Como seria mundo de altas temperaturas? Educação e nutrição em baixa,
preços e crime em alta, alerta NOAA
Os efeitos da crise climática são
sentidos a todo instante. Acompanhando as notícias apenas das últimas semanas é
possível listar enchentes mortais, como ocorreram no Sul do Brasil e também na
Líbia, ou ainda ondas de calor que
ameaçam a saúde pública e levantam preocupações sobre populações vulneráveis e
serviços públicos.
A NOAA (National Oceanic and Atmospheric
Administration), órgão do governo americano que monitora oceanos e o clima,
reuniu consequências não tão óbvias das ondas de calor, um fenômeno que, apesar
dos esforços de descarbonização das indústrias e preservação do verde, deve se intensificar nos próximos anos.
Implicações de uma rotina de altas temperaturas
devem ter efeitos no mundo do trabalho, na vida escolar, na logística do campo
e nas compras no mercado da esquina, entre outros fatores do dia a dia. Veja a
seguir cinco tópicos listados pela agência que servem como alerta para novas
situações que se colocam no futuro próximo.
·
Pressão nas linhas de
transmissão de energia
A necessidade de energia para alimentar sistemas de
refrigeração, que vão desde aparelhos de ar condicionado à refrigeração de
servidores de computador, depósitos do comércio de alimentos, laboratórios e
hospitais, já vem mostrando um ponto crítico durante ondas de calor, como observado nos Estados Unidos e na Ásia. “Eventos extremos de calor sobrecarregam a rede
elétrica e aumentam a chance de falha. A frequência destes apagões tem
aumentado todos os anos, expondo pessoas aos perigos da exposição ao calor.
Embora os pobres, as crianças e os idosos corram os maiores riscos, ninguém
está completamente seguro sem a capacidade de manter a refrigeração”, aponta a
NOAA.
·
Trigo mais ‘fraco’ e
problemas de armazenamento de comida
Embora faça sentido que as colheitas possam sofrer
durante eventos de calor extremo, a realidade do impacto do calor extremo sobre
sistemas de produção alimentar é muito mais complexa, alerta a agência
americana. Culturas como o trigo podem ter o crescimento prejudicado, reduzindo
colheitas e também o valor nutritivo do cereal que vencer as altas
temperaturas.
Fenômenos de calor também afetam também a pecuária,
causando reduções na fertilidade dos animais, menor resiliência às doenças e na
produção de bens como ovos e leite. A temperatura alta diminui ‘drasticamente’
a eficiência de como armazenamos e transportamos os alimentos, aponta a NOAA.
Todas essas consequências combinadas resultam em aumentos de preços repassados
ao consumidor, efeito já sentido mundialmente, pressionado também pela invasão russa à Ucrânia.
·
Educação prejudicada
afeta rotina das famílias
Acompanhamento da NOAA nos Estados Unidos mostra
que até 41% das escolas americanas podem não ter sistemas adequados de
refrigeração ou ventilação, o que já causou cancelamentos no último verão do
Hemisfério Norte, considerado o mais quente da história. As demissões antecipadas ou cancelamentos de aulas devido ao calor
colocam mais pressão sobre a frequência e a produtividade de pais em seus
trabalhos, e cria pressão também pela necessidade de mais creches. ‘Estas
condições expõem as crianças a riscos de saúde relacionados com o calor, bem
como a resultados mais baixos em testes’, afirma a agência.
·
Segurança dos
trabalhadores
À medida que os eventos de calor extremo se tornam
mais comuns, duram mais e são mais intensos, trabalhadores correm um risco
maior de lesões relacionadas com a alta temperatura. Estas lesões, bem como a
simples pausa do trabalho por motivos de segurança, não só conduzem a perdas de
produtividade, mas também ao aumento dos custos transferidos para o consumidor,
aponta a NOAA, citando estudo que
projeta perdas mundiais de US$ 311 bilhões (R$ 1,5 trilhão) por ano nos
serviços devido à exposição ao calor.
