sábado, 27 de janeiro de 2024

De idealistas enganados pelo Ocidente a criminosos: quem são os mercenários que seguem na Ucrânia?

Só na última terça-feira (16), mais de 60 mercenários foram mortos após um ataque de alta precisão realizado pelas Forças Armadas da Rússia a um estacionamento temporário em Carcóvia, no leste da Ucrânia. Nesta quinta (18), as tropas destruíram outros dois pontos de apoio desses grupos acusados de diversos crimes de guerra.

Todos eram combatentes estrangeiros pagos pelo Ocidente, com maioria de origem francesa. O embaixador da França em Moscou chegou a ser convocado pelo Ministério das Relações Exteriores. Mas, afinal, quem são essas pessoas que atuam em conflitos armados por dinheiro? De idealistas que acreditam na causa defendida pelo regime de Vladimir Zelensky até criminosos, os mercenários usados pela Ucrânia ao longo da operação militar especial russa há quase dois anos possuem os mais diversos perfis. É o que contou à Sputnik Brasil o analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil Robinson Farinazzo.

Desde o início do conflito no país, iniciado com o objetivo de desmilitarização e desnazificação por conta do crescimento cada vez maior de movimentos extremistas, já foram contabilizados combatentes de quase 70 países, inclusive brasileiros. Pelo menos 600 já foram acusados de crimes de guerra.

"O perfil desse pessoal é o mais heterogêneo possível. Você tem desde o idealista, que realmente acredita que está lutando por uma boa causa, até todo tipo de criminoso, degenerado e fugitivo. E tem também veteranos das Forças Armadas de países como Estados Unidos, França, Alemanha, Polônia e de outros países da Europa, até mesmo do Brasil. Então é difícil você precisar qual é o tipo de pessoa, se ela realmente acredita ou se é alguém com algum tipo de problema. Mas tem muita gente lá que sequer sabia o que iria encontrar, que até morreu antes de dar sequer o primeiro tiro", resume o especialista.

O analista militar lembra ainda que Moscou conta com um excelente serviço de inteligência, o que ajuda a identificar facilmente onde estão e quem são os mercenários pró-Ucrânia.

"A Rússia vem atacando esses combatentes desde o início do conflito. Eles sabem de boa parte das movimentações, o que também não é uma coisa difícil de esconder. Esse pessoal não fala ucraniano, acaba aparecendo muitas comunicações em outras línguas, principalmente em inglês e polonês, e os serviços de inteligência da Rússia estão sob vigilância […]. Aliás, uma boa parte desses mercenários adora postar em redes sociais e denunciar os seus próprios movimentos", acrescenta.

Além disso, o comandante da reserva da Marinha vê que a contraofensiva ucraniana fracassou há tempos. "O que acontece é que, provavelmente, a Rússia tem mapeado todos os movimentos do Exército ucraniano e o que está sendo agora é um moedor de carne. A defesa aérea da Ucrânia, se não colapsou, está próxima a colapsar, eles não têm mais condições de defender as suas tropas. Na verdade, o país hoje só consegue vitórias no campo midiático e algumas pessoas acreditam que vai indo bem, mas a realidade é que ela está bem mal das pernas", diz.

O que é ser um mercenário?

De origem da palavra mercenarius, que no latim significa comércio, mercenários são pessoas que atuam em um conflito armado por dinheiro, geralmente sem ideais ou fidelidade a um Estado. Para o comandante da reserva, essa é a característica de grande parte desses mercenários que atuam na Ucrânia. Além disso, Farinazzo pontuou que a maioria já foi morta e o que ficou é "o residual". E, diante do apoio financeiro cada vez menor para o país — inclusive com dificuldades do maior financiador do regime de Zelensky, os Estados Unidos, em aprovar novos pacotes de ajuda por conta dos problemas internos —, o especialista acredita que esses combatentes devem deixar o país "em breve".

"Uma boa parte desses mercenários depende de pagamento de estrangeiros, e quando acabar o dinheiro vai deixar a Ucrânia. Até tem gente que está lá porque acredita efetivamente, pensa que a Rússia é o império do mal e cria essas fantasias na cabeça e, por isso, vai lutar por comida, munição e abrigo. Mas é uma parte bem pequena, só que os demais acabarão indo embora porque é uma causa perdida", argumenta o especialista.

·        Os mercenários são um risco para a população da Rússia?

O analista militar Robinson Farinazzo acredita ainda que o maior risco para a população russa que vive próxima à fronteira com a Ucrânia não é o grupo de mercenários, mas, sim, as armas de longo alcance enviadas frequentemente pelo Ocidente.

"Essas armas estão sendo usadas para tocar o terror contra a população civil, raras vezes fazem ataques contra alvos táticos ou estratégicos. São puramente armas para criar uma situação de instabilidade", explica.

