quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Dor persistente: entenda os impactos da fibromialgia, doença sem cura

Os fãs que se preparavam para assistir ao show de Lady Gaga na edição de 2017 do festival Rock in Rio tiveram uma surpresa desagradável: a cantora cancelou o show um dia antes do evento. O motivo que impediu Gaga de subir aos palcos no Brasil foi a fibromialgia, síndrome caracterizada por fortes dores contínuas e espalhadas pelo corpo.

"É um defeito de interpretação da dor no cérebro", explica Roberto Heymann, médico especialista na doença e membro da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). Segundo ele, o mecanismo de resposta cerebral fica comprometido, transformando estímulos comuns em dor. "Às vezes, tato vira dor; temperatura vira dor."

A fibromialgia se manifesta a partir de uma predisposição genética e de um gatilho, que pode ser físico ou emocional. A perda de um ente querido, uma mudança brusca de vida, um acidente de carro, uma infecção viral, a lista de fatores que podem desencadear a síndrome é interminável. "Isso se vê claramente em alguns pacientes. Em outros, a gente não consegue saber qual foi o gatilho", conta Heymann.

Qualquer pessoa, de qualquer idade, pode desenvolver a síndrome. No entanto, o grupo amplamente mais atingido é o de mulheres entre 20 e 50 anos de idade. Os motivos dessa predominância ainda não são claros para a medicina. "Existem suspeitas sobre questões hormonais e de funcionamento do sistema de dor, mas ainda não há comprovação", afirma Ana Paula Gomides, médica membro da Sociedade de Reumatologia de Brasília.

O número de pessoas que sofrem com a síndrome no Brasil e no mundo ainda é incerto. As estimativas de organizações como a SBR dão conta de cerca de 2% a 3% da população brasileira afetada hoje pela fibromialgia, segundo Heymann. Já Ana Paula Gomides coloca o número no patamar dos 3% a 5%. "A gente não tem dados precisos. São poucas estatísticas no Brasil", justifica a reumatologista.

O diagnóstico é clínico, ou seja, não há exames para comprovar a existência da síndrome. Não há cura para a fibromialgia hoje, porém, com os tratamentos, é possível buscar a estabilização dos sintomas e manter uma vida normal.

•        Sintomas

O principal sintoma da fibromialgia é a dor. Ela se espalha pelo corpo e acontece, principalmente, nos músculos e nas articulações. A intensidade varia de paciente a paciente, e também pode piorar em momentos de crises agudas.

A má qualidade do sono e a fadiga completam a lista de sintomas mais proeminentes. Ambas também podem se apresentar em diferentes níveis de intensidade.

Menos comuns, mas ainda bastante relevantes, ansiedade, depressão, problemas de memória e concentração podem aparecer como consequência dos principais sintomas da fibromialgia.

•        Primeiros sinais

Dores contínuas há mais de três meses são sinal de alerta para um possível caso de fibromialgia, segundo Roberto Heymann, médico especialista na doença e membro da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). Má qualidade do sono e cansaço excessivo acompanhados da dor devem elevar o nível de atenção. Há casos em que a síndrome evolui lentamente, ao longo de meses ou anos. Em outros, pode chegar subitamente.

•        Tratamento

“O paciente que não faz atividade física não está tratando a fibromialgia”, adverte Heymann. Ele explica que as atividades devem ser adaptadas às condições físicas do paciente, mas que a saída não medicamentosa ainda é a mais importante no tratamento da síndrome, já que os remédios ajudam, mas não resolvem o problema. “Tem que se mexer, mesmo que seja o mínimo possível. Para outros, aquilo pode não ser mexer. Para ele (paciente), vai ser considerado como início de atividade física.”

A regulação do sono também é essencial no processo, segundo o especialista. “O objetivo do tratamento é minimizar a dor a um nível que não atrapalhe o paciente no dia a dia.”

Sobre o cannabis, Heymann afirma que “por enquanto, não existe uma indicação” de bons resultados na literatura médica para a fibromialgia, mas não descarta o uso, no futuro, caso haja uma atualização nos estudos.

•        Lei polêmica

No último dia 17 de outubro, a Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou um projeto de lei que classifica pacientes de fibromialgia como pessoas com deficiência, dando acesso a todos os direitos que essa população usufrui. “Não faz sentido”, criticou Roberto Heymann. “A grande

maioria (dos pacientes) não tem fibromialgia grave. E raríssimos têm deficiência.”

