quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

O imperador romano que era na verdade mulher trans, segundo museu

Um museu britânico resolveu alterar os dados do material que expõe ligado a um imperador romano depois de concluir que ele era, na verdade, uma mulher trans.

O Museu North Hertfordshire, em Hitchin, cidade ao norte de Londres, agora se referirá ao imperador Heliogábalo com os pronomes femininos "ela" e "dela".

O tema divide historiadores. O museu justificou a decisão citando textos clássicos que afirmam que o imperador teria declarado, certa vez, "não me chame de senhor, pois sou uma senhora".

Um porta-voz do museu disse que seria "educado e respeitoso ser sensível à identificação de pronomes para pessoas do passado".

O museu possui uma moeda de Heliogábalo, que é frequentemente exibida entre outros itens LGBTQIA+ de seu acervo.

O porta-voz disse que a instituição de caridade LGBTQIA+ Stonewall foi consultada para garantir que “as exibições, a publicidade e as palestras sejam tão atualizadas e inclusivas conforme for possível”.

Marco Aurélio Antonino, mais conhecido como Heliogábalo, governou o Império Romano por apenas quatro anos, de 218 d.C. até seu assassinato, aos 18 anos, em 222 d.C..

Foi uma figura bastante controversa, apesar de seu curto reinado, em parte pelos relatos de promiscuidade sexual.

Cassius Dio, senador e contemporâneo de Heliogábalo, escreve em suas crônicas históricas que o imperador foi casado cinco vezes - quatro vezes com mulheres, e uma vez com Hiercoles, um ex-escravizado e cocheiro.

Nesse último casamento, Dio escreve que o imperador "foi concedido em casamento e foi denominado esposa, amante e rainha".

O debate sobre a identidade de gênero de Heliogábalo é antigo.

Shushma Malik, professor de clássicos da Universidade de Cambridge, disse à BBC que "as palavras que Dio usa não são uma citação direta de Heliogábalo e, no momento em que este artigo foi escrito, o imperador estaria no início da adolescência".

"Há muitos exemplos na literatura romana de épocas em que linguagem e palavras efeminadas eram usadas como forma de criticar ou enfraquecer uma figura política."

"Referências a Heliogábalo usando maquiagem, perucas e removendo pelos do corpo podem ter sido escritas para minar o impopular imperador."

Malik acrescentou que embora os romanos estivessem conscientes da fluidez de gênero, e existam exemplos de pronomes alterados na literatura, "era geralmente usado em referência a mitos e religião, em vez de descrever pessoas vivas".

No entanto, Keith Hoskins, membro executivo do departamento cultural do North Herts Council, que administra o museu, disse que textos como o de Dio fornecem evidências "de que Heliogábalo definitivamente preferia o pronome 'ela' e, como tal, isso é algo que espelhamos ao discuti-la nos tempos contemporâneos, como acreditamos ser uma prática padrão em outros lugares."

"Sabemos que Heliogábalo se identificou como mulher e foi explícito sobre quais pronomes usar, o que mostra que os pronomes não são uma coisa nova", acrescentou.

 

Ø  Por que o concreto romano dura tanto?

 

O concreto romano é conhecido por sua durabilidade. De fato, monumentos como o Panteão — a maior cúpula de concreto não armado do mundo — continuam erguidos milhares de anos após a sua construção inicial, enquanto estruturas modernas desmoronam após algumas décadas. 

Por muito tempo, a durabilidade do concreto romano permaneceu como um dos grandes mistérios da antiguidade. Diversas teorias, como a utilização de um material pozolânico, como cinza vulcânica, foram debatidas dentro da comunidade científica. Em 2014, por exemplo, concluiu-se que o material era constituído por uma mistura de cinza vulcânica, também conhecida como Pozolana, cal e água para fazer uma argamassa.

