos potenciais alvos da CPI proposta pelo vereador Rubinho Nunes (União), que tem como objeto “examinar as atividades desempenhadas e se elas estão sendo executadas de maneira satisfatória” por organizações não governamentais atuantes na região conhecida como Cracolândia, no centro da capital paulista.

Ricardo Nunes disse tanto ao padre Júlio quanto a d. Odilo ter sabido via imprensa sobre o pedido de CPI, na quarta-feira (03). O prefeito então ligou para o religioso citado pelo vereador como um dos alvos para procurar tranquilizá-lo a respeito do caso.

Ficou acertado que Ricardo Nunes deve encontrar padre Júlio entre terça e quarta-feira da próxima semana, em um gesto de apoio ao religioso.

Nesta quinta-feira (04), o prefeito conversou com o arcebispo, que está em viagem no exterior, mas tem acompanhado o caso e deu apoio ao trabalho de padre Júlio junto à população em situação de rua.

A arquidiocese divulgou nota em que aponta “perplexidade” em relação ao pedido de CPI, e o próprio d. Odilo considera a hipótese de investigação um “absurdo”.

Padre Júlio também recebeu solidariedade de parlamentares de diversos partidos. Na Câmara, bancadas como as do PT e do PSOL indicaram contrariedade com a instalação da CPI.

O presidente da Casa, Milton Leite (União), só deve reunir o colégio de líderes para discutir o assunto após o fim do recesso parlamentar, em fevereiro.

·        ONG alvo é parceira da prefeitura

O vereador alega querer apurar a atuação das ONGs e, embora não cite nominalmente nenhuma entidade no pedido de CPI, tem como um dos alvos o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar).

Trata-se da principal parceira da atual gestão no atendimento à população em situação de rua no centro da cidade, com 29 equipes em ação na região – eram 7 no início da gestão, ainda sob o comando de Bruno Covas, morto em 2021.

Para Rubinho Nunes, é preciso apurar o que ele classifica como “máfia que explora a miséria no centro”.

Apesar da coincidência dos sobrenomes, prefeito e vereador não são parentes.

 

Ø  Padre Júlio Lancellotti diz que comissões são legítimas, mas que não faz parte de ONG

 

O padre Júlio Lancellotti disse à CNN que CPIs são “legítimas”, mas que ele não faz parte de nenhuma organização não governamental (ONG). Estes órgãos deverão ser alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a ser instalada em fevereiro na Câmara Municipal de São Paulo.

A comissão quer investigar as ONGs que atuam no centro de São Paulo, na região da Cracolândia, incluindo as atividades do padre Júlio Lancelotti, segundo informações do autor do requerimento, vereador Rubinho Nunes (União Brasil).

“As CPIs são legitimas e prerrogativas dos poderes legislativos”, disse Lancellotti à CNN, argumentando também que “as CPIs têm que ter um objetivo delimitado”.

E o objetivo dessa (CPI) é a questão da política pública com pessoas dependentes químicas, principalmente em área de cena de uso, que são pessoas em situação de rua. Quem executa essas políticas são OSCs (organizações da sociedade civil) com o poder púbico, e eu não pertenço a nenhuma OSC

·        Padre Júlio Lancellotti

O padre também disse que a “atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma às atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão”.

O pedido de CPI foi protocolado em 6 de dezembro do ano passado. Na justificativa, o vereador afirmou que a CPI buscará “examinar as atividades desempenhadas e se elas estão sendo executadas de maneira satisfatória” pelas ONGs que atuam na região da “Cracolândia”.

·        Quais são os alvos da CPI?

Embora o requerimento não cite nenhuma entidade, Nunes disse à CNN que, inicialmente, serão investigadas duas organizações: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e a Craco Resiste.

O vereador acrescentou que, além delas, também devem ser examinadas “todas as outras que atuam ali no centro que, na minha leitura, compõem a máfia que explora a miséria no centro de São Paulo”.

O parlamentar citou ainda a atuação do padre Júlio Lancellotti — conhecido por trabalhar junto à população em situação de rua na capital paulista. “Ele capitaneia tudo isso, então ele é uma figura que vai ser convocada tão logo a CPI seja instalada”.

Segundo o presidente da Câmara, Milton Leite (União), o assunto será tratado em reunião do colégio de líderes na volta do recesso parlamentar, em fevereiro.

