quarta-feira, 27 de setembro de 2023

'Blindagem' a Bolsonaro e implosão da Lava Jato marcaram PGR sob o comando de Augusto Aras

O segundo mandato do procurador-geral da República, Augusto Aras, se encerrou nesta terça-feira, 26, sem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha escolhido um novo nome para o principal posto no Ministério Público.

Desde que Lula assumiu a Presidência, Aras trabalhou pela recondução ao cargo, embora não seja algo comum o mesmo PGR passar três gestões na cadeira - não há na Constituição uma limitação de mandatos. Isso porque é o presidente da República que tem o poder de escolher quem será o PGR.

Para o mandato de dois anos, os únicos requisitos previstos na lei são que o candidato seja membro do Ministério Público Federal (MPF) e tenha pelo menos 35 anos. Aras chegou a ser elogiado por Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado. O parlamentar disse que o procurador prestou um "serviço importante para o Brasil".

Na semana passada, na sua última sessão no Supremo Tribunal Federal (STF), o PGR fez um desagravo a si mesmo dizendo que foi alvo de "incompreensões e falsas narrativas" quando acusado de alinhamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Paralelo a isso, no canal do YouTube do MPF, Aras tem publicado uma série de vídeos intitulada "Principais resultados da gestão de Augusto Aras à frente do MPF", nos quais, em alguns minutos, mostra seus próprios feitos no cargo.

Lula ainda não revelou qual será a sua escolha. Os subprocuradores Paulo Gustavo Gonet Branco e Antonio Carlos Bigonha são os favoritos até o momento. Gonet atua em casos eleitorais e representou o MPF no julgamento que tornou Bolsonaro inelegível. Ele disse que o ex-presidente agiu para "degradar ardilosamente" a democracia. Já Bigonha é o escolhido da cúpula do PT e tem amizade com José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, e com José Genoíno, ex-presidente da legenda.

•        Lista tríplice começou em Lula I e pode terminar em Lula III

Desde 2001, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) elabora uma lista tríplice com sugestões de nomes para a escolha do presidente. A listagem foi aceita pela primeira vez em 2003, por Lula, em seu primeiro mandato, quando ele escolheu Cláudio Lemos Fonteles como procurador-geral da República.

A primeira vez que a lista foi rejeitada foi em 2019, quando Bolsonaro escolheu Augusto Aras, um nome de fora das indicações. Dois anos mais tarde, em setembro de 2021, o PGR foi reconduzido ao cargo.

Os subprocuradores Luiza Frischeisen, Mario Bonsaglia e José Adonis Callou de Araújo Sá são os três indicados pela ANPR. Em entrevistas, Lula já disse que não deverá seguir a lista tríplice deste ano. Frischeisen já havia sido indicada quando Bolsonaro decidiu reconduzir Aras.

•        Relação próxima de Jair Bolsonaro

O que mais pesou contra uma recondução de Augusto Aras ao cargo de procurador-geral da República foi o apoio prestado a Bolsonaro durante seu mandato na Presidência. Esse é o principal ponto de divergência entre petistas a respeito do nome do procurador.

Durante a sua gestão, Aras agiu para suspender e arquivar várias investigações que colocaram Bolsonaro em xeque. Uma das principais é o inquérito das fake news. Depois de pedir, em outubro de 2019, o prosseguimento das investigações, meses mais tarde, em maio de 2020, logo depois da uma operação que apreendeu celulares de investigados, o PGR mudou de ideia. Ele pediu ao ministro Edson Fachin que o inquérito fosse suspenso, "para garantir a segurança jurídica" dos atos praticados.

Outro caso emblemático foi um parecer que Aras elaborou em abril de 2020, nas primeiras semanas da pandemia, defendendo que Bolsonaro pudesse decidir sobre as medidas de isolamento social. O gesto confrontava o entendimento de Luís Roberto Barroso, de que o País deveria seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde.

