Milionário ruralista que entrou com pedido de recuperação judicial, diz
respeitar PT e agora nega bolsonarismo
O empresário Washington Cinel, que integrava um
grupo de empresários em apoio a Jair Bolsonaro durante seu governo, passou a
negar que seja bolsonarista, e a defender que (ser de) “direita e esquerda é um
negócio muito burro”. O grupo empresarial de Cinel entrou com um pedido de
recuperação judicial na Justiça de São Paulo.
À coluna, Cinel rebateu a acusação do Banco Safra
de que ele usou o pedido de recuperação judicial como uma “pueril tentativa de
blindar” seu patrimônio e “fraudar seus credores”, como mostrou o repórter Luiz
Vassallo.
“Foi uma medida necessária (a recuperação) porque a
pandemia nos judiou (sic) muito. Hoje temos 18 mil funcionários. Antes da
pandemia tínhamos 25 mil. Sabe o que é demitir sete mil funcionários? É muita
coisa”, defendeu.
Credor do grupo de Cinel, o banco Safra disse
também que o empréstimo de R$ 510 milhões que o empresário tomou com o Banco do
Nordeste às vésperas da recuperação judicial serviu para proteger uma fazenda,
dada como garantia do negócio, de ser bloqueada na recuperação judicial.
“A fazenda já está tomada”, rebateu Cinel. “Porque
está em garantia numa adjudicação fiduciária. A fazenda é a garantia do
empréstimo (do Banco do Nordeste). Os outros credores não devem chegar nela
porque ela está fora da recuperação judicial. Eu tenho que cumprir um contrato
de empréstimo com o Banco do Nordeste. O que eu tenho dela é a posse.”
Além do Banco Safra, o Banco do Brasil também
criticou duramente o pedido de recuperação judicial da Gocil, aceito pela
Justiça na semana passada. O banco disse que o empresário quer viver uma “vida
de luxo e ostentação” às custas de seus credores e buscar “distribuição de
renda às avessas”.
Cinel disse não ver motivação política na
manifestação do Banco do Brasil que o acusou de querer blindar seu patrimônio.
“Não posso afirmar isso, porque tenho um bom
relacionamento com o Banco do Brasil. O Banco do Brasil é um banco
profissional. Tem o viés político? Talvez alguém ali dentro, que entrou agora,
pode ter falado ‘bate, não sei o quê’. Mas eu sou um cara que me dou bem com a
direita, com a esquerda, com o centro. Eles sabem disso.”
O empresário negou ser bolsonarista e disse ter
relação com o governo Lula. “Na verdade, eu não conheço (com profundidade) o
Bolsonaro. Foi me pedido na época para fazer um jantar para ele. Ele era
presidente e fiz um jantar, acabei o conhecendo. Mas hoje se você me perguntar
se tenho o celular dele, não tenho”, disse à coluna.
“Eu procuro fazer o bem, não importa a quem, como
já fiz também (jantar) para o PT na minha casa. O cara que hoje é de esquerda e
direita é um negócio muito burro. Depende do que está no seu coração, do que
você quer fazer.”
“Conheço muita gente do PT, respeito. Tem muita
gente que eu não gosto, não tem nada a ver, como tem na direita. A nossa
empresa é apolítica. Hoje um político pode prometer mil coisas, não tem mais
possibilidade, como era antigamente, ‘ah, te arrumo um contrato’. Não tem. Com
a Lei de Licitações, publicidade, não tem. Eu estou muito velho para fazer
burrada.”
Safra
diz que Cinel faz recuperação fake para blindar bens
O Banco Safra afirmou à Justiça na quinta-feira
(26/10) que o empresário Washington Cinel, dono da Gocil, uma das maiores
empresas de segurança privada do país, usou o pedido de recuperação judicial
como uma “pueril tentativa de blindar” seu “multimilionário” patrimônio e
“fraudar seus credores”.
A instituição financeira põe em xeque se o grupo de
Cinel está realmente em crise econômica e questionou créditos contraídos pela
empresa às vésperas do pedido de recuperação judicial (RJ).
Como mostrou o Metrópoles, Cinel pediu recuperação
judicial com dívidas de R$ 1,76 bilhão à Justiça de São Paulo. O próprio
empresário juntou ao processo cédulas de crédito firmadas junto ao Banco do
Nordeste (BNB) que chegam à cifra de R$ 510 milhões.
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Do total, R$ 325 milhões foram contratados dois
meses antes do pedido de recuperação e R$ 32 milhões foram liberados a apenas
oito dias da tentativa de entrar em RJ.
Uma fazenda foi dada como garantia do negócio. Como
mostrou a coluna de Guilherme Amado, a fazenda havia sido comprada por Cinel em
2021, por R$ 42 milhões. Mesmo assim, foi avaliada em R$ 325 milhões pelo Banco
do Nordeste para firmar uma cédula de crédito na mesma quantia, bastante
discrepante do preço original.
