sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Marcelo Freixo: política promove e protege a milícia

As milícias que tomaram contas de vastas áreas do Rio de Janeiro não somente nasceram apadrinhadas pelas conexões políticas, mas cresceram exatamente porque nos poderes Executivo e Legislativo fluminense há quem as proteja. A afirmação é do presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, que quando era deputado estadual presidiu a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj).

"A milícia não nasceu no cárcere. A origem está nas relações políticas, com setores da polícia dominando. O começo é no poder: domínios, territórios de interesse e eleição política. Não tem como falar da milícia sem falar da política. É um evento, uma consequência do tipo de política que se desenvolveu e se tornou hegemônico, infelizmente, no Rio de Janeiro", lamentou, na entrevista que concedeu, ontem, ao programa CB.Poder — uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília.

Segundo Freixo, a omissão dos consecutivos ocupantes do Palácio Guanabara permitiu que essas quadrilhas de policiais avançassem e se tornassem um poder de difícil contenção. "Na CPI das Milícias, conseguimos chegar à prisão de mais de 240 chefes. Todos foram presos. O relatório apresentou uma série de propostas, para tirar deles o domínio econômico e o domínio territorial. Esta parte não foi feita, pois interessava politicamente a alguns que não fosse feita. Então, há responsabilidade de um setor da classe política. Assistimos no Brasil a criminalização da política, mas, no Rio de Janeiro, foi o contrário — foi a politização do crime", acusou.

Freixo teve um irmão assassinado pela milícia — "sei o que é uma família ser destroçada pela violência e por esse, especificamente, crime organizado", frisou. Mas o presidente da Embratur reconhece que o abandono de várias áreas da capital e do estado do Rio de Janeiro são fatores facilitadores para a presença de quadrilhas. Elas surgem a pretexto de fazer aquilo que o poder público não faz, cobram por isso e depois tornam essas populações reféns, inclusive, nas eleições.

"O tráfico é tão organizado quanto, mas a milícia tem um elemento singular que deve ser debatido e compreendido por quem não mora no Rio de Janeiro. Foi muito grave o que aconteceu (na segunda-feira). Tem que pegar quem incendiou ônibus e quem mandou incendiar, mas tem que pegar, também, uma estrutura de poder do crime, que envolve uma economia local e um projeto de poder eleitoral", adverte.

Como presidente da Embratur, Freixo alerta que o episódio de segunda-feira — quando 35 ônibus foram queimados na Zona Norte carioca por causa da morte do número 2 de uma milícia que domina a região — é péssimo para a imagem do Rio de Janeiro e para o turismo na cidade e no estado. "É ruim para o turista, é ruim para a imagem do Brasil. Mas é pior ainda para quem mora ali e não consegue voltar para casa. Além de ser vítima, cotidianamente, de um crime que se estabeleceu desde o início dos anos 2000", observou.

 

       Governador do RJ é ameaçado de morte por “Bonde do Zinho”

 

O departamento de Inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro emitiu um relatório reservado de urgência, revelando uma ameaça iminente ao governador Cláudio Castro (PL) e seus familiares. Segundo o documento ao qual o jornal Metrópoles teve acesso, a ameaça é proveniente do “Bonde do Zinho”, a maior milícia que atua no estado, em retaliação à morte de Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão, ocorrida durante um confronto com policiais civis na última segunda-feira (23).

“Dados oriundos de fonte humana a respeito de ameaça ao Exmo. Sr. Governador Cláudio Castro e seus familiares. Tais dados dão conta de que as referidas ameaças têm origem na orcrim [organização criminosa] do tipo milícia denominada ‘Bonde do Zinho’, em represália à morte de Matheus da Silva Rezende, vulgo Faustão, morto em confronto com policiais civis na data de 23/10/2023”, diz um trecho do relatório emitido pelo departamento de Inteligência da Polícia.

Zinho é tio do miliciano Faustão e a suposta ameaça ao governador seria uma represália à operação que culminou na morte do seu sobrinho. Em resposta, as medidas de segurança em torno do governador, sua esposa e seus dois filhos foram reforçadas.

Em declarações recentes, Cláudio Castro destacou três figuras criminosas como alvos prioritários: Zinho, o líder do Comando Vermelho, Wilton Quintanilha, também conhecido como Abelha, e o miliciano Danilo Lima, o Tandera. O governo do Rio tem trabalhado em colaboração com a Polícia Federal e a Receita Federal para desmantelar financeiramente essas organizações criminosas.

Apesar da ameaça, o governador Cláudio Castro, por enquanto, não considera solicitar a intervenção federal no estado. Ainda assim, parlamentares bolsonaristas no âmbito estadual e federal pediram ajuda do governo Lula (PT) para o controle da situação no Rio de Janeiro.

Após o confronto que resultou na morte de Faustão, pelo menos 35 ônibus foram queimados na Zona Oeste do carioca. Essa foi a maior ação com coletivos incendiados na história da cidade, segundo o Rio Ônibus (sindicato das empresas do setor na cidade).

