sábado, 30 de setembro de 2023

Moisés Mendes: A sobrevivência do bolsonarismo depende do fim de Bolsonaro

Pretendentes a herdeiros do acervo político de Bolsonaro têm pela frente o desafio de ajustar os movimentos que os afastem um pouco do indivíduo, sem que pareça desprezo ou fuga e sem se distanciar do que ainda é o bolsonarismo. Parece contraditório, mas não é.

Bolsonaro conseguiu em 2018 um feito subestimado até pela ciência política mais cautelosa. Deslocou centro e direita para a extrema direita, elegeu-se presidente e teria hoje, mesmo derrotado, uma base expandida de até 25% dos eleitores brasileiros.

É assim que um quarto do eleitorado se define em pesquisas do Datafolha, como bolsonarista. Mas a persistente fidelidade leva hoje a alguns paradoxos aparentes da base e dos políticos profissionais.

O principal, o mais visível no momento, é este: é arriscado para alguns agrupamentos de direita manter ou estreitar laços com a imagem de Bolsonaro, considerando-se quem tem projetos eleitorais para o ano que vem e faz carreira para o futuro de médio prazo.

É complicado estreitar conexões entre ambições políticas e Bolsonaro, no momento em que o sujeito é cercado pelo sistema de Justiça e se fragiliza politicamente, já com um pé na cadeia.

O resumo possível desse cenário lida com deduções oferecidas por fatos e circunstâncias pós-eleição. O eleitor que se diz bolsonarista se mantém fiel a uma ideia de vida, a um conceito, e não mais apenas a uma figura. O político bolsonarista percebe esses movimentos.

Os números explicam. As mesmas pesquisas que citam a fidelidade de 25% ao bolsonarismo mostram que em São Paulo 68% dos eleitores não votariam em candidato indicado por Bolsonaro à prefeitura. Os que votariam são apenas 13%.

A conclusão parece fácil, mesmo que possa ser traiçoeira: o eleitor da base expandida, que se diz bolsonarista, é na verdade o que se acomodou onde já estava como alguém com ideias ultraconservadoras ou de extrema direita, e não só antilulistas.

Mas ele não continua sendo necessariamente alguém com fé incondicional em Bolsonaro. O bolsonarismo, numa simplificação, poderia ser percebido genericamente num quadrado onde cabem ultraconservadorismo, extremismo, fascismo ou algo assemelhado, capaz de acolher esse eleitor negacionista, antiaborto, antigay, antidemarcação de terras indígenas, antimaconha, anticotas, muitas vezes antivacina e tantas outras vezes terraplanista e racista.

A simplificação é dada pelo próprio eleitor e pelos movimentos de quem, em posição de protagonismo ou liderança, percebe que já não é tão vantajoso estar próximo de Bolsonaro hoje.

Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ratinho Júnior não precisam explicar, porque nem devem, essa tentativa de calibrar a proximidade e o distanciamento com um quase cadáver da política.

 Bolsonaro pode ser, em pouco tempo, apenas o dono do ponto, o cara que criou o mercado, tem clientela e consolidou uma marca. Mas sujou o nome.

Bolsonaro é o criador do mercado a ser comprado por Zema, Tarcísio, Eduardo Leite e outros postados ao lado da extrema direita e que tentam herdar a base extremada porque desistiram de se colocar como de direita ou de centro-direita. Que foi de onde muitos saíram em 2018 para cortejar e pegar carona com Bolsonaro.

O bolsonarismo será, talvez logo depois das eleições municipais do ano que vem, esse fenômeno jovem que exigirá outras abordagens. Porque Bolsonaro poderá estar morto como figura pública, sem partido, sem turma, sem militares, sem milicianos e sem expectativas pessoais. Mas o bolsonarismo do interiorzão estará latejando.

Um bolsonarismo que, mesmo no auge e no poder, nunca foi parente do que já se chamou de getulismo, brizolismo, peronismo ou chavismo, porque não tem base social de massa ativa e relevante entre os mais pobres e sobrevive como alguma coisa que poderá ou não se liquidificar e escorrer pelos ralos da política.

Ser bolsonarista é um esforço de sobrevivência de ricos, classe média e evangélicos, que ficaram órfãos com a derrota na eleição, o fracasso do golpe, a inelegibilidade, a depreciação dos generais e das Forças Armadas e a possibilidade real de ver o líder encarcerado.

