Esquema de R$ 1,2 bilhão entregou 43 mil armas a bandidos, diz PF
Uma operação da Polícia Federal, em
conjunto com o Paraguai e
os Estados
Unidos, desmontou o maior esquema de tráfico de armas já descoberto
no Brasil.
A investigação começou em 2020 em Vitória da
Conquista, na Bahia, quando a polícia apreendeu 23 pistolas fabricadas na Croácia e
acabou chegando a um dos maiores traficantes de armas do mundo.
Os policiais vasculharam a casa do argentino Diego Hernan Dirísio,
em Assunção, no
Paraguai. Uma outra equipe foi à empresa dele e encontrou caixas e mais caixas
com pistolas e fuzis. Diego Hernan Dirísio, apontado como chefe do
esquema, está foragido.
Ao todo, os policiais prenderam 19 pessoas - 14 no Paraguai e cinco no
Brasil - e cumpriram 54 mandados de busca e apreensão no Brasil, Paraguai e
Estados Unidos.
No Brasil, a operação cumpriu mandados em cidades do Paraná, Rio de
Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais e no Distrito Federal. A Justiça bloqueou R$ 66
milhões dos investigados. Durante as buscas, policiais apreenderam carros
e relógios de luxo e muito dinheiro em espécie - que ainda está sendo
contabilizado.
Segundo os investigadores, o grupo comprava armas fabricadas em países
como Croácia, Turquia e Eslovênia. O núcleo
financeiro da facção criminosa mandava dinheiro para os Estados Unidos - com
ajuda de doleiros - para contas de laranjas. De lá, o dinheiro era transferido
para empresas de fachada, que pagavam os fabricantes europeus.
As armas eram, então, enviadas para o Paraguai e repassadas para
intermediários na fronteira com o Brasil - já com os números de série raspados
- e eram entregues a chefes de facções criminosas principalmente no Rio de
Janeiro e São Paulo.
A polícia calcula que o esquema movimentou R$ 1,2 bilhão nos
últimos três anos e que, nesse período, 43 mil fuzis e
pistolas chegaram às mãos de criminosos no Brasil por esse caminho.
A polícia do Paraguai também investiga a suspeita de corrupção de
dirigentes da Dimabel, órgão militar do Paraguai responsável pela fiscalização
e controle de armas no país vizinho. Funcionários e ex-funcionários da Dimabel
foram presos nesta terça-feira (5). Entre eles, um general - ex-comandante da
Força Aérea do Paraguai. Eles teriam fornecido licenças de importação e
documentos para as armas da organização criminosa em troca de presentes e
propina.
Os ministros da Justiça do Brasil e da Secretaria Nacional Antidrogas do
Paraguai se reuniram em Brasília para
acompanhar a operação. Flávio Dino disse
que essa investigação é um passo importante na luta contra o crime e que ela
pode ter novos desdobramentos nas próximas semanas.
“Nós temos a certeza de que essa é uma fonte importante. O governo do
Paraguai concorda e está agindo junto conosco. O resultado é, de fato,
enfraquecimento das organizações criminosas no Brasil. Portanto, no breve
futuro, a redução das taxas de criminalidade no nosso país”, afirmou o ministro
da Justiça.
Ø
Argentino comprava armas na Europa e vendia a
facções brasileiras
O argentino Diego Hernan Dirísio, principal alvo da operação
da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (5), comprava armas
fabricadas em países como Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia, para
revender a criminosos brasileiros.
Ele é apontado como o maior contrabandista de armas da América do Sul e,
segundo apuração do blog da colunista Andréia Sadi, fugiu e não
foi encontrado pela PF.
Cerca de 43 mil armas foram contrabandeadas, principalmente as facções
Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital.
Os principais armamentos contrabandeados eram pistolas, fuzis, rifles,
metralhadoras e munições. O esquema movimentava R$ 1,2 bilhão. Após a compra
dos europeus, as armas eram vendidas para criminosos brasileiros.
O esquema envolvia também doleiros e empresas de fachada no Paraguai e
nos EUA.
A polícia de ambos os países participaram nesta terça do cumprimento das
ordens judiciais expedidas pela Justiça Federal da Bahia — que, por sua vez,
determinou que todos os alvos foram da prisão sejam incluídos na Difusão
Vermelha da Interpol.
A lista inclui nomes de pessoas que podem ser presas em países
estrangeiros, quando o mandado de prisão foi expedido por uma autoridade
brasileira.
