quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Nos bastidores, EUA e Ucrânia trocam farpas sobre fracasso da contraofensiva

Norte-americanos e ucranianos estão trocando acusações mútuos sobre os fracassos das Forças Armadas da Ucrânia no campo de batalha, informou o colunista Max Boot do veículo estadunidense Washington Post.

Para o jornalista, o fracasso da contraofensiva, lançada pelas Forças Armadas Ucranianas em 4 de junho, exacerbou as contradições entre Washington e Kiev.

"Nos bastidores, as autoridades ucranianas e americanas frequentemente apontam o dedo umas para as outras. Os americanos reclamam em particular que os ucranianos fizeram um péssimo trabalho ao montar uma ofensiva de armas combinadas ao estilo das praticadas pela OTAN", afirmou.

Por sua vez, os ucranianos se queixam de que o Ocidente não providenciou armas suficientes para investir contra as fortificações russas, e que muitas das armas recebidas estavam em mau estado de funcionamento.

"A Ucrânia carece de equipamento de remoção de minas e de veículos blindados e, mais importante ainda, de poder aéreo suficiente", disse Booth.

Treinadas e armadas pelo ocidente, em 4 de junho as Forças Armadas da Ucrânia lançaram uma contraofensiva nas regiões de Zaporozhie, no sul Donetsk e Artyomovsk. Desde o início da operação a Ucrânia já perdeu 90 mil soldados, entre mortos e feridos, além de 600 tanques e 1.900 veículos blindados, segundo o Ministério da Defesa russo.

·         Zelensky rejeita que conflito está em impasse, mas as previsões podem ser ainda piores

A afirmação do líder ucraniano Vladimir Zelensky de que a Ucrânia não está em uma "situação de impasse" não corresponde inteiramente à realidade, escreve o colunista Gideon Rachman em seu artigo no Financial Times.

"Vladimir Zelensky, presidente da Ucrânia, rejeitou furiosamente a ideia de que a guerra está se transformando em um impasse. Mas as previsões de um impasse poderiam realmente ser otimistas demais", escreveu Rachman.

Ele observou que a Rússia está se tornando mais forte e, no próximo ano, só aumentará sua distância em vantagem da Ucrânia, em particular em termos de armamento.

Segundo o jornalista, Kiev, por sua vez, continua dependente do apoio do Ocidente, que não foi capaz de aumentar a produção militar para o nível da Rússia.

Rachman também destacou o impacto do conflito no Oriente Médio sobre o apoio mundial à Ucrânia. Ele chamou atenção para a competição direta entre Kiev e Tel Aviv por armas e munições.

·         Analista dos EUA revela futuro líder de possível golpe na Ucrânia: 'Uma ameaça real'

O ex-secretário adjunto de Defesa dos EUA, Stephen Bryen, afirmou que Kirill Budanov, chefe do serviço de inteligência da Ucrânia, é uma das principais ameaças para Vladimir Zelensky, podendo ser capaz de liderar uma conspiração contra o presidente ucraniano.

"Se existe uma ameaça real para Zelensky, ela vem de Budanov e de qualquer aliança entre ele e os generais ucranianos", escreveu o especialista em seu blog Armas e Estratégia, ressaltando que a principal motivação pela substituição do presidente ucraniano seria a busca por um acordo de paz com a Rússia.

Para Bryen, tanto a Diretoria Principal de Inteligência (GUR, na sigla em ucraniano), serviço de inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia em que Budanov é líder, quanto o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), agência de segurança e inteligência do governo, serão importantes em uma eventual mudança de poder na Ucrânia.

Segundo o analista norte-americano, os conspiradores podem obrigar Zelensky a entrar em negociações de paz com a Rússia, ou ainda substituí-lo por outro presidente.

"A tendência atual é de piora para Zelensky e para a Ucrânia. Os soldados no campo de batalha já sabem disso", concluiu Bryen. Recentemente o presidente da Ucrânia entrou em uma disputa pública com o comandante das Forças Aramadas da Ucrânia, Valery Zaluzhny, pelo general ter afirmado que os esforços militares chegaram a um beco sem saída.

