"Considero o PP um partido de oposição", diz senador Ciro
Nogueira
Senador pelo Piauí e presidente nacional do
Progressistas (PP), Ciro Nogueira é um dos caciques políticos mais influentes
do Congresso. Na oposição, tenta frear a intenção de parte da legenda de
embarcar na base do governo. "Lula de 2022 é muito pior do que o Lula de
2002", dispara. Ao Correio, ampliou as críticas contra o presidente da
República e garantiu que manterá o partido na oposição, mesmo com André Fufuca
no Ministério do Esporte. "Pedi que ele não assumisse, foi uma decisão
dele", afirmou, apesar de Fufuca garantir que fez três reuniões com a
bancada para decidir. "Se aconteceram, eu não fui convocado", frisou
o senador. Ciro defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive na política
ambiental — criticada dentro e fora do país — e pregou a liberação das reservas
para atividades econômicas exploradas pelos indígenas. A seguir, os principais
trechos da entrevista.
>>> Leia a seguir a entrevista.
• O PP
é oposição, independente ou botou um pé na base governista?
Considero o PP um partido de oposição, porque foi
assim que as urnas nos deixaram. Venceu o presidente Lula na eleição, mas não
vejo nada desse governo que possa nos atrair, não tem identificação com as
bandeiras do partido ou com a atuação dos deputados, com a defesa histórica do
partido. Por conta disso, nós somos oposição. Agora, não vou negar que tem
alguns parlamentares que votam com o governo, mas vai variar muito de acordo
com as matérias (que serão votadas pelo Congresso). Elas vão ser analisadas de
acordo com aquilo que eu chamo de cláusulas pétreas do partido, que é a agenda
do Progressista. Matérias que atendam a isso, se vierem ou não do governo,
contarão com nosso apoio. Mas as 11 diretrizes do PP, lançadas nesta semana,
não marcam uma posição contra o governo. A volta do imposto sindical,
retrocesso da reforma tributária, são bandeiras que o governo quer apresentar,
mas sabe que não tem respaldo no Congresso para aprovar. O governo virá com uma
pauta de aumento de carga tributária, essas são pautas que nós não vamos votar.
• Como
entender o PP como um partido de oposição se indicou o ministro Fufuca para o
Esporte?
Eu pedi que ele não assumisse, foi uma decisão dele,
não foi uma indicação do partido, foi uma decisão dele.
• Foi
uma decisão pessoal?
Não teve uma reunião da bancada que aprovou isso, o
partido nunca se reuniu para debater um apoio ao governo, que seria natural, um
bate-papo, se apoia o governo ou não. Nunca houve essa reunião.
• O
ministro Fufuca garantiu que fez três reuniões com a bancada antes da decisão.
Isso não aconteceu?
Se aconteceram, eu não fui convocado. A única
reunião que eu soube foi agora (quando o partido definiu a agenda de 11 pontos
programáticos), que os deputados votaram secretamente. Numa situação com os 49
votando secretamente, é um recado bem significativo. Poderiam ter votado
contra, foi voto secreto. Mas, o mais importante é vermos como vão ser as
votações. Deixa o governo pautar aí a volta do imposto sindical, retrocesso na
reforma tributária, aumento da carga tributária em cima do contribuinte
brasileiro, veja como os deputados vão votar. Não tem apoio.
• Lula
não está unificando forças políticas ao levar o PP para o ministério?
Com práticas que deram errado, de entregar cargos
com porteira fechada. Escolher os ministros antes de escolher os ministérios,
olha que loucura. Como é que você pega e escolhe o ministro para depois
escolher o ministério? É um descaso com a gestão.
• Então
o senhor é contra o partido assumir cargos na Caixa?
Totalmente. Por mim, o meu partido não deveria
fazer indicações para esse governo. Eu não gostaria que meu partido estivesse
participando desse governo.
• O
senhor sente a liderança no PP ser enfraquecida?
Se você pegar todos os partidos, até o PL (partido
de Bolsonaro, na oposição) tem 30 deputados que estão votando com o governo.
