quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Megaprojeto chinês no Peru pode mudar equilíbrio de poder na América Latina

A inauguração iminente do porto de Chancay, um colossal projeto chinês situado a aproximadamente 80 km ao norte de Lima, no Peru, está gerando grandes expectativas quanto aos impactos econômicos que poderá desencadear não apenas localmente, mas em toda América Latina.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Alana Camoça, doutora e mestra em economia política internacional e membro do Observa China — rede independente de estudos sobre o país asiático —, analisou as nuances desse empreendimento.

•        Descongestionamento e estímulo econômico

Segundo a especialista, a localização estratégica do porto de Chancay oferece um alívio crucial para portos tradicionais, como El Callao, contribuindo significativamente para o descongestionamento das operações portuárias. Alana Camoça destaca que a implementação desse megaprojeto possui o potencial de impulsionar a economia peruana, fomentando relações comerciais com as nações asiáticas, principal motor econômico global.

"Efeitos comuns à instalação de megaprojetos, como geração de empregos diretos e indiretos e novas oportunidades de comércio não somente para o Peru, mas também para outros países da América do Sul [...] O porto tem o potencial de funcionar como uma espécie de hub logístico para outros países da América do Sul, como o Equador e a própria Colômbia", pontua.

Camoça destaca que isso resultaria no aumento das exportações e importações do Peru, gerando empregos diretos e indiretos, além de novas oportunidades comerciais não apenas para o país anfitrião, mas para toda a América do Sul.

O diferencial do porto de Chancay, de acordo com a especialista ouvida pela Sputnik Brasil, reside no fato de ser o primeiro na América Latina com maioria de capital chinês. Embora possa fortalecer os laços econômicos entre o Peru e a China e servir como um hub para outros países sul-americanos, Alana acredita que a falta de infraestrutura e complementaridade produtiva na América do Sul podem ser obstáculos ao fortalecimento da integração intrarregional.

"O porto [de Chancay] amplia a capacidade de conexão da região com os países asiáticos, ao invés de promover necessariamente a interconexão entre os países sul-americanos. Essa tendência é acentuada devido às numerosas deficiências infraestruturais e à falta de complementaridade produtiva que caracterizam as nações da região", sublinha.

•        Nova Rota da Seda: reconfigurando investimentos na América Latina

Alana aborda também o impacto do plano de investimentos da Nova Rota da Seda na América Latina, apontando que a China tem o potencial de reconfigurar os investimentos na região.

"O projeto de expansão chinesa com investimentos na América Latina tem o potencial de reconfigurar a correlação de investimentos recebidos pelos países latino-americanos, alterando o tradicional equilíbrio de poder [...] No entanto, dados da CEPAL [Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe] referentes a 2023 indicam que os Estados Unidos mantêm uma participação significativa de 38% nos investimentos estrangeiros diretos na região da América Latina, seguidos pela União Europeia, com 17%", destaca.

•        Desafios da dependência e complexidade econômica

A análise crítica, segundo a pesquisadora, é crucial ao considerar os investimentos chineses, pois, embora possam impulsionar o crescimento econômico e a infraestrutura, há o risco de perpetuar a dependência em uma estrutura na qual os países latino-americanos fornecem commodities enquanto importam produtos manufaturados.

"Ao mesmo tempo em que os investimentos chineses podem contribuir em alguns aspectos para o crescimento econômico e a geração de infraestrutura nos países latino-americanos, seja por meio da expansão da Nova Rota da Seda ou através de relações bilaterais, há uma tendência de incentivar a manutenção de uma condição agrária-exportadora para os países da América Latina."

•        Brasil e a redução no tempo de produção

A analista ressalta que, apesar da redução de um terço no tempo médio para a produção brasileira chegar à região oriental, graças ao novo porto, o Brasil ainda enfrenta desafios infraestruturais. Segundo ela, o megaprojeto destaca a necessidade de os países da América Latina buscarem investimentos chineses para desenvolverem sua própria infraestrutura, consolidando ainda mais a presença chinesa na região.