 

·         Como o conflito em Gaza está afetando a Guerra da Ucrânia

 

No início de novembro, a Ucrânia informou que quase 120 áreas tinham sido bombardeadas nas 24 horas anteriores, o maior ataque individual desde o início do ano.

No entanto, a atenção do mundo continuou centrada em Gaza e em Israel.

A possibilidade de diminuição do apoio global tem sido o maior receio da Ucrânia desde o início da invasão russa.

Sem o apoio militar e financeiro dos seus parceiros, Kiev teria poucas chances de resistir à Rússia no campo de batalha e de manter as suas defesas aéreas, cruciais para proteger as cidades da Ucrânia.

Vejamos algumas das principais mudanças que ocorreram no último mês na linha de frente Rússia-Ucrânia.

·         Guerra de atrito

Muitos analistas acreditam que o lado que conseguir suportar perdas durante mais tempo vai acabar vencendo a guerra.

O comandante-em-chefe da Ucrânia, Valery Zaluzhny, também falou em "guerra de desgaste".

"Assim como na Primeira Guerra Mundial, atingimos um nível de tecnologia que nos coloca num impasse", disse ele num artigo para a revista The Economist.

Ele expressa preocupação com a contraofensiva de cinco meses para retomar o território ocupado pela Rússia, dizendo que os militares ucranianos conseguiram avançar apenas 17 km.

A Rússia controla atualmente cerca de 17,5% do território internacionalmente reconhecido da Ucrânia, com poucas mudanças significativas ao longo da linha de frente em 2023.

Nas últimas semanas, os combates intensificaram-se em torno da cidade de Avdiivka, no leste da Ucrânia, onde ambos os lados estão sofrendo grandes perdas, mas fazendo poucos progressos. O Ministério da Defesa do Reino Unido estima que as perdas russas em Avdiivka podem ser as piores em 2023.

O General Zaluzhny prosseguiu descrevendo como ambos os lados estão agora equipados com tecnologia igualmente avançada que lhes permite ver o que o outro lado está fazendo. Como resultado, disse ele, nenhum dos dois é capaz de avançar e alcançar os seus objetivos.

Ele apelou aos parceiros para que forneçam à Ucrânia ainda mais armas de precisão, com tecnologia anti-artilharia e equipamento de desminagem, incluindo robótica.

·         Os EUA e a Ucrânia

A rapidez e a facilidade com que os parceiros ocidentais da Ucrânia lhe fornecem novas armas e apoio financeiro estão sendo revisadas - diante da eleição de um novo presidente do Congresso dos EUA.

O deputado Mike Johnson, um republicano da Louisiana, foi eleito para o cargo principal no dia 25 de outubro.

Anteriormente, o presidente dos EUA, Joe Biden, tinha pedido ao Congresso que aprovasse um pacote de financiamento de segurança de US$ 106 bilhões (R$ 520 bilhões), que incluía US$ 61 bilhões (R$ 300 bilhões) em assistência à Ucrânia.

O novo porta-voz priorizou o apoio dos EUA a Israel, dizendo que, embora os EUA "não possam permitir que Vladimir Putin prevaleça na Ucrânia, devemos apoiar o nosso importante aliado no Oriente Médio, que é Israel".

Mike Johnson disse que, embora apoiasse mais ajuda à Ucrânia, também era necessário que houvesse responsabilidade e objetivos claros por parte da Casa Branca.

A principal autoridade de segurança de Kiev, Oleksiy Danylov, ignorou: "Estamos felizes em fornecer todas as informações sobre a ajuda, não há segredos".

No entanto, mesmo que seja aprovada mais ajuda, pode haver atrasos que custem vidas no campo de batalha.

Alguns membros do Congresso dos EUA já querem cortar a ajuda à Ucrânia e desviá-la para Taiwan.

O presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, negou notícias da imprensa de que as autoridades dos EUA e da União Europeia estariam pressionando Kiev para negociar com Moscou.