• Mas o
PL não está no governo…
Vamos esperar terminar a reforma para ver se não
vai ter alguma indicação. Deu certo com o presidente Bolsonaro, porque nós não
fizemos esse tipo de indicação dessa forma. Nós blindamos as estatais, nós não
entregamos os ministérios com porteira fechada porque, ali, fomos sócios do
poder, sócios da vitória, das realizações. Tanto que nós elegemos 2/3 da Câmara
e a maioria dos senadores, fomos sócios do sucesso do governo. Agora não, é um
casamento de conveniência. Nem Lula tem identificação conosco, nem nós temos
com ele, porque nós não concordamos com o que ele defende.
• A
oposição não se encontrou ainda?
Tudo o que foi aprovado na Câmara foi graças ao
capital político do presidente Arthur Lira. Eu acho que ele não vai querer
eternamente ficar gastando o seu capital político.
• Mas a
oposição parece focar apenas em ataques ao STF…
Nós vamos ter uma grande vantagem com a proximidade
das eleições. No Senado, o governo tem uma maioria folgada, mas vão renovar 2/3
da Casa. O apoio do presidente Bolsonaro para esses senadores vai ser
fundamental. Já vi alguns desses senadores manifestando que não podem mais
ficar tão longe de Bolsonaro. Na Câmara, com o resultado da eleição municipal
do próximo ano, com o desastre eleitoral da esquerda, essas pessoas vão pensar
duas vezes antes de colar sua imagem ao PT.
• Na
reforma tributária, o presidente da Câmara, Arthur Lira, abraçou essa
discussão...
Foi o parlamento que fez, não o governo. Essa
discussão vem do governo anterior. O atual nem se mobilizou, na época, eles só
queriam aprovar o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Como a
reforma tributária não atinge a atual gestão, não tinham interesse algum.
• Mas o
Carf não representa aumento na carga tributária?
Sim. E por isso foi votado. Mas o Carf foi feito
apenas para pegar o dinheiro da Petrobras e da Vale. Foi só para isso. A
maioria das outras empresas vai judicializar (as decisões do colegiado).
• E a
taxação dos fundos exclusivos?
É uma discussão que precisa ser feita dentro do
partido, eu não sei se os deputados vão querer votar isso. Porque não deixa de
ser mais um aumento da carga tributária.
• Mas
essa não é uma questão de justiça fiscal, que deve ser feita?
Por isso vai haver a discussão, se você falasse que
vai aumentar o imposto dos pequenos empresários no país em 10% eu já te diria
de antemão que 100% da bancada seria contra.
• E a posição
do senhor?
Eu sou contra. Se fosse um governo que estivesse
fazendo o seu dever de casa, cortando despesas, diminuindo gastos, como todos
os governos fizeram para ter aumento de despesas em outras áreas, apoiaria. Eu
não vi uma proposta desse governo para cortar despesa, só pensa em gastar.
Então, aumentar, mesmo que seja para os super-ricos, nesse governo que só pensa
em gastar mais, eu sou contra. Sou favorável em tirar dos super-ricos daqui e
diminuir (a carga tributária) da classe trabalhadora, dos mais pobres. O
governo não quer isso, só quer arrecadar mais, não quer fazer justiça fiscal,
que é cobrar de quem tem mais e reduzir a carga dos trabalhadores das pessoas
de baixa renda. E quer arrecadar mais para aumentar ministério, para aumentar
cargos, essas coisas.
• Mas
taxar esses fundos não é cobrar de quem não paga?
Eu acho que cobrar de quem não está pagando é
cobrar de quem está sonegando. Essas pessoas não estão sonegando, a regra legal
permite.
• Mas o
senhor considera a regra injusta?
É, eu considero, mas eu acho que ela deveria ser
feita para trazer uma justiça tributária.Eu estou analisando, vou tomar a
decisão com a bancada, não uma decisão individual. Hoje, eu sou contrário, a
não ser que tenha essa contrapartida.