O bolsonarista carrega a incerteza de que poderá se manter agarrado à fé conquistada em 2018. Até porque precisa confiar nos inconfiáveis Tarcísio e Zema para continuar sendo bolsonarista.

O mundo da direita antiLula, mesmo a não extremada, vai deixando de girar só em torno de Bolsonaro. O antilulismo e antitudo precisa sobreviver em outro corpo, mantendo a certeza de que continua sendo bolsonarista.

O eleitor que se diz bolsonarista terá de se afastar da figura de um Bolsonaro moribundo para continuar sendo bolsonarista e sobreviver como tal com outro nome que incorpore o que ele representa. Além da direita, agora também a extrema direita depende do fim de Bolsonaro.

Os políticos que pretendem ser herdeiros do espólio já estão fazendo essa caminhada. Para ficar com o que um dia foi de Bolsonaro, é preciso afastar-se de Bolsonaro e, às escondidas ou não, contribuir para vê-lo destruído e politicamente morto.

 

Ø  Investigado e inelegível, Bolsonaro exige validar até chapa de vereadores do PL no Rio

 

Jair Bolsonaro mostrou sua influência na cúpula do PL, deixando claro que será o protagonista nas próximas eleições municipais no Rio de Janeiro, sua base política. de acordo com a coluna da jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, o ex-mandatário  - que foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e é alvo de diversos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) - “exigiu de membros do PL aprovar previamente todos os nomes que vão concorrer ao cargo de vereador pelo seu partido da capital fluminense”.

Ainda de acordo com a reportagem, a expectativa é que seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro migre do Republicanos, seu partido atual, para o PL, visando disputar a reeleição. A chapa definitiva, porém, deverá ser conhecida no início do próximo ano. 

“O ex-presidente já deixou claro que não abrirá mão de ter um candidato de seu partido na cidade para enfrentar o prefeito Eduardo Paes (PSD). O nome defendido por Valdemar Costa Neto, presidente do PL, é o do general da reserva Walter Braga Netto”, ressalta a colunista. 

 

Ø  Cassação de Moro já é dada como certa e extrema direita quer Michelle Bolsonaro no seu lugar no Senado

 

Depois da petição protocolada por Tony Garcia no STF, em que ele apresenta provas contra Sergio Moro, ganharam força nos bastidores da política em Brasília e no Paraná as discussões sobre as candidaturas ao Senado para preencher a vaga que será aberta com a já dada como certa cassação do ex-juiz. E um nome surgiu entre os pré-candidatos: Michelle Bolsonaro.

Com isso, a eleição suplementar no Paraná poderia ficar polarizada entre a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e Michelle Bolsonaro. A eleição poderia ter também as candidaturas de Roberto Requião, caso ele deixe o PT e vá para o Solidariedade, e Álvaro Dias, do Podemos. 

Já os demais pré-candidatos identificados com o bolsonarismo, Paulo Martins (PL)  e Ricardo Barros (PP), deixariam a disputa por não terem chances contra MIchelle, sobretudo porque a articulação em torno do nome dela teria o apoio do governador Ratinho Júnior, do PSD.

Como na política as discussões começam muito antes do que o eleitor imagina, ao abraçar a candidatura de Michelle, Ratinho Júnior espera abrir uma porta com Bolsonaro, para que seja o candidato a presidente da direita e extrema direita em 2026. 

A pelo menos dois interlocutores, Ricardo Barros confirmou que há tratativas para que Michelle Bolsonaro transfira o domicílio eleitoral para o Paraná e fique em condições de disputar as eleições para o Senado, que poderá ser realizada simultaneamente à de prefeitos e vereadores, no ano que vem.

Publicamente, Ricardo Barros não confirma. "Nao tenho essa informação. Mas (ela) poderia (ser candidata) no Paraná, Santa Catarina e Rondônia, onde devem ser cassados senadores. Eu disputarei para o Senado no Paraná, o candidato do PL aqui é Paulo Martins", disse ao 247.

Ricardo Barros, que foi líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados entre 2020 e 2022, atualmente é secretário da Indústria, Comércio e Serviços do governo de Ratinho Júnior. Ele não quis responder se manteria a candidatura ao Senado na hipótese de Michelle se candidatar.

