sábado, 27 de janeiro de 2024

A NOVA POLÍTICA INDUSTRIAL E A BAHIA

O governo federal lançou esta semana sua política industrial, chamada de Nova Indústria Brasil (NIB), que disponibiliza R$ 300 bilhões para financiamentos até 2026. Abstraindo a crítica e a defesa exacerbada dos arautos da polarização, cabe dizer que o foco da proposta é correto – inovação, sustentabilidade ambiental, transição energética e mais exportações –, o problema são às dificuldades para a sua implementação como, aliás, o próprio Presidente Lula reconheceu, ao conclamar sua equipe para o trabalho: “Que a gente possa cumprir isso que a gente escreveu no papel”.

A nova política é adequada ao momento econômico e semelhante às políticas de outros países e tem sim, em alguns setores, uma pegada protecionista, como ocorre nas políticas industriais da maior parte dos países do mundo.  A França, tão liberal em seu discurso, é altamente protecionista com seu agronegócio e sua agropecuária, e os Estados Unidos colocou restrições às exportações de chips para a China e está ampliando o protecionismo. O problema não está aí, mas na disponibilidade de recursos de modo a não comprometer o ajuste fiscal e, principalmente, na forma de distribuição dos benefícios para que não haja foco em  empresários e setores eleitos.

O BNDES, de onde virá R$ 271 bilhões em financiamentos, diz, no entanto, que não precisará de recursos do Tesouro e que não haverá “campeões nacionais”, pois a política é baseada em editais públicos e transparentes com rigor nas garantias. Há ainda a preocupação relacionada com as políticas de conteúdo local e compras do governo, no sentido de que não podem ser generalizadas, mas focadas nos objetivos, evitando a criação e manutenção de setores antieconômicos e de baixa produtividade.

 Dito isso, cabe destacar que o plano Nova Indústria Brasil 2024-2026 estabelece para áreas prioritárias linhas de crédito extremamente baratas e recursos não-reembolsáveis, o que será um poderoso indutor do investimento. Uma dessas áreas é a cadeia agroindustrial, que tem tudo a ver com a Bahia, e terá financiamentos para a compra de máquinas agrícolas, para a agricultura familiar, biofertilizantes e agricultura de precisão. Outra área estratégica é a da bioeconomia e das energias renováveis, na qual a Bahia vem investindo forte. A nova política industrial prevê financiamentos baratos para a área de bioenergia e equipamentos para a gestão de energia renovável. O REIQ – Regime Especial da Indústria Química, fundamental para o Polo Petroquímico de Camaçari, também está contemplado. No objetivo de descarbonização e transição energética, a Bahia tem projetos importantes como, por exemplo na área de hidrogênio verde e um investimento de R$ 12 bilhões para a construção e operação de uma biorrefinaria.

O programa estabelece financiamento para infraestrutura, saneamento, e mobilidade sustentáveis, priorizando a “eletromobilidade” e a cadeia produtiva de bateria, uma interface especial com a Bahia que está implantando um complexo produtor de carros e ônibus elétricos. Aí também estão inclusos, a construção civil digital e de baixo carbono e a indústria metroferroviária.  Não há espaço para citar todas as áreas, mas o Complexo Econômico Industrial da Saúde, que vem se ampliando na Bahia, está previsto com o financiamento de fármacos e terapias avançadas, vacinas, dispositivos médicos e tecnologias da informação. E está previsto a transformação digital, com a indústria 4.0 e semicondutores e a área de defesa. Em suma: a Bahia, tanto no âmbito privado quanto governamental, tem espaço para ser contemplada na nova política industrial.

                       A BAHIA E A ENERGIA LIMPA

A Bahia está se especializando em energia limpa. Em 2023, por exemplo, 50 novas usinas de energia eólica foram inauguradas, com um investimento de mais de R$ 10 bilhões. É o maior número da série histórica iniciada em 2012.

