sábado, 28 de outubro de 2023

Mulheres são maioria em todas as regiões do Brasil pela 1ª vez; número de idosos cresce 57,4%

Pela primeira vez em cinco décadas, quando foram iniciadas as medições pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população feminina é maioria em todas as regiões brasileiras. É o que revelaram os dados do Censo Demográfico de 2022 divulgados nesta sexta-feira (27).

A população do Brasil chegou a 203.080.756 de pessoas, sendo 104.548.325 (51,5%) mulheres e 98.532.431 (48,5%) homens. A última região que consolidou a tendência histórica de predominância feminina foi a Norte.

Com isso, a razão de sexo, que é o número de homens em relação ao grupo de 100 mulheres, chegou a 94,2 no país — entre as regiões, vai desde 92,9 (Sudeste) até 99,7 (Norte). Entre os estados, as menores razões de sexo ficam no Rio de Janeiro (89,4), no Distrito Federal (91,1) e em Pernambuco (91,2). Já Mato Grosso (101,3), Roraima (101,3) e Tocantins (100,4) têm mais homens do que mulheres.

A gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, Izabel Marri, disse que um dos motivos do fenômeno é a maior mortalidade de homens em todos os grupos etários: desde o nascimento até as idades mais longevas. "Além disso, nas idades adultas, a sobremortalidade [relação entre as probabilidades de morte por idade ou por grupos de idade] masculina é mais intensa. E, com o envelhecimento populacional, a redução da população de 0 a 14 anos e o inchaço da população mais idosa, há um aumento da proporção de mulheres, já que elas sobrevivem mais em relação aos homens", acrescentou.

Entre a população até os 19 anos, os homens ainda são maioria segundo o instituto, com uma razão de 103,5 para cada 100 mulheres. A partir do grupo etário entre 25 e 29 anos, a população feminina se torna majoritária em todas as regiões e chega a atingir o dobro em relação aos homens na faixa de 90 a 94 anos. "A maior incidência de homens nas primeiras idades é uma consequência do maior nascimento de crianças do sexo masculino em relação àquelas do sexo feminino. O maior contingente de homens diminui com a idade devido à sobremortalidade masculina, mais intensa na juventude por conta das mortes por causas externas".

Nos municípios mais populosos, que costumam ter maiores índices de violência, a proporção de homens também é menor, mostrou o Censo 2022. A razão de sexo em cidades com mais de 500 mil habitantes é de 88,9 homens para cada grupo de 100 mulheres, enquanto em localidades com até 5 mil pessoas o número sobe para 102,3. Para valores abaixo de 100, há maioria feminina na população.

•        Número de idosos cresce 57,4% em 12 anos

Os dados do IBGE também evidenciam um franco envelhecimento da população brasileira: em 12 anos, o número de pessoas com mais de 65 anos cresceu 57,4%. Em 2022, o contingente de idosos era de 22.169.101 (10,9% da população), quando em 2010 era de 14.081.477 (7,4% da população). Ao mesmo tempo, a parcela populacional com idade de até 14 anos caiu de 24,1% para 19,8%.

"Ao longo do tempo a base da pirâmide etária foi se estreitando devido à redução da fecundidade e dos nascimentos que ocorrem no Brasil. Essa mudança no formato da pirâmide etária passa a ser visível a partir dos anos 1990, e a pirâmide etária do Brasil perde, claramente, seu formato piramidal a partir de 2000", explica a pesquisadora do IBGE.

Em 1980, apenas 4% da população possuíam mais de 65 anos e quase 40% estavam na faixa de 0 a 14 anos. "Podemos perceber que a queda da fecundidade ocorreu primeiramente no Sudeste e no Sul do Brasil, o que as faz as regiões mais envelhecidas, com menor proporção de jovens. A região Norte, embora também tenha registrado uma redução da fecundidade ao longo dos últimos anos em todos os estratos socioeconômicos, ainda se mantém a região proporcionalmente mais jovem", frisou Marri.

A média de idade da população brasileira subiu de 29 anos em 2010 para 35 anos em 2022, índice que aumentou em todas as regiões do país: Norte, de 24 para 29 anos; Nordeste, de 27 para 33 anos; Sudeste, de 31 para 37 anos; Sul, de 31 para 36 anos e Centro-Oeste, de 28 para 33 anos. E para cada 100 crianças de 0 a 14 anos, há 55,2 idosos.

E são justamente os municípios com até 5 mil habitantes onde os índices de envelhecimento são maiores: 76,2 idosos para cada grupo com idade de até 14 anos. "Uma possível explicação para esse fenômeno é o deslocamento de pessoas em idade economicamente ativa para as maiores cidades em busca de emprego, educação e serviços. Esse deslocamento de pessoas adultas com seus filhos é predominantemente de pessoas em idade reprodutiva, o que também resultará em um menor número de crianças e nascimentos nas cidades menores, de origem", finaliza.

