De idealistas enganados pelo Ocidente a
criminosos: quem são os mercenários que seguem na Ucrânia?
Só na última
terça-feira (16), mais de 60 mercenários foram mortos após um ataque de alta
precisão realizado pelas Forças Armadas da Rússia a um estacionamento
temporário em Carcóvia, no leste da Ucrânia. Nesta quinta (18), as tropas
destruíram outros dois pontos de apoio desses grupos acusados de diversos
crimes de guerra.
Todos eram combatentes
estrangeiros pagos pelo Ocidente, com maioria de origem francesa. O embaixador
da França em Moscou chegou a ser convocado pelo Ministério das Relações
Exteriores. Mas, afinal, quem são essas pessoas que atuam em conflitos armados
por dinheiro? De idealistas que acreditam na causa defendida pelo regime de
Vladimir Zelensky até criminosos, os mercenários usados pela Ucrânia ao longo
da operação militar especial russa há quase dois anos possuem os mais diversos
perfis. É o que contou à Sputnik Brasil o analista militar e oficial da reserva
da Marinha do Brasil Robinson Farinazzo.
Desde o início do
conflito no país, iniciado com o objetivo de desmilitarização e desnazificação
por conta do crescimento cada vez maior de movimentos extremistas, já foram
contabilizados combatentes de quase 70 países, inclusive brasileiros. Pelo
menos 600 já foram acusados de crimes de guerra.
"O perfil desse
pessoal é o mais heterogêneo possível. Você tem desde o idealista, que
realmente acredita que está lutando por uma boa causa, até todo tipo de
criminoso, degenerado e fugitivo. E tem também veteranos das Forças Armadas de
países como Estados Unidos, França, Alemanha, Polônia e de outros países da
Europa, até mesmo do Brasil. Então é difícil você precisar qual é o tipo de
pessoa, se ela realmente acredita ou se é alguém com algum tipo de problema.
Mas tem muita gente lá que sequer sabia o que iria encontrar, que até morreu
antes de dar sequer o primeiro tiro", resume o especialista.
O analista militar
lembra ainda que Moscou conta com um excelente serviço de inteligência, o que
ajuda a identificar facilmente onde estão e quem são os mercenários
pró-Ucrânia.
"A Rússia vem
atacando esses combatentes desde o início do conflito. Eles sabem de boa parte
das movimentações, o que também não é uma coisa difícil de esconder. Esse
pessoal não fala ucraniano, acaba aparecendo muitas comunicações em outras
línguas, principalmente em inglês e polonês, e os serviços de inteligência da
Rússia estão sob vigilância […]. Aliás, uma boa parte desses mercenários adora
postar em redes sociais e denunciar os seus próprios movimentos",
acrescenta.
Além disso, o
comandante da reserva da Marinha vê que a contraofensiva ucraniana fracassou há
tempos. "O que acontece é que, provavelmente, a Rússia tem mapeado todos
os movimentos do Exército ucraniano e o que está sendo agora é um moedor de
carne. A defesa aérea da Ucrânia, se não colapsou, está próxima a colapsar,
eles não têm mais condições de defender as suas tropas. Na verdade, o país hoje
só consegue vitórias no campo midiático e algumas pessoas acreditam que vai
indo bem, mas a realidade é que ela está bem mal das pernas", diz.
O que é ser um
mercenário?
De origem da palavra
mercenarius, que no latim significa comércio, mercenários são pessoas que atuam
em um conflito armado por dinheiro, geralmente sem ideais ou fidelidade a um
Estado. Para o comandante da reserva, essa é a característica de grande parte
desses mercenários que atuam na Ucrânia. Além disso, Farinazzo pontuou que a
maioria já foi morta e o que ficou é "o residual". E, diante do apoio
financeiro cada vez menor para o país — inclusive com dificuldades do maior
financiador do regime de Zelensky, os Estados Unidos, em aprovar novos pacotes
de ajuda por conta dos problemas internos —, o especialista acredita que esses
combatentes devem deixar o país "em breve".
"Uma boa parte
desses mercenários depende de pagamento de estrangeiros, e quando acabar o
dinheiro vai deixar a Ucrânia. Até tem gente que está lá porque acredita
efetivamente, pensa que a Rússia é o império do mal e cria essas fantasias na
cabeça e, por isso, vai lutar por comida, munição e abrigo. Mas é uma parte bem
pequena, só que os demais acabarão indo embora porque é uma causa
perdida", argumenta o especialista.
·
Os mercenários são um risco para a
população da Rússia?
O analista militar
Robinson Farinazzo acredita ainda que o maior risco para a população russa que
vive próxima à fronteira com a Ucrânia não é o grupo de mercenários, mas, sim,
as armas de longo alcance enviadas frequentemente pelo Ocidente.
"Essas armas
estão sendo usadas para tocar o terror contra a população civil, raras vezes
fazem ataques contra alvos táticos ou estratégicos. São puramente armas para
criar uma situação de instabilidade", explica.