Existem atualmente 312 usinas em operação no Estado, com capacidade 9 Gigawatts (GW) de potência outorgada, um investimento  total estimado em R$ 42 bilhões. Atualmente, 54 usinas eólicas estão em construção. A Bahia também apresentou a maior geração total desse tipo energia no país, sendo responsável por 33% da geração nacional, com base nos dados de geração de 2023. A informação é da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

 

Ø  UM DESAFIO PARA A ECONOMIA BAIANA. Por Armando Avena

 

Houve um tempo em que a Bahia dependia inteiramente do cacau e de tal modo que a queda nos preços internacionais do produto paralisava a economia baiana. Com o tempo, a Bahia diversificou sua economia, aumentou a base industrial, ampliou a matriz produtiva, mas, passados 40 anos do auge do ciclo do cacau, permanecemos como uma economia exportadora, não de apenas um produto, mas de dois: soja e o petróleo.

A Bahia exportou em 2023, pouco mais de 11 bilhões de dólares e, desse total, 58% foram referentes às vendas de soja e petróleo, na seguinte proporção: 28% soja e derivados; 22% petróleo e derivados; 9% químicos e petroquímicos. Ou seja, estamos muito próximos do tempo em que 60% das nossas exportações eram de cacau e seus derivados. E, como naquela época, permanecemos dependentes dos humores internacionais, pois, em 2023, a desaceleração da economia global e a queda dos preços internacionais das nossas duas principais commodities, fizeram com que as exportações caíssem quase 20%. As vendas de soja caíram 10%, de petróleo 37% e de petroquímicos 36% e isso contribuiu para que o PIB baiano crescesse menos que a média nacional.

Os dez principais produtos da nossa pauta de exportações – soja, petróleo, papel e celulose, petroquímicos, metais preciosos, algodão, minérios, metalúrgicos, frutas e cacau – são commodities, sujeitas às oscilações típicas do mercado internacional. Isso significa que  estamos novamente como no tempo de Rômulo Almeida presos ao enigma baiano, caracterizado por uma economia que gera excedente, mas parte do excedente vaza para outros locais, já que a maior parte da nossa produção não é beneficiada localmente, não agrega valor dentro do nosso território.  O fato é que, embora tenhamos desenvolvido um setor industrial pujante, que responde por mais de 20% do PIB, ele ainda permanece um produtor de matérias-primas. E precisamos mudar esse quadro, mas de uma forma diferente da tradicional, ou seja: é preciso beneficiar os grãos produzidos no Oeste; atrair empresas como a BYD e outras; retomar o dinamismo econômico de Salvador; avançar na verticalização da produção de petroquímicos, papel e celulose e outros, mas isso não basta. Um relatório recente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) afirma que as economias dependentes do comércio de commodities precisam aumentar suas capacidades tecnológicas para escapar da “armadilha” do comércio de bens primários. Destaca a correlação entre baixa capacidade de tecnologia e alta dependência de commodities e diz que é preciso caminhar para uma transformação estrutural via tecnologia, elevando a participação da produção manufaturada e dos serviços de alto valor e dá exemplo de países como a Costa Rica e a Indonésia que superaram a armadilha da dependência de commodities.

Além de iniciativas importantes como a vinda da BYD, o investimentos nas energias renováveis e outros tantos, a Bahia precisa avançar nesse caminho e investir mais em tecnologia e inovação, valer-se mais de instituições como a Senai/Cimatec e fazer da UFBA e de outras universidades instrumentos de articulação inovadora com os setores produtivos. Felizmente, o Secretário de Planejamento do Estado, Cláudio Peixoto, informa a este colunista, que essas questões estão sendo abordadas no PDI – Plano de Desenvolvimento Integrado 2035, ora em elaboração pela Seplan-Ba, e no Plano Ferroviário da Bahia, elaborado pela Fundação Dom Cabral, para a CBPM e a SEI.  Planejamento: esse é o caminho para buscar um novo modelo de desenvolvimento mais focado na inovação, na tecnologia e na disponibilidade de infraestrutura.

 

Fonte: Por Armando Avena em A Tarde/Bahia Econômica

 

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