Ana Paula Gomides explica que “a questão é que a lei não consegue fazer a diferenciação entre os casos leves e os graves da síndrome. E completa: “A maioria dos reumatologistas foi meio que pego de surpresa. Porque a gente tem várias outras doenças reumáticas que não são contempladas (pela lei)”.

Segundo o texto do projeto, o intuito é “assegurar a participação plena e efetiva deste grupo na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas, sem qualquer restrição ou preconceito aos seus impedimentos e limitações físicas”. O texto agora espera sanção do governador do DF.

 

       Diagnóstico tardio da osteoporose em homens prejudica tratamento

 

Muitas pessoas convivem durante anos com doenças que nem sabem ter. Como os sintomas demoram a aparecer, o diagnóstico acaba sendo tardio, o que traz prejuízos para o tratamento. Essas são as chamadas doenças silenciosas, que vão evoluindo de forma imperceptível, sem fazer barulho, mas, quando surgem, podem gerar sérias complicações. Exemplo disso é a osteoporose.

A osteoporose é uma doença caracterizada pela redução da massa óssea e que atinge entre 10 milhões e 15 milhões de brasileiros, segundo estimativas do Ministério da Saúde, com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela atinge principalmente mulheres após a menopausa, em função da queda nos níveis do hormônio feminino, o estrogênio. No entanto, em homens pode trazer complicações mais sérias porque, em geral, eles tendem a descobrir a doença mais tarde, em estágio mais avançado.

"O osso tem uma consistência, de densidade, de dureza. Com o tempo ele vai perdendo isso e ficando frágil", explicou Marco Antonio Rocha Loures, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia. "Se você tem alguma doença inflamatória - como reumática, por exemplo - ou outra como diabetes ou asma, esses ossos vão perdendo ainda mais cálcio, ficando mais frágeis. E alguns medicamentos também diminuem essa dureza do osso, como corticoides e anticoagulantes. Osteoporose é essa fragilidade óssea que leva a uma fratura".

Em entrevista à Agência Brasil, durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, que vai até este sábado (7) em Goiânia (GO), Loures disse que em homens, a incidência da osteoporose costuma ser menor que em mulheres. No entanto, destacou, homens também podem desenvolver a doença. E o agravante é que, em geral, o homem costuma demorar a buscar tratamento.

"O homem, de forma geral, é mais resistente [a procurar um médico]. A mulher, desde a adolescência, procura mais os serviços médicos do que os homens. Mas, felizmente, isso está mudando, a sociedade está mudando", destacou.

Um dos problemas em se buscar um médico mais tardiamente é o fato de que a doença vai evoluindo. Com isso, o tratamento pode ficar prejudicado. "Sempre faço essa comparação entre uma vela e uma chama. Se é uma vela só, você a apaga rapidinho. Mas se essa vela causa chama na sala, fica mais difícil de apagar. Se pegar fogo na casa toda, fica ainda mais difícil para apagar [a chama]. E isso causa ainda mais danos. Se você tem uma articulação pequena, fica mais fácil tratar. Mas se você tiver duas ou três articulações [com problemas], vai ficando mais difícil", exemplificou. "Quanto mais partes ou órgãos do corpo [comprometidas], mais difícil é o tratamento", acrescentou.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, por isso é importante que o diagnóstico seja feito precocemente. "Se uma mulher de 35 anos tem uma fratura, tem que pesquisar por que ela quebrou aquele osso, para saber se foi só uma queda, um trauma ou se tem uma doença de base, que pode ser por falta de hormônio feminino ou doença crônica associada", afirmou

O mesmo vale para os homens. "Se ele tiver uma fratura antes dos 70 anos, deve procurar um reumatologista, um endocrinologista ou mesmo um ortopedista para fazer uma densitometria óssea. Também é preciso analisar se está tomando medicamentos que levam à perda de osso como corticoides ou algum que produza a osteoporose. Se ele for fumante ou tomar muito álcool seguidamente, também deve procurar um médico com antecedência. Se também não faz exercício, deve procurar um médico precocemente", explicou.

Loures lembrou que o tratamento para a osteoporose está disponível a todas as pessoas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). E que as pessoas podem se prevenir contra a doença evitando o uso de cigarros, mantendo uma alimentação saudável e praticando atividade física. "Temos hoje medidas não só para tratar a doença, como para preveni-la. Se você não trata a doença, ela vai progredindo. E mesmo as vezes tratando, ela pode progredir, mas em intensidade menor. Se você não tratar, ela progride muito mais, levando a fraturas e consequências desagradáveis".

 

Fonte: Correio Braziliense/Agencia Brasil

 

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