sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Áustria faz alerta após Ozempic falso causar internações e efeitos colaterais graves

Vários austríacos precisaram de atendimento hospitalar depois de usarem o que acreditavam ser um medicamento para perder peso — o Ozempic.

O Escritório Federal de Segurança em Cuidados de Saúde da Áustria, o BASG, disse ter detectado “efeitos colaterais graves”, incluindo níveis baixos de glicose (açúcar no sangue) e convulsões.

Segundo o BASG, isso indica que os medicamentos falsos “continham insulina” em vez do ingrediente ativo do Ozempic — a semaglutida.

Esse remédio, produzido pela farmacêutica Novo Nordisk, se tornou popular como um tratamento para perda de peso.

Uma investigação está em andamento para apurar os responsáveis pela venda do remédio falsificado na Áustria.

O Serviço Austríaco de Inteligência Criminal afirmou que as pessoas afetadas receberam as seringas de um médico que trabalha na própria Áustria.

O órgão ainda alertou que estoques do medicamento falso ainda podem estar em circulação.

O material das canetas injetáveis falsificadas tinha um azul mais escuro do que os produtos genuínos, acrescentou o serviço de inteligência.

O BASG orientou que médicos e pacientes verificarem a procedência do produto antes de comprá-los e utilizá-los.

“Ozempic tem sido cada vez mais utilizado contra a perda de peso”, para o qual o medicamento não está aprovado”, diz o órgão em nota.

Em bula, o Ozempic é um tratamento contra o diabetes tipo 2. Há uma versão da semaglutida específica para o tratamento da obesidade — o Wegovy, que está aprovado em alguns países (inclusive no Brasil).

Tanto a polícia austríaca quanto o Ministério da Saúde do país alertaram o público contra o uso das chamadas injeções para perda de peso que são vendidas por “fontes duvidosas”.

A Agência Europeia de Medicamentos, a EMA, alertou recentemente que o aumento da procura de Ozempic levou a “uma situação de escassez” do remédio entre pacientes com diabetes.

Na semana passada, a EMA e a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) do Reino Unido alertaram que canetas injetáveis de Ozempic falsificadas, distribuídas por fornecedores na Áustria e na Alemanha, foram identificadas por redes atacadistas e drogarias.

A MHRA detalhou: “Todas as canetas falsificadas foram recolhidas e contabilizadas, e nenhuma delas chegou aos pacientes do Reino Unido.”

A agência disse que trabalhou em estreita colaboração com parceiros internacionais "para continuar a manter a segurança da cadeia de abastecimento mais ampla, tanto no país como no exterior".

No Brasil também já foram registrados casos de falsificação de Ozempic. A farmacêutica Novo Nordisk alertou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre episódios do tipo em junho e outubro.

Os lotes falsos foram apreendidos pela agência regulatória antes de chegarem ao consumidor.

 

       A publicitária que foi para a UTI após usar Ozempic sem orientação médica

 

Basta digitar "Ozempic" nas buscas de redes sociais para encontrar vídeos mostrando pessoas dizendo que emagreceram usando o medicamento e dando seus depoimentos sobre ele.

Foi buscando esse resultado que a publicitária Gabriela*, de 29 anos, decidiu fazer o uso do medicamento sem orientação médica e acabou parando na UTI e quase teve uma insuficiência hepática - quando o fígado para de funcionar.

Após assistir a esses vídeos nas redes sociais, Gabriela decidiu usar o Ozempic, uma "canetinha" com uma agulha na ponta, sem acompanhamento médico em julho do ano passado. Ela também conhecia algumas amigas que faziam o uso do medicamento e estavam perdendo peso rapidamente.

"Comecei a ser impactada pelos vídeos, até brinco falando que fui influenciada pelo meu próprio trabalho já que sou publicitária. O algoritmo começou a me apresentar diversos vídeos falando sobre o uso do Ozempic e seus resultados positivos. Então, eu coloquei na minha cabeça que se eu tomasse, iria dar super certo também", relata.

Na época, a publicitaria estava insatisfeita com o próprio corpo após engordar 10 quilos durante o período de pandemia e passar do manequim 40 para o 44. Trabalhando em home-office, ela deixou de ir caminhando até o escritório em que trabalha, em São Caetano do Sul, aumentando o seu sedentarismo e contribuindo para o ganho de peso.

Em nota à BBC News Brasil, o laboratório Novo Nordisk, fabricante o Ozempic explicou que o medicamento é indicado para o tratamento de adultos com diabetes tipo 2 insuficientemente controlado, como adjuvante à dieta e exercício físicos.

