Como localização geográfica colocou a Bahia na rota do tráfico
Porta de entrada para o Nordeste, divisa com
estados do Norte, Centro Oeste e Sudeste, cortada por diversas rodovias
estaduais e federais e dona da maior extensão litorânea do Brasil, a Bahia tem
localização geográfica favorável para o tráfico de drogas e armas. E os
criminosos se aproveitam disso.
A Bahia tem as estradas como principal via de
entrada das drogas no estado, segundo o advogado especialista em ciências
criminais, Luiz Henrique Requião. Isso porque o ente federativo é cortado pelas
duas maiores rodovias do país, a BR-116 e a BR-101, e pela BR-324, que dá
acesso ao interior do estado –incluindo Feira de Santana, que é o maior
entroncamento do Norte-Nordeste.
"A questão geográfica influencia muito, nós
temos uma extensão litorânea muito grande. Essa posição geográfica nos torna
visíveis no sentido desse trânsito de drogas, fora que a Bahia é um estado
grande, é um estado de uma população significativa, que também tem um consumo
muito significativo. É um local de distribuição e de consumo
significativo", destacou Requião.
Neste mês de setembro, a Bahia registrou ao menos
68 mortes durante confrontos – 65 delas de suspeitos de envolvimentos com
crimes, além do policial federal, e dois policiais militares.
Em 2022, a Polícia Rodoviária Federal (PRF)
registrou apreensão de drogas recorde –quase 10 toneladas somente nas rodovias
baianas. Com relação à cocaína, a PRF indica um aumento de 148% (2.160 kg) no
volume encontrado em comparação com o ano anterior (870 kg).
Os carregamentos de drogas –principalmente a
cocaína– chegam na Bahia e de lá são redistribuídos para outros estados e para
os continentes africano e europeu. Rodovias, portos estaduais e pacotes de
entorpecentes transportados por mulas abastecem o estoque do crime organizado.
O secretário de Segurança Pública da Bahia
(SSP-BA), Marcelo Werner, admitiu que a guerra entre as facções criminosas
responsáveis pelos tráfico de drogas é a principal causa da violência no
estado.
"Por isso mesmo nós temos realizado ações
cirúrgicas e pontuais, reforçando o policiamento, a inteligência e os meios
para cada vez mais inibir ações como essa, a política do terror que eles querem
implementar no nosso estado", disse Werner durante coletiva de imprensa
realizada após uma operação policial deixar sete mortos em dois bairros de
Salvador.
Nos últimos cinco anos, as forças de segurança
registraram aumento do número de drogas apreendidas no estado. Em todo o ano de
2022, só em ações das polícias militar e civil, foram apreendidas cerca de 231
toneladas de entorpecentes.
Responsável por fiscalizar portos, aeroportos e
envios por encomenda postal, a Receita Federal encontrou 36 toneladas de
entorpecentes.
"A Bahia é um importante hub aeroportuário e,
além de ter um grande mercado interno por drogas, um consumo em larga escala, a
Bahia também exporta. Dificilmente vai ser diferente, porque a demanda por esse
tipo de comércio ilícito não tende a diminuir, ela só aumenta" analisou o
cientista político Luiz Claudio Lourenço.
Desde agosto, a SSP-BA e a Polícia Federal têm
agido em conjunto. As duas forças de segurança assinaram um acordo para a
formação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO).
O pacto formalizado é de dois anos e pode ser
prorrogado por mais dois para a execução de ações de combate ao crime
organizado responsável pelo tráfico de drogas.
Na primeira operação nas ruas, em 15 de setembro, o
policial federal Lucas Caribé morreu após confronto com facções criminosas, no
bairro de Valéria, em Salvador. Desde então, operações têm sido intensificadas
na região.