• A
reforma tributária vai passar com facilidade no Senado?
Acho que está bem, aqui. No Senado, vai votar em
outubro, não vejo dificuldade para que a gente aprove, desde que se coloque
limites...
• Para
conter essa sanha gastadora?
Não só a sanha gastadora. Eu mesmo apresentei uma
proposta para limitar o IVA (Imposto sobre Valor Agregado, que vai substituir
cinco taxas federais) em, no máximo, 25%. Se não, o governo vai querer aumentar
para 30%, ou mais. Daí, essa reforma que, em vez de vir para o bem, vai ser
pior, com o governo querendo arrecadar mais. Eu acho que o Brasil não precisa
arrecadar mais recursos, o que pode acontecer é uma compensação, vamos tirar de
determinadas faixas que não estão pagando e diminuir em outras que estão
pagando muito. Tem que haver essa compensação, mas não precisamos de mais
impostos no Brasil.
• O
texto da Câmara define uma reforma com impacto neutro na carga tributária. O
governo defende uma alíquota única de 22% (para o IVA),e lamenta que as
isenções fiscais concedidas na Câmara para alguns setores aumentarão a
alíquota. No senado as isenções podem ser revistas? Eu acho que o Senado não
vai rever, vai ficar mais ou menos no patamar do que foi aprovado na Câmara.
Sobre esse negócio de isenções, em 30 anos aqui (no Congresso) eu nunca vi
redução, apenas ampliação. Se acontecer algo aqui no Senado, vai ser para
ampliar as isenções, infelizmente. E, cada vez que você dá uma isenção para
determinado setor, quem está pagando é o todo dos contribuintes do país.
• É
melhor uma reforma meia boca do que nenhuma?
Eu acho que tem que ter. Nós temos o sistema
tributário mais irracional do mundo. Essa reforma tem um lado muito positivo,
vai reduzir muito o custo da arrecadação. Hoje, grande parte do que se arrecada
se gasta na arrecadação. Por isso, eu sou favorável e vou votar favoravelmente
à reforma.
• Mas
isso lhe rendeu críticas do ex-presidente Bolsonaro e de apoiadores...
Foi um erro de condução. Estava corretíssima a
posição do governador Tarcísio. Foi um erro de posicionamento. Como a gente
passa a vida inteira defendendo a reforma tributária e, porque vira oposição,
vai ser contra? Se eu sou contra a reforma tributária, eu vou ser a favor do
quê?
• Como
o senhor vê benefícios fiscais como os da Zona Franca?
A Zona Franca de Manaus é uma conquista do estado
do Amazonas, que tem uma bancada bem atuante que temos que respeitar, mas nós
tínhamos que começar um processo de troca. Não (dar isenção) para tudo, como é
hoje, porque você causa uma série de distorções de setores que não tem mais
necessidade de incentivos e vão para lá apenas para se compensar. Nós temos um
caso muito grave lá que é a questão do xarope. A Coca-Cola e outras (indústrias
de bebidas) se utilizam de uma forma desleal daquela situação. Teria que ser
revista uma série de situações para ver quem está gerando emprego e renda lá,
quem realmente está investido. Eu sou favorável à Zona Franca, mas não para que
ela sirva como subterfúgio para pessoas que não querem pagar impostos e
prejudicar os outros estados.
• O
senhor defende uma transição?
O ministro Paulo Guedes defendia uma tese que tinha
que ter uma transição para algum tipo de imposto verde, com (estímulos a)
setores de tecnologia e outros que não agridam o meio ambiente.
• E
para setores consolidados, como motocicletas e eletrodomésticos?
Esses aí eu defendo, porque empregam bastante.
Agora, tem setores que o utilizam mesmo só para deixar de pagar impostos em
outros lugares, e não geram tanto emprego.
• Essa
disputa entre setores não está atrapalhando a reforma tributária?
Nós temos que privilegiar o país com os incentivos
que são dados para quem gera emprego, quem gera renda. Uma grande parte não faz
isso, só se utiliza de subterfúgios para não pagar imposto.