"O megaprojeto cria um chamado para que os países da América Latina e, inclusive o Brasil, busquem investimentos chineses para a construção de infraestrutura própria. Assim como fortalece a presença da China na América Latina."

A inauguração do porto de Chancay está prevista para o final de 2024, durante a próxima cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que será realizada no Peru.

·        Ao comemorar aniversário de Mao Tsé-Tung, Xi promete impedir que alguém 'separe Taiwan da China

Nesta terça-feira (26), o presidente chinês, Xi Jinping, prometeu impedir resolutamente que alguém "separe Taiwan da China de qualquer forma".

Em uma conferência comemorativa pelo 130º aniversário do nascimento do ex-líder, Mao Tsé-Tung, Xi disse que "a reunificação completa da pátria é uma tendência irresistível", segundo a agência Xinhua.

A China deve aprofundar a integração entre os dois lados, promover o desenvolvimento pacífico das relações através do estreito de Taiwan e "impedir resolutamente que alguém separe Taiwan da China de qualquer forma", afirmou.

Pequim enxerga Taiwan como o seu próprio território dentro da política de Uma Só China. Porém, Taipé recebe apoio do Ocidente para "lutar" por sua independência e também tem suporte para compra de armas, especialmente dos Estados Unidos.

Na cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), Xi teria dito isso diretamente ao seu homólogo norte-americano, Joe Biden.

Ao mesmo tempo, o líder asiático fez referência às previsões de militares estadunidenses que afirmam que Pequim planeja reintegrar Taiwan em 2025 ou 2027, dizendo a Biden na reunião que eles estavam errados porque ele não estabeleceu um prazo.

Xi já declarou que vai reunificar Taiwan em outros momentos, mas suas declarações de hoje (26) acontecem pouco mais de duas semanas antes da ilha autogovernada eleger um novo líder.

Também hoje (26), Taiwan aumentou a lista de restrição de bens para exportações para Rússia e Belarus em 45 pontos, afirmou o Ministério da Economia da ilha. Segundo a pasta, as restrições foram aplicadas "com o objetivo de cumprir a cooperação internacional, e também para dificultar o uso de produtos de alta tecnologia para fins bélicos".

 

Ø  FBI investiga aliados de autoproclamado 'presidente' da Venezuela em 2019 por desvio de dinheiro

 

O FBI está em busca de fundos norte-americanos emprestados ao "governo" de Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela em 2019. A investigação aponta que colaboradores e aliados políticos tenham desviado e embolsado esses fundos. A informação é da rede de notícias Telesur.

Um dos principais investigados é Carlos Méndez, diretor do canal EVTV Miami, que teria desviados os recursos destinados à Venezuela para seu canal midiático. Segundo a Telesur, um porta-voz do Partido Democrata afirmou que Méndez estaria envolvido no desvio de fundos concedidos tanto durante o mandato de Donald Trump, quanto no de Joe Biden, atual presidente dos EUA.

O embaixador nos EUA do suposto governo de Guaidó afirmou que Yon Goicoechea, que administrou recursos emprestados pelos EUA, e Roberto Marrero, ex-chefe de gabinete de Guaidó, também poderiam estar envolvidos no esquema de peculato.

O Ministério Público da Venezuela emitiu um mandado de prisão contra Juan Guaidó em outubro deste ano, após um tribunal federal dos Estados Unidos revelar crimes perpetrados pelo ex-deputado venezuelano.

De acordo com o documento, ele e seus apoiadores, através de seu "governo", obtiveram acesso a ativos nos EUA da petrolífera Petróleos de Venezuela (PDVSA), utilizando-os para seu próprio enriquecimento. O golpe deu um prejuízo de US$ 20 bilhões (R$ 97 bilhões) à PDVSA, resultando no confisco da Citgo, subsidiária da estatal venezuelana, pelos estadunidenses.

