quinta-feira, 2 de novembro de 2023

'O partido político mais organizado do RJ é o jogo do bicho', diz Capitão Guimarães

Aos 81 anos, Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães, falou pela primeira vez com detalhes de sua trajetória na cúpula da contravenção do Rio em entrevista gravada para a série “Vale o escrito: a guerra do jogo do bicho”, estreia desta quarta-feira (1º) no Globoplay.

Em sua mansão em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, entre citações a William Shakespeare e Bob Marley, afirmou que os bicheiros eram o “partido político mais organizado do Rio”, mas que foram “burros” ao buscarem os holofotes do carnaval carioca -- ao se tornarem patronos de escolas de samba e criarem a Liesa, a liga que profissionalizou os desfiles da Sapucaí.

"O único bicheiro bandido que existe no Brasil é o do Rio porque nós fomos burros. Nós fomos aparecer com o samba."

A série destrincha os personagens principais dessa história da "máfia brasileira", como investigadores tratam a confraria de bicheiros que, tal como mafiosos italianos, se uniu e dividiu a área de atuação de cada grupo pelo Grande Rio -- e, consequentemente, os lucros.

Um seleto grupo de contraventores cuja trajetória está diretamente ligada às histórias do carnaval, do Rio e da violência.

O jogo do bicho, proibido por lei, se organiza como um negócio de milhões e é celebrado por boa parte da população, seja em pontos de anotação nas esquinas, seja no Sambódromo com as escolas de samba, como diz Ricardo Calil, um dos diretores e roteiristas da série, ao lado de Felipe Awi.

"Se o Ministério Público tem razão, se é uma máfia, é uma máfia com particularidades muito brasileiras", diz Calil.

Para o Capitão Guimarães, a longevidade do bicho vem da organização criada em meados dos anos 1970 entre os chefões e que mantém a cúpula da contravenção no poder até hoje.

"O partido político mais organizado aqui do estado do Rio se chama jogo do bicho. Porque nós temos diretórios nos 92 municípios do estado, uma direção única. Nós não temos briga, entendeu? Por quê? Nós vendemos o mesmo produto pelo mesmo preço com áreas definidas. Então, nós somos amigos entre nós. Não temos motivo para não sermos amigos", explica.

•        Guerras de Andrades e Garcias

A fala do Capitão Guimarães faz jus à sua geração de bicheiros, mas ignora uma briga histórica de décadas e que parece não ter fim: a das novas gerações pela sucessão. Especialmente a que envolve duas famílias: os Andrade e os Garcia.

Em 1997, com a morte do "capo dei capi" -- como é conhecido na máfia siciliana o "poderoso chefão" -- Castor de Andrade, deu-se início a uma sangrenta batalha na própria família pela herança dos negócios.

A série relembra, por exemplo os assassinatos de Paulinho Andrade, um dos filhos, em 1998, e de Fernando Iggnácio, genro de Castor, em 2020.

O sobrinho Rogério Andrade, hoje tido como o mais temido bicheiro do Rio de Janeiro, também sofreu atentados. Num deles, foi salvo porque a arma do atirador falhou. No outro, viu o próprio filho, Diogo, morrer quando seu carro explodiu com uma bomba em plena Avenida das Américas, a mais movimentada da Barra da Tijuca.

A série também conta como Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, começou a assumir os negócios do pai, Waldemir Garcia, o Miro, presidente de honra do Salgueiro e membro da cúpula do jogo de bicho.

Milionário e mulherengo, Maninho ficou amigo de jogadores de futebol e outros famosos. Chegou a ser capa de revista como o "novo rei do Rio".

O perfil violento e ambicioso, no entanto, lhe deu vida curta. Foi assassinado em 2004, aos 42 anos, em outra morte não esclarecida -- como a maioria na guerra do jogo do bicho. A série lembra a presença de Romário, Edmundo e Renato Gaúcho no enterro de Maninho.

Dois de seus filhos também foram alvos de matadores: Myro morreu em 2017, e Shanna escapou de atentado em 2019.

Entrevista com Shanna e Bernardo Bello

Shanna, aliás, está entre os entrevistados da série, assim como sua irmã gêmea, com quem é brigada, Tamara; sua mãe, Sabrina; sua madrasta, Ana Claudia Soares (a primeira rainha de bateria do Salgueiro); e até o ex-cunhado, Bernardo Bello, ex-presidente da Vila Isabel e atualmente foragido.

Outro nome de destaque no atual cenário do bicho no Rio, Bello era casado com Tamara, começou a trabalhar com os Garcia, mas se separou da mulher e da família para assumir posição de chefia dos negócios. Responde, entre outros crimes, como mandante da morte de Bid, tio da ex-mulher.

Pesquisa de 2 anos e depoimentos inéditos

A série, em sete episódios, foi produzida em pouco mais de dois anos com muita pesquisa e depoimentos inéditos.

“Grande parte do nosso esforço foi convencer essas pessoas – que nunca falam sobre a contravenção ou, no máximo, dão declarações pontuais – a nos dar entrevistas longas e em profundidade”, conta Calil.

