domingo, 29 de outubro de 2023

Mario Sabino: “Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto”

Os brasileiros não estão nem aí para o problema da corrupção. Mas não é porque você ignora o problema que o problema deixa de existir. Ao contrário, ele tende a aumentar ao ser ignorado, o que é ótimo só para o corrupto, apesar de dizerem que certa dose de corrupção faz bem, é até vitamina para o crescimento econômico, patati patatá.

A Petrobras, por exemplo, foco do maior escândalo de corrupção da história brasileira e quiçá mundial, voltará a ter políticos e sindicalistas em cargos de direção. Reabre-se a avenida para a gatunagem, de onde se concluí que o único remédio para impedir que a empresa seja o parque de diversões dos corruptos seria privatizar completamente a joça toda — o que não vai acontecer nunca.

Com o desmonte da Lava Jato, denunciar corrupção virou coisa de gente messiânica, chata e até golpista. O discurso de que a operação foi ação orquestrada para aniquilar Lula e o PT colou tanto, parabéns aos spin doctors, que passou a ser repetido sem qualquer sombra de vergonha em salas de aula. Militantes disfarçados de professores ensinam essa mentira aos alunos ignaros como se fosse dado histórico indiscutível.

Posso ter perdido algo, mas aqui nas adjacências não vi ninguém dar muita bola para o relatório sobre o Brasil do Grupo de Trabalho Antissuborno da OCDE, divulgado há coisa de dez dias. É uma tomografia dos retrocessos operados nas diversas instâncias do poder para desmanchar o que foi feito em prol da transparência e da honestidade no trato da coisa pública. Entre os retrocessos, o fim da prisão em segunda instância, o desmonte das forças-tarefas e a anulação dos acordos de leniência.

Em outras freguesias, os suspeitos de costume destacaram a referência rápida à politização da Lava Jato, dando a entender que a operação havia sido condenada até o último grau pelos autores do relatório.

Menos rápida, na verdade, é a referência às retaliações que procuradores da Lava Jato sofreram no TCU, aquele monumento à independência funcional, por terem ousado combater a corrupção nas altas esferas. Ao longo do relatório, a verdade documentada com números é que a operação aparece como responsável por ter elevado ao grau de excelência o combate à corrupção dentro e fora do país.

O Grupo de Trabalho Antissuborno da OCDE também aborda como a autocensura entrou para o cotidiano do jornalismo investigativo brasileiro, em consequência dos ataques bolsonaristas (mas não só dos bolsonaristas, presume-se) e do fim da Lava Jato:

“Embora exista liberdade de imprensa no Brasil (mais em nível nacional do que regional), os repetidos ataques contra a mídia nos últimos anos tiveram um efeito inibidor sobre o profissão. Na opinião (de jornalistas), esses ataques, combinados com a incerteza geral sobre o compromisso do Brasil no combate à corrupção após o desmantelamento das forças-tarefas da Lava Jato, contribuíram para um aumento do nível de autocensura na profissão.”

Eu já disse, sem qualquer originalidade, que a autocensura é a pior forma de censura. Exemplo: estava para comentar o que o relatório da OCDE registra sobre a atuação de um ministro de corte superior, mas, diante da liberdade de imprensa em vigor, decidi autocensurar-me.

Os brasileiros não estão nem aí para o problema da corrupção. Aquilo que se viu entre 2015 e 2018 foi momento singular do qual não haverá plural. Compreendo perfeitamente: “um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto”. A máxima é do Marquês de Maricá, aquele pândego. Máxima de um país mínimo (não estou, não, roubando o título do livro de certo jornalista, porque fui eu a sugerir o título a ele). O brasileiro é bom companheiro, ninguém pode negar.

 

Ø  Mesmo com todas denúncias, as estranhas homenagens a Bolsonaro pelo País reforçam estratégia de polarização

 

Rodeado de aliados, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebe uma placa com a inscrição "Título de Cidadão Honorário". Ele ergue o objeto e é aplaudido. Essa cena já ocorreu pelo menos quatro vezes neste ano e deve se repetir nos próximos meses. Isso porque deputados estaduais e vereadores têm aprovado homenagens ao ex-chefe do Executivo em todo o País, o que, segundo analistas, ajuda a manter a polarização.

Levantamento do Estadão mostra que Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais aprovaram oito títulos em homenagem a Bolsonaro nos últimos 12 meses. Há outras sete condecorações em tramitação. "A visita do ex-presidente a uma cidade cria comoção e os políticos associados ao nome de Bolsonaro têm maior probabilidade de serem eleitos", disse o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. "Ele ainda é um importante instrumento político para candidaturas ao Legislativo."

Ao colar sua imagem na de Bolsonaro, políticos ganhariam projeção para se contrapor a potenciais candidatos de esquerda, eventualmente apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, na avaliação do também cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, a estratégia de entrega de homenagens está associada a uma tentativa de perpetuar o sentimento de rejeição ao PT na sociedade. "A política brasileira ainda pode ser explicada por essa polarização."

Cortez afirmou ainda que Bolsonaro está empenhado em se manter como principal expoente do antipetismo, utilizando as redes sociais não só para criticar o governo, mas para mostrar engajamento em eventos políticos, como as homenagens nas Assembleias e nas Câmaras Municipais.

·         Berço

Marcada para o dia 30 de novembro, a próxima entrega de um título a Bolsonaro será em São Bernardo do Campo (SP), berço político de Lula. A proposta de homenagem partiu do vereador Paulo Eduardo Lopes (PL), o Paulo Chuchu. "A direita nunca teve candidato próprio à prefeitura, mas agora temos uma direita nova, que está apresentando", disse.