•        PGR aciona STF contra limitação de mulheres nos quadros das Forças Armadas

No Exército, elas representam 6% do efetivo, enquanto a composição feminina de outras forças não é tão diferente: Marinha tem 11% e na Força Aérea Brasileira chega a 18%. Na mesma data em que o Censo revelou que pela primeira vez as mulheres são maioria em todas as regiões do Brasil, a PGR acionou o STF para discutir a questão nas instituições.

A procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos, entrou com três ações no Supremo para suspender normas que restringem vagas para mulheres nos quadros das Forças Armadas. Nos editais internos, Marinha, Exército e Aeronáutica trazem o percentual de mulheres que podem atuar nos cursos de formação de militares.

"Não há fundamento razoável e constitucional apto a justificar a restrição da participação feminina em corporações militares. Se o legislador e as próprias corporações consideram que as mulheres são aptas a exercer os referidos cargos, não é plausível estabelecer impedimentos ou restrições ao exercício desse direito fundamental, sob pena da configuração de manifesto tratamento discriminatório e preconceituoso", disse na ação.

Para Elizeta, as mulheres deveriam concorrer dentro de 100% das vagas ofertadas nos concursos militares. “Por inexistir respaldo constitucional para oferecimento de tratamento prejudicial e contrário às mulheres na concretização do direito de acesso a cargos públicos, havendo, pelo contrário, dever expresso imposto ao Estado de inclusão, de inserção e de concessão de tratamento mais benéfico às candidatas do sexo feminino em concursos públicos, não podem os poderes públicos criar restrições, proibições ou impedimentos”, acrescentou.

•        Os questionamentos

Com relação ao Exército, a ação da PGR diz que a corporação não assegura a participação feminina em todas as patentes e linhas de ensino militares. Já na Marinha, há autonomia para o comando definir capacitações e atividades com base no gênero, enquanto na Aeronáutica destina todas as vagas do curso de formação de oficiais de infantaria para homens. Ainda não há prazo para o Supremo analisar as ações.

•        Concursos públicos da PM suspensos

Os questionamentos da PGR chegaram ao STF na mesma semana que o ministro Cristiano Zanin suspendeu o concurso público da Polícia Militar do Rio de Janeiro. O motivo: outra ação da procuradoria que questionava a reserva de apenas 10% das vagas para mulheres. As provas aconteceriam em agosto do próximo ano. No mês passado, ainda foi suspenso outro certame, desta vez da Polícia Militar do Distrito Federal, que também fixava limite de participação feminina em 10%.

Nas policiais estaduais, que são subordinadas aos governos locais, a participação média feminina é de 11% do efetivo militar e cerca de 28% do civil.

 

       Região Norte é 8 anos mais 'jovem' que Sudeste: os achados do censo 2022

 

A cada dez anos, o Brasil tem uma oportunidade inédita de olhar para a sua população com os censos demográficos.

Nesta sexta-feira (27/10), chegou um novo capítulo do censo realizado entre agosto e outubro do ano passado e divulgado neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): dados sobre a idade e o sexo dos brasileiros.

Essa é a quarta etapa de divulgação do Censo 2022 — como mostrou a BBC News Brasil, já foram publicados dados sobre o tamanho da população brasileira, os quilombolas e os povos indígenas.

Os novos dados confirmam tendências constatadas nos últimos Censos, como a de que a população brasileira está cada vez mais envelhecida.

O Censo 2022 mostra que 10,9% da população é de idosos com mais de 65 anos (cerca de 22 milhões de pessoas) e 19,8% de crianças com até 14 anos (40 milhões).

Em 2010, o percentual e o número de idosos era menor, e o de crianças, maior. Naquele ano, 7,4% da população tinha mais de 65 anos (14 milhões) e 24% até 14 anos (45,9 milhões).

A pirâmide etária do Brasil está cada vez mais diferente da pirâmide clássica, com uma grande base representando os mais novos.

"A partir de 1940, tem início a transição demográfica do Brasil com a redução da mortalidade. Essa redução afeta a população de crianças primeiramente, e depois a queda da mortalidade segue em todos os grupos de idade", explicou à imprensa Izabel Marri, pesquisadora do IBGE e doutora em demografia.

"A gente começa a ver o estreitamento da base da pirâmide no final da década de 1980 para 1990, como efeito da queda da fecundidade [número médio de filhos por mulher], iniciada em 1960 nas regiões mais industrializadas do país."

"A estrutura populacional está em franco envelhecimento e tende a envelhecer mais."

Outro dado que evidencia o envelhecimento do país é a chamada idade mediana, aquela que separa a metade mais jovem da metade mais velha da população.

Essa idade no Brasil saltou de 29 anos em 2010 para 35 em 2022 — ou seja, aumentou seis anos de um Censo para o outro.

A idade mediana também revela outra coisa: todas as regiões brasileiras estão envelhecendo, mas não na mesma medida.

De 2010 para 2022, a idade aumentou em todas elas, mas elas têm valores diferentes. Em ordem crescente, a idade mediana no Norte é de 29 anos; no Centro-Oeste e Nordeste, 33 anos; no Sul, 36 anos; e no Sudeste, 37 anos.

