quarta-feira, 1 de novembro de 2023

OMS alerta para "catástrofe de saúde iminente" em Gaza

Uma "catástrofe de saúde pública" é iminente na Faixa de Gaza, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira, 31, enquanto prosseguem operações militares terrestres israelenses e pesados ataques aéreos contra alvos do Hamas no enclave palestino, que vêm deteriorando cada vez mais a infraestrutura local e provocando deslocamentos em massa de civis.

"É uma catástrofe de saúde pública iminente que se aproxima, com deslocamento em massa, superlotação, danos à infraestrutura de água e saneamento", disse porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.

Um porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Elder, por sua vez, alertou para o risco de crianças morrerem de desidratação, já que a produção de água no enclave caiu para 5% dos níveis normais. "Portanto, especialmente as mortes infantis devido à desidratação são uma ameaça crescente." Há registro de crianças ficando doentes por beberem água salgada, e 940 estariam desaparecidas em Gaza, acrescentou Elder.

Lindmeier pediu que se autorize a entrada de combustível em Gaz, para permitir o funcionamento de uma usina de dessalinização. Israel impôs um cerco à Faixa de Gaza e recusa-se a permitir a entrada de combustível, justificando que este poderia ser usado pelo Hamas para fins militares.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) também alerta para uma grave crise humanitária no sul de Gaza, onde não haveria ajuda suficiente para suprir as necessidades dos civis deslocados, enquanto 36 caminhões com insumos aguardam para entrar no território. O diretor da UBRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que a entrega de ajuda "é uma questão de vida ou morte para milhões".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou na segunda-feira apelos internacionais por um cessar-fogo.

Autoridades de saúde de Gaza ligadas ao grupo Hamas dizem que mais de 8.300 palestinos foram mortos desde que Israel iniciou ataques aéreos no enclave, em retaliação à ofensiva terrorista de 7 de outubro, quando membros do grupo palestino massacram 1.400 pessoas em Israel e fizeram mais de 200 reféns.

Ainda nesta terça-feira, as autoridades de Gaza relataram uma explosão num campo de refugiados na cidade de Jabalia, no norte de Gaza. Acusando os israelenses, o Hamas relatou que a explosão teria deixado pelo menos 50 mortos e mais de 150 feridos. O número não foi confirmado de forma independente.

·         Incursões terrestres

Militares israelenses iniciaram operações terrestres contra Gaza na última sexta-feira, sob um manto de sigilo. Passados quatro dias, em vez de partir para uma invasão total, eles parecem ter adotado uma estratégia de avanço fracionado por setores, por enquanto evitando grandes centros urbanos. Netanyahu falou no sábado de maneira vaga de uma "segunda fase" da guerra enquanto militares citaram uma "expansão das operações terrestres".

Segundo a imprensa americana, os Estados Unidos, principal aliado de Israel, aconselharam o país a evitar por enquanto uma ofensiva terrestre total em Gaza. Outros fatores também parecem pesar: Israel tem que lidar com a fronteira com o Líbano, no norte, onde opera o grupo fundamentalista Hisbolá, muito maior do que o Hamas. A tomada de mais de 200 reféns pelo Hamas parece ser outro complicador para uma ofensiva total.

Nesta terça-feira, tropas israelenses avançaram sobre a Faixa de Gaza com tanques e buldôzeres blindados. Imagens divulgadas pelo Exército israelense mostram soldados avançando num cenário de desolação, entre edifícios reduzidos a pilhas de destroços pelos incessantes bombardeios efetuados por Israel desde 7 de outubro.

A incursão terrestre das tropas israelenses permitiu por enquanto o resgate de Ori Megidish, uma soldado israelense que havia sido sequestrada pelo Hamas. O Exército israelense celebrou a libertação na segunda-feira, afirmando que a militar apresentou informações de inteligência que poderão ser utilizadas em futuras operações.

Israel afirmou ter atacado 300 alvos na quarta noite de operações terrestres em Gaza. Suas forças teriam travado combates contra membros do Hamas, dentro da vasta rede de túneis construída pelo grupo sob Gaza.