Mas deu uma pista de que as conversas estão ocorrendo. Na semana que vem, ele terá uma reunião com Jair Bolsonaro, e não quis dizer qual será a pauta do encontro.

Moro já é um cadáver político, e sua presença no Senado exala mau cheiro. Com fama de traíra, nenhuma liderança política relevante se apresentou para defendê-lo, e agora até os cúmplices de 2018, como os Bolsonaros, têm pressa na remoção da carniça.

·         "Moro nega o inegável e será preso", diz Tony Garcia

O empresário Tony Garcia, delator do ex-juiz suspeito e hoje senador, Sergio Moro, prevê que o mandato do parlamentar está com os dias contados diante das crescentes denúncias de irregularidades cometidas pelo ex-magistrado antes mesmo da Operação Lava Jato. Em entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, da TV 247, Garcia afirmou que agora "ninguém segura mais" as consequências de seus depoimentos. 

Em depoimentos prestados por Tony Garcia, ele cita uma série de altas autoridades, como ministros, desembargadores, secretários. Moro não podia investigar nenhum deles, mas insistiu e usou, inclusive, métodos ilegais para espioná-los. 

Segundo Garcia, a atuação de Moro foi criminosa e reveladora dos abusos que ele viria a cometer na Operação Lava Jato. Agora Moro se desespera, tentando negar o que ele mesmo assinou, pondera o delator. 

"As pessoas que assinaram o meu acordo de colaboração premiada com as 'tarefas' vão para a cadeia, é um crime. Injustiça para obter informações privilegiadas de gente que não poderia ser investigada por eles. Usar uma pessoa que tinha e tem trânsito como eu para buscar essas informações e chantagear as pessoas. Foi isso que Moro e Lava Jato fizeram Eu fui um laboratório dessa turma 10 anos antes de botarem em prática tudo o que fizeram comigo", disse Garcia.

Garcia prevê que o Supremo Tribunal Federal (STF) não aliviará a barra de Moro e que ele perderá o mandato de senador, o qual usa para se "esconder" das denúncias. A Corte está em posse do documento de colaboração, que previa, entre outras coisas, que o réu usasse escutas ambientais em encontros e conversas com políticos e juristas para obter informações sobre desembargadores do Paraná e ministros do Superior Tribunal de Justiça.

"Moro é tão covarde e tão patético que não tem a honradez e a hombridade. A hora que ele cair ele está desmentirá o que ele mesmo colocou no papel e assinou. O cara é pego em flagrante e fala, 'não sou eu que estou aqui'. Não é igual a Vaza Jato, em que se pode dizer que não se reconhece a voz. As 30 tarefas que hoje ele está negando ele homologou. Todos estão em posse disso e ele não tem como negar. Ele é um criminoso, covarde e vai ficar o tempo inteiro escondido nesse mandato que ele tem de senador. Mas vai ficar por pouco tempo. Ele não tem como se sustentar muito tempo nessa posição", acrescentou.

 

Ø  Jurista Marcelo Uchôa cita o empresário Tony Garcia e manda recado a Moro: 'seu destino está selado'

 

O jurista Marcelo Uchôa mandou nesta quinta-feira (28) um recado ao senador Sergio Moro (União Brasil-PR) ao afirmar que o ex-juiz da Operação Lava Jato será preso. O estudioso fez o comentário após o parlamentar desejar sucesso ao novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. "Belas palavras, Sérgio Moro. Pena que o seu destino já está selado e tem nome: Tony Garcia. É só aguardar", escreveu Uchôa no Twitter. 

O empresário Tony Garcia enviou ao STF documentos para comprovar as irregularidades cometidas por Moro quando o parlamentar julgava os processos da Lava Jato em primeira instância, no Paraná. Neste ano, o delator denunciou ilegalidades do ex-juiz. 

Durante entrevista ao 247 em junho, o empresário disse ter sido instruído na Lava Jato a dar uma entrevista à Veja e fornecer à revista informações que pudessem comprometer a carreira do ex-ministro José Dirceu (PT). O delator afirmou que, a mando de Sergio Moro, gravou de forma ilegal o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) em 2018. Garcia afirmou que Moro transformou "Curitiba na Guantánamo brasileira".

 

Fonte: Brasil 247

 

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