• E o
projeto do Orçamento da União para o ano que vem, como o senhor analisa?
Pelo amor de Deus, se a ministra do Planejamento
(Simone Tebet) disse que "só Deus sabe", como é que a gente pode
confiar na seriedade de um Orçamento desses que está sendo enviado ao
Congresso?
• Lula
está repetindo o segundo mandato?
Eu já disse na campanha que Lula, em 2022, é muito
pior do que o Lula de 2002. O Lula de 2002 era um homem que entrou para tentar
diminuir a pobreza, a fome, a miséria. Esse Lula aqui só veio atrás de cargos
para a companheirada. A vida das pessoas está muito mais difícil. Faça uma
pesquisa de opinião, as pessoas acham que a vida está piorando ao invés de
melhorar. E é um presidente que prometeu picanha, cerveja, prometeu melhorar a
vida das pessoas.
• Os
resultados da economia não apontam para uma melhora?
Na vida das pessoas, principalmente de baixa renda,
não. Hoje temos caos financeiro nas prefeituras do país inteiro. As pessoas
estão com mais dificuldade hoje do que estavam no governo passado. Basta ver as
pesquisas, que dizem isso.
• O
IBGE mostra uma recuperação no emprego.
Peraí! A recuperação do emprego foi feita ainda no
governo passado, agora estagnou. Qual foi a medida que esse governo aprovou? A
grande medida foi o arcabouço fiscal, acabou de ser aprovada, tem 15 dias,
ainda vamos ver os efeitos. Estávamos vendo a recuperação dos empregos no país
e parou totalmente. Tudo foi resquício do governo anterior, do ministro (da
economia) Paulo Guedes. Os números que eu tive acesso são todos de estagnação
econômica. Queda de arrecadação, o que explica que o FPM (Fundo de Participação
dos Municípios) tenha sido menor que no ano passado.
• A
queda no FPM não foi provocada pela desoneração do combustível no governo
anterior?
Isso é falácia, gente, é igual a história da
Petrobras, que o governo dizia que não teria que seguir a paridade (com as
cotações internacionais). Dizia que nós somos autossuficientes em petróleo e
que não tem que seguir a paridade internacional. Cadê? Não mudou nada. Ao
contrário, aumentou, vai ver quanto está o preço do diesel. Lula não dizia que
era um absurdo? Ele enganou a população lá atrás com esse discurso de que a
Petrobras era autossuficiente, que não tinha que seguir a paridade
internacional. Ele sabia ali que estava enganando a população, porque 30% do
diesel é importado, ele tem que seguir a paridade, senão falta diesel. Se a
Petrobras não tivesse elevado os preços dos combustíveis um tempo atrás, já
estaria faltando combustível em determinadas regiões do país.
• Para
quem comandou a Casa Civil, qual conselho daria para o ministro Rui Costa?
O grande problema do ministro Rui Costa é que ele
não conhece o Brasil, só conhece a Bahia. Isso quem me disse foram pessoas do
próprio governo, do partido dele, então, eu acho que ele deve procurar conhecer
mais o Brasil. Quem me disse isso, não vou dizer o nome para não ser
deselegante, foi uma das melhores cabeças do PT.
• Lula
fará um bom governo?
Eu não acredito que vai ser um bom governo. Não
estou torcendo contra o piloto se eu estou dentro do avião, mas não vejo como
um governo que só pensa em gastar, só pensa em aparelhar o estado dê certo.
Vamos ver, daqui a pouco, as nossas estatais dando prejuízo. É um presidente
que se reúne mais com o presidente da Argentina do que com 15 ministros do seu
governo. Eu queria ver em uma entrevista o Lula responder o nome de todos os
seus ministros.
• Como
o senhor avaliou o discurso do presidente Lula na abertura da Assembleia Geral
da ONU?
Foi um discurso completamente ultrapassado. O Lula
quer dar aula para o mundo e se esquece de fazer o dever de casa aqui no país.