O banco Safra afirma que a operação pode ter
servido para blindar o patrimônio de Cinel, uma vez que o imóvel alienado em
garantia a um banco não pode ser alvo de bloqueios da parte de outros credores,
nem incluído na lista de ativos disponíveis para a quitação de dívidas da RJ.
O Safra afirma que “não é impossível cogitar que a
cédula em questão tenha sido celebrada com o fito de impedir que os credores
eventualmente obtivessem” o bloqueio da fazenda, que fica em Balsas, no
Maranhão.
A dívida contraída dois meses antes da recuperação,
segundo o Safra, também “corrobora com o cenário de absoluta incerteza quanto à
real existência de crise econômico financeira” de Cinel e das demais empresas
de seu grupo.
O Safra ainda afirma que a inclusão de um
empréstimo do próprio banco no valor de R$ 15 milhões na lista de credores é
uma forma de tentar impedir que o Safra, caso o deseje, promova a cobrança
individual da dívida.
O banco também ressalta que o grupo alegou que a
crise financeira tem relação com a expansão das fazendas e questiona os motivos
que levaram à inclusão das empresas de segurança privada de Cinel , como a
Gocil, no pedido de recuperação judicial. O banco pede para que a Justiça mande
a perícia constatar se há real crise econômica na Gocil.
“A conduta do Sr. Washington desnuda a sua pueril
tentativa de blindar seu multimilionário de seus legítimos credores, a qual,
por sua vez, configura abuso de direito, na medida em que o Sr. Washington se
utiliza, de forma fraudulenta, do pedido de recuperaçao para fraudar credores”,
afirma o Safra.
O Banco do Brasil já havia também afirmado, logo no
início da recuperação judicial, que Cinel “ostenta uma vida de luxo” e que quer
viver às custas de seus credores. O banco pediu à Justiça paulista que obrigue
o empresário a explicar seu patrimônio e que seja feita perícia para constatar
se ele, de fato, está em crise que justifique a sua recuperação judicial.
• Ex-PM
e jantares com políticos
Washington Cinel foi policial militar em São Paulo
e abriu a Gocil nos anos 1980 para prestar segurança privada, após atuar nessa
área para a Rede Globo, na região de Bauru. O negócio expandiu-se para 11
estados ao longo dos anos e tem, hoje, 20 mil funcionários. Atualmente, além de
vigilância, o grupo oferece serviços como jardinagem, limpeza, entre outros
terceirizados a empresas e governos.
Só do governo paulista, a Gocil recebeu mais de R$
100 milhões no ano passado, prestando serviço de vigilância em estações de
trens da CPTM e em unidades habitacionais da CDHU.
Com o passar dos anos, a influência política de
Cinel também cresceu. Foi na mansão dele nos Jardins, bairro rico paulistano,
que o empresário promoveu o evento que lançou a candidatura de João Doria na
eleição para prefeito da capital, em 2016, quando o então tucano e seu amigo
foi eleito.
Durante o governo passado, Cinel também se
aproximou de Jair Bolsonaro (PL) e foi o anfitrião de um jantar do
ex-presidente com empresários paulistas, em 2021. Mesmo alinhado a Bolsonaro,
ele não deixou de frequentar o Lide, grupo empresarial fundado por Doria e do
qual já foi líder da área de segurança.
BNB diz que repassou R$ 32 milhões em 2023
O Grupo Handz, ao qual pertence a Gocil, afirmou
que “seguimos com o nosso processo de Recuperação Judicial com lisura e
transparência, dialogando com os credores em respeito a todos os envolvidos”.
O BNB afirmou que “não repassou R$ 510 milhões
presentes nas cédulas de crédito às quais o Metrópoles obteve acesso às
vésperas do grupo de Cinel entrar em recuperação judicial”.
Segundo o banco, “todo recurso efetivamente
repassado pelo BNB somou R$ 188 milhões, sendo que R$ 156 milhões foram
creditados em 2022 e R$ 32 milhões, este ano.” Ainda de acordo com a
instituição, “todo o processo seguiu rigorosamente os trâmites legais e
normativos estabelecidos”.
A reportagem do Metrópoles está baseada em
documentos do próprio banco que foram anexados ao processo de recuperação
judicial do grupo de Washington Cinel.
• Dono
da Gocil fez manobra para conseguir empréstimo de R$ 510 milhões
O magnata da segurança e da terceirização
Washington Cinel conseguiu um empréstimo de R$ 510 milhões no Banco do Nordeste
(BNB) dando como garantia uma fazenda que só estava em seu nome devido a um
outro empréstimo contraído com os vendedores.
Como mostrou o repórter Luiz Vassallo, Cinel, dono
do grupo que controla a Gocil, uma das maiores empresas de segurança privada do
país, tem dívidas que somam R$ 1,76 bilhão. Ainda assim, ele conseguiu R$ 510
milhões em um empréstimo no Banco do Nordeste em operação aprovada ainda no
governo Jair Bolsonaro, de quem Cinel foi um fiel apoiador.
