sábado, 28 de outubro de 2023

Auditorias revelam irregularidades da JBS em quatro estados da Amazônia

Pelo terceiro ano seguido, a gigante do setor de carnes JBS é apontada como o pior frigorífico do Pará com relação à procedência dos animais adquiridos. Dados divulgados nesta quinta-feira, 26 de outubro, pelo Ministério Público Federal mostram que a companhia teve 6,1% de inconformidade em suas compras – ou seja, que os animais que abateu neste estado vieram de áreas irregulares como fazendas desmatadas ilegalmente, com embargos, situadas dentro de terras indígenas ou que utilizaram mão de obra escrava.

No Pará, o MPF considera como insatisfatórios valores iguais ou acima de 5%. A média de irregularidades entre todos os 13 frigoríficos auditados no estado foi de 4,8%.

Em outros três estados da Amazônia – nos quais pela primeira vez houve auditoria padronizada – a JBS também apresentou problemas: 12% dos animais abatidos em Rondônia tinham origem irregular, assim como 10% da amostra auditada no Acre e 2% em Mato Grosso. Os dados foram sistematizados em 2023, mas as transações analisadas são anteriores, ocorreram entre julho de 2020 a dezembro de 2021.

Em nota à imprensa, a JBS celebrou “seu melhor resultado até o momento”, destacando ter obtido 94% de conformidade em suas compras no Pará. “Estamos satisfeitos, mas nossa meta é atingir 100% de conformidade”, assegurou, na nota, a diretora de Sustentabilidade da JBS Brasil, Liège Correia. A empresa não comentou os resultados nos demais estados, mas saudou “o empenho do Ministério Público Federal em harmonizar o processo de auditoria para mais estados do bioma Amazônia” e defendeu a criação de um sistema público e nacional de rastreabilidade de gado bovino: “o mesmo sistema, com as mesmas regras, para todos”, sintetizou a companhia.

•        Melhor índice na série histórica

As auditorias estão previstas no TAC da Carne (sigla para Termo de Ajustamento de Conduta), um acordo entre os setores produtivos e os órgãos de fiscalização que foi elaborado em 2009. Pela primeira vez, elas foram realizadas de forma unificada, seguindo os mesmos padrões, para todos os Estados da Amazônia Legal, e não apenas para o Pará, onde esse processo de auditagem já ocorre desde 2018.

Apesar do resultado ruim na auditoria deste ano, na série histórica no Pará a JBS apresentou melhora: no primeiro ciclo de fiscalização o percentual de inconformidade da empresa foi de 19,1%, depois caiu para 8,3% no segundo ciclo, saltou para 32% no terceiro, baixou para 16,7% no quarto e agora está em 6,1%.

Outros frigoríficos que atuam no Estado, como Masterboi, Minerva e Mercúrio, alcançaram 100% de conformidade.

A amostra auditada no estado do Pará em 2023 também foi a menor da série: até hoje, nenhum dos ciclos de auditoria haviam tomado amostras inferior a 94% do total de abates, mas neste ano, apenas 12% dos animais abatidos tiveram sua origem verificada.

•        Indiretos serão auditados em 2024

O que não mudou é o foco das auditorias exclusivamente nas compras diretas dos frigoríficos, elo da cadeia produtiva onde o volume de irregularidades tende a ser menor. As empresas têm seus próprios sistemas de monitoramento, que verificam a conformidade socioambiental das fazendas fornecedoras e bloqueiam compras de áreas irregulares. Mas esses sistemas não alcançam os fornecedores dos fornecedores, por enquanto. “Uma limitação que temos é a falta de fiscalização de vendas indiretas, uma vez que o nosso processo abrange apenas as vendas diretas”, admitiu o procurador Daniel Azeredo.

O MPF promete incluir esses fornecedores nas auditorias a partir de julho de 2024. “Mas nesse primeiro momento não haverá penalidade, será apenas como forma de análise e diagnóstico”, disse o procurador Ricardo Negrini. Em 2022, o procurador disse, em entrevista à repórter Brasil, que os frigoríficos tinham todas as ferramentas necessárias para avançar no monitoramento dos indiretos.