"No último dia, as IDF [Forças de Defesa de Israel] juntas atingiram aproximadamente 300 alvos, incluindo mísseis antitanque e postos de lançamento de foguetes debaixo de poços, bem como complexos militares dentro de túneis subterrâneos pertencentes à organização terrorista Hamas", constou de um comunicado militar israelense.

Os membros do Hamas responderam com mísseis antitanques e disparam de metralhadora, mas "os soldados mataram terroristas e direcionaram as forças aéreas para ataques contra alvos e infraestruturas terroristas".

O Hamas, por sua vez, divulgou em comunicado que os seus membros estariam envolvidos em batalhas ferozes com forças terrestres israelenses: "A ocupação está empurrando os soldados para a orgulhosa Gaza, que será sempre o cemitério dos invasores."

<><> Israel confirma ter atacado campo de refugiados e palestinos afirmam que há dezenas de mortos

Um ataque israelense contra o campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, deixou dezenas de mortos e feridos nesta terça-feira (31/10), segundo autoridades do território palestino.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, e o vizinho Hospital Indonésio, para onde a maioria dos feridos foram transferidos, contabilizaram pelo menos 50 mortes.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros em Ramallah, na Cisjordânia, indicou posteriormente que o número total de mortos e feridos ultrapassava os 400, alguns deles mulheres e crianças.

As autoridades palestinas compararam o acontecimento desta terça-feira com a explosão no hospital Al-Ahli, no centro da cidade, em 17 de outubro, na qual cerca de 500 pessoas morreram.

Pouco após a explosão, o governo de Gaza, controlado pelo Hamas, atribuiu a nova explosão a um ataque aéreo israelense.

Israel, que há três semanas iniciou intensos bombardeios em Gaza após um ataque do Hamas que deixou cerca de 1.400 mortos, confirmou que caças israelenses realizaram o ataque.

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), Daniel Hagari, confirmou que o campo de refugiados foi o alvo do bombardeio e também afirmou que o ataque matou um comandante sênior e causou o colapso da infraestrutura subterrânea do Hamas.

Ele disse também que o ataque matou vários outros membros do Hamas que estavam no mesmo prédio do comandante e no subsolo.

Segundo Hagari, o ataque ao prédio levou ao colapso de outros edifícios, que, segundo ele, tinham "infraestrutura muito extensa".

"O objetivo dessa infraestrutura era realizar atividades terroristas contra as nossas forças", diz Hagari, que afirmou que toda essa infraestrutura entrou em colapso.

Desde 7 de outubro, mais de 8.500 pessoas morreram em Gaza, segundo as autoridades locais.

·         Grandes crateras

Fotografias divulgadas pela agência Reuters mostram a devastação no local, com pessoas procurando sobreviventes e retirando corpos dos escombros.

As imagens mostram grandes crateras de impacto cercadas por detritos de concreto e aço de edifícios desabados.

Há também fotografias que mostram crianças aparentemente gravemente feridas ou mortas.

Localizado ao norte da Cidade de Gaza, Jabalia é o maior dos oito campos de refugiados de Gaza.

Em julho de 2023, 116.000 refugiados palestinos viviam no local, de acordo com registos da ONU.

Os refugiados começaram a se instalar neste campo após a Guerra Árabe-israelense de 1948.

É uma área pequena, mas densamente povoada, de edifícios residenciais que ocupa 1,4 quilômetros quadrados.

Jabalia tinha 26 escolas em 16 edifícios, um centro de distribuição de alimentos, dois centros de saúde, uma biblioteca e sete poços de água.

Assim como o campo de Shati, está localizado na área de onde Israel ordenou que a população saísse o mais rápido possível.

Nesta terça, Hagari afirmou que o Hamas continua a usar a população civil como escudo intencionalmente "e de uma forma muito cruel e brutal".

O porta-voz das IDF também reiterou o apelo para que as pessoas no norte da Faixa de Gaza se dirijam para o sul.

 

Ø  “Gaza se transformou num cemitério para crianças”, diz a UNICEF

 

A Faixa de Gaza tornou-se um cemitério para milhares de crianças, disse a agência da ONU para a infância, UNICEF, na terça-feira, em meio à perspectiva de mais mortes por desidratação.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, disse que os ataques mataram mais de 8.500 pessoas, principalmente civis.

