sábado, 30 de dezembro de 2023

Líderes da Resistência Palestina exigem fim imediato do ‘genocídio sionista’ em Gaza

São quase três meses desde que Israel intensificou seus ataques fatais contra o território palestino, resultando na morte de mais de 21 mil civis na região. Enquanto as autoridades de Tel Aviv insistem em continuar hostilizando toda a Gaza, incluindo a Cisjordânia ocupada e Jerusalém Oriental, a liderança da Frente Única se viu na urgência de marcar um encontro nesta quinta-feira (28/12), em Beirute, e declarar, por meio de um comunicado, as pautas abordadas na reunião.

A discussão que envolveu cinco organismos da resistência palestina — Hamas, movimento da Jihad Islâmica, Frente Democrática para a Libertação da Palestina, Frente Popular para a Libertação da Palestina e Comando Geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina — enfatizou a necessidade de uma luta que impeça a ocupação e o massacre sionista antes da troca de prisioneiros em uma possível trégua humanitária.

A declaração final que foi divulgada após a reunião consultiva entre os representantes da resistência palestina foi recebida pelo portal Palestinian Chronicle.

O documento contextualiza que o objetivo final de Israel, por meio de seus ataques brutais, é promover o deslocamento massivo de palestinos e “acabar com a causa nacional palestina”, liquidando os direitos legítimos do povo como “a determinação do destino, no estabelecimento da Estado palestino independente com Al-Quds (Jerusalém Oriental) como capital, e garantindo o direito de retorno dos refugiados do nosso povo às suas casas e propriedades, de acordo com a Resolução 194.”

A Frente Única também elogiou a “firmeza heróica” do povo palestino ao afirmar êxito em conseguir “frustrar os objetivos do inimigo, demonstrando a sua incompetência e a fragilidade das suas forças no terreno”. Nesse contexto, os participantes enfatizaram suas tarefas de luta “até que a guerra brutal e agressão contra o nosso povo sejam repelidas”, começando pela cessação imediata do massacre e da limpeza étnica em Gaza.

Demandas da Frente Única

A liderança dos grupos da resistência destacou seus objetivos prioritários na guerra:

  1. Cessação imediata do genocídio, da política de terra arrasada e da limpeza étnica na Faixa de Gaza.
  2. Quebrar o cerco, começando pelo fornecimento de todos os recursos básicos ao povo palestino e, simultaneamente, a reparação de todas instalações destruídas pelo exército israelense. Isto incluiria o fornecimento de todos suprimentos necessários para reativar e apoiar o sistema médico, que está colapsado pelas contínuas agressões israelenses, transferindo também todos os feridos no território para tratamento em países parceiros do exterior.
  3. Lançamento de uma iniciativa internacional para reconstruir todo o patrimônio social de Gaza destruído pelas forças israelenses, por meio de um acordo conjunto com as autoridades árabe, islâmica e internacional, além de países parceiros e organizações internacionais e regionais, como a Liga Árabe, a Organização de Cooperação Islâmica e as Nações Unidas.

De acordo com o comunicado, a Frente Única também condenou o Ocidente e entidades políticas pró-israelenses que pregam soluções e cenários parciais para o chamado “o futuro da Faixa de Gaza”, além de reafirmar a importância da unidade dos palestinos.

“A causa palestina é a causa de toda a Palestina, terra, povo, direitos, futuro e destino. A solução para a causa só pode ser alcançada através do abandono da ocupação e de todas as formas de assentamentos, abrindo caminho para que o nosso povo determine o seu destino nacional nas suas terras.”

Unidade estratégica

Os grupos também sugeriram a reparação da divisão entre os vários movimentos palestinos existentes no território e o fim de todas as questões políticas pendentes para garantir uma “luta estratégica unificada” que reintroduza “a nossa causa como nação nacional”.