O miliciano é o terceiro da família a morrer em confrontos com a Polícia Civil do Rio. Em 2017, Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, morreu durante operação da Delegacia de Homicídios da Capital. Quatro anos depois, outro tio de Faustão foi morto, Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko, que reagiu à prisão durante operação.

<><> Governo do Rio diz que descobriu plano de atentado contra Castro

O Gabinete de Segurança Institucional do Governo do Estado do Rio de Janeiro reforçou a segurança do governador Cláudio Castro e de sua família após o setor de inteligência da Polícia Civil ter identificado um plano de atentado contra ele, a primeira-dama e os dois filhos do casal. As informações foram confirmadas nesta quinta-feira (26) pela assessoria de imprensa do governo do estado.

Segundo nota divulgada à imprensa, o plano foi descoberto após ataques da milícia ao transporte público na zona oeste da capital. Os atentados ocorreram depois da morte morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, apontado como segundo homem na hierarquia de um grupo de milicianos que atua naquela área. Ele é sobrinho do chefe da facção, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

O governo do estado afirma que as informações continuam sob rigorosa investigação para que os autores sejam identificados e punidos.

•        Caos na zona oeste

Os atentados promovidos por milicianos causaram destruição na frota de ônibus da cidade. Segundo o Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus do Rio de Janeiro, 35 coletivos incendiados. Além disso, um trem da SuperVia também foi alvo dos criminosos e teve sua cabine queimada.

O temor causado pelos ataques levou ao fechamento de escolas públicas e privadas na região, e até mesmo lojas de centros comerciais encerraram o expediente mais cedo. Em Santa Cruz, bairro mais atingido, 7 mil pessoas ficaram sem atendimento médico na terça-feira devido ao fechamento de unidades de saúde da rede municipal.

•        Apoio federal

Na quarta-feira, o governador Cláudio Castro esteve em Brasília para pedir apoio federal no combate às milícias que controlam diversas áreas na capital do estado. Castro também esteve no Senado, onde levou propostas para o endurecimento de penas.

Os governos estadual e federal também anunciaram a formação de uma força-tarefa para asfixiar o poder econômico das quadrilhas. Participam do grupo representantes de instituições de segurança e controle financeiro, como a Fazenda Estadual, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública, entre outros. O trabalho será coordenado pela Casa Civil do governo do Rio.

 

       Saiba quem são os chefes da Família Braga, maior milícia do RJ

 

A Família Braga é o clã que controla a maior milícia do Rio de Janeiro há mais de uma década. Os irmãos Wellington da Silva Braga (o Ecko), Carlos da Silva Braga (CL ou Carlinhos Três Pontes) e Luís Antônio da Silva Braga (Zinho) são os responsáveis pelo grupo e se sucederam no comando nos últimos.

Segundo a Polícia Civil do estado, das 833 áreas listadas como influenciadas pela milícia, 812 sofrem influência da Família Braga. A milícia usa estética mafiosa e usam como referência em suas artes o filme Scarface (1983), filme de Brian de Palma.

Em arte divulgada nas redes sociais por um suposto membro do grupo, uma imagem mostra Ecko, CL e Zinho em uma escada similar à icônica cena do filme. Segundo o delegado Alexandre Herdy, também foram encontrados vários quadros do Poderoso Chefão em uma sala de reunião dos milicianos.

“Em uma operação na favela do Aço, zona oeste, encontramos vários quadros do Poderoso Chefão na sala de reunião que ele utilizava. Era como ele [Ecko] queria ser visto, como um capo do crime”, relatou.

CL uniu o tráfico e a milícia em 2010, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Ele era conhecido por usar cordões de ouro e fumar charutos cubanos. Ele foi morto em 2017, durante uma ação da polícia, e seu irmão, Ecko, assumiu o comando do grupo.

O então comandante do grupo foi morto em 2021 enquanto visitava a namorada. Ecko costumava utilizar farda da Polícia Militar, mesmo sem nunca ter participado da corporação.

Zinho, que até então era o responsável pela lavagem do dinheiro obtido com extorsões, assumiu a chefia do grupo após a morte de Ecko. Atualmente, é o líder miliciano mais procurado e é atribuída a ele a ordem de incendiar 35 ônibus na última segunda (23) após a morte do sobrinho, Matheus Rezende, o Faustão.

O atual líder da milícia já foi preso por porte ilegal de arma e associação criminosa, mas solto. Zinho também foi detido em outra ocasião e liberado novamente após pagamento de R$ 20 mil de propina. O MP estima que ele arrecade entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões por mês com a quadrilha.

Zinho estaria preparando o sobrinho Faustão para assumir o comando da milícia. A família conta com um quarto irmão, o Batata, preso em 2021 por organização criminosa e, segundo a polícia, por ameaças em nome da milícia no momento da prisão.