Apesar das diversas
aberturas de Moscou para que Kiev entre na mesa de negociações pela paz, o que
é rejeitado veementemente pelo Ocidente a custo da continuidade do conflito, o
especialista diz que a Rússia usa a mesma técnica que foi responsável pelas vitórias
contra Napoleão Bonaparte e os nazistas a partir de 1943.
"É uma estratégia
de conflito prolongado, do desgaste paulatino de um exército e também é um
aviso que vai destruir completamente a capacidade militar da Ucrânia [...]. A
coisa está sendo feita de forma tão lenta que nem o país e nem o Ocidente percebem
o que está acontecendo", frisa.
Para o comandante da
reserva, os apoiadores de Kiev, a exemplo dos membros da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN), acreditaram na própria propaganda de que a Rússia
estava fracassando na operação militar especial. "Agora estão acordando
que realmente o movimento que está fazendo, apesar de propositalmente lento, é
avassalador. Eu penso que a Rússia vai destruir, se não completamente, pelo
menos a maior parte da capacidade militar da Ucrânia".
·
Ataques ucranianos contra alvos civis na
Rússia
No fim do ano passado,
um bombardeio ucraniano realizado exclusivamente contra alvos civis deixou 25
pessoas mortas e mais de 100 feridos na cidade russa de Belgorod, perto da
fronteira entre os dois países. O ataque aconteceu com um míssil de origem tcheca
e, após a Rússia convocar uma reunião no Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas, o país rejeitou enviar qualquer representante para dar
explicações sobre como esse armamento foi parar no atentado terrorista. E o
secretário-geral da entidade, António Gutierrez, sequer deu declarações sobre a
questão.
"Historicamente,
a entidade nunca conseguiu evitar um conflito, e, pelo contrário, ela foi
responsável por uma das piores guerras do século passado, que foi a guerra da
Coreia. Está completamente desmoralizada, ninguém espera nada dela. Se a ONU
não conseguir fazer nada com relação, por exemplo, ao sofrimento dos palestinos
em Gaza, eu penso que ela cai no completo descrédito e vai ter o mesmo rumo que
teve a falecida Liga das Nações", finaliza.
·
'Sociopatas que gostam de disparar em
pessoas': quem são os mercenários que lutam pela Ucrânia?
a Defesa russa
anunciou um ataque de alta precisão em 16 de janeiro contra um local de
estacionamento temporário de combatentes estrangeiros em Carcóvia, cujo núcleo
eram mercenários franceses. A Sputnik entrevistou especialistas que comentaram
o ataque.
Como resultado do
ataque de 16 de janeiro, o edifício onde os mercenários estavam estacionados
foi completamente destruído. Mais de 60 combatentes foram eliminados, mais de
20 foram levados para instituições médicas.
Os ataques de precisão
da Rússia contra instalações que abrigam mercenários estrangeiros na Ucrânia
"diminuem o entusiasmo e aumentam o nível de risco para soldados e outros,
que estão na Ucrânia principalmente para ganhar dinheiro", disse à Sputnik
a tenente-coronel aposentada da Força Aérea dos EUA Karen Kwiatkowski.
A especialista
acredita que a maioria das pessoas contratadas como mercenários são mais
marginais do que profissionais e têm problemas de saúde mental.
"Há pessoas,
incluindo americanos, que ficaram psicologicamente arruinadas para o trabalho e
a vida normais como resultado de mais de 30 anos de intervenção norte-americana
no Iraque, no Afeganistão, até mesmo na antiga Iugoslávia e em vários outros
lugares. Alguns são, sem dúvida, sociopatas que gostam de disparar em pessoas,
mas outros procuram se sentir parte de algo real, e o combate fornece essa
sensação."
No entanto,
Kwiatkowski não tem dúvidas que os mercenários com um mínimo de experiência de
combate, mas sem lealdade especial à Ucrânia, são capazes de avaliar
rapidamente a relação de risco e recompensa e atuar de maneira apropriada, pois
a liderança política e militar da Ucrânia deixa muito a desejar.
Earl Rasmussen,
tenente-coronel aposentado do Exército dos EUA, ressaltou que alguns
mercenários podem ser ex-militares, enquanto outros podem ser combatentes das
"forças especiais" combatendo na Ucrânia "não
oficialmente".
·
Neonazismo ocidental
Comentando o fluxo de
mercenários para a Ucrânia, o analista político francês, Cyrille de Lattre,
destaca o movimento neonazista que ainda existe no país, que se aproveita do
conflito Rússia-Ucrânia, e avalia o papel da propaganda ocidental, que coloca as
pessoas em risco.
"Há muitas
pessoas que chamamos de 'guerreiros do TikTok', que vão para lá só para se
mostrarem e gravar vídeos. Há rapazes que definitivamente já não têm mais nada.
E entre essa turba, há aqueles que partem de um desejo de fazer algo, mas eles
são ensinados de modo errado."
No entanto, os ataques
de precisão russos afetam muito o desejo dos estrangeiros de se envolver no
conflito.