A maioria das mortes ocorreram durante operações
policiais nos bairros periféricos da capital baiana
>>> Veja, abaixo, a cronologia:
👉6 de setembro: sete homens mortos em uma operação policial em Porto
Seguro, no extremo sul da Bahia;
👉6 de setembro: o último foragido suspeito de matar 10 pessoas em uma
chacina em Mata de São João, Região Metropolitana de Salvador (RMS), foi morto
em troca de tiros em Dias D'Ávila, também na RMS;
👉3 a 7 de setembro: 11 suspeitos de integrar facções criminosas foram
mortos em troca de tiros com a polícia Militar nos bairros de Alto das Pombas e
Calabar, que são vizinhos. Durante os dias de operações, mais de 15 moradores
dos bairros foram feitos reféns por suspeitos;
👉10 de setembro: 2 pessoas foram mortas no Engenho Velho da Federação,
bairro que fica próximo ao Alto das Pombas e Calabar;
👉15 de setembro: 4 suspeitos e um policial federal foram mortos no
bairro de Valéria, durante uma operação da Polícia Civil em conjunto com a
Polícia Federal;
👉16 a 21 de setembro: 10 suspeitos de envolvimento na ação que resultou
na morte do policial federal foram mortos em Salvador e cidades da região
metropolitana;
👉22 de setembro: 5 suspeitos de integrarem facções criminosas foram
mortos em Águas Claras, bairro de Salvador, e 1 foi morto em Feira de Santana,
cidade a 100 km da capital baiana;
👉23 de setembro: 5 suspeitos mortos após dois confrontos com policiais
militares na cidade de Crisópolis, a cerca de 212 km de Salvador;
👉26 de setembro: 5 suspeitos mortos e dois feridos após troca de tiros
com policiais militares em Acajutiba, a 185 km da capital baiana;
👉27 de setembro: dois homens morreram após confrontos com policiais
civis na cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador;
👉27 de setembro: dois homens morreram em confronto com policiais na
cidade de Cruz das Almas, no recôncavo da Bahia;
👉27 de setembro: dois policiais militares e dois homens morreram após
dois confrontos no bairro do IAPI, em Salvador;
👉28 de setembro: dois homens morreram em confronto com policiais
militares na cidade de Ibirataia, no sul da Bahia;
👉29 de setembro: dois homens morreram após confronto com policiais
militares durante uma operação no bairro de Nova Brasília, em Salvador;
👉29 de setembro: um homem morreu após confronto durante uma operação
integrada das forças de segurança, no bairro de Valéria, em Salvador;
👉29 de setembro: quatro homens mortos durante confronto com a polícia em
Santo Amaro, no recôncavo baiano.
Flávio
Dino anuncia R$ 20 milhões à Bahia
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio
Dino, autorizou, nesta segunda-feira (2), o envio da Força Nacional para o Rio
de Janeiro, além de anunciar R$ 20 milhões para ações na Bahia, que enfrenta
uma onda de violência nas últimas semanas.
Dino participou do lançamento do Programa Nacional
de Enfrentamento das Organizações Criminosas. O plano é lançado em meio à onda
de violência na Bahia, que já deixou 68 mortos, e à crise na segurança pública
no Rio de Janeiro. No evento, o ministro defendeu diálogo com os estados.
“Qual
autoridade eu tenho de chegar lá na Bahia e dizer o que é certo? Amigos,
intervenção federal é coisa séria, regida pela Constituição. Eu não posso
acordar de manhã e dizer: ‘Vamos fazer intervenção federal’. Como é que eu vou
fazer intervenção federal toda hora como nos cobram? Não é possível”, disse o
ministro.
“O formato federativo protege a sociedade. Debate é
falar, ouvir, aprender e retificar”, destacou Dino.
Participaram do lançamento do programa a Secretaria
Nacional de Segurança Pública, Secretaria Nacional de Justiça, Secretaria
Nacional de Política sobre Drogas, Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária
Federal (PRF), além de secretários de segurança pública dos estados.
“Junto com o estado, nós enfrentamos e debelamos a
crise no Rio Grande do Norte. E quero agradecer as Forças Armadas. […] Eu e
minha equipe não temos a pretensão de estarmos certos o tempo todo. Por isso
fazemos uma gestão participativa. Nós precisamos de vocês [secretários de
segurança estaduais]”, acrescentou Dino.
Fonte: g1/CNN Brasil
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