Segundo as investigações, o argentino Dirísio vendia as armas por meio
de sua empresa IAS, com sede no Paraguai.
"Ele é o dono da empresa, que coordena todas as atuações da
empresa, fazia as tratativas diretas para a venda e revenda com ciência de que
essas armas deveriam ser raspadas e destinadas ao crime organizado. Isso foi
provado na investigação e essa foi a maior dificuldade no início da
operação", disse o superintendente da PF, Flávio Albergaria. "Ele era
o comandante da principal empresa importadora de armas da Europa. Esse era o
papel dele e nós estamos tentando localizá-lo no Paraguai."
Segundo a PF, de novembro de 2019 a maio de 2022, a empresa IAS importou
7.720 pistolas de um fabricante na Croácia.
A investigação também aponta a compra e venda de 2.056 fuzis produzidos
na República Tcheca e mais de cinco mil rifles, pistolas e revólveres de
fabricantes na Turquia. Ao menos 1.200 pistolas também foram importadas de uma
fábrica na Eslovênia: um total de 16.669 armas.
·
Militares paraguaios
A colunista Camila Bomfim teve acesso a um trecho da investigação que
aponta indícios de
corrupção de militares paraguaios responsáveis por fiscalizar o
comércio de armas.
O inquérito lista os participantes que, segundo os indícios, receberam
propina:
- general
Jorge Antonio Orue Roa, ex-diretor da Dimabel no período em que a empresa
IAS realizou muitas importações que teriam como destino o Brasil);
- coronel
Bienvenido Fretes, encarregado do departamento de Registro Nacional de
Armas (Renal) da Dimabel;
- tenente
Cinthia Maria Turro Braga, encarregada de estar à frente da parte de
Assessoria Jurídica do Registro Nacional de Armas (Renar) da Dimabel;
- capitã
Josefina Cuevas Galeano, que estaria na função de Chefe de Importações.
Ø Mulher de
Diego Dirísio tem papel decisivo em esquema de tráfico internacional de armas,
aponta investigação
A mulher do argentino Diego Hernan Dirísio, considerado pela Polícia Federal como
o maior contrabandista de armas da América do Sul, é apontada pela investigação
como parte importante do esquema criminoso. Segundo a polícia, Julieta
Vanessa Nardi Aranda, nascida em Assunção, no Paraguai, é vice-presidente da
International Auto Suply - IAS, empresa do casal que encabeça o esquema
criminoso do tráfico internacional de armas.
Além de Diego Dirísio, apelidado de Senhor das Armas no Paraguai,
Julieta é considerada agora foragida. Ele é alvo
da operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (5). Dirísio
comprava armas fabricadas em países como Croácia, Turquia, República Tcheca e
Eslovênia, para revender a criminosos brasileiros. (Veja no infográfico
abaixo)
Na decisão judicial que autorizou a operação policial internacional
deflagrada nesta terça-feira (5), há um capítulo chamado “NÚCLEO CENTRAL DA
ORCRIM” (Organização Criminosa).
>>> Julieta é tratada com grande destaque:
- “As
investigações revelaram que Julieta Nardi possui as seguintes tarefas na
ORCRIM: auxiliar Diego Dirísio nas negociações com os fabricantes de
armas;
- defender
os interesses da IAS nos assuntos que envolvem os registros de compra e
vendas de armas junto à DIMABEL (órgão militar de controle de armas no
Paraguai);
- acompanhar
os pagamentos realizados pela IAS-PY aos fabricantes de armamentos;
- movimentar
as redes sociais; e monitorar as apreensões de armas no Brasil.”
>>> Outro trecho reproduzido de relatório da PF afirma:
“Julieta Vanessa Nardi Aranda importa grande quantidade de armas da
Europa e as revende no mercado ilícito, especialmente para grupos criminosos
sediados em Ciudad Del Este/PY (núcleo intermediários), para abastecimento de
facções criminosas brasileiras. Através do afastamento de sigilo de dados
de Julieta, foi possível visualizar as mensagens e imagens trocadas entre
Julieta e Dirísio. Observa-se que Julieta participa ativamente
das tratativas para aquisição das armas, inclusive, contatando os fornecedores.”
>>> O trabalho policial vai além e faz menção a situações
específicas nas negociações milionárias envolvendo armamento pesado:
“Além de negociar armas, Julieta acompanha a etapa do
pagamento dos fabricantes bélicos, que não é feita de forma lícita. Inclusive,
ao que tudo indica, Julieta acompanhou o processo de transferência de
dinheiro para a Croácia e as dificuldades que Dirísio enfrentou para
encontrar um doleiro que garantisse a transferência de valores e, assim,
garantir a continuidade do empreendimento.”