•        Operação Lava Jato

Um dos pontos que favorecia uma recondução de Aras ao cargo foi o fim da operação Lava Jato. Como autoridade máxima do MPF, o procurador usou a sua atribuição de decidir sobre a organização das forças-tarefas e extinguiu a de Curitiba. Os processos em trâmite e as investigações permaneceram na mesma jurisdição - a 13ª Vara Federal -, mas foram integradas ao Curitiba ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

A atuação de Lindôra foi decisiva para o sepultamento da força-tarefa. Ela visitou os gabinetes de Curitiba e exigiu acesso a documentos importantes da operação, abrindo uma crise interna. Procuradores levaram o episódio a Brasília, mas não tiveram êxito em afastar os olhares da vice-procuradora-geral.

Resta saber se todos eles terão a disposição que o procurador-geral demonstrou nesses 4 anos, para enfrentar e desestruturar as bases do lavajatismo enquanto recebia ao revés uma chuva de projéteis traçantes iluminados por um jornalismo alimentado pelo denuncismo atroz e acrítico — Augusto Aras (@AugustoAras) July 9, 2023

Com o fim da operação, os profissionais que nela atuavam com exclusividade retornaram às suas antigas atribuições e tanto os processos quanto os inquéritos foram para a "vala comum" da Justiça Federal. Nas redes sociais, mais de uma vez, Aras relembrou o feito como um gesto positivo da sua gestão, atribuindo a si o mérito de ter solapado o "lavajatismo".

Um exemplo dessas situações foi em julho. Ao compartilhar uma notícia sobre a sucessão na PGR, Aras escreveu sobre os outros candidatos: "Resta saber se todos eles (candidatos à PGR) terão a disposição que o procurador-geral demonstrou nesses 4 anos, para enfrentar e desestruturar as bases do lavajatismo".

<><> Augusto Aras diz adeus à PGR

O mandato de Augusto Aras à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR) encerrou nesta terça-feira, 26, depois de quatro anos marcados por polêmicas.

Indicado fora da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) por Jair Bolsonaro (PL), Aras tem sido alvo de críticas da oposição ao ex-presidente por supostamente protegê-lo ao não dar andamento a denúncias como as investigações da CPI da Covid ou indícios de corrupção na saúde e educação durante o governo anterior.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não indicou um sucessor para o principal cargo do Ministério Público. Seja qual for o nome, ele será o responsável por pedir a abertura de investigações contra o próprio Lula, como Aras foi para Bolsonaro.

Entre especulações sobre a recondução de Aras ao posto e dúvidas se Lula seguirá a lista tríplice da Associação dos Procuradores, o cargo deverá ser ocupado interinamente pela subprocuradora-geral Elizeta Maria de Paiva Ramos a partir da quarta-feira, 27.

•        Quem deve ocupar a cadeira de Aras na PGR?

As especulações sobre quem será o novo procurador-geral da República começam pela lista tríplice apresentada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Tradicionalmente, a organização elege três procuradores do Ministério Público Federal e, entre eles, o presidente escolhe quem deve ocupar a cadeira para um mandato de dois anos.

O órgão anunciou, ainda no final de junho, que o pleito interno teve como eleitos os subprocuradores-gerais da República Luiza Frischeisen (647 votos), Mario Bonsaglia (636) e Nicolao Dino (587).

Seguir a indicação do MPF é uma prática tradicional, esperada do presidente da República, mas não é uma obrigação, como mostrado pelo ex-presidente Bolsonaro, que inaugurou a prática de ignorar a lista em 2019, ao indicar Aras para substituir a procuradora Raquel Dodge. Fez o mesmo em 2021, ao reconduzir o PGR para o cargo.

Tanto Luiza Frischeisen quanto Mario Bonsaglia já ocuparam o primeiro lugar de listas tríplices encaminhadas à Presidência da República durante o mandato de Bolsonaro.

Luiza foi a primeira escolha da classe em eleição realizada em 2021. Bonsaglia, em 2019. Em ambos os anos, o então presidente ignorou a indicação e colocou Aras na PGR.

Há indicativos de que Lula também não seguirá a lista tríplice. Em março deste ano, o presidente disse em uma entrevista que a escolha será pessoal. Já em julho, o líder do PT no Senado, Jaques Wagner (BA), afirmou que "não tem lista para a PGR, a decisão é do presidente Lula".