Esses eventos também contribuem para preservar o capital político de Bolsonaro e mantê-lo relevante no cenário nacional, diante da inelegibilidade imposta pela Justiça Eleitoral. Em agosto, ele recebeu três títulos, em Minas, Goiás e Barretos (SP). "Bolsonaro vai influenciar as eleições do ano que vem", disse a prefeita de Barretos, Paula Lemos (DEM).

 

       Com pé na política, Jair Renan cola em acusado de chefiar ato golpista

 

O filho de Jair Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro, vem participando de eventos políticos com o empresário Emílio Dalçóquio, investigado no Supremo Tribunal Federal por liderar atos golpistas que bloquearam as rodovias de Santa Catarina após a vitória de Lula.

Um dos herdeiros da transportadora que leva o sobrenome da família, Dalçóquio também fazia parte do grupo no WhatsApp de empresários bolsonaristas que, como contou a coluna, servia para o compartilhamento de anseios golpistas, ataques ao STF e mensagens mentirosas sobre as urnas eletrônicas.

A dupla Dalçóquio e Jair Renan visitou, nos últimos meses, as sedes de órgãos de segurança de Santa Catarina e eventos como o acampamento Farroupilha e o aniversário do Corpo de Bombeiros. Os dois também fizeram uma viagem pelo estado a bordo de um caminhão para “conhecer a realidade” de caminhoneiros.

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Jair Renan vem sendo preparado pelo pai e aliados, como Dalçóquio e o senador Jorge Seif, para ser candidato à Câmara dos Vereadores de Balneário de Camboriú, em Santa Catarina.

 

       Ex-secretário da Abin e braço direito de Ramagem vira coordenador na Polícia Federal

 

O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, oficializou a nomeação de um ex-secretário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para um cargo de coordenação na Polícia Federal (PF). O delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho será coordenador do Comando de Aviação Operacional, setor ligado à diretoria-executiva da corporação. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União em 11 de outubro.

Em 2020, Coelho atuava como secretário de Planejamento e Gestão na Abin; era uma espécie de braço direito de Alexandre Ramagem, diretor da Abin durante o governo Bolsonaro. Antes disso, no início do governo de Bolsonaro, o delegado trabalhou junto com Ramagem no Palácio do Planalto, como assessor especial na Secretaria de Governo.

Como mostrou reportagem do Estadão, Coelho fazia parte de um grupo de delegados da PF de confiança de Ramagem levados para a Abin durante o governo Bolsonaro; esse grupo teria sido apontado por servidores do órgão como responsável por orientar informalmente a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das rachadinhas.

À época, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, morto em março de 2020, chegou a acusar o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) de tentar implantar uma espécie de "Abin paralela" no Planalto.

•        Abin de Ramagem teria espionado adversários de Bolsonaro

Na semana passada, uma investigação da PF revelou que, sob o comando de Ramagem, a Abin teria espionado ilegalmente políticos, jornalistas, advogados, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e adversários do governo de Bolsonaro. O ex-diretor da agência é aliado de primeira hora do ex-presidente e amigo pessoal da família Bolsonaro. Ele foi eleito deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro no ano passado.

Responsável por assinar a nomeação de Coelho no Diário Oficial da União, Cappelli é braço direito do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Ele é cotado para assumir a pasta caso Dino seja indicado a uma vaga no STF. O secretário-executivo é um homem de confiança do ministro e foi secretário de Estado quando Dino era governador do Maranhão.

 

Ø  A pergunta que o Congresso quer fazer ao governo Lula sobre a Abin

 

Frustrados com o depoimento do diretor-geral da Abin, membros da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional pretendem convocar outros integrantes do governo Lula para questioná-los sobre o esquema de espionagem ilegal tocado pela agência durante a gestão Jair Bolsonaro.

O principal ponto que os parlamentares querem entender é o que levou o Planalto a autorizar, em 2023, a nomeação de Paulo Fortunato como número 3 da Abin. No governo Bolsonaro, Fortunado foi o chefe do setor de Operações de Inteligência da agência quando a ferramenta de espionagem ilegal foi adquirida pelo órgão.

O passado polêmico do diretor precede a atual gestão de Lula. Como mostrou a coluna, no segundo governo Lula, em 2008, Fortunato chegou a ser afastado de um cargo de direção da Abin após envolvimento da agência em um esquema de escutas ilegais de políticos e ministros do STF.

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Na semana passada, o diretor foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal para investigar o esquema na Abin. Na casa dele, policiais encontraram 171 mil dólares. No mesmo dia da operação, ele foi afastado da agência pelo STF. Dias depois, o Palácio do Planalto o exonerou de vez da agência.

·         Frustação

Em depoimento sigiloso à comissão na quarta-feira (25/10), Luiz Fernando Côrrea, atual diretor-geral da Abin, se recusou a dar detalhes do esquema de espionagem, que usava um software de geolocalização. Ele disse, por exemplo, não saber que jornalistas, políticos e ministros do STF foram espionados.

Diante da falta de revelações, parlamentares do colegiado aprovaram um requerimento pedindo acesso à sindicância sobre a espionagem feita pela Abin e passaram a discutir a convocação de outros integrantes do governo para apurar mais detalhes sobre o esquema.

 

Fonte: Metrópoles/Agencia Estado

 

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