Parece que Lula está sem tesão de governar o Brasil, passa o tempo todo só
viajando. Pelo amor de Deus, venha cuidar do Brasil.
• Não é
um movimento do presidente para resgatar as relações externas do país?
Não é, isso é uma fuga dos problemas Brasil. O que
que nós tivemos de vantagem com essas viagens do Lula? O que o Brasil ganhou
com isso, na vida do cidadão, das pessoas a quem ele prometeu picanha e
cerveja? Nada. Lula se preocupa com Cuba em vez de se preocupar com o Piauí. Se
preocupa mais com a Argentina, do que com a Bahia, onde ele teve uma vitória
fantástica. Pelo amor de Deus…
• Como
o senhor vê a política externa de Lula?
Lula é um presidente que não se achou. Primeiro,
chegou pensando "Vou ser o novo Nobel da paz", aí, aquela tragédia,
se escondendo do (presidente da Ucrânia, Vladimir) Zelensky. Voltou e pensou:
"Vou ser o líder da América Latina", mas fez aquela aberração de
receber com honras de chefe de Estado o (presidente da Venezuela, Nicolás)
Maduro. A própria esquerda como o presidente do Chile, (Gabriel) Boric, deu
aquela descompostura nele, além do presidente do Uruguai e outros. Depois, ele
pensou: "Agora, vou ser o presidente do meio ambiente", foi para a
Amazônia (na cúpula dos presidentes dos países amazônicos) e o Gustavo Petro
(presidente da Colômbia) deu outra descompostura nele. Os índices dele são um
horror no que diz respeito ao meio ambiente na comparação com o governo
anterior, não teve melhoria de nada.
• O
presidente colombiano criticou o Brasil pela intenção de extrair petróleo na
Amazônia, o senhor concorda com a exploração da Margem Equatorial?
Não vejo problema nenhum se for feito com todo o
cuidado. O que acontece hoje no país, com o setor indígena, é um crime que
fazem com essas pessoas.
• A
questão indígena não é um dos principais alvos das críticas ao governo
Bolsonaro, por não controlar o garimpo?
Querem botar tudo para debaixo do tapete. Tem visto
alguma matéria da Rede Globo, mostrando como está a vida dos Yanomamis agora? O
Fantástico foi lá alguma vez para ver o que melhorou na vida deles? Você viu
alguma matéria ultimamente? Mostrando como eles melhoraram? Não mudou nada,
continuam subnutridos, passando fome, as mesmas coisas. E ninguém está indo lá
para ver. O problema dos índios no país não é falta de terra. Esse é um erro
que está sendo cometido no Supremo com essa questão do marco temporal, não é
falta de terra, eles ocupam 14% do território e não são nem 1% da população. A
área da agricultura no país é 9%. Imagina o tamanho disso, a área deles é maior
do que a Inglaterra e a França juntas.
• Esse
conceito não é para manter a floresta em pé?
E os índios morrendo de fome? Não concordo com
isso. Eu acho que tem que ter respeito lá, nessas situações. Quem faz a maior
parte do garimpo são os próprios índios, e da forma errada. Nós tínhamos que
fiscalizar, fazer com que eles produzam. Veja como são os índios dos Estados
Unidos. Aqui, eles são miseráveis. Eles têm que explorar o turismo, com
situações que possam fazer com que eles melhorem de vida. Eles não são uma sub-raça
para que fiquem lá eternamente dentro das cavernas.
• O
senhor defende que os indígenas explorem o garimpo?
Se for feito da forma correta, não vejo problema
nenhum. Os índios exploram lá, só que da forma errada. Tudo é controlado por
bandido, aquilo lá (na na reserva indígena dos ianomâmis, em Roraima) é uma
terra sem lei.
• Bolsonaro
desmarcou a COP 25, que seria no Brasil, em 2019. Esse gesto não contribuiu
para desgastar a imagem do país?