A argamassa, então, seria misturada com pedaços de rocha para criar o concreto, que recebia a sua durabilidade a partir da reação química entre a sílica e a alumina presentes na cinza vulcânica. Adicionalmente, em contato com a água do mar, o material tornava-se “uma única massa de pedra, inexpugnável às ondas e cada dia mais forte”, segundo o estudioso romano Plínio, o Velho. (2)

Entretanto, uma pesquisa de 2023 publicada na revista Science Advances revelou outra característica do concreto romano que pode ser responsável por sua durabilidade. 

·        Como era feito o concreto romano?

Segundo o time de pesquisadores do MIT, Harvard e laboratórios na Itália e na Suíça, os romanos misturavam, em temperaturas extremas, cal viva altamente reativa (óxido de cálcio) com cal hidratada (hidróxido de cálcio, feito pela mistura de cal viva e água). 

Isso resultava em pequenos pedaços brancos chamados clastos de cal, bombas de óxido de cálcio que, quando expostas à água em uma fissura no concreto, reagem para formar carbonato de cálcio, curando a fissura.

Anteriormente, os clastos de cal presentes no material foram desconsiderados como evidência de práticas de mistura desleixadas ou matérias-primas de baixa qualidade. 

“A ideia de que a presença destes clastos calcários fosse simplesmente atribuída ao baixo controle de qualidade sempre me incomodou. Se os romanos se esforçaram tanto para produzir um excelente material de construção, seguindo todas as receitas detalhadas que foram otimizadas ao longo de muitos séculos, por que eles colocariam tão pouco esforço para garantir a produção de um produto final bem misturado?”, disse Admir Masic, co-autor do estudo e professor de engenharia civil e ambiental do MIT.

Para comprovar que a característica de “auto cura” do concreto era responsável por sua resistência, o time conduziu um experimento. Nele, os pesquisadores produziram amostras de concreto romano misturado a quente que incorporavam formulações antigas e modernas, quebrando-as deliberadamente e depois fazendo correr água pelas rachaduras.

Foi observado que, dentro de duas semanas, as rachaduras estavam completamente curadas e a água não conseguia mais fluir. 

·        O concreto e as mudanças climáticas

O cimento é o material mais utilizado na Terra, comumente utilizado na produção de concreto. Estimativas da Global Cement and Concrete Association apontam que 14 bilhões de metros cúbicos de concreto são produzidos a cada ano.

Sozinha, a produção de concreto é responsável por 7% de todas as emissões de CO2 do mundo inteiro.

“Isso é mais do que todas as emissões da União Europeia ou da Índia, atrás apenas das da China e dos EUA”, disse Valerie Masson-Delmotte, uma importante colaboradora do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.

No entanto, Masic acredita que suas descobertas sobre o concreto romano podem ajudar a reduzir o impacto ambiental do concreto “através da vida útil prolongada e o desenvolvimento de formas de concreto mais leves”. (3)

“É emocionante pensar em como essas formulações de concreto mais duráveis ​​poderiam expandir não apenas a vida útil desses materiais, mas também como poderiam melhorar a durabilidade das formulações de concreto impressas em 3D, diz Masic.

·        Concreto romano e concreto moderno

Diferentemente do concreto romano, o concreto moderno é reforçado com aço. Entretanto, com o tempo, esse reforço enferruja e se expande, criando rachaduras que permitem a entrada de água no material, contribuindo para a formação de danos à estrutura. 

“Embora o reforço ofereça muitos benefícios, ele tem desvantagens. A principal delas é que, com o tempo, o aço do concreto sofre corrosão… A vida útil comparativamente curta do concreto moderno é esmagadoramente o resultado de falhas induzidas pela corrosão. Não verificado, concreto reforçado exposto aos elementos muitas vezes começará a se deteriorar em algumas décadas ou até menos”, disse Brian Potter, do Construction Physics

 

Fonte: Por Yasmin Rufo, repórter de Cultura da BBC/eCycle

 

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