"Todos conhecem a minha atitude, que coincide com a atitude da sociedade ucraniana... Ninguém está pressionando (para que eu negocie), nenhum dos líderes da UE ou dos Estados Unidos", disse ele em entrevista coletiva ao lado da chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Kiev, no sábado (4/11).

Ele descartou qualquer negociação com a Rússia, mas admitiu que a guerra no Oriente Médio está tirando o foco da Ucrânia.

Ecoando um apelo do seu principal general, ele fez um pedido aos parceiros globais — "os Estados Unidos, a Europa, a Ásia" — para continuarem ajudando a Ucrânia porque Kiev "está defendendo valores em comum", como a democracia.

Falando em entrevista à norte-americana NBC, ele disse que a alternativa era muito perigosa: "Se a Rússia matar todos nós, atacará os países da Otan".

A Ucrânia prometeu retomar todo o território ocupado pela Rússia, incluindo a Crimeia, que foi anexada em 2014.

Moscou descreveu a invasão em grande escala da Ucrânia como uma "operação militar especial", lançada em resposta ao que considera um Ocidente hostil e agressivo.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, insiste que a guerra "não estava em um impasse" e que as tropas russas continuam avançando no campo de batalha.

As atualizações diárias do Ministério da Defesa russo não contêm referências a vítimas ou problemas na linha de frente. Em vez disso, listam as perdas de soldados e equipamentos sofridas pela Ucrânia.

Mas os bloggers militares russos criticam fortemente os principais comandantes por não fornecerem treino e apoio suficientes às unidades que lutam em torno de Avdiivka.

·         Ampliação dos ataques a civis

Uma das principais preocupações para a Ucrânia, à medida que o inverno se aproxima, é o aumento dos ataques russos a infra-estruturas civis essenciais, como fontes de energia e rotas de transporte.

A ampliação dos ataques torna difícil para as defesas aéreas da Ucrânia se protegerem.

A Ucrânia enfrenta bombardeamentos diários, realizados por artilharia, foguetes, mísseis e drones. As áreas mais próximas da linha de frente e dentro do alcance da artilharia russa sofrem altos níveis de baixas humanas e destruição.

No dia 31 de outubro, um alto funcionário da ONU disse ao Conselho de Segurança da ONU que "os ataques russos estão causando um sofrimento inimaginável ao povo da Ucrânia e mais de 40% deles precisam de assistência humanitária".

Ramesh Rajasingham, diretor de coordenação do escritório humanitário da ONU, disse que milhares de civis foram mortos em ataques desde a invasão da Rússia em fevereiro de 2022.

A ONU confirmou formalmente 9,9 mil civis mortos, mas disse que "o número real é certamente maior".

Os ucranianos também têm de lidar com a diminuição dos cuidados de saúde. Desde a invasão, a Organização Mundial da Saúde da ONU registrou mais de 1,3 mil ataques a infraestruturas de saúde, como hospitais. O número representa mais de 55% de todos os ataques em todo o mundo durante o mesmo período.

Segundo a ONU, desde o início de setembro deste ano, 13 instalações de saúde foram atacadas e 111 profissionais da área e pacientes foram mortos.

·         Acordo de exportação de grãos

No mês passado, as autoridades ucranianas conseguiram transportar grãos através de um corredor estreito ao longo do lado ocidental do Mar Negro, através das águas territoriais romenas e búlgaras até à Turquia, numa tentativa de se protegerem dos ataques russos.

Esse acordo permite que apenas quantidades limitadas de grãos sejam exportadas. Estima-se que cerca de 1 milhão de toneladas de cereais teriam saído dos portos ucranianos através da nova rota desde agosto.

Antes da invasão em grande escala, a Ucrânia exportava até 6 milhões de toneladas. Embora o nível atual de exportações seja metade do que era em outubro de 2022, ainda é maior que o esperado.

 

·         Atenção do Ocidente se desloca para o Oriente Médio e Ucrânia está sendo esquecida, diz jornal

 

O Ocidente está mudando a atitude em relação ao presidente da Ucrânia Vladimir Zelensky, escreve jornal britânico The Telegraph.