•        Boquinha, braço direito do miliciano Zinho, é baleado em confronto

Dois homens foram baleados durante uma ação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), em Pedra de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (26/10). Um dos feridos seria Marcelo de Luna Silva, o Boquinha, o braço direito do miliciano Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, segundo o Extra.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) informou ao Metrópoles que a ação foi realizada com base em informações de inteligência das forças de segurança e que no local dois milicianos teriam entrado em confronto com os agentes. A corporação destacou que os suspeitos foram atingidos e socorridos para uma unidade hospitalar. A ação ainda está em andamento.

No local, os policiais civis apreenderam armas no local.

Quem é Boquinha?

A 2ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) determinou, em 11 de outubro deste ano, a prisão preventiva de Boquinha por ser apontado como membro da hierarquia da milícia que atua na zona oeste.

Além disso, ele responde outro processo ao lado de Zinho, chefe da milícia, e Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipico, pela execução, destruição e ocultação de um corpo de uma vítima que teria sido assassinada pelo grupo criminoso.

 

       PRF pede demissão de policial que ensina a criar “câmara de gás”

 

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) pediu a demissão do policial Ronaldo Bandeira, servidor da corporação em Santa Catarina que ensinou alunos de um cursinho a fazer uma “câmara de gás” em viatura. Foi aberto um processo administrativo disciplinar (PAD) contra o agente e, após o resultado, a solicitação foi feita à pasta.

O método ensinado por Bandeira é o mesmo usado no caso de Genivaldo Santos, morto por agentes da PRF enquanto estava preso em uma viatura cheia de gás lacrimogêneo em 2022.

No vídeo que gerou repercussão nas redes sociais, Bandeira explica como torturar uma pessoa detida com o método e ainda dá risada ao detalhar um episódio. “Ele tentou quebrar o vidro da viatura com chutes. O que o polícia faz? Abre um pouquinho, pega o spray de pimenta e taca”.

“Foda-se, caralho, é bom pra caralho. A pessoa fica mansinha. Aí daqui a pouco eu só escutei assim: ‘Eu vou morrer, eu vou morrer’. Aí eu fiquei com pena, abri e falei: ‘Tortura!’. E fechei de novo”, prossegue. Veja o vídeo:

A corregedoria da PRF afirmou que uma vítima foi localizada e confirmou o episódio descrito por ele. No documento enviado ao Ministério da Justiça, a corporação pede a demissão do policial com base no episódio e no relato feito em sala de aula.

“O servidor se comportou de maneira tosca, ímproba, rude, desonesta e, arriscaria dizer, maléfica, ao fazer piadas com seu comportamento lesivo, deixando claro para seu público que ele, enquanto Policial Rodoviário Federal, não considera a cidadania e a dignidade da pessoal humana como fundamentos da República”, diz a corregedoria.

O documento enviado à pasta ainda diz que ele fez uma “verdadeira chacota de situação delinquente, se regozijando com um ser humano temendo pela própria vida em suas mãos”. “Tal comportamento demonstra total desprezo aos fundamentos humanitários, estatais e jurídicos, devendo ser considerado como conduta de extrema gravidade”, prossegue.

Em relato à PRF, a vítima afirmou que foi agredida e torturada por Bandeira e colegas dele durante uma abordagem. Ela foi detida por embriaguez ao volante e desacato, e contou que os agentes usaram spray de pimenta no episódio.

O homem agredido por eles também contou que um dos agentes usou um taser, arma de choque, e que ouviu barulhos de disparos de arma de fogo ao tentar fugir da abordagem.

“Quando eles me pegaram, me botaram dentro da viatura e nesta espirraram várias vezes o spray de pimenta, e eu lá dentro trancado. Quem espirrou o gás pimenta foi o mesmo que começou a agressão, é um ‘entroncadinho’, baixinho”, contou.

A vítima diz que o delegado responsável pelo caso decidiu não prendê-lo, mas os policiais decidiram levá-lo para outra cidade ao invés de liberá-lo. “Foi uma tortura só, eles me judiaram muito na estrada”, prossegue o relato.

“Eu sei que primeiro foi o spray de pimenta e fecharam o tampão. Eu quase morri lá dentro, cheguei quase morto em Navegantes. Eu fiquei o dia inteiro, desde a hora que eles me prenderam até as cinco horas da tarde, sem beber um copo de água, sem colocar nada na boca”, diz a vítima.

A defesa de Bandeira diz que vai recorrer da decisão da corregedoria e diz que a conclusão do órgão “tem vários erros formais e materiais e em alguns aspectos é abusiva”. Segundo seus advogados, ele está “sofrendo com uma ação descabida, desproporcional e sem justa causa alguma”.

O trecho em que ensina o método de tortura faz parte de aula de curso da AlfaCon, escola preparatória para aspirantes a policiais militares e federais. Quando o vídeo viralizou, em 2022, a assessoria da instituição alegou que a declaração estava “fora de contexto”.

 

Fonte: Correio Braziliense/IstoÉ/DCM/Metrópoles

 

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