De acordo com os dados
do Ministério da Defesa da Rússia, mais de 11 mil mercenários de 84 países
chegaram à Ucrânia desde o início da operação militar especial.
Ø
Combatente francês explica 'sonho patético'
de mercenários francófonos pró-Kiev
François Mauld d'Aymée
falou de efetivos com passado nazista que foram combater as forças da Rússia,
que diz apenas servirem de "estúpida bucha" de canhão.
Um participante
francês da operação militar especial russa, que lutou ao lado das repúblicas
populares de Donetsk e Lugansk, deu uma entrevista à Sputnik sobre sua
experiência.
Em resposta à questão
se ele sabe algo sobre mercenários franceses pró-Kiev, François Mauld d'Aymée
explicou que não tem nenhuma informação de que esses tenham sido prisioneiros,
mas falou dos "mercenários canadenses francófonos".
"Em geral, eles
pertencem aos círculos de nacionalistas radicais e veem aqui uma oportunidade
de realizar um sonho patético de repetir os desafios da Grande Guerra pela
Pátria [parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941
e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a
Alemanha nazista e seus aliados]", explicou o oficial aposentado, que
participou dos combates por Mariupol, e recebeu cidadania russa.
"Ou seja, eles
são nazistas abertos, hitleristas, e terão liberdade para organizar o envio de
novos combatentes a partir das instalações de treinamento que possuem em Paris
e Lyon. Eles têm conexões com a CasaPound [movimento neonazista italiano], na
Itália, e sua aparência será sempre de acordo com as linhas ideológicas do
[batalhão ucraniano] Azov [organização nazista terrorista, proibida na Rússia].
Todos nós sabemos que não há nenhuma agenda ou ambição política séria
aqui", apontou ele.
Em resumo, explicou,
trata-se de "uma equipe de palhaços, esportistas, viciados em drogas, e
alguns deles têm experiência de combate em campanhas no Afeganistão ou na
África. Um número muito limitado deles luta, devido ao fato de falarem um nível
muito básico de 'ucropeu' [derivado da expressão derrogatória para ucranianos]
ou russo. Por isso, são mantidos em sua maioria na reserva. A maioria dos que
estavam especificamente na linha de contato está ferida ou morta".
"Eles ainda
representam uma ameaça para nós, mas são um material intelectual fraco, sem a
capacidade de criar algum tipo de estruturas importantes e, em geral, não há
crescimento visível nas fileiras do inimigo. É apenas bucha [de canhão],
estúpida bucha, que deve morrer estupidamente. Conheço alguns deles
pessoalmente e eles mal conseguem expressar qualquer opinião, mesmo em
francês", concluiu d'Aymée.
Ø
Ministro questiona apoio de aliados
europeus a Kiev e diz que Trump pode trazer 'pesadelo' à região
Caso Trump vença a
eleição, pode "tirar os EUA da Europa" e isso "seria um
pesadelo" para os Países Bálticos, de acordo com o ministro das Relações
Exteriores da Lituânia.
Com as primárias em
andamento nos Estados Unidos e os bons resultados que o ex-presidente, Donald
Trump, tem conseguido, países europeus demonstram preocupação sobre se a
parceria Europa-EUA continuará forte com a eventual volta do republicano.
"Se os EUA
retirassem as suas forças da Europa, seria um cenário de pesadelo" com a
operação russa na Ucrânia em curso, disse o chanceler da Lituânia, Gabrielius
Landsbergis, em uma entrevista à Bloomberg às margens do Fórum Econômico
Mundial em Davos, na Suíça.
"A Europa tal
como está agora está em grande perigo e estamos definitivamente a contar as
horas até à próxima fase da escalada russa", afirmou Landsbergis
acrescentando que a estabilidade global "depende da ligação
transatlântica".
De acordo com a mídia,
as autoridades europeias começam a temer que Washington possa cortar a
assistência a Kiev e até tentar sair da OTAN em um regresso de Trump.
Na visão do chanceler
lituano, se a Ucrânia não conseguir conter a Rússia, "outros terão de
fazer o trabalho", disse ele, sugerindo que a Moscou poderia a seguir
atacar uma nação da OTAN.
"Todos na região
estão se perguntando: então quem terá que fazer isso?", indagou.
Landsbergis também
criticou os aliados que estão limitando o seu apoio a Kiev e argumentou que
isso representaria o risco de uma escalada do conflito com uma potência
nuclear. Esses argumentos são "muito difíceis de entender", disse
ele.
Tais comentários
deixam países como a Lituânia a questionar qual seria a resposta se a Rússia
atacasse uma nação da OTAN, disse ele. "A questão seria: você está
disposto a entrar em guerra nuclear por este ou aquele país?", questionou.
Moscou já sinalizou
várias vezes que começou sua operação na Ucrânia para "desmilitarização e
desnazificação" do país vizinho, ao mesmo tempo, pelo não cumprimento de
regras acordadas anteriormente, como a não expansão da OTAN na região. A intenção
não é ficar promovendo conflitos, mas sim salvaguardar suas fronteiras.
Fonte: Sputnik Brasil
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