"O olhar do Ocidente se deslocou [para o Oriente Médio], para decepção do presidente Zelensky, precisamente no momento quando a guerra terrestre [das Forças Armadas da Ucrânia] está prestes a ser concluída, já que as chuvas de outono [no Hemisfério Norte] dificultam a movimentação das tropas", escreve a mídia.

O artigo observa que, apesar de todas as promessas de apoiar a Ucrânia "o tempo que for preciso", a fadiga do conflito entre os países da OTAN sempre foi um risco, e os republicanos nos EUA, que mais contribuem para o esforço militar da Ucrânia, estão céticos sobre os compromissos contínuos.

"Sem fornecimento constante de armas, a Ucrânia enfrentará um momento perigoso na próxima primavera. Atualmente as forças ucranianas precisam de uma melhor defesa antiaérea", aponta o jornal.

Segundo o artigo, em meio ao caos no Oriente Médio, a Ucrânia está começando a ser esquecida. Anteriormente, o presidente russo Vladimir Putin declarou que em nenhuma parte do front o Exército ucraniano conseguiu alcançar sucessos significativos. De acordo com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, desde o início da contraofensiva Kiev perdeu até 90 mil homens e cerca de 600 tanques.

·         'OTAN não deve estabelecer metas financeiras irrealistas' de gastos militares, diz MD italiano

A Itália está "muito longe" dos planos adotados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de elevar os gastos militares para 2% do Produto Interno Bruto (PIB). A aliança não deve estabelecer metas irrealistas, disse o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto.

A meta de aumentar os gastos com a defesa para 2% do PIB é "impossível em 2024" e será "difícil também até 2028", afirmou o ministro italiano.

"Eu fui o mais honesto dos ministros da Defesa e disse: 'Talvez não possamos fazer isso' dada a situação orçamentária", destacou Guido Crosetto, citado pela agência de notícias Nova.

"A OTAN não deve estabelecer metas financeiras irrealistas", acrescentou.

Segundo o ministro, um aumento nos gastos com a defesa pode ser visto "como um objetivo imposto externamente", que não deve entrar em contradição com as necessidades de gastos em outros setores, como o da saúde.

Anteriormente, a Itália prometeu aumentar os gastos com a defesa em 1,8 bilhão de euros (R$ 9,6 bilhões) no próximo ano, mas a porcentagem destes gastos em relação ao PIB cairá de 1,38% para 1,26% em 2025.

 

·         Sistema antiaéreo espanhol fornecido à Ucrânia provou ser ineficaz contra drones russos

 

As Forças Armadas da Ucrânia usaram pela primeira vez o sistema de defesa antiaérea Hawk fornecido por Espanha para repelir um ataque russo, escreve o jornal Izvestia.

De 4 a 6 novembro, as Forças Armadas da Rússia conduziram vários ataques maciços contra alvos militares nas regiões ucranianas de Odessa e Nikolaev. Foram atingidos locais de concentração de tropas ucranianas, depósitos de armas, equipamentos militares e munições.

Pela primeira vez, a Ucrânia usou os sistemas antiaéreos Hawk fornecidos pela Espanha. Como resultado, enquanto protegiam instalações em Odessa e Nikolaev, os complexos provaram ser ineficazes, sendo incapazes de enfrentar os drones russos.

Em conversa com o portal Lenta.ru, o especialista militar e coronel aposentado Yuri Knutov disse que a Espanha está fornecendo à Ucrânia armas retiradas de serviço para não pagar por este processo e ainda receber compensações de fundos internacionais.

Knutov explicou também que o Hawk é um complexo desenvolvido nos anos 60 e 70, que mais tarde foi modernizado. Este complexo é incapaz de derrubar mísseis de cruzeiro, drones ou aeronaves manobráveis.

"A única coisa em que ele pode ser usado é modernizá-lo para disparar contra mísseis de cruzeiro: se isso não for feito, será uma coisa inútil", disse o especialista.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Deutsche Welle/BBC News Brasil

 

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