“Outro desafio é a lavagem de gado”, completou Azeredo, ilustrando a situação com o caso da Terra Indígena Apyterewa. Em matéria publicada em 2022, a Repórter Brasil apontou que bois criados ilegalmente dentro da TI abasteceram grandes frigoríficos – inclusive a JBS – utilizando essa manobra, que consiste em enviar animais criados em fazendas irregulares para propriedades regularizadas. Atualmente a TI passa por um processo de desintrusão, com a retirada de invasores de seus limites.

•        Fraudes no CAR são obstáculo

Azeredo alertou ainda que possíveis fraudes no Cadastro Ambiental Rural poderiam estar encobrindo irregularidades. “O CAR não é auditado, e se o produtor tem o seu CAR bloqueado por um frigorífico por desmatamento, o produtor cancela aquele e faz outro”, apontou. O CAR é um documento autodeclaratório e obrigatório, que deve ser preenchido pelo próprio produtor rural, com dados ambientais sobre a propriedade e sua localização.

“Nosso objetivo final é termos certeza próxima de 100% de que o gado que entra em um frigorífico não está sendo criado em área desmatada, terra indigena, de que não há boi de origem ilegal entrando na cadeia de produção dos figoríficos”, afirmou Azeredo.

 “Estamos perto de alcançar isso? Infelizmente não. Mas temos o que comemorar”, completou, comparando os 4,8% de irregularidades no Pará, em 2023, com os 10,4% de 2018.

Para o próximo ciclo de auditorias unificadas, o MPF deve pressionar os frigoríficos que ficaram de fora do processo para que participem. “Entraremos com ações contra empresas que se negaram a ser parte deste processo de auditorias e transparência”, afirmou Negrini. Além disso, o setor varejista e instituições financeiras também devem ser informadas sobre quais são essas empresas, para que avaliem sua cadeia produtiva e de negócios.

 

       JBS planeja investir R$ 15 bilhões no Brasil se dupla listagem for aprovada

 

A JBS planeja investir R$ 12 bilhões adicionais no Brasil até 2026 caso a dupla listagem de ações nos Estados Unidos se concretize, disse o presidente-executivo da maior produtora de carnes do mundo, Gilberto Tomazoni, nesta sexta-feira (26).

O valor, segundo ele, seria adicional aos investimentos de cerca de R$ 38 bilhões até 2026 anunciados há algumas semanas pela J&F, controladora da JBS. A holding também atua nas áreas de celulose, com a Eldorado, energia, com a Âmbar, financeira, com o Banco Original, entre outros segmentos.

 “Nós, da JBS, estamos com um projeto de dupla listagem, e se o nosso projeto for bem-sucedido, esse investimento (da J&F) não será de R$ 38 bilhões, mas será de R$ 50 bilhões no Brasil até 2026”, disse Tomazoni, durante evento da JBS no Paraná.

Os investimentos de aproximadamente R$ 38 bilhões da J&F incluíam R$ 3 bilhões pela JBS. Assim, caso o novo desembolso da produtora de carnes se concretize, seriam R$ 15 bilhões aportados pela empresa no país até 2026, disse a JBS em nota à imprensa.

A JBS, que há anos fala abertamente sobre seus planos de listar ações também nos EUA, em movimento conhecido como dupla listagem, avançou com o processo em 2023.

A empresa, maior produtora de carnes do mundo, registrou em julho uma proposta para listar ações junto ao órgão regulador de mercados dos EUA, a SEC.

Na ocasião, executivos da JBS disseram acreditar que as novas ações da empresa poderiam estar sendo negociadas em dezembro deste ano em Nova York, se tudo corresse conforme o programado.

Com a dupla listagem, a JBS espera ampliar sua capacidade para investir e crescer com menor custo de capital.

•        JBS expande negócios no Paraná

O anúncio dos investimentos da JBS foram feitos durante a inauguração de uma fábrica de empanados de frango e outra de salsichas da Seara na cidade de Rolândia (PR), nesta sexta-feira, que receberam investimentos de R$ 1 bilhão. O movimento, segundo Tomazoni, encerrou ciclo de investimentos de R$ 8 bilhões da empresa no Brasil anunciado em 2019.