Os percentuais de crianças com até 14 anos e idosos com mais de 65 anos também colocam o Norte em uma ponta, e o Sudeste em outra.

No Norte, as crianças são 25% da população, e os idosos, 7%

Já no Sudeste, as crianças são 18% da população, e os idosos, 12%.

Izabel Marri explica que as diferenças constatadas atualmente remontam, em parte, a tendências iniciadas nas décadas passadas.

"A queda da fecundidade iniciada lá em 1960 se inicia nas regiões mais industrializadas do país, no Sudeste e Sul, entre as mulheres que residem nas áreas urbanas e que são mais escolarizadas", explica a demógrafa.

Acompanhando esses padrões regionais, duas cidades no Rio Grande do Sul, Coqueiro Baixo e União da Serra, estão empatadas como as que têm a maior idade mediana do país: 53 anos.

Já aquela com a idade mais jovem é Uiramutã, em Roraima, onde a mediana é de 15 anos.

Mas olhando para os dados dos Estados e principalmente dos municípios, nota-se que há fatores particulares que influenciam na pirâmide etária da cidade, como a migração e a atividade econômica no local.

O tamanho dos municípios também tende a fazer diferença, como mostra o chamado índice de envelhecimento — que é o número de idosos (com mais de 65 anos) para cada grupo de 100 crianças (de 0 a 14 anos).

Considerando o tamanho das cidades, o índice mais alto está nos municípios com até 5 mil habitantes: 76,2 idosos por grupo de crianças.

"O que acontece nos municípios muito pequenos é a saída da população em idade economicamente ativa, em idade reprodutiva, para cidades que oferecem maior chances de emprego e melhor as ofertas de serviço", explica a demógrafa do IBGE.

Conforme o tamanho dos municípios aumenta a partir dos 5 mil habitantes, a proporção de idosos diminui — mas volta a aumentar nos municípios grandes, com mais de 100 mil habitantes.

"Aí, a gente tem o efeito do número menor de crianças. São nessas regiões que o nível da fecundidade tende a ser mais baixo", diz Marri sobre as cidades grandes.

Outra tendência que já vinha sendo observada em edições anteriores do Censo e que foi intensificada na edição atual é a da maior quantidade de mulheres em relação aos homens no Brasil.

De acordo com o Censo 2022, 51,5% da população brasileira é formada por mulheres e 48,5% por homens. Há cerca de 104 milhões de mulheres no país — 6 milhões a mais do que homens.

A pesquisa usa também um indicador chamado razão de sexo, que é o número de homens para cada 100 mulheres. Aliás, ao falar no "sexo" de uma pessoa, o IBGE considerou o sexo biológico no nascimento.

Quando a razão de sexo fica abaixo de 100, quer dizer que há mais mulheres do que homens na população.

Esse número caiu nas últimas décadas. Em 1980, eram 98,7 homens para cada 100 mulheres; em 2000, 96,9; e em 2022, 94,2.

"Essa diminuição ao longo do tempo reflete a maior mortalidade dos homens em todos os grupos etários da população. Nascem mais meninos, mas morrem também mais meninos. E principalmente nas idades dos jovens adultos, o Brasil apresenta uma sobremortalidade masculina muito maior do que a população feminina", aponta Marri.

"As causas de morte dessa população jovem adulta masculina estão relacionadas causas não naturais, que são as causas violentas", diz, referindo-se a mortes, por exemplo, por armas de fogo ou por acidentes de trânsito.

"Embora a população apresente maior longevidade, as taxas de mortalidade dos homens são maiores do que das mulheres em todos os grupos, então quanto mais a gente envelhece, menor tenderá a ser a razão de sexo no país."

Em todas as regiões, a razão de sexo é menor do que 100 — ou seja, há menos homens que mulheres.

Por ser "uma das áreas mais envelhecidas do país", segundo a demógrafa, o Sudeste tem a menor razão de sexo: são 92,9 homens para cada 100 mulheres.

Novamente, a nível mais "micro", importam as características dos municípios. Por exemplo, aqueles em que predominam atividades econômicas exercidas predominantemente por homens terão uma proporção maior deles.

Isso acontece também em cidades que têm presídios, como Balbinos (SP), onde há 443 homens para cada 100 mulheres — a maior razão de sexo do país. No Brasil, há muito mais presos homens do que detentas mulheres.

Dados de mortalidade, nascimentos, migração e fecundidade, apesar de estarem relacionados às informações divulgadas nessa sexta-feira, ainda não foram disponibilizados pelo Censo 2022. Espera-se que o efeito da pandemia de coronavírus se reflita nesses dados a serem publicados futuramente.

Mas, por enquanto, as recém-divulgadas informações de idade e sexo da população — consideradas pelo IBGE o "cerne" do Censo — já poderão a ajudar no planejamento de políticas públicas fundamentais, como as que afetam escolas, hospitais e a previdência social.

 

Fonte: Sputnik Brasil/BBC News Brasil

 

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