Serão necessárias duas votações em plenário para que ela aconteça. A primeira para que se crie uma nova CPI na Câmara e a segunda, para que esta das ONGs seja a escolhida.

·        O que disseram as organizações citadas?

Em nota, o coletivo Craco Resiste também disse que ela não é uma ONG. “Somos um projeto de militância para resistir contra a opressão junto com as pessoas desprotegidas socialmente da região da Cracolândia”.

“Enxergamos esse tipo de ataque também como uma maneira de tirar o foco da discussão, mantendo aberto o ralo de dinheiro que passa ainda pela violência policial e a suposta repressão ao tráfico”, diz outro trecho do comunicado à imprensa.

Já o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto comunicou, também através de nota, que o “padre Júlio Lancellotti não é membro associado, conselheiro ou diretor do Centro social Nossa Senhora do Bom Parto, tampouco exerce algum cargo em nossas unidades de atendimento”.

 

Ø  Thammy e outros 3 vereadores retiram apoio à CPI das ONGs

 

O vereador de São Paulo Thammy Miranda (PL) afirmou nesta quinta-feira (4) que irá retirar sua assinatura da  CPI das ONGs na Câmara da capital. Segundo ele, o motivo seria não ter sido avisado que a apuração teria como alvo o padre Júlio Lancellotti, da Paróquia de São Miguel Arcanjo, na Cracolândia, localizada na região central da capital.

Outros três vereadores também retiraram apoio à CPI, segundo a GloboNews: Xexéu Tripoli (PSDB), Sidney Cruz (Solidariedade) e Sandra Tadeu (União Brasil).

"Em nenhum momento foi citado o nome do padre no requerimento, se tivesse jamais teria assinado porque defendo o trabalho dele. O padre está lá para ajudar as pessoas, estamos do mesmo lado. O que está acontecendo é uma grande fake news, o vereador está fazendo campanha política em cima", disse Thammy em entrevista ao jornal O GLOBO.

Ele também elogiou o trabalho do padre, e diz que esperava contar com seu apoio nesta recuperação humanitária:

"Acredito que 90% dos vereadores que assinaram não são contra o padre, assinaram com a intenção de proteger os usuários e as pessoas que moram em torno. Nossa intenção é de proteger e inclusive com a ajudar do padre", disse Thammy Miranda.

O vereador do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e base do prefeito Ricardo Nunes, se contrapõe à imagem de parlamentar conservador, destacando seu interesse em auxiliar e zelar pelas pessoas.

"Gosto de ajudar e cuidar das pessoas. Acredito que viemos ao mundo para servir", justificou. 

Nesta manhã, o nome do vereador tornou-se um dos assuntos mais discutidos no X (antigo Twitter), em meio a acusações de traição ao padre. Essas acusações surgiram pois, em agosto de 2020, Júlio Lancellotti defendeu Thammy publicamente. Naquela ocasião, políticos de extrema-direita, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atacaram o filho de Gretchen por sua participação em uma campanha de Dia dos Pais da marca Natura.

"O que ofende a tal moral cristã? O pai trans que cuida de seu filho? Ou o abandono, a fome, o desrespeito, o veto ao auxílio emergencial às mães que criam seus filhos sozinhas?", questionou o líder religioso em resposta aos ataques transfóbicos.

·        CPI das ONGs

A proposta para a criação da comissão parte do vereador Rubinho Nunes (União Brasil) e tem como principal foco duas entidades dedicadas ao trabalho comunitário para a população de rua e dependentes químicos na região: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e o coletivo Craco Resiste.

Nunes acusa o religioso de fazer parcerias com elas. Ao GLOBO, o vereador disse receber "inúmeras denúncias" sobre a atuação de várias ONGs no Centro de São Paulo, que dão alimentos, mas não realizam o acolhimento dos vulneráveis:

"Existe uma chamada máfia da miséria para obter ganhos por meio da boa-fé da população e isso não é ético e nem moral. O padre Júlio é o verdadeiro cafetão de miséria em São Paulo. A atuação dele retroalimenta a situação das pessoas. Não é só comida e sabonete que vai resolver a situação."

Em suas redes sociais, Padre Júlio Lancellotti negou qualquer relação com as entidades.

"Esclareço que não pertenço a nenhuma Organização da Sociedade Civil ou Organização Não Governamental que utilize de convênio com o Poder Público Municipal. A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão", disse em nota.

 

Fonte: CNN Brasil/iG

 

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