O evento de lançamento contou com a presença do vice-presidente da República e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, além de outras autoridades como o governador do Paraná, Ratinho Júnior.

Alckmin disse que o crescimento econômico do Brasil deve muito ao agronegócio. “O Brasil acabou de passar a ser a nona economia do mundo. E temos muito o que agradecer ao agro”, disse o vice-presidente.

Com um investimento de R$ 1 bilhão, as novas fábricas da JBS vão gerar 4.500 empregos diretos e indiretos. A expansão vai em linha com o aumento da exportação de proteína animal.

Além da tecnologia, a empresa investiu em protocolos de sustentabilidade, como coleta de águas pluviais, utilização de veículos elétricos para trânsito interno, geração de energia solar no estacionamento dos veículos e reaproveitamento dos resíduos de celulose do processo industrial para transformação em combustível.

“A longo prazo, vamos aumentar nosso portfólio e desafiar o mercado a crescer conosco também nesse segmento, como já estamos fazendo com o de empanados de frango”, afirma João Campos, CEO da Seara.

Ratinho Júnior agradeceu os investimentos e relacionou as novas unidades de Rolândia ao foco do estado em ser “o supermercado do mundo”, pela dedicação diária em transformar o Paraná no estado com “a maior capacidade de industrializar aquilo que produz em sua terra”.

A expansão de Rolândia reforça o posicionamento da empresa no estado do Paraná que, segundo a JBS, já representa um polo importante para as atividades da Companhia, com 14 mil colaboradores.

O acionista da empresa Wesley Batista destacou o momento favorável de investir no Brasil. “Nós, que operamos em muitos lugares ao redor do mundo, olhamos para o Brasil e observamos que são poucos lugares que possuem as condições que o país tem: democracia, instituições fortes estabelecidas, credibilidade, do ponto de vista fiscal”.

Para Wesley, “quando olhamos para outros lugares, não encontramos fácil ao redor do mundo situações como temos no Brasil. Por isso, estamos superotimistas. Acredito que o Brasil voltou e é a bola da vez. Definitivamente, vamos ver o Brasil de novo decolando”, acrescentou.

Nos últimos dois anos, a JBS vem fortalecendo sua posição em produtos de alto valor agregado, como as aquisições das marcas Sunnyvalley, Pilgrim’s Food Masters e King’s Group, assim como com a construção da fábrica de especialidades italianas da Principe em Missouri, nos Estados Unidos.

•        Governo e JBS fazem parceria para gerar empregos nas classes D e E

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a JBS iniciaram na sexta-feira (20) uma parceria para aumentar a geração de emprego entre as classes D e E.

A empresa de alimentos é a maior empregadora do país, chegando a realizar 150 mil entrevistas de emprego por ano.

“Com a nossa parceria, a JBS contará com a qualificação e a capacitação de mão de obra dos colaboradores, por meio do auxílio do Sine [Sistema Nacional de Emprego], que será muito importante para os trabalhadores”, disse o ministro Luiz Marinho.

O intermédio ajudará a combinar o perfil dos trabalhadores com a necessidade da empresa.

A JBS tem, atualmente, 152 mil funcionários diretos em todo o país. Somente entre janeiro e agosto deste ano, a empresa gerou 7.000 novas vagas de emprego, o que representa aumento de 5% em relação a dezembro de 2022.

Ainda assim, continua com 5.000 postos abertos para seleção em todas as regiões do Brasil.

“A parceria com o MTE pode nos dar mais velocidade e acesso a um banco muito mais amplo de candidatos”, afirma Gilberto Xandó, CEO da JBS Brasil.

Marinho visitou nesta sexta o complexo industrial da JBS em Lins, interior de São Paulo, para discutir oportunidades de aumento de produtividade na indústria de alimentos.

O ministro destacou a importância da segurança do trabalho e condições para competição do mercado brasileiro.

“Trabalhamos para garantir, entre outros pontos, proteção aos trabalhadores, mas, acima de tudo, buscamos criar condições para a indústria brasileira poder competir internacionalmente. Para isso, o governo precisa acompanhar e buscar aperfeiçoar todos os pontos quando há possibilidade de aperfeiçoamento”, explicou.

 

Fonte: Repórter Brasil/CNN Brasil

 

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