segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Javier Milei faz 1º discurso como presidente da Argentina

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, realizou, nesta tarde de domingo (10), o seu 1º discurso no cargo mais alto do país. Ele quebrou o protocolo e falou do lado de fora do Congresso, diferentemente da sua vice, Victoria Villarruel, que discursou dentro do órgão legislativo.

Em frente à escadaria do parlamento, e com a presença de seus eleitores e autoridades, Milei passou boa parte do discurso criticando a herança deixada pelos seus antecessores, e reforçando a necessidade de cortes nos gastos públicos.

Ele encerrou o seu discurso gritando o seu slogan famoso: "Viva la libertad, carajo". O termo 'carajo' é menos pesado na Argentina que no Brasil; ENTENDA.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e Jair Bolsonaro estiveram na posse. O presidente Lula não foi, mas o Brasil foi representado pelo chanceler Mauro Vieira.

➡️Herança

"Nestes dias muito se falou sobre a herança que vamos receber. Que fique claro: nenhum governo recebeu uma situação pior do que estamos recebendo", disse Milei.

"O kirchnerismo, que em seu início dizia que tinha superávit fiscal e externo, nos deixa déficits que representam 17% do PIB”, acrescentou.

"Os argentinos, de forma contundente, expressaram uma vontade de mudança que já não tem retorno. Não há retorno. Hoje enterramos décadas de fracassos e disputas sem sentido. Brigas que só conseguiram destruir o nosso país e nos deixar na ruína. Hoje começa uma nova era na Argentina, de paz e prosperidade".

Milei também mencionou a elevada inflação do país. "Vamos lutar contra unhas e dentes para erradicá-la".

➡️Ajuste fiscal

Milei disse que "a solução" para a herança deixada por governos anteriores "implica, por um lado, um ajuste fiscal (...) que, diferentemente do passado, cairá sobre o Estado e não sobre o setor privado".

"Tenho que deixar claro que não há alternativa ao ajuste fiscal", ressaltou.

"Do ponto de vista teórico, se um país carece de reputação, os empresários não investirão até que venha um ajuste".

Segundo ele, para fazer políticas gradualistas seria necessário realizar financiamentos. "E lamentavelmente tenho que dizer: No hay plata".

"Sabemos que a curto prazo a situação vai piorar, mas depois veremos os frutos do nosso esforço".

E acrescentou: "Não será fácil: 100 anos de fracasso não se desfazem num dia, mas um dia começam e hoje é esse dia”.

➡️Infraestrutura

O presidente relembrou a população em situação de pobreza, os problemas no desempenho dos alunos argentinos na educação e a situação de emergência na infraestrutura "só 16% das estradas estão asfaltadas e 11% estão em bom estado", declarou o presidente. "A situação da Argentina é crítica e de emergência", afirmou.

 

Ø  Milei quebra protocolo, não fala ao Congresso

 

O libertário Javier Milei (La Libertad Avanza) assumiu a presidência da Argentina neste domingo (10). Milei quebrou o protocolo de posse e fez seu primeiro discurso como presidente a apoiadores, das escadarias do Congresso, ao invés de falar primeiro no interior da Casa Legislativa.

Dirigindo-se aos seus apoiadores em frente ao Congresso, Milei disse que este é o dia no qual foram enterradas décadas de fracasso e disputas que arruinaram o país.

“Hoje começa uma nova era na Argentina. Uma era de paz e prosperidade. Uma era de crescimento e desenvolvimento. Uma era de liberdade e progresso”, disse Milei durante o discurso de posse.

O novo presidente da Argentina retomou a história do país em discurso e enfatizou o papel do movimento intelectual liberal argentino conhecido como “Geração de 37” e as bases da Constituição proposta por eles.

Segundo Milei, “a nossa liderança decidiu abandonar o modelo que nos tornou ricos e abraçar as ideias empobrecedoras de coletivismo”.

Para o presidente eleito, os políticos argentinos teriam abraçado um modelo que não serviu a população e propiciou a pobreza.

Milei comparou a ruptura gerada pela sua eleição ao impacto que a queda do Muro de Berlim teve para o mundo.

“Nenhum governo recebeu pior herança do que a que recebemos agora”, diz Milei.

·        “Não há alternativa possível ao ajuste”

O líder libertário também revisou mais uma vez as políticas que aplicará a partir de agora para “reorganizar a economia”.

“Não há alternativa ao ajuste, não há alternativa ao choque”, disse Milei depois de garantir que na Argentina “não há dinheiro”.

“Infelizmente, isto terá impacto na atividade econômica, na pobreza e nos salários”, admitiu. Ele também reconheceu que terá início uma cerimônia de estagflação, mas deve dizer que “não é diferente do que vivemos hoje”.

“O único ajuste possível é possível; um ajuste ordenado”, acrescentou.

·        “100 anos de fracassos não podem ser desfeitos num dia”

Milei também comentou sobre os ajustes que pretende para a economia. “Não há dinheiro. Não podemos nos endividar, não podemos emitir e não podemos continuar sufocando o setor privado com impostos. Não há alternativa se não o choque”, disse o novo presidente.

