domingo, 31 de dezembro de 2023

'A luta pelo poder global continua': o futuro da política internacional em 2024

2024 marcará a continuação da luta pelo poder global. De um lado, o Ocidente manterá esforços para fortalecer instituições como a OTAN e o papel do G7 no planejamento econômico internacional, enquanto iniciativas políticas como o BRICS e o G20 prometem brigar por maior representatividade para as potências emergentes dentro do sistema.

Comecemos então pelo Ocidente. Capitaneado pelos Estados Unidos, a expectativa é de que a OTAN em 2024 aumente sua cooperação com países do Indo-Pacífico, impulsionando a dinâmica de 'globalização' da Aliança Atlântica, em oposição à Rússia e China no continente asiático.

Diante desse quadro, Washington deverá empreender esforços para cooptar também a Índia no âmbito do QUAD (Diálogo Quadrilateral de Segurança) no sentido de se opor à crescente influência chinesa no plano regional.

A Índia de Narendra Modi, no entanto, como uma das grandes potências do sistema internacional, vem apresentando um relativo grau de autonomia estratégica, mantendo ao mesmo tempo relações amistosas com a Rússia de Putin, apesar do desagrado de Washington.

Os Estados Unidos, não obstante, em 2024 lutarão para manter seu predomínio internacional justamente por meio de iniciativas minilaterais (como o QUAD) e multilaterais (como o G7) de forma a atingir seus objetivos estratégicos no mundo.

Entre outras coisas, tal política empreendida pela Casa Branca promete aumentar a instabilidade regional nos diversos continentes, antagonizando países como a China (na Ásia), a Rússia (na Europa), a Venezuela (na América do Sul) e o Irã (no Oriente Médio).

Na Ásia, os Estados Unidos utilizarão suas bases militares em países como o Japão, Coreia do Sul e Tailândia para monitorar as atividades de Pequim no mar do Sul da China. No Leste Europeu, deverão prosseguir os pacotes de apoio militar e financeiro à Ucrânia para o financiamento do esforço de guerra do Ocidente contra a Rússia até o 'ultimo ucraniano'.

No Oriente Médio, com a invasão das tropas israelenses à Faixa de Gaza, os americanos continuarão apoiando Israel em suas operações, ainda que elas venham a aumentar a tensão e instabilidade no Oriente Médio.

Com uma agenda definida para supostamente combater o Hamas em Gaza, o aumento no número de mortes palestinas na região tende a piorar a situação reputacional de Israel perante o Sul Global, comprometendo ao mesmo tempo a retórica americana e ocidental de defesa da democracia e dos direitos humanos.

Na sequência dos desenvolvimentos acima mencionados, grupos como o BRICS, a Organização para a Cooperação Islâmica e os Estados árabes pressionarão por uma resolução pacífica do conflito, apoiada na diplomacia e no respeito ao Direito Internacional e no respeito à integridade da população palestina em Gaza.

No mais, independentemente de Biden vencer ou não as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos, Washington continuará a usar a dependência de diversos Estados-chave ao redor do globo de seu guarda-chuva nuclear e militar para chantagear seus aliados políticos, seja na Europa ou na Ásia.

Ainda em se tratando de eleições, a expectativa é de que Vladimir Putin obtenha nova vitória no pleito eleitoral a ser realizado na Rússia em março de 2024, confirmando sua permanência no comando do país até 2030.

Enquanto isso, a cooperação militar, econômica e geoestratégica da Rússia com a China promete se fortalecer ainda mais em 2024, sobretudo em vista da dura política de sanções do Ocidente contra Moscou em decorrência da operação militar especial. Em vista justamente dessa parceria sino-russa, por sua vez, o Ocidente empreenderá esforços no âmbito da OTAN e do G7 para minar a cooperação entre os dois países, no intuito de manter sua supremacia internacional.

Para tal, a expectativa é de que tanto Washington como os países europeus continuam a fomentar sua guerra-proxy contra a Rússia na Ucrânia e, possivelmente, contra a própria China num futuro próximo, utilizando-se das tensões políticas em torno de Taiwan.

Em resumo, os americanos atuarão em 2024 na coerção de seus parceiros ocidentais, de modo a que eles priorizem não seus objetivos nacionais, mas sim os objetivos de política externa definidos e formulados em Washington.