Foi criada uma imagem errada do país fora, que
prejudicou muito o Brasil. Nas narrativas que foram colocadas do país, a imagem
que se tinha fora era Bolsonaro como um homem com uma motosserra para derrubar
a mata.
• Essa
imagem não foi alimentada pelo próprio presidente Bolsonaro?
Houve erros de condução de imagem, de algumas
colocações, não estou falando que não houve. Mas a imagem da narrativa que foi
criada fora do Brasil, principalmente por essas ONGs que são financiadas sabe
lá por quem, foi o que criou e agravou essa imagem.
• Bolsonaro
não disse que sempre levava uma bateia para garimpar?
(risos) Foi uma brincadeira dele, eu nunca vi ele
com uma peneira, não.
• Em
2017, o senhor disse que Lula era o melhor presidente que o país teve...
Eu não conhecia o Bolsonaro...
• Nessa
entrevista, o senhor também disse que Bolsonaro era um fascista…
Exatamente, eu só conhecia o deputado Bolsonaro, eu
não conhecia o presidente Bolsonaro. Antes de Bolsonaro, Lula tinha sido o
melhor presidente. Eu posso dizer hoje, eu conheço todos os presidentes. O
melhor presidente da nossa história, disparado, foi o presidente Bolsonaro, que
enfrentou uma pandemia, enfrentou guerra, enfrentou Brumadinho, geadas pelo
país afora e conseguiu que as pessoas não sofressem como estão sofrendo hoje.
• Então,
Lula foi o segundo melhor?
O primeiro mandato foi muito bom, mas Lula deu
muita sorte por conta da situação Internacional, com o preço das commodities.
Agora não está tendo essa sorte. Agora é que ele tinha que provar que é um
grande gestor, um grande presidente, como fez Bolsonaro, que provou, com um
cenário muito pior do que o que o Lula tem hoje. E nos saímos muito bem.
• Como
está a sua relação com o ex-presidente Bolsonaro?
A melhor possível, falo diariamente com ele. É o
meu grande líder, enquanto ele tiver atividade política, estarei ao lado dele.
• Como
está o ex-presidente, lidando com a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid?
Ele (Bolsonaro) tem muitos problemas de saúde. Me
disse (na semana passada) que adiou a outra cirurgia que ele iria fazer na
região da facada. Nenhum homem público na história desse país foi tão
perseguido numa narrativa que querem fazer sobre a imagem dele. Não vão
conseguir. Jamais vão transformar o presidente Bolsonaro em um bandido e o Lula
em santo nessa narrativa que querem fazer no país. Ele é um homem de muita
coragem, vai nos liderar nesse processo aí.
• E a
delação?
Olha, essa delação, da forma como estão fazendo,
perde muito da credibilidade. Você prende a pessoa e só solta se acusar outra.
É a mesma coisa que acontecia na Lava-Jato. Qual a diferença? A pessoa está
presa, vai ter que falar com alguém, vai falar qualquer coisa.
• E o
caso das joias recebidas pelo ex-presidente?
No caso das joias, existe a discussão se aquilo era
deles ou não.
• Bolsonaro
considera como dele as joias?
Vocês viram quanto o presidente Bolsonaro arrecadou
de PIX? Foram R$ 17 milhões. O que essas joias significam diante de um valor
desses? O problema do presidente Bolsonaro nunca foi financeiro. É um homem que
não tem nada na vida, um homem que não tem nem casa para morar. Falam em Rolex.
Bolsonaro vai usar um (relógio) Rolex? Ele usa o Cássio mais vagabundo que tem.
Outra coisa, não adianta vir com esse tipo de imagem que as pessoas nunca vão
achar Bolsonaro corrupto nem vão achar o Lula um santo. Não dá para montar essa
narrativa.
• E a
suposta conversa entre Bolsonaro e militares sobre um golpe?
Eu li uma matéria em um jornal. Eu nunca participei
dessa conversa, então, não sei. Eu não participei e acho que o presidente
Bolsonaro jamais quis dar um golpe.
• Em
algum momento, Bolsonaro falou para o senhor em reverter o resultado das
eleições?