·
Crime
‘Embora autoridades saibam há décadas que os dias
quentes registam um aumento da criminalidade, a nova realidade sob a crise
climática é que um mundo mais quente poderia ser mais violento’, alerta a
agência americana. Bairros mais pobres devem ser mais afetados tanto pelo calor
quanto pela criminalidade, devido à falta de segurança e estrutura urbanística,
como praças e lagos, além do poder aquisitivo baixo e a menor presença de
eletrodomésticos como freezers e ar condicionado.
‘Tomados em conjunto, estes efeitos dominó de
consequências representam novas realidades para a pessoa que vive num mundo em
aquecimento. À medida que começamos a traçar mais ligações entre estas
consequências, descobrimos que a possibilidade de viver num mundo menos
consistente e menos previsível é muito mais real’, finaliza a NOAA.
Ø Mundo mantém reservas de água, mas estresse hídrico avança, afirma
Banco Mundial
Chegar à beira de um riacho e beber água limpa é
talvez um dos grandes luxos do planeta. Águas superficiais, como a de rios e
cachoeiras, compõem apenas 0,3% de toda a água potável disponível na Terra.
Para acessar o restante das reservas disponíveis, é preciso trabalho duro.
Em uma revisão sobre o andamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) em 2023, metas definidas no Pacto Global da ONU para a evolução das nações até 2030, o Banco Mundial destaca
o mapa de estresse hídrico no mundo, e faz alguns alertas ao analisar o ODS 6, que diz respeito à água potável e
saneamento.
Apesar de, em médio, o mundo ainda operar em
relativo conforto hídrico, o aumento do consumo nos últimos 60 anos revela uma
tendência que merece acompanhamento cuidadoso, afirma a instituição. Isso
porque a população do mundo não está diminuindo e os efeitos da crise climática tendem
a prejudicar o ciclo das águas.
Usando uma escala de 0 a 100%, onde até 25% o
impacto é insignificante, e 100% ou acima disso é considerado crítico, o
planeta hoje está em confortáveis 18%. Porém, como o Banco Mundial alerta, este
número mascara realidades preocupantes. Da década de 1960 até 2020, 67% dos
países do mundo tiveram aumento de consumo de água.
No caso do Brasil, o volume de água disponível por
habitante encolheu mais que a metade neste período, de 106 metros cúbicos para
40 metros cúbicos nos dias atuais. Isso não significa uma diminuição da água
disponível, mas que o país, hoje mais populoso, desenvolvido e com maior área
de agricultura, usa muito mais água.
O Brasil não sofre o que se pode classificar de
estresse hídrico, com índice geral de 1%. A região com pior índice é o
Nordeste, onde o nível de estresse fica entre 25% e 50%, considerado baixo.
Na América do Sul, à primeira vista não há estresse
hídrico. Contudo há bacias hidrográficas altamente pressionadas pelo consumo,
como ocorre no Norte do Chile, região desértica com intensa atividade
mineradora e de agricultura. A situação é similar no nordeste argentino, alerta
o estudo.
Olhando o mapa mundial de estresse hídrico, as
zonas críticas, onde há mais consumo do que água renovável disponível, o que
provoca interferência humana nos aquíferos, estão no Norte da África e Oriente
Médio, segundo o Banco Mundial.
A enorme maioria (97,5 %) da água da Terra é
salgada. Apenas 2,5 % da água disponível no planeta é doce, porém 69% deste
recurso está preso em geleiras. A água subterrânea dos aquíferos constitui a maior
parte restante do precioso líquido e esta é a principal fonte de abastecimento
em muitos países, muitas vezes demandando perfuração.
Segundo as Nações Unidas, uma pessoa precisa de 50
a 100 litros de água por dia para atender às necessidades básicas de consumo,
cozinha e higiene, a Organização de Alimentos e Agricultura (FAO), agência da
ONU dedicada à alimentação, estima que “entre 2 mil e 5 mil litros de água são
necessários para produzir as necessidades diárias de comida para uma pessoa.
Fonte: Um só Planeta
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