 

Ø  Assessor do Kremlin: EUA passarão para Ásia após canibalizarem a indústria da Europa

 

Quando os EUA acabarem a canibalização de seus parceiros europeus, matando suas indústrias química, automobilística e outras, eles se concentrarão nos mercados asiáticos, disse em entrevista à revista Ekspert o assessor econômico do Kremlin Maksim Oreshkin.

"Na verdade, a questão mais importante agora para os principais jogadores é qual será a distribuição das forças nos mercados em crescimento. Quando os EUA acabarem de canibalizar seus parceiros europeus, matando as indústrias europeias química, automobilística e outras, ou seja, quando essa fonte de crescimento para eles terminar, eles se concentrarão nos mercados asiáticos", observou o economista.

Ao mesmo tempo, Oreshkin disse que para muitos países da África e Ásia seus mercados internos são suficientes.

Em geral, de acordo com ele, no mundo está ocorrendo um processo que o assessor econômico denomina de "corrida de soberania".

"Soberania não significa isolamento. Ao mesmo tempo, surgiu uma consciência da importância crítica da autossuficiência, a essa corrida aderiram quase todos os países. Mesmo os países ocidentais – os principais promotores da globalização – começaram, em muitas áreas, a lutar pela soberania e a alocar recursos orçamentários para o desenvolvimento de projetos comerciais", diz ele.

·        Plano europeu para a cadeia de abastecimento de baterias enfrenta atraso por culpa dos EUA

A fabricante de materiais Novonix emitiu um alerta enquanto a Europa luta para competir com os subsídios dos EUA para a produção de baterias para carros elétricos.

De acordo com o Financial Times (FT), os planos europeus para a criação de uma cadeia de abastecimento de baterias para carros elétricos independente da China enfrentam grandes atrasos, uma vez que as empresas se concentram no mercado dos EUA devido aos subsídios à energia limpa, alertou um importante fabricante.

Chris Burns, ex-engenheiro da Tesla que dirige a produtora australiana de materiais para baterias Novonix — que fabrica o componente de bateria de grafite que é vital para a transição dos carros elétricos, disse ao FT que a Lei de Redução da Inflação dos EUA estava afastando os produtores da Europa graças ao incentivo de US$ 369 bilhões (cerca de R$ 1,8 trilhão).

"Sempre pensamos na expansão para a Europa, mas o financiamento se torna o maior desafio", disse Burns ao afirmar ainda que "nosso foco é entregar a unidade de Riverside [no Tennessee, onde pretende produzir grafite] e iniciar a próxima unidade na América do Norte. Isso nos manterá mais do que ocupados até o final desta década".

Os comentários de Burns destacam o desafio que a Europa enfrenta na construção de uma cadeia de abastecimento independente da China, a principal fornecedora mundial de grafite e outras matérias-primas necessárias para baterias, sem uma injeção de subsídios.

Segundo a apuração, os fabricantes chineses estão visando cada vez mais a expansão na Europa e nas regiões vizinhas, depois de Washington ter tomado medidas para restringir a sua presença nos EUA com regulamentações mais rigorosas. Em resposta, Pequim aumentou os controles de exportação de grafite no mês de outubro.

A Shanghai Putailai, fabricante de materiais para baterias, anunciou em maio planos de investir US$ 1,3 bilhão (aproximadamente R$ 6,3 bilhões) na construção de uma fábrica na Suécia, enquanto a rival chinesa Ningbo Shanshan está avaliando um investimento semelhante na Finlândia.

Além disso, o grupo canadense de materiais para baterias SRG Mining, que fez parceria com o grupo de tecnologia chinês C-One, disse que planeja construir uma instalação de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão) a US$ 500 milhões (mais de R$ 2,4 bilhões) no Marrocos para atender os mercados dos EUA e da Europa.

A Novonix pretende produzir 20 mil toneladas de grafite por ano em Riverside, no Tennessee, antes de expandir ainda mais na América do Norte para 150 mil toneladas anuais.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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