O fabricante acrescenta ainda que o medicamento deve ser utilizado e comercializado apenas sob prescrição médica, contraindicado para grávidas, lactantes e pacientes alérgicos à semaglutida.

Sobre as complicações tidas por Gabriela, após o uso sem prescrição do medicamento, o fabricante explicou que o medicamento não interfere na função do fígado.

“Ele pode ser usado em pacientes que possuem insuficiência hepática leve e moderada. A experiência em pacientes com insuficiência hepática grave é pequena. Mas não ocorre o aumento das enzimas hepáticas relacionadas ao uso do medicamento. Contudo, o aumento de enzimas pancreáticas pode ocorrer de maneira transitória e pacientes com histórico prévio de pancreatite devem utilizar o produto com cautela”, disse em nota.

“Os distúrbios gastrointestinais, tal como náusea, foram os eventos adversos mais frequentemente relatados, sendo a maioria transitórios, de intensidade leve e não levando a interrupção do tratamento. Esses eventos ocorreram em uma proporção semelhante em relação a outros análogos de GLP-1 já comercializados no Brasil. A interrupção prematura do tratamento devido a eventos adversos foram inferior a 10% em todos os grupos estudados1-7. Cabe ressaltar que o tratamento deve sempre ser orientado pelas recomendações fornecidas pelo médico responsável e deve basear-se em uma avaliação individual das necessidades do paciente”, acrescentou.

•        'Ânsia e dor de cabeça'

"Eu insisti muito para que meu namorado comprasse o medicamento para mim. E como uma forma de tentar me agradar, ele comprou em uma farmácia, sem receita ou qualquer tipo de restrição e pagou R$ 850. Não pensei em nenhum momento passar pelo médico, eu estava muito esperançosa que iria funcionar e eu emagreceria", detalha a publicitária.

Logo após a aquisição do medicamento, Gabriela recorreu mais uma vez aos vídeos das redes sociais para aprender a aplicar a medicação e decidiu que usaria o Ozempic uma vez por semana, aumentando a dose em cada aplicação.

"Fiz a aplicação da primeira injeção. Comecei a sentir muita ânsia e dor de cabeça, mas até aí estava dentro dos sintomas esperados pela medicação e são previstos na bula. Na semana seguinte, eu resolvi aumentar por conta própria a dosagem, passando de 0,25 mg para 0,5 mg, achando que potencializaria os resultados", recorda a publicitária.

Após a segunda aplicação, os sintomas ficaram mais intensos e a publicitária decidiu buscar ajuda médica indo ao pronto-socorro da cidade. Foram oito idas ao hospital para tratar os sintomas que não cessavam.

Com vergonha, a jovem não relatou aos médicos que estava usando o Ozempic sem acompanhamento profissional.

"Eu não parava de vomitar, sentia muita dor no estômago e passava o dia enjoada. Fui oito vezes ao pronto-socorro, para tomar medicação na veia e nada adiantava. Eu voltava para casa e continuava vomitando", recorda.

"Fiquei com vergonha de falar para o médico que eu estava usando por conta própria, então falei que estava tomando Ozempic, mas que um médico tinha indicado", acrescenta.

Após exames de sangue, os médicos constataram que a publicitária apresentava alterações no fígado e pediram que ela fosse internada. Devido à gravidade do quadro de saúde de Gabriela, ela foi encaminhada para a UTI para que os médicos pudessem monitorar de perto as enzimas do fígado, que segundo a publicitária, a quantidade estava mais de dez vezes acima do considerado normal.

"Falei que não queria ficar na UTI e a médica foi bem sincera e disse "ou eu te interno para monitorar seu fígado, ou você pode ir para fila do transplante" porque caso as enzimas continuassem subindo meu órgão pararia de funcionar", relata a publicitária.

Além do problema no fígado, a publicitária também foi diagnosticada com pedra na vesícula. Os especialistas não sabem se ela foi desencadeada pelo uso do Ozempic ou se a jovem já tinha o problema e só foi potencializado pelo medicamento.

Foram sete dias de internação na UTI, tomando medicações para dor e controlar o fígado. Com o tratamento, as enzinas do fígado de Gabriela reduziram, indicando a recuperação do órgão, descartando a necessidade de um transplante.

Recuperada, a publicitária passou a fazer musculação duas vezes por semana e já eliminou sete dos dez quilos que havia engordado durante a pandemia.

 

Fonte: Por Bethany Bell, da BBC News em Viena

 

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