Nunca falou sobre isso. A única vez que eu tive uma
conversa - que não tratava disso - foi quando teve a greve dos caminhoneiros
(um movimento de bloqueio nas estradas logo após a confirmação da vitória de
Lula), e eu fiquei muito preocupado com o país, que estava parando. Aí, eu fiz
um apelo a ele, que ele tinha que começar a transição e pedir aos caminhoneiros
que voltassem ao trabalho. Ele me atendeu no meu apelo. E começou a transição
porque eu disse: "Olha presidente, Congonhas está parando, Guarulhos está
parando". Aí, ele disse "Mas eu não estou mandando fazer (o
bloqueio)". Mas eu disse "Se o senhor não pedir (o fim da
paralisação), as pessoas vão morrer por falta de oxigênio, vai faltar oxigênio
nos hospitais". Ele resolveu fazer o vídeo (pedindo aos manifestantes que
suspendessem as barreiras nas estradas) quando pensou nessa possibilidade de as
pessoas morrerem.
• Por
que Bolsonaro não passou a faixa presidencial para Lula?
Você acha que se Lula, hoje, perder uma eleição
para Bolsonaro, ele vai passar a faixa? Hoje, temos um processo político
irracionalmente dividido. Você imaginaria que o Lula viria para um governo que,
em vez de tentar unificar o país, está dividindo ainda mais o Brasil? Eu vi uma
pesquisa que o partido contratou. Tudo está no mesmo estado da eleição. Se
Bolsonaro tivesse ganho, ou com o Lula, o que tinha é que unificar o país. Lula
ganhou e só faz dividir mais o Brasil.
• Um
não se alimenta do outro?
Está tudo errado, eu não quero isso. Acho que o
presidente que ganhou a eleição tinha que ter unificado o país, virar essa
página. Nós saímos de uma eleição em que as pessoas se dividiram, as famílias
se dividiram, os amigos, os grupos, foi um negócio de brigas e gente se
matando. Eu esperava que o Lula fosse um Mandela, que unificou a África do Sul.
Lula veio para dividir, parece um Lula raivoso que quer se vingar.
• Bolsonaro
é a imagem da extrema direita?
Bolsonaro é o homem mais forte, em qualquer
pesquisa de opinião ele está cabeça a cabeça com o Lula. Só ele lidera esse
processo, eu não tenho condições de liderar, (a ex-ministra) Tereza Cristina
não tem, Tarcísio não tem. Nós só temos viabilidade eleitoral com ele. A
população só segue ele. Hoje, o único homem público que junta multidão - e essa
pode ser uma das frustrações do Lula, que não juntou mais multidão -, só
Bolsonaro. Veja o que aconteceu no 7 de Setembro, o vexame que foi. Lula hoje
só vai ao Nordeste, ou visita índio em Roraima. Qualquer agenda fora do Nordeste
tem que ser em ambiente fechado ou de madrugada, como no enterro do Pelé. Mesmo
assim, ainda foi bastante vaiado. Você já viu o Lula no meio da multidão?
• Como
fica o bolsonarismo sem Bolsonaro elegível?
Ele é o grande líder. Eu acho que nós vamos para a
(próxima) eleição presidencial, se nós tivermos o apoio dele, como o Tarcísio
de Freitas. A vantagem é que ele não tem a rejeição que Bolsonaro tem. O maior
eleitorado do país é o anti-Bolsonaro e o anti-PT. Então, se a pessoa sair um
pouquinho e não pegar a rejeição, ganha a eleição.
• Mas o
governador Tarcísio tem o direito de concorrer à reeleição ao governo de São
Paulo. Ele se arriscaria em uma disputa presidencial?
O grande erro dos governadores de São Paulo -
vários foram candidatos a presidente que perderam, Dória, Alckmin, Serra - ,
foi, no dia que ganharam a eleição de governador, se lançarem como candidato a
presidente, esquecendo a população de São Paulo, que se sentia enganada, usada
como um trampolim eleitoral. Tarcísio está fazendo certo, é um craque, vai
seguir dizendo que é candidato à reeleição até o final, vai ser o melhor
governador da história de São Paulo. Lá na frente, o Brasil inteiro vai apelar
para que ele venha, daí, ele vem.