À frente da direção artística, o jornalista Pedro Bial resume a série:

“Mostramos que a máfia brasileira, carioca, é única no mundo, poderosa, com uma expressão estética incomparável”, diz Pedro Bial.

 

       Membro de facção, PM que transportava drogas morre em confronto com a polícia

 

Um policial militar da reserva do estado da Bahia e outro homem morreram ao entrarem em confronto com militares do Comando de Operações de Divisas (COD) da Polícia Militar de Goiás (PMGO), na manhã desta terça-feira (31/10). O subtenente Ubirajara Ferreira de Requião, 49 anos, e o comparsa, Bernardino Nunes de Lima Neto, 48, são integrantes do Comando Vermelho (CV), facção oriunda do Rio de Janeiro. Juntos, eles transportavam, em uma Hilux, grande quantidade de drogas e três armas de fogo.

O confronto ocorreu na GO-436, próximo à Cristalina, no Entorno do DF. De acordo com o tenente Arantes, da PMGO, o PM e o comparsa vieram da Bahia e estavam na região goiana há alguns dias. Pelo compartilhamento de informação entre a PMGO e a PMBA, constatou-se que a dupla buscaria itens ilícitos em Minas Gerais.

Após a troca de informações, policiais do COD avistaram e tentaram abordar a Hilux conduzida pelos suspeitos, quando foram surpreendidos com disparos de arma de fogo. Os PMs revidaram e atingiram Ubirajara e Bernardino. Os dois foram socorridos e conduzidos ao hospital, mas não resistiram aos ferimentos e morreram.

•        Histórico

Na Hilux, os policiais encontraram 23 tabletes de drogas, três armas de fogo e R$ 5 mil em espécie. O material foi apreendido e deve passar por perícia.

Ubirajara era conhecido como o “terror do Sertão” e apontado como um dos líderes da organização criminosa responsável pelo tráfico de drogas e homicídios contra rivais na região de Jacobina, na Bahia.

Bernardino acumula antecedentes por roubo e chegou a responder na Justiça por um assalto no Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) de Serrolândia (BA), em 2017. Ele trabalhava como vigilante do local, na época, e orientou a quadrilha no cometimento do crime.

 

       Exército e Polícia Civil do RJ encontram no Rio mais duas metralhadoras furtadas em SP

 

O Comando Militar do Sudeste (CMSE) informou nesta quarta-feira (1º) que foram encontradas no Rio de Janeiro mais 2 metralhadoras .50 do arsenal do Exército furtado em meados de setembro em Barueri (SP). Ao lado dessas metralhadoras, estava 1 fuzil calibre 7,62 que não tinha sido contabilizado no roubo.

Com a apreensão, feita nesta madrugada, 19 das 21 armas levadas foram recuperadas. Outras duas armas do modelo .50 continuam extraviadas.

As armas foram encontradas na Avenida Lúcio Costa, na Praia da Reserva, Zona Oeste do Rio, no carro que pertence a Jesser Marques Fidelix. Ele é apontado como o homem que negociava as armas com o Comando Vermelho, no RJ. O dono veículo não estava no local.

A Praia da Reserva tem cerca de 8 km de extensão e fica entre as praias da Barra da Tijuca e do Recreio, numa área mais tranquila e menos frequentada por banhistas.

•        Negociador de armas e drogas

As investigações apontam que Jesser fornece armas e drogas para as organizações criminosas que atuam na capital fluminense. Ele é do Espírito Santo, mora em São Paulo e atua em conjunto com o tráfico do Rio.

Segundo a Polícia Civil, desde a noite da última segunda-feira (30), agentes das forças de segurança passaram a monitorá-lo.

Na tarde desta terça (31), equipes foram à casa da sogra de Jesser e souberam que ele esteve no endereço na noite anterior. Ele deixou o local na manhã seguinte e foi para outro endereço da família, alegando que lá teria maior privacidade.

A diligência foi intensificada, principalmente em hotéis na Zona Oeste da capital, para localizar o suspeito e armas. Jesser não foi encontrado, mas os policiais conseguiram localizar o carro dele na Avenida Lúcio Costa, na altura da Praia da Reserva.

Os investigadores disseram que o veículo estava com placas clonadas, o que aumentou as suspeitas em relação a ele. Os agentes conseguiram revistar o automóvel e encontraram as armas, que estavam embrulhadas com um plástico preto. O material foi encaminhado para perícia e, posteriormente, será devolvido para o Exército.

Na semana passada, o g1 mostrou que a Polícia Civil do RJ investigava a informação de que ainda havia no estado duas metralhadoras de Barueri e que um fuzil estava sendo vendido. Era a primeira vez que o Exército trabalhava com a hipótese de desvio de fuzis. Anteriormente, só se falava, entre os investigadores, no furto de metralhadoras (as MAGs e as .50).

O CMSE não tinha fornecido detalhes sobre onde foi feita a apreensão desta quarta e nem se alguém tinha sido preso até a última atualização desta reportagem. Também não havia sido confirmado se as 3 armas na mira da Polícia Civil são as encontradas desta quarta.

 

Fonte: g1/Correio Braziliense

 

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