Sem ações do governo estadual, PF prevê retomada da violência após fim
de operação na Bahia
Integrantes da PF diretamente envolvidos na
ofensiva contra facções do crime organizado na Bahia - na prática, uma
intervenção federal na segurança pública do estado - temem outra onda de
violência após o fim da ação em bairros de Salvador dominados pelos
traficantes. Em conversas reservadas com a Satélite, delegados da PF destacados
para atuar no combate ao narcotráfico da capital afirmaram que, apesar dos
avanços obtidos nos últimos dias, não viram quaisquer ações do governo baiano
para reforçar a segurança dessas localidades ou planos para ocupá-las através
da maior oferta de serviços públicos nas áreas de educação, qualificação
profissional e assistência social.
• Noves
fora, zero
"Nas reuniões diárias de avaliação, sempre nos
perguntamos qual o planejamento do governo do estado e o que ele pretende fazer
quando formos embora. Estamos diminuindo o poderio de cada facção nos bairros,
mas a realidade continua a mesma. Até o policiamento permanece igual ao de
antes", desabafou um dos delegados da PF envolvidos no cerco.
• Sozinho
na praça
Policiais federais ligados à força-tarefa montada
para contra-atacar as facções do estado garantem que vêm obtendo resultados
importantes na ofensiva, com prisões em série e fuga em massa de lideranças do
crime organizado, mas se queixam da ausência de políticas públicas por parte do
governo da Bahia para o período pós-intervenção velada. "Embora Marcelo
Werner (chefe da SSP) se mostre 100% empenhado em concretizar ações efetivas
para elevar a segurança nas comunidades atingidas pela criminalidade, ele e
seus auxiliares estão sozinhos nessa missão", ressaltou outro delegado
federal graduado.
• Além
da guerra
Em compasso simultâneo, fontes da PF ouvidas pela
coluna destacaram ainda que têm lutado sem tréguas junto à cúpula da corporação
e do Ministério da Justiça em Brasília para manter, pelo menos por mais três
meses, a estrutura destinada a enfrentar o galope da criminalidade na Bahia.
Porém, admitiram dificuldades em estender as ações por mais tempo. Sobretudo,
quanto ao uso dos quatro veículos blindados, helicóptero e grupos táticos da PF
enviados recentemente do Distrito Federal e do Rio de Janeiro.
Com
a criminalidade em alta, governador se
reúne com Dino em Brasília para discutir segurança na Bahia
O governador Jerônimo Rodrigues se reuniu na noite
da segunda-feira (25) com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio
Dino, em Brasília. Os dois discutiram novas estratégias para o trabalho
conjunto das forças estaduais e federais contra a crescente de violência na
Bahia.
“O objetivo é consolidar uma estratégia que a gente
vem trabalhando desde o início do governo Lula. Viemos fazer ajustes para
melhorar cada vez mais as nossas ações de segurança pública em nosso estado. Já
é possível ver, a cada dia, a Polícia Militar e a Polícia Civil da Bahia
trabalhando em parceria com a Polícia Federal, e estamos traçando, a partir
daqui, novas ações”, diz Jerônimo.
O ministro, que neste final de semana falou da
situação grave da segurança no estado, disse que a parceria será intensificada.
”Vamos avançar nessa parceria para que a segurança pública possa ser, a cada
dia, ainda mais aprimorada. É um trabalho pela Bahia e pelo Brasil”, afirmou
Dino.
Dino disse que a Polícia Federal tem feito atuações
conjuntas frequentes com as forças estaduais e
”agora essa aliança está entrando numa nova fase. Nós vamos intensificar
essas operações conjuntas”. Nos próximos dias, uma equipe do ministério vem ao
estado para visitar técnicas, avaliando novos investimentos e ações,
acrescenta.
“Vamos ampliar a destinação de recursos, de
equipamentos e de tecnologia para essas ações conjuntas, e eu tenho toda a
confiança de que os resultados, que já estão aparecendo, serão cada vez
melhores”, afirmou o ministro.
Na reunião, Dino também disse que em outubro fará a
entrega da delegacia da PF em Feira de Santana, o que vai ajudar a fortalecer o
combate ao crime na região.
• ´Desafiador´
No fim de semana, Dino falou do grave quadro da
segurança na Bahia. “Nós temos conversado com o governador [Jerônimo
Rodrigues], com o secretário de segurança [Marcelo Werner], para que haja um
aperfeiçoamento, um aprimoramento dessas ações. É um quadro muito desafiador,
muito difícil. O que nós, do governo federal, fizemos neste momento, foi
fortalecer a presença da Polícia Federal para apoiar essas ações. Sobretudo,
visando a pacificação. Infelizmente as organizações criminosas se fortaleceram
muito nos últimos anos, aumentaram o acesso às armas em todo o Brasil, por
conta de uma política errada que havia no nosso país”, disse após participar de
homenagem ao padre Júlio Lancellotti, na capital paulista.
Após a morte de um policial federal no dia 15 de
setembro, foi deflagrada na Bahia uma operação policial que já contabiliza ao
menos nove mortes em situações apresentadas como confronto. O policial
participava da Operação Fauda, conduzida pela Força Integrada de Combate ao
Crime Organizado (Ficco) da Polícia Federal (PF) e da Secretaria da Segurança
Pública da Bahia (SSP-BA) contra uma organização criminosa envolvida com
tráfico de drogas e armas, homicídios e roubos.
Em agosto, a líder quilombola e ialorixá Mãe
Bernadete, de 72 anos de idade, foi assassinada, no Quilombo Pitanga dos
Palmares, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador (BA).
Além da investigação pelas autoridades locais, a Polícia Federal também abriu
um inquérito sobre o caso. Três homens foram presos por suspeita de participação
no crime.
Dino disse que no momento o governo federal está
apoiando as ações que ajudem a solucionar os casos de homicídio, como forma de
tentar conter a violência no estado. “O mais importante neste instante, sem
dúvida, não é propriamente a realização de julgamentos, são boas investigações,
boas ações, para que a gente consiga ter uma situação estável pelo menos na
Bahia. Hoje, sem dúvida é um dos maiores desafios da segurança pública no
Brasil”, ressaltou.
Fonte: Correio
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