  1. Apelo a “uma reunião nacional abrangente que inclua todas as partes, sem exceção, para implementar o que foi acordado em diálogos palestinos anteriores e para enfrentar as consequências da guerra brutal contra o nosso povo na Faixa de Gaza e os ataques bárbaros de gangues de colonos (judeus israelenses) e forças de ocupação, e projetos de assentamento e anexação na Cisjordânia, especialmente em Al-Quds”.
  2. Uma solução nacional palestina baseada na formação de um governo de unidade nacional que forme um consenso nacional abrangente, incluindo todas as partes responsáveis por unificar as instituições nacionais nas terras ocupadas na Cisjordânia e na Faixa.
  3. Com base no princípio do “todos por todos”, destaque na “necessidade de um cessar-fogo e da cessação permanente de todos os atos de agressão e da retirada completa da ocupação na Faixa de Gaza como condição para discutir a troca de prisioneiros”.
  4. Apelo ao “desenvolvimento do sistema político palestino sobre bases democráticas, por meio de eleições gerais – presidenciais, legislativas e do conselho nacional – condizentes com um sistema de representação proporcional completo, em eleições livres, justas, transparentes e democráticas”.

 

Ø  Sigrid Kaag: Quem é a nova chefe da ONU de ajuda à Gaza?

 

Ela é uma diplomata experiente e já ocupou vários postos do alto escalão das Nações Unidas. Mas até para uma profissional tão qualificada quanto a especialista Sigrid Kaag o cargo representa um enorme desafio: a partir de 8 de janeiro de 2024, a holandesa de 62 anos coordenará na Organização das Nações Unidas (ONU) a ajuda humanitária e de reconstrução para a Faixa de Gaza. 

A missão que Kaag e sua equipe enfrentam não será fácil. Mesmo antes dos ataques do grupo fundamentalista islâmico Hamas a Israel em 7 de outubro, cerca de 80% dos habitantes de Gaza dependiam da ajuda humanitária. O Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, é classificado como uma organização terrorista por Israel, pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por vários outros países.

Os bombardeios e a ofensiva terrestre do exército israelense, que já dura dois meses, destruíram grande parte da infraestrutura da Faixa de Gaza. Os combates em uma área de apenas 360 quilômetros quadrados causaram o deslocamento interno de centenas de milhares de pessoas.

O exército israelense espera que os combates continuem por meses, o que significa que quase todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza dependerão de ajuda humanitária no decorrer do próximo ano.

Pelo lado de Israel, há, ainda, a preocupação de que armas, munição e combustível para os combatentes do Hamas possam chegar à Faixa de Gaza através de ajuda internacional.

Nesse ambiente difícil, Sigrid Kaag tem as tarefas de coordenar e monitorar a ajuda internacional de emergência e estabelecer um mecanismo da ONU para acelerar as entregas de ajuda por meio de países que não estão envolvidos no conflito.

O Conselho de Segurança da ONU tentou por várias semanas aprovar uma resolução que pedia a “entrega segura e desimpedida de ajuda humanitária em grande escala” para Gaza, mas esbarrava, por exemplo, em veto dos Estados Unidos. O texto foi aprovado pouco antes do Natal e, com ele, foi criado o novo cargo de Kaag.

·        Retorno à ONU

Sigrid Kaag é uma das políticas de destaque da Holanda. Ela pertence ao partido liberal de esquerda D66 e já ocupou vários cargos políticos importantes, como vice-chefe de governo e ex-ministra das Finanças e das Relações Exteriores do primeiro-ministro de longa data Mark Rutte.

Depois que o governo de coalizão entrou em colapso e novas eleições foram convocadas para o final de novembro de 2023, a mãe de quatro filhos anunciou sua aposentadoria da política holandesa. Antes disso, Kaag e sua família haviam sido ameaçadas várias vezes, inclusive por negacionistas do coronavírus.

A pausa não durou muito tempo. Quando Sigrid Kaag assumir seu cargo nas Nações Unidas, ela retornará ao seu antigo local de trabalho. Graduada em estudos árabes, de 1994 a 1997 ela foi chefe de relações com doadores na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), em Jerusalém, e trabalhou no Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) como chefe da Diretoria Regional para o Oriente Médio e Norte da África, em Amã.

Entre 2013 e 2014, Kaag liderou a missão conjunta das Nações Unidas e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW) para eliminar as armas químicas sírias e tornou-se Representante Especial da ONU para o Líbano.

·        Uma mulher que ‘nunca dorme’

Sigrid Kaag é uma especialista reconhecida no Oriente Médio. Fala fluentemente seis idiomas, inclusive árabe. E é casada com o palestino Anis al-Qag há décadas. Ele trabalhou sob o comando do ex-presidente da Autoridade Nacional Palestina Yasser Arafat como vice-ministro de Cooperação Internacional.