>>> A decisão judicial também reproduz uma situação específica
que envolve o Brasil:
“Uma conversa em 28/05/2021 trata da apreensão de armas ocorrida em
26/05/2021 (portanto, dois dias antes) em Itapecerica da Serra/SP.
Na ocasião, foram apreendidos 6 fuzis da CzechSmall Arms, quatro fuzis
da Luvo Arms, essas duas empresas da República Tcheca, e dois fuzis
COLT. O diálogo deixa extremamente claro que Dirísio e Julieta
tinham conhecimento de que as armas que eles importaram tinham como o destino o
Brasil.
Nestes termos, considerando a posição de destaque na ORCRIM, a prisão
preventiva de Diego Hernan Dirísio e Julieta Vanessa Nardi
Aranda é necessária para proteção da ordem pública, aplicação da lei penal
e conveniência da instrução criminal.”
·
A conclusão da justiça brasileira:
Com base em toda investigação policial, a justiça federal brasileira
solicitou a Suprema Corte no Paraguai a expedição de mandados de prisão e de
busca e apreensão contra o casal Diego Dirísio e Julieta
Nardi, para fins de extradição.
A Suprema Corte paraguaia concordou e expediu as ordens judiciais. Como
eles não foram encontrados, os nomes de ambos já constam da difusão vermellha
da Interpol, lista de procurados da polícia internacional.
Investigadores suspeitam que eles permanecem escondidos em território
paraguaio.
Um inquérito agora vai tentar decifrar se o casal obteve informação
privilegiada no Paraguai para escapar da operação hoje.
A investigação começou em 2020, quando pistolas e munições foram
apreendidas em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia. As armas estavam com
o número de série raspado, mas, por meio de perícia, a PF conseguiu obter as
informações e avançar na investigação.
Neste período foram realizadas 67 apreensões que totalizam 659 armas
apreendidas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul,
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará.
Ø Quem é
Diego Dirísio, o maior contrabandista de armas da América do Sul
Diego Hernan Dirísio é considerado pela Polícia Federal como o maior
contrabandista de armas da América do Sul. O argentino foi alvo Operação
Dakovo.
A PF iniciou as investigações sobre o esquema de contrabando de armas em
2020. Em três anos, estima-se que Dirísio tenha vendido mais de 43 mil armas
para facções brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital e Comando
Vermelho, movimentando R$ 1,2 bilhão (US$ 240 milhões).
O argentino liderava uma "complexa e multimilionária engrenagem de
tráfico ilícito de armas de fogo da Europa para a América do Sul" a partir
de sua empresa IAS, com sede no Paraguai.
A operação foi realizada pela PF em parceria com Ministério Público
Federal (MPF) e cooperação internacional com a Secretaria Nacional Antidrogas
do Paraguai (SENAD/PY) e com o Ministério Público do Paraguai. A ação
também contou com a participação da Força-Tarefa Internacional de Combate
ao Tráfico de Armas e Munições, que é composta pela Homeland Security
Investigations (HSI), Secretaria Nacional de Segurança Pública
(SENASP), sob Supervisão do Serviço de Repressão ao Tráfico de Armas da
PF.
<<<< O que se sabe sobre Diego Hernan Dirísio?
·
Diego Hernan Dirísio está foragido junto com a sua companheira,
a ex-modelo paraguaia Julieta Nardi, que também é investigada pela PF;
·
O argentino era dono da IAS, empresa com sede em Assunção, onde
coordenava a venda e revenda de armas para facções como Primeiro Comando
da Capital e Comando Vermelho;
·
Desde o início das investigações, em 2020, estima-se
que Dirísio tenha vendido mais de 43 mil armas para facções
brasileiras, movimentando R$ 1,2 bilhão (US$ 240 milhões);
·
Durante a investigação, a PF identificou a compra de milhares
de pistolas, espingardas, metralhadoras e munições a vários fabricantes
europeus (de países como Croácia, Turquia, República Checa e Eslovénia);
·
As armas eram importadas da Europa para o Paraguai, onde eram raspadas e
revendidas a grupos de intermediários que atuavam na fronteira do Brasil com
Paraguai, para serem revendidas às principais facções criminosos do país como
o Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho;
Fonte: g1/Terra
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