sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Quase 200 municípios estão em situação de emergência por causa da estiagem na Bahia

O riacho já deveria estar correndo no meio da Caatinga, na zona rural de Curaçá, no norte da Bahia. A temporada de chuva no sertão baiano começa em novembro e vai até março. Era com essa água que Fábio dos Santos Dias contava para matar a sede dos animais.

"O riacho 'botava' no período de vinte, trinta dias escorrendo, ultimamente, as vezes que passa, passa uma semana, já seca (...) então, cada vez mais está mais tá sendo um pouco 'precário' a chuva nessa região", conta o agricultor.

Na zona rural de Feira de Santana, centro-norte do estado, Liolino Pereira já perdeu quatro animais. Ele mantém os dezesseis que restam com mandacaru, uma espécie de cacto.

"Quando chega ali que vê aquela ali fraquinha, vai levantar, não pode levantar, chega adiante, encontra outra morta, ele é capaz até de esmorecer e querer abandonar o criatório, mas eu não abandonar, não", diz Liolino.

Em um povoado do estado, onde toda a produção de milho foi perdida, os moradores apelam para o que resta no reservatório: uma água barrenta.

"Para tomar banho, para lavar prato, e para beber a gente tem que estar comprando".

Na região oeste, produtora de soja e algodão, choveu apenas 15% do volume esperado para o mês de dezembro.

O governo do estado anunciou um plano emergencial para o enfrentamento da seca. São medidas como a distribuição de cestas básicas e a isenção de taxas para que as prefeituras possam enviar caminhões-pipa.

A seca não é, por enquanto, uma preocupação para a maioria dos moradores das zonas urbanas do estado. Os cinco reservatórios que abastecem Salvador e região metropolitana, por exemplo, operam com 90% da capacidade. Porém, em outras regiões da Bahia, os sistemas de abastecimento das cidades já sofrem os efeitos da falta de chuva.

Na barragem em Piripá, no sudoeste baiano, virou terra seca. A companhia de saneamento do Estado teve que recorrer a outro reservatório para não deixar faltar água.

Na mesma região, a vazão dos rios que formam esta outra barragem caiu abaixo da metade. É um dos dois reservatórios que abastecem Vitória da Conquista, uma das maiores cidades da Bahia, com quase 400 mil habitantes.

"Por enquanto, está sob controle, mas a gente tem monitorado diariamente por conta disso, não é uma barragem de grande proporção e depende realmente dos mananciais que abastecem", afirma Leonardo Goes, presidente da Embasa.

 

Ø  Maior seca em 10 anos mata milhares de peixes no Maranhão

 

A seca que atinge a Baixada Maranhense, região que compreende mais de 20 municípios do Maranhão, é considerada a maior dos últimos 10 anos. A situação tem causado transtornos e afetado a população local já que muitos lagos e lagoas secaram e com isso, milhares de peixes morreram.

A estimativa dos pescadores da área é que, nos últimos dias, pelo menos cinco toneladas de peixes tenham morrido devido a seca no Lago de Itans, em Matinha, cidade a 222 km de São Luís.

"Eu tenho 70 anos. Eu presenciei já três secas grande assim [...] Uma em 81, uma em 2012 e outra essa agora que nós estamos em 2023", relembra o pscicultor Silas Silva.

O lago possui uma área de 4 km² e é um dos mais importantes da Baixada Maranhense, região conhecida por grandes planícies baixas que, na estação chuvosa, formam grandes lagoas. Após seis meses de estiagem, o que era um lago se transformou em um córrego.

"A vida do pescador é nesse lago. Tirando o de casa, ainda fazendo um 'troquinho'. Aí seca, fica mais complicado", diz o pescador Givanildo Mendonça.

Sem água e oxigênio suficientes, associado com as altas temperaturas em Matinha, os peixes agonizam em busca de ar. Com isso, milhares de peixes acabaram morrendo e em meio ao material apodrecido, os pescadores retiram os que ainda estão vivos.

“Muita tristeza e já morreu muito [peixe]. Isso aqui não está nem na metade do que já morreu", revela o pescador Manoel Costa Martins.

No meio desse material perdido, o pescador Nivaldo Reis ainda tem esperança de recuperar parte dos peixes que foram perdidos. "A gente vai dar um jeito, botar no açude. Para eles passarem mais um dia, porque uma 'estragação' dessa aí é mais ruim pra gente", diz.

A seca do lago e a morte dos peixes impactam na economia e a subsistência das comunidades que vivem na área, pelo menos 10 mil pescadores dependem diretamente do Lago de Itans, em Matinha (MA). Dados apontam que, 90% da população de pescadores da área, também se alimentam do que é produzido por meio do lago.

“90% são os pescadores da pesca nativa e os outros 10% são os compradores. Então de qualquer forma todos são envolvidos e se alimentam daqui do lago”, explica o agente comunitário.

Com os peixes mortos, a reprodução das espécies deve ficar comprometida. No período da piracema, que começa em novembro e vai até o fim de março, o Governo Federal dá auxílio de um salário mínimo mensal aos pescadores.

""Hoje, os pescadores não vão sentir porque eles estão naquele período dos quatro salários mínimos, mas vão sentir falta depois que terminar o 'defeso,' vão sentir falta porque não vai ter peixe", explica Narlon Silva, piscicultor.

Os efeitos da seca se espalham pela região. Sem água, os bichos vagam pelos campos procurando algo para beber. Os búfalos, animais comuns nessas áreas alagadas, buscam refresco na lama que sobrou dos igarapés.

Em meio ao campo, distante de quase tudo e dos centros das cidades, a água potável para consumo das famílias também está em falta. A cisterna precisa ser abastecida com carro pipa que, por conta da distância, demora para chegar na região.

"A gente vai buscar água em Itans. Vai de moto, de carro, enquanto não chega essa água pra gente . se demorar dois ou três dias, o sofrimento é mais", diz Martins.

Animais caminham sob o solo seco em Viana (MA) — Foto: Reprodução/TV Globo

No açude seco, por conta da seca, a dona de casa Lúcia ainda tenta tirar água para uso doméstico. A quantidade será usada para lavar louças e roupas, já que nem sempre, é própria para o banho.

“Só pra lavar alguma louça e pra lavar mesmo a roupinha em casa só. […] Tem vez que essa água não presta nem pra gente banhar", diz a dona de casa.

Agora, os pescadores e a população local alimentam suas esperanças para o início do período chuvoso. "Quando ela sempre carrega nessa parte daqui, sempre acontece uma chuva. pode chover ainda hoje. É sim, senhora, porque só o senhor tem poder", diz Raimundo Nonato, pescador.

 

Fonte: g1

 

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