• Tarcísio
é a nova cara da direita?
Tarcísio está tendo uma oportunidade de ouro em São
Paulo em mostrar o seu valor. Eu estou completamente impressionado,
positivamente, com os índices de aprovação, principalmente no interior que na
capital, onde ele está mais forte do que o próprio Bolsonaro. Tem a Tereza
Cristina, tem o (governador do Paraná) Ratinho Junior, o (governador de Minas
Gerais) Romeu Zema, mas ele é o mais forte.
• Mas o
PP não lançou (na semana passada) Tereza Cristina como candidata?
Ela é o nosso nome para a Presidência da República.
Ela vai começar a percorrer o país, vai colocar o seu nome e, quem sabe, não
está na hora de ter uma mulher presidente do Brasil, uma mulher muito
competente? O Zema, sou muito grato a ele, o que ele fez pela nossa campanha no
segundo turno da eleição de 2022, nos apoiou, têm demonstrado que vai estar ao
nosso lado. Eu acho que nós não vamos fugir de Tarcísio, Zema, Teresa, e
Ratinho. Eu tenho certeza de que, se estiverem Progressistas, Republicanos e
mais os que não estiveram ao nosso lado nas eleições, o ACM Neto, Caiado,
Eduardo Leite, Ratinho e os governadores dos nossos campos, a eleição é muito
viável. Nós já vamos ter na próxima eleição uma vitória avassaladora nas
eleições municipais. O PT não vai fazer um prefeito de grandes cidades no
Brasil, nenhuma capital, nem no Nordeste. Não tem um nome do PT liderando
pesquisa nas capitais.
• E o
Guilherme Boulos, em São Paulo?
Não é do PT, mas vai perder. (O prefeito da
capital) Ricardo Nunes (MDB) está só 8 pontos atrás dele. O Ricardo vai chegar
na frente já no primeiro turno, eu falei que o PT não elege nenhum prefeito de
grande cidade ou capital no Brasil. Depois você me conta.
• O
prefeito Nunes não adota uma postura de distanciamento de Bolsonaro?
Ele não é um bolsonarista, é um homem de centro, o
nome perfeito para ganhar a eleição. Bolsonaro perdeu eleição na capital e vai
colar com Tarcísio. Eu sempre defendi para o presidente Bolsonaro que não dá
para ter um candidato da direita lá, tem que ser um candidato de centro, com o
apoio da direita. Aí, a gente ganha eleição, isso é ser pragmático, não dá para
ter um Boulos como prefeito da maior cidade do país.
• Por
quê?
Vai ser ruim até para o próprio governo, vai passar
a imagem de que a população aprova o radicalismo. É botar um homem com atraso,
a visão do Boulos já está completamente ultrapassada no mundo.
• Que
cenário esperar?
Um cenário de frustração. Hoje, o Brasil tem três
grandes problemas que estão estourando. Primeiro é a conta das prefeituras
municipais, está um caos. Segurança no Brasil virou um problema com aquele
discurso dele de "tadinho do menino que rouba um celular". Como se
você pudesse passar a mão na cabeça das pessoas que cometem algum crime. O
Brasil virou um país sitiado pelas facções criminosas. Hoje, em qualquer
cidadezinha do Piauí, tem pessoas do comando vermelho, terceiro comando, ou sei
lá o nome. Outro problema é a frustração das pessoas com o governo, porque ele
prometeu demais. Prometeu e não está cumprindo. Prometeu picanha, prometeu que
as pessoas iam tomar cerveja no final de semana, que ia melhorar a vida. Veja
se já chegou a picanha no Nordeste.
• E se
Bolsonaro for preso?
Aí, vira mártir e dobra o tamanho dele.
Fonte: Correio Braziliense
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