Apesar das diversas aberturas de Moscou para que Kiev entre na mesa de negociações pela paz, o que é rejeitado veementemente pelo Ocidente a custo da continuidade do conflito, o especialista diz que a Rússia usa a mesma técnica que foi responsável pelas vitórias contra Napoleão Bonaparte e os nazistas a partir de 1943.

"É uma estratégia de conflito prolongado, do desgaste paulatino de um exército e também é um aviso que vai destruir completamente a capacidade militar da Ucrânia [...]. A coisa está sendo feita de forma tão lenta que nem o país e nem o Ocidente percebem o que está acontecendo", frisa.

Para o comandante da reserva, os apoiadores de Kiev, a exemplo dos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), acreditaram na própria propaganda de que a Rússia estava fracassando na operação militar especial. "Agora estão acordando que realmente o movimento que está fazendo, apesar de propositalmente lento, é avassalador. Eu penso que a Rússia vai destruir, se não completamente, pelo menos a maior parte da capacidade militar da Ucrânia".

·        Ataques ucranianos contra alvos civis na Rússia

No fim do ano passado, um bombardeio ucraniano realizado exclusivamente contra alvos civis deixou 25 pessoas mortas e mais de 100 feridos na cidade russa de Belgorod, perto da fronteira entre os dois países. O ataque aconteceu com um míssil de origem tcheca e, após a Rússia convocar uma reunião no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o país rejeitou enviar qualquer representante para dar explicações sobre como esse armamento foi parar no atentado terrorista. E o secretário-geral da entidade, António Gutierrez, sequer deu declarações sobre a questão.

"Historicamente, a entidade nunca conseguiu evitar um conflito, e, pelo contrário, ela foi responsável por uma das piores guerras do século passado, que foi a guerra da Coreia. Está completamente desmoralizada, ninguém espera nada dela. Se a ONU não conseguir fazer nada com relação, por exemplo, ao sofrimento dos palestinos em Gaza, eu penso que ela cai no completo descrédito e vai ter o mesmo rumo que teve a falecida Liga das Nações", finaliza.

·        'Sociopatas que gostam de disparar em pessoas': quem são os mercenários que lutam pela Ucrânia?

a Defesa russa anunciou um ataque de alta precisão em 16 de janeiro contra um local de estacionamento temporário de combatentes estrangeiros em Carcóvia, cujo núcleo eram mercenários franceses. A Sputnik entrevistou especialistas que comentaram o ataque.

Como resultado do ataque de 16 de janeiro, o edifício onde os mercenários estavam estacionados foi completamente destruído. Mais de 60 combatentes foram eliminados, mais de 20 foram levados para instituições médicas.

Os ataques de precisão da Rússia contra instalações que abrigam mercenários estrangeiros na Ucrânia "diminuem o entusiasmo e aumentam o nível de risco para soldados e outros, que estão na Ucrânia principalmente para ganhar dinheiro", disse à Sputnik a tenente-coronel aposentada da Força Aérea dos EUA Karen Kwiatkowski.

A especialista acredita que a maioria das pessoas contratadas como mercenários são mais marginais do que profissionais e têm problemas de saúde mental.

"Há pessoas, incluindo americanos, que ficaram psicologicamente arruinadas para o trabalho e a vida normais como resultado de mais de 30 anos de intervenção norte-americana no Iraque, no Afeganistão, até mesmo na antiga Iugoslávia e em vários outros lugares. Alguns são, sem dúvida, sociopatas que gostam de disparar em pessoas, mas outros procuram se sentir parte de algo real, e o combate fornece essa sensação."

No entanto, Kwiatkowski não tem dúvidas que os mercenários com um mínimo de experiência de combate, mas sem lealdade especial à Ucrânia, são capazes de avaliar rapidamente a relação de risco e recompensa e atuar de maneira apropriada, pois a liderança política e militar da Ucrânia deixa muito a desejar.

Earl Rasmussen, tenente-coronel aposentado do Exército dos EUA, ressaltou que alguns mercenários podem ser ex-militares, enquanto outros podem ser combatentes das "forças especiais" combatendo na Ucrânia "não oficialmente".

·        Neonazismo ocidental

Comentando o fluxo de mercenários para a Ucrânia, o analista político francês, Cyrille de Lattre, destaca o movimento neonazista que ainda existe no país, que se aproveita do conflito Rússia-Ucrânia, e avalia o papel da propaganda ocidental, que coloca as pessoas em risco.

"Há muitas pessoas que chamamos de 'guerreiros do TikTok', que vão para lá só para se mostrarem e gravar vídeos. Há rapazes que definitivamente já não têm mais nada. E entre essa turba, há aqueles que partem de um desejo de fazer algo, mas eles são ensinados de modo errado."