Mais tarde, al-Qag fundou o Fórum Internacional pela Paz, que tem como objetivo promover o diálogo entre israelenses e palestinos, europeus e países mediterrâneos e implementar projetos de desenvolvimento cultural, econômico e social.

Kaag foi especialmente elogiada por diplomatas internacionais por seu trabalho na destruição dos estoques de armas químicas da Síria, o que lhe rendeu o apelido de “Mulher de Ferro”. Sigrid Kaag é “uma mulher que nunca para de trabalhar e praticamente nunca dorme”, disse certa vez um diplomata sírio.

·        Críticas a Israel

Apesar do currículo, nem todos em Israel estão satisfeitos com a nomeação de Kaag. Vários meios de comunicação do país informaram que ela havia criticado as políticas israelenses no passado. Como vice-primeira-ministra da Holanda, por exemplo, ela entrou em conflito com seu chefe Mark Rutte por causa de política dele, supostamente favorável a Israel.

Na década de 1990, Kaag acusou o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu de usar “conotações racistas e demagógicas” sobre o parceiro palestino nas negociações de paz, de acordo com o jornal israelense Haaretz. E ela teria se referido uma vez aos colonos israelenses como “colonos ilegais em terras confiscadas”.

O relacionamento de Israel com a ONU tem sido tenso, e não apenas desde o polêmico discurso do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, em outubro de 2023. Israel critica a ONU devido a uma maioria pró-palestina do Sul global na Assembleia Geral.

Kaag terá de usar muito do seu talento diplomático para conseguir que mais ajuda emergencial chegue a Gaza. Ainda bem que a holandesa “nunca dorme”, pois descansar no novo trabalho será pouco provável.

 

Ø  Israel joga 'água gambá' e asfixia fiéis palestinos ao barrar entrada na mesquita sagrada de Jerusalém

 

O que era para ser uma manhã comum no bairro de Wadi al-Joz, próximo à Cidade Velha de Jerusalém ocupada, se tornou mais um palco de hostilidades.

Já nas primeiras horas do dia, dezenas de fiéis palestinos foram surpreendidos pelas forças israelenses, que pulverizaram "água gambá", conhecido como "skunk water". A ferramenta tem sido comumente utilizada contra o povo palestino em uma tentativa de "humilhar" e evacuar os civis. 

Os ataques desta sexta-feira (29/12) aconteceram logo depois que os religiosos foram barrados de entrar na mesquita de Al-Aqsa, como resultado das medidas rigorosas impostas pelas autoridades de Tel Aviv para o ingresso ao local sagrado.

Sem opção, o grupo se direcionou ao bairro de Wadi al-Joz para a realização dos rituais. No entanto, foi justamente nesse caminho que a polícia israelense reprimiu os religiosos. 

De acordo com a agência de notícias Wafa, além da "água gambá", os policiais também usaram balas de metal revestidas de borracha e gás lacrimogêneo, o que acabou ferindo e asfixiando dezenas de vítimas no local.

Em uma sexta-feira comum, a mesquita de Al-Aqsa chega a receber até 70 mil pessoas. Neste dia, apenas 12 mil puderam entrar no templo sagrado para as orações. A polícia israelense também submeteu os fiéis a revistas, examinando seus cartões de identidade e proibindo a entrada de pessoas fora da cidade de Jerusalém.

O complexo de Al Aqsa é um dos lugares mais importantes para o Islã, mas também é relevante para o judaísmo. Por isso, tem sido foco de tensões entre Israel e o povo palestino durante décadas.

Inclusive, a mesquita sagrada de Jerusalém já foi alvo de invasões e ataques das Forças de Defesa de Israel (IDF) em diversas ocasiões desde o início do governo de Benjamin Netanyahu. Algumas dessas ações ao local chegaram a produzir mortos e feridos, e foram repudiadas por organismos internacionais de proteção aos direitos humanos.

Vale lembrar também que a "água gambá" foi usada em 2008 pela primeira vez, quando Israel pulverizou o líquido contra manifestantes na aldeia palestina de Ni'lin, na Cisjordânia ocupada. Desde então, a ferramenta tem sido usada regularmente em canhões de água contra bairros palestinos com o objetivo estratégico de promover deslocamentos e evacuações.

 

Fonte: Opera Mundi/Deutsche Welle

 

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