“Nossos temores mais graves de que o número relatado de crianças mortas se tornassem dezenas, depois centenas e, finalmente, milhares, foram concretizados em apenas duas semanas”, disse o porta-voz da entidade, James Elder, em um comunicado.

“Os números são terríveis; supostamente, mais de 3.450 crianças foram mortas; surpreendentemente, esse número aumenta significativamente a cada dia”, declarou. “Gaza se tornou um cemitério para milhares de crianças. É um inferno para todos os outros.”

Ele disse que mais de um milhão de crianças que vivem na Faixa de Gaza também sofrem com a falta de água potável.

“A capacidade de produção de água de Gaza é de apenas 5% da sua produção diária habitual. As mortes de crianças – especialmente crianças – devido à desidratação são uma ameaça crescente”, afirmou.

A UNICEF apela a um cessar-fogo humanitário imediato, com todas as passagens de acesso a Gaza abertas para acesso seguro, sustentado e desimpedido da ajuda humanitária, incluindo água, alimentos, suprimentos médicos e combustível.

“E se não houver cessar-fogo, nem água, nem medicamentos, e não houver libertação das crianças raptadas? Então, nos precipitaremos para horrores ainda maiores que afligem crianças inocentes”, disse Elder.

“Há certamente crianças que estão morrendo e que foram afetadas pelo bombardeio, mas que deveriam ter tido as suas vidas salvas”, falou Elder a jornalistas em Genebra, através de videoconferência.

Ele disse que, sem maior acesso humanitário à Faixa de Gaza, “as mortes causadas pelos ataques poderiam ser absolutamente a ponta do iceberg”.

O porta-voz da agência humanitária da ONU, Jens Laerke, acrescentou: “É quase insuportável pensar em crianças enterradas sob os escombros, mas (com) muito pouca oportunidade ou possibilidade de retirá-las”.

A Organização Mundial de Saúde, OMS, acrescentou que as pessoas em Gaza não estavam morrendo apenas devido aos bombardeios diretos.

“Temos 130 bebês prematuros que dependem de incubadoras, dos quais aproximadamente 61% estão no norte”, disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.

“É uma catástrofe iminente de saúde pública que se aproxima com o deslocamento em massa, a superlotação e os danos às infraestruturas de água e saneamento.”

 

Ø  TPI diz investigar possíveis crimes na guerra Israel-Hamas

 

Procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan anunciou neste domingo (29/10) que a corte investiga violações relacionadas aos atentados terroristas cometidos pelo Hamas contra Israel, além de analisar eventos em Gaza e Cisjordânia até 2014.

Khan esteve na passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde gravou um pronunciamento em que afirma que a obstrução do envio de mantimentos a civis na Faixa de Gaza pode caracterizar um crime de guerra. Mais cedo, no Cairo, ele declarou que Israel deve fazer "esforços discerníveis" para assegurar o acesso de civis a alimentos e medicamentos.

"Não deve haver nenhum impedimento a ajuda humanitária direcionada a civis. Eles são inocentes", reiterou em uma mensagem publicada no X, antigo Twitter.

·         Pressão internacional em meio a escalada

Pela manhã, a Organização das Nações Unidas informou que armazéns e centros de distribuição mantidos pela ONU em Gaza foram invadidos por pessoas em busca de comida.

Em meio à crescente pressão internacional, Israel anunciou que permitiria a entrada de mais ajuda humanitária no território nos próximos dias e a abertura de uma segunda linha de abastecimento de água que havia sido fechada no início do conflito.

Ao fazer o comunicado, um porta-voz militar do país negou, contudo, que haja escassez de comida e medicamentos, alegando que os suprimentos estão sendo controlados pelo Hamas.

Também no domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tendo ressaltado o direito de Israel à autodefesa de "maneira consistente com as leis internacionais humanitárias, priorizando a proteção de civis" e a necessidade de "aumentar imediatamente o fluxo de assistência humanitária para atender as necessidades de civis em Gaza".

Biden enviou uma mensagem semelhante ao Egito, opondo-se a um eventual deslocamento de palestinos, que preocupa o país.

Mais cedo, outro emissário da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que o fato de o Hamas usar civis como escudo humano "não diminui a responsabilidade [de Israel] perante a lei internacional de fazer tudo ao alcance deles para proteger civis".