No entanto, os ataques de precisão russos afetam muito o desejo dos estrangeiros de se envolver no conflito.

De acordo com os dados do Ministério da Defesa da Rússia, mais de 11 mil mercenários de 84 países chegaram à Ucrânia desde o início da operação militar especial.

 

Ø  Combatente francês explica 'sonho patético' de mercenários francófonos pró-Kiev

 

François Mauld d'Aymée falou de efetivos com passado nazista que foram combater as forças da Rússia, que diz apenas servirem de "estúpida bucha" de canhão.

Um participante francês da operação militar especial russa, que lutou ao lado das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, deu uma entrevista à Sputnik sobre sua experiência.

Em resposta à questão se ele sabe algo sobre mercenários franceses pró-Kiev, François Mauld d'Aymée explicou que não tem nenhuma informação de que esses tenham sido prisioneiros, mas falou dos "mercenários canadenses francófonos".

"Em geral, eles pertencem aos círculos de nacionalistas radicais e veem aqui uma oportunidade de realizar um sonho patético de repetir os desafios da Grande Guerra pela Pátria [parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados]", explicou o oficial aposentado, que participou dos combates por Mariupol, e recebeu cidadania russa.

"Ou seja, eles são nazistas abertos, hitleristas, e terão liberdade para organizar o envio de novos combatentes a partir das instalações de treinamento que possuem em Paris e Lyon. Eles têm conexões com a CasaPound [movimento neonazista italiano], na Itália, e sua aparência será sempre de acordo com as linhas ideológicas do [batalhão ucraniano] Azov [organização nazista terrorista, proibida na Rússia]. Todos nós sabemos que não há nenhuma agenda ou ambição política séria aqui", apontou ele.

Em resumo, explicou, trata-se de "uma equipe de palhaços, esportistas, viciados em drogas, e alguns deles têm experiência de combate em campanhas no Afeganistão ou na África. Um número muito limitado deles luta, devido ao fato de falarem um nível muito básico de 'ucropeu' [derivado da expressão derrogatória para ucranianos] ou russo. Por isso, são mantidos em sua maioria na reserva. A maioria dos que estavam especificamente na linha de contato está ferida ou morta".

"Eles ainda representam uma ameaça para nós, mas são um material intelectual fraco, sem a capacidade de criar algum tipo de estruturas importantes e, em geral, não há crescimento visível nas fileiras do inimigo. É apenas bucha [de canhão], estúpida bucha, que deve morrer estupidamente. Conheço alguns deles pessoalmente e eles mal conseguem expressar qualquer opinião, mesmo em francês", concluiu d'Aymée.

 

Ø  Ministro questiona apoio de aliados europeus a Kiev e diz que Trump pode trazer 'pesadelo' à região

 

Caso Trump vença a eleição, pode "tirar os EUA da Europa" e isso "seria um pesadelo" para os Países Bálticos, de acordo com o ministro das Relações Exteriores da Lituânia.

Com as primárias em andamento nos Estados Unidos e os bons resultados que o ex-presidente, Donald Trump, tem conseguido, países europeus demonstram preocupação sobre se a parceria Europa-EUA continuará forte com a eventual volta do republicano.

"Se os EUA retirassem as suas forças da Europa, seria um cenário de pesadelo" com a operação russa na Ucrânia em curso, disse o chanceler da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, em uma entrevista à Bloomberg às margens do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

"A Europa tal como está agora está em grande perigo e estamos definitivamente a contar as horas até à próxima fase da escalada russa", afirmou Landsbergis acrescentando que a estabilidade global "depende da ligação transatlântica".

De acordo com a mídia, as autoridades europeias começam a temer que Washington possa cortar a assistência a Kiev e até tentar sair da OTAN em um regresso de Trump.

Na visão do chanceler lituano, se a Ucrânia não conseguir conter a Rússia, "outros terão de fazer o trabalho", disse ele, sugerindo que a Moscou poderia a seguir atacar uma nação da OTAN.

"Todos na região estão se perguntando: então quem terá que fazer isso?", indagou.

Landsbergis também criticou os aliados que estão limitando o seu apoio a Kiev e argumentou que isso representaria o risco de uma escalada do conflito com uma potência nuclear. Esses argumentos são "muito difíceis de entender", disse ele.

Tais comentários deixam países como a Lituânia a questionar qual seria a resposta se a Rússia atacasse uma nação da OTAN, disse ele. "A questão seria: você está disposto a entrar em guerra nuclear por este ou aquele país?", questionou.

Moscou já sinalizou várias vezes que começou sua operação na Ucrânia para "desmilitarização e desnazificação" do país vizinho, ao mesmo tempo, pelo não cumprimento de regras acordadas anteriormente, como a não expansão da OTAN na região. A intenção não é ficar promovendo conflitos, mas sim salvaguardar suas fronteiras.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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