“A sensível proposta progressista nos levaria a uma hiperinflação à maneira da Venezuela de Maduro e Chávez”, afirmou Milei, diferenciando-se da experiência venezuelana. “Em termos de segurança, a Argentina tornou-se um banho de sangue”, acrescentou.

Apesar da perspectiva negativa, o novo presidente expressou que a Argentina “exige ação e ação imediata. Não vai ser fácil. 100 anos de fracassos não podem ser desfeitos num dia. Mas um dia começa e esse dia é hoje”.

Milei reforça que esse caminho será o de uma sociedade que incluirá menos Estado. “O nosso projeto não é um projeto de poder, é um projeto de país. Não pedimos acompanhamento cego, mas não vamos tolerar a hipocrisia e a ambição de poder interferindo na mudança desejada pelos argentinos”, disse Milei.

“Aqueles que quiserem utilizar da violência ou da extorsão para obstaculizar a mudança, para vocês digo que encontrarão um presidente de grandes convicções. Que utilizará todo o aparato estatal para conseguir as mudanças necessárias em nosso país. Estamos certos de que a liberdade é a única forma em que poderemos sair do poço em que nos colocaram.”

 

Ø  Na posse, Milei escreve 'carajo' em livro do Congresso; entenda por que palavra é menos pesada na Argentina

 

O presidente da Argentina, Javier Milei, registrou seu slogan político “viva la libertad, carajo” (viva a liberdade, caralho) no livro de presença do Congresso Nacional, durante sua cerimônia de posse neste domingo (10).

Ele termina muitas falas dele com essa frase e já usa até mesmo como sigla (VLLC) em tuítes. “Viva la libertad, carajo” também aparece em camisetas e há diversos perfis em redes sociais com esse lema.

Embora, no dicionário, a palavra espanhola carajo tenha o mesmo sentido de palavra muito parecida em português, na Argentina, o termo não tem o mesmo peso obsceno que no Brasil.

Já houve outros momentos em que a palavra foi usada por políticos: em um discurso famoso de Hugo Chávez, da Venezuela, em Mar del Plata, na Argentina, em 2005, ele sinalizou que rejeitava a proposta de bloco comercial da Alca dizendo "Alca al carajo".

·        O palavrão perdeu a carga de obscenidade

Heloisa Pezza Cintrão, professora de tradução espanhol-português no curso de letras da USP, diz que de fato "carajo" é uma palavra relacionada ao órgão sexual masculino. "Carajo, dicionarizado, se refere ao pênis; é esse o significado. É o mesmo da palavra em português, esse não é um falso cognato", diz ela.

No entanto, a professora afirma que algumas palavras, de tanto usadas, se esvaziam do sentido. "Eu duvido que eles (os argentinos) tenham perdido a noção do que 'carajo' significa, mas a palavra deixou de ter peso de obscenidade", diz ela.

Romilda Mochiuti, professora da Unicamp, afirma que "carajo" é um marcador de discurso no espanhol falado na Argentina. "Os marcadores de discurso estabelecem relação que se tem com o uso dos vocábulos, e a carga semântica vai se diluindo com o tempo, o peso pejorativo negativo se perde e passa a ter só um peso enfático. Essa é a função do 'carajo': enfatizar uma expressão", afirma ela.

Ela diz que há outros exemplos parecidos em outros países de lingua espanhola. Na Espanha, a palavra "coño", que originalmente é o órgão sexual feminino, é empregada também como um marcador de discurso -- no caso, para salietar algo, como em "que coño es eso?", que significa algo como "que coisa é essa".

Em entrevistas ao g1, as duas professoras citaram a palavra em português "caramba", que é uma espécie de substituta da palavra original para momentos em que o emprego do termo original é inapropriado. No Argentina, essa troca não aconteceu, "carajo" simplesmente perdeu uma parte de sua carga.

A palavra aparece em jornais e até em transmissões na TV.

·        Não é de bom tom para um presidente

As duas professoras afirmam que "carajo" não tem a mesma carga na Argentina do que no Brasil, mas que, ainda assim, é uma palavra que não pertenceria ao discurso político. Milei a emprega de propósito, elas afirmam.

"'Carajo' não é de bom tom em certos contextos e, no discurso, é um apelo às emoções e às simplificações", diz Cintrão, da USP.

O presidente usa muito o termo porque ele quer se mostrar como alguém que desafia os protocolos, é antissistema e, na teoria, pertence ao povo.

"A ideia é criar uma identificação popular, ele quer sinalizar que não tem frescuras. Ou seja, é uma forma de construção de imagem", afirma ela.

A professora Romilda Mochiuti vai na mesma linha: a intenção por trás do uso é criar empatia com o público. "Ele constrói a imagem de alguém que desafia os protocolos", diz ela.

 

Fonte: g1/CNN Brasil

 

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