No continente Euroasiático, ainda assim, a China permanece aumentando sua influência regional por meio de sua Nova Rota da Seda, prosseguindo em seus investimentos e no desenvolvimento de infraestruturas de transporte em diversos países do continente, desde a Ásia Central até a Europa.

No âmbito dos BRICS, com a esperada entrada de cinco novos países no grupo em 2024 (Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Arábia Saudita e Irã), devem materializar-se uma série de iniciativas ousadas, envolvendo não somente uma defesa mais contundente da multipolaridade nas relações internacionais, como também o processo de desdolarização da economia mundial por meio de transações comerciais em moedas locais.

Considerando essas realidades, a presidência do Brasil no G20 em 2024 deverá promover um conjunto de ferramentas políticas, econômicas e financeiras que visem compensar o peso das políticas erráticas dos países ocidentais representados pelo G7, o que promete um maior envolvimento de potências emergentes no planejamento de ações que objetivem a um desenvolvimento global mais justo e inclusivo.

2024, em resumo, marcará um novo equilíbrio de poder na política internacional, em meio a um ambiente de confrontação cada vez mais evidente entre as duas superpotências do século XXI, Estados Unidos e China.

Nesse ínterim, a Europa será incapaz de se posicionar de forma autônoma, dada sua submissão aos desígnios de Washington no continente, que envolvem sacrificar as economias e o bem-estar dos europeus em prol de enfraquecer a Rússia.

Diante de tudo isso, a tendência é de que o Ocidente enfrente cada vez mais dificuldades para sustentar sua posição de primazia no sistema, especialmente por conta da oposição firme de países importantes como Rússia, China, Irã e demais países pertencentes tanto ao BRICS quanto ao G20.

Ao final, em 2024 o calendário muda, mas a luta pelo poder global continua mais viva do que nunca. Uma luta marcada por potências em declínio agarradas a um mundo que não existe mais e por potências em ascensão anunciando a chegada de um novo mundo que está por vir.

 

Ø  Reino Unido demonstra 'visão colonialista' após enviar navio de guerra a Essequibo, diz especialista

 

A Venezuela e a Guiana acordaram a manutenção de relações pacíficas em meio à disputa sobre a região de Essequibo, mas o envio de um navio de guerra britânico poderia complicar a situação.

Em 14 de dezembro, os presidentes da Venezuela e da Guiana concordaram em resolver pacificamente a disputa territorial sobre a região de Essequibo, um território de 159.000 km2, de acordo com o direito internacional, em uma reunião do mais alto nível em São Vicente e Granadinas.

Georgetown e Caracas concordaram em vários pontos, incluindo o fato de que "não ameaçarão nem usarão a força um contra o outro em nenhuma circunstância, incluindo aquelas decorrentes de qualquer disputa entre os dois Estados".

Eles também concordaram "que qualquer disputa entre os dois Estados será resolvida de acordo com o direito internacional, incluindo o Acordo de Genebra de 17 de fevereiro de 1966".

No entanto, as tensões estão novamente subindo depois que o Reino Unido anunciou o envio de um navio de patrulha para a costa de Essequibo. Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, considerou o passo "uma ameaça militar de Londres", e ordenou uma "ação defensiva" para a quinta-feira (28), com a ativação de manobras conjuntas das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas na costa do território em disputa.

"O que a presença do navio britânico demonstra é que o Reino Unido mantém uma visão colonialista, cujo interesse é proteger seus interesses econômicos resultantes do investimento em poços de petróleo na Guiana ou nas áreas de fronteira com a Venezuela", explicou Orlando Romero Harrington, um jornalista e analista venezuelano, em entrevista à Sputnik.

A presença britânica "viola todos os tratados e acordos que têm sido referidos pelos dois presidentes sul-americanos e demonstra que os interesses do Reino Unido não levam em conta as decisões regionais e locais dos dois países em conflito", apontou.

"Para o Reino Unido, as conversações, o diálogo e os processos diplomáticos que ocorrem entre os dois países não são sua prioridade", que é "defender seus interesses econômicos, violando precisamente esses acordos", acusou Harrington.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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