À noite, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (braço da Cruz Vermelha) afirmou que suas equipes em Gaza receberam 24 caminhões em suprimentos pela passagem de Rafah. À agência de notícias Associated Press, um oficial egípcio informou que 33 veículos carregados de mantimentos adentraram o território.

Brasil convoca nova reunião do Conselho de Segurança

Na última sexta-feira, em meio a relatos de deterioração da situação humanitária em Gaza, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, por ampla maioria, uma resolução não-vinculativa em que pede uma "trégua humanitária imediata" para garantir a assistência de civis palestinos sitiados no enclave.

O gesto foi recebido com indignação pela diplomacia israelense, que criticou a ausência de uma condenação ao Hamas. Horas depois, Gaza ficou sem sinal de internet e telefonia – o sinal começou a ser reestabelecido neste domingo –, e militares ampliaram a investida contra o Hamas, expandindo as "operações terrestres" e inaugurando a "segunda fase" do que Netanyahu chamou de "guerra de independência" pela existência de Israel.

No domingo, militares teriam despejado panfletos sobre Gaza instruindo a civis sobre como "se render". "Líderes do Hamas estão te explorando", consta do texto em árabe. "Eles e suas famílias estão em locais seguros enquanto você morre em vão."

O Brasil, que preside o Conselho de Segurança da ONU até terça-feira (31/10), tenta negociar uma outra resolução – esta, com caráter vinculativo – para a crise em Gaza, convocando nova reunião de emergência do conselho para a tarde de segunda-feira, informou o colunista Jamil Chade, do UOLEsforços anteriores nesse sentido foram vetados por Estados Unidos e Rússia.

·         Preocupação internacional com situação humanitária

Bombas têm sido lançadas sobre o enclave desde que Israel declarou guerra ao Hamas e impôs um rígido cerco em resposta aos atos terroristas de 7 de outubro, quando membros do grupo considerado terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e vários países ocidentais e que controla o território palestino massacraram cerca de 1.400 pessoas e sequestraram mais de 200.

Também Israel se encontra sob fogo constante desde então, mas tem conseguido interceptar boa parte dos ataques – que têm partido não só de Gaza, mas também da fronteira com o Líbano e a Síria.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) têm apelado a civis para que deixem "temporariamente" o norte de Gaza, local onde os militares têm concentrado suas operações. A inteligência isralense alega que o Hamas tem sabotado esses esforços, enquanto alguns moradores ignoram os apelos alegando não ter nenhum lugar seguro para se abrigar.

Parte buscou abrigo em hospitais, como o Al-Quds, cujas imediações foram bombardeadas neste domingo, segundo relatos. Equipes médicas permaneceram no local sob o argumento de não ter como transferir pacientes em situação delicada.

Israel diz que o Hamas se esconde atrás de infraestrutura civil e usa inocentes deliberadamente como escudo humano. O grupo mantém uma extensa rede de túneis no subsolo de Gaza e é acusado de desviar apoio humanitário à região em benefício próprio.

No lado palestino o conflito fez, até agora, segundo informações das autoridades em Gaza, mais de 8.000 vítimas – esses dados não podem ser verificados de forma independente.

·         Judeus e palestinos têm sofrido animosidades

Na Cisjordânia, veículos locais informam que tem havido confrontos entre judeus assentados e palestinos. Líder de ultradireita e ministro do Interior de Israel, Itamar Ben-Gvir tem acenado com armas gratuitas a israelenses que vivem na região e em áreas de fronteira.

Um israelense foi preso preventivamente pelas autoridades na noite de sábado, segundo o jornal Times of Israel, sob suspeita de cometer atentados contra palestinos.

Na Rússia, na região do Daguestão, a mídia local informou que o aeroporto de Makhachkala foi fechado por policiais após uma multidão tentar invadir um avião vindo de Tel Aviv enquanto proferia palavras de ordem com teor antissemita.

Três milhões de pessoas vivem no Daguestão, a maioria muçulmana, mas a região abriga cerca de 400 famílias judias, que agora cogitam se mudar.

 

Fonte: Deutsche Welle/BBC News Brasil/DCM

 

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