A fazenda foi comprada por Cinel, em 19 de junho de
2021, da empresa Enforce, controlada pelo BTG e que atua no setor imobiliário,
por R$ 42 milhões, com um pagamento previsto em várias parcelas.
Para usar a fazenda como garantia para o empréstimo
no BNB, mesmo sem ter quitado o pagamento, Cinel fez uma negociação. Em 27 de
julho de 2022, ele entregou ao BTG uma apólice de seguro de R$ 28 milhões,
equivalente a sua dívida em aberto naquele momento, para efetuar a
transferência da propriedade para o seu nome.
A Enforce aceitou trocar a garantia da propriedade
rural pela apólice, mas Cinel continuou devendo. A previsão é que ele
terminaria de pagar somente em 2025 as parcelas referentes à compra da
propriedade.
• Juiz
minimiza acusações de bancos e abre recuperação judicial da Gocil
O juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara
de Falências e Recuperações Judiciais da Justiça paulista, autorizou a abertura
da recuperação judicial do grupo empresarial de Washington Cinel, dono da
Gocil, uma das maiores empresas de vigilância privada do país.
A decisão blinda por 180 dias todas as empresas de
Cinel de ações de execução de cobranças na Justiça. No despacho, o magistrado
minimiza as acusações feitas por bancos de que o pedido de recuperação judicial
é fraudulento e de que estaria sendo usado para blindar o patrimônio do
empresário.
“Quanto à suposta impossibilidade de processamento
do pedido por inexistência de crise por determinadas devedoras, e pelo próprio
Washington, tese sustentada por alguns bancos em suas manifestações iniciais,
não pode ser aceita”, afirmou Oliveira Filho.
O juiz afirma, no entanto, que “caso detectada
alguma fraude, poderá ser responsabilizado civil e criminalmente o seu autor,
sem prejuízo” de um eventual “afastamento dos controladorese administradores”.
“Não é caso, contudo, de indeferimento da inicial”, afirma.
Segundo Oliveira Filho, a empresa demonstrou as
“causas da crise de forma adequada e a necessidade da recuperação, não havendo
razão para maior detalhamento, pois os credores podem examinar as demonstrações
financeiras e constatar se o diagnóstico da crise pelas devedoras está correto
ou não, aprovando ou rejeitado o plano de recuperação a ser apresentado”.
Como mostrou o Metrópoles, bancos contestaram de
maneira dura o pedido de recuperação judicial do grupo de Cinel. O Banco do
Brasil, que costuma votar contra recuperações, mas raramente parte para o
ataque, afirmou que o empresário quer viver uma “vida de luxo e ostentação” às
custas de seus credores.
Já o Safra afirmou à Justiça que o empresário usa o
pedido de recuperação judicial como uma “pueril tentativa de blindar” seu
“multimilionário” patrimônio e “fraudar seus credores”.
O Metrópoles revelou que antes de pedir recuperação
judicial, empresas de Cinel contraíram créditos de R$ 510 milhões junto ao
Banco do Nordeste (BNB). Uma das cédulas, no valor de R$ 325 milhões, foi
firmada dois meses antes do pedido. E parte da verba, no valor de R$ 32
milhões, liberada dias antes de a empresa requerer a recuperação judicial. Uma
fazenda foi dada em garantia ao banco, o que pode protegê-la da venda para
pagar credores.
A coluna de Guilherme Amado revelou que, apesar de
avaliado em R$ 325 milhões pelo banco, o imovel foi comprado dois anos antes
por R$ 41 milhões, em um valor bem menor.
Questionado pelo Metrópoles sobre os empréstimos
concedidos ao grupo de Washington Cinel às vésperas da recuperação judicial, o
BNB afirmou, por meio de nota, que “todo o processo seguiu rigorosamente os
trâmites legais e normativos estabelecidos”.
“Vale ressaltar que, em situações de inadimplência
e até mesmo nos casos de recuperação judicial, são adotadas as medidas
necessárias para assegurar o ressarcimento do banco, em conformidade com as
práticas comumente adotadas”, completou.
O BNB afirmou posteriormente que “não repassou R$
510 milhões presentes nas cédulas de crédito às quais o Metrópoles obteve
acesso às vésperas do grupo de Cinel entrar em recuperação judicial”.
Segundo o banco, “todo recurso efetivamente
repassado pelo BNB somou R$ 188 milhões, sendo que R$ 156 milhões foram
creditados em 2022 e R$ 32 milhões, este ano.” Ainda de acordo com a
instituição, “todo o processo seguiu rigorosamente os trâmites legais e
normativos estabelecidos”.
Já o Grupo Handz, que controla as empresas de
Cinel, afirma que as informações “não procedem”, sem detalhar quais seriam as
informações consideras corretas. “O Grupo não pode se manifestar em relação a
dados econômico-financeiros devido ao processo de recuperação judicial em
andamento”, alegou.
A reportagem do Metrópoles foi baseada em
documentos do próprio BNB que foram anexados ao processo de recuperação
judicial do grupo de Washington Cinel.
Fonte: Metrópoles
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