terça-feira, 31 de outubro de 2023

As mulheres interagem menos que os homens em público, por quê?

Apesar de muitos avanços terem sido conquistados para as mulheres exercerem o seu direito de votar, estudar, trabalhar, decidir quando e se terão filhos, a desigualdade de gênero persiste. E ainda hoje, há diversas situações que demonstram como as mulheres ainda não desfrutam de uma posição confortável para se expressar.

Segundo um novo estudo, o efeito pode ser observado em eventos que exigem uma maior participação, seja falando em público em uma palestra; seja expondo dúvidas em roda de perguntas ou mesmo para expressar discordância. Ao tomar como base as interações realizadas em seminários, no ambiente universitário, foram detectadas algumas nuances disso.

Publicado na Revista Plos ONE em 2018, o estudo indicou que as mulheres apresentaram uma menor probabilidade de fazer uma pergunta, mesmo quando a proporção de homens e mulheres permaneceu equilibrada entre o público presente. Afinal de contas, o que pode estar limitando a participação feminina?

•        Motivos para a menor participação feminina

Além de uma pesquisa que coletou respostas sobre a participação e as perguntas realizadas pelo público, foram avaliados outros 247 seminários realizados em 10 países. Ao considerar o que motivava as perguntas entre os participantes, homens e mulheres apontaram motivos semelhantes em alguns momentos. Para 92% dos homens e 93% das mulheres, a dúvida era motivada pelo interesse no assunto; 67% dos homens e 64% das mulheres apontaram o desejo de esclarecimento.

Mas, e quanto a perguntar devido à detecção de um erro? Esse motivo foi indicado por 33% dos homens e 16% das mulheres, e é aí que já temos um alerta. Ao considerar a frequência com que fazem perguntas, o público feminino apresentou a menor proporção.

Fazendo uso de um conjunto de dados completo, foi possível desenvolver um modelo capaz de estimar a participação feminina em diferentes cenários. Por exemplo, o modelo previu que havia 33% de chance de uma pergunta ser realizada por uma mulher em um seminário. E quando um homem era o primeiro a perguntar, essa possibilidade era reduzida para 27%.

Por outro lado, se aumentava a duração da sessão de perguntas, aumentava também a probabilidade de uma mulher perguntar. Ao examinar os dados observacionais, ainda foi constatado que os homens apresentaram uma probabilidade 2,5 maior de fazer uma pergunta, quando em comparação com o público feminino.

•        Nuances que impactam no dia a dia

Fatores internos foram tidos como um obstáculo na hora de interagir para a maior parte das entrevistadas: a preocupação de que tinham entendido algo errado apareceu entre os motivos mais relatados. Para os homens, por outro lado, não ter tempo o bastante foi a razão principal para não fazer uma pergunta.

Há muitos fatores que podem fazer com que as pessoas se sintam menos confortáveis na hora de se comunicar em público — mas, entre as mulheres, ainda há motivos bem específicos que exercem peso das formas mais variadas: a falta de modelos femininos em posições de destaque, a menor visibilidade e a ausência de incentivos.

Ao abordar esses motivos, o estudo ainda destaca que, apesar de nem todos estarem conscientes dessa disparidade, e mesmo das próprias mulheres nem sempre terem uma noção clara de como fatores internos estão atuando sobre o seu comportamento, é essencial promover uma maior visibilidade feminina nos diferentes espaços.

Da mesma forma, mudanças na cultura organizacional dos ambientes, seja nas universidades; seja nas empresas, possuem um papel decisivo para oferecer um espaço mais inclusivo. Mas como não existe uma receita pronta para mudar esse cenário, é necessário ouvir mais mulheres e investir em novas abordagens.

 

Fonte: Por Mychelle Araújo, em Mega Ciruoso

 

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