Wagner também elogiou Aras, sinalizando que há possibilidade de recondução ao cargo. "Prestou importante serviço ao Brasil", disse o senador.

A ideia é criticada por aliados de Lula e por membros do governo. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que uma possível recondução do PGR seria um "desastre".

Como mostrou a Coluna do Estadão, há um quarto nome, fora da lista tríplice, que disputa o cargo. É o subprocurador Carlos Frederico Santos, responsável pelo oferecimento das denúncias criminais contra os manifestantes do 8 de Janeiro, quando as sedes dos Três Poderes em Brasília foram atacadas.

Outro nome especulado para o cargo é o do procurador Antonio Carlos Bigonha, pianista e compositor que já teve canções gravadas por Nana Caymmi. Como mostrado pelo Estadão, ele aparece como um favorito da cúpula do PT para ocupar cadeira de Aras e é e amigo de José Genoino e José Dirceu.

•        Suposto alinhamento ao governo Bolsonaro

Durante seu período à frente da PGR, Aras sofreu duras críticas dos opositores de Bolsonaro sobre um suposto favorecimento ao então presidente. Ao indicar o procurador, Bolsonaro chegou a dizer que ele seria a "rainha" no xadrez de seu governo. Na prática: a peça mais poderosa na defesa do "rei".

A Procuradoria-Geral da República é, pela lei, a única entidade com o poder de oferecer denúncias contra um presidente e, sob comando de Aras, o órgão chegou a arquivar mais de 100 pedidos de investigação contra Bolsonaro.

Entre eles, estavam os pedidos originados na CPI da Covid, que investigou a conduta de Bolsonaro durante a crise da pandemia. Aras também realizou apenas "procedimentos preliminares" em casos em que havia indícios de corrupção na saúde e educação, por exemplo.

Mesmo em seu próprio ambiente, o chefe do Ministério Público Federal enfrentou contestações. Procuradores da cúpula da instituição o questionaram frequentemente sobre seus métodos na condução da PGR em tempos beligerantes.

Depois da posse de Lula, Aras fez acenos ao governo atual, enfatizando seu trabalho para "enfrentar e desestruturar as bases do lavajatismo", responsável pela prisão do presidente, além de reforçar que a PGR foi ativa, ainda que "estrategicamente discreta", na proteção da democracia.

Aras responde às críticas afirmando que a PGR não é um órgão político e que foi incompreendido: 'Nossa missão não é caminhar pela direita ou pela esquerda".

"Os desafios, avolumados com o advento da pandemia, foram adicionalmente cercados por incompreensões e falsas narrativas, dissonantes com o trabalho realizado", afirmou, em artigo publicado no Estadão na edição de sábado, 23.

"Parte das incompreensões deve-se à equivocada expectativa de o Ministério Público protagonizar ou mesmo apoiar projetos partidários", acrescentou o PGR, em sua última semana no cargo.

Em seu artigo, Aras também destacou o que avalia importante em sua gestão à frente da Procuradoria. 'Substituímos o modelo precário de forças-tarefa por 27 Gaecos federais, os quais atualmente vêm conduzindo mais de 200 investigações complexas.

Firmamos 37 acordos de colaboração premiada, negociamos o pagamento de mais de R$ 5 bilhões em multas, abrimos dezenas de novas investigações, denunciamos responsáveis por crimes diversos: corrupção, tentativa de abolição do Estado Democrático, organização criminosa', relatou.

Indicou ainda ações no período da pandemia de Covid 19, narrando que 'uma experiência inédita de coordenação nacional e conexão intra e interinstitucional salvou milhares de vidas, inclusive com a destinação de mais de R$ 4 bilhões. Evitamos a judicialização de milhares de casos, sem descuidar do combate aos desvios de recursos públicos. Tivemos um papel destacado nos momentos mais críticos da pandemia, como a falta de oxigênio em Manaus'.

Aras apontou também 'um olhar firme na defesa da dignidade da pessoa humana, especialmente das mulheres, gestantes e lactantes'. A PGR instituiu a Ouvidoria Nacional da Mulher e lançou o Movimento Nacional em Defesa das Vítimas.

'Fomos os promotores de uma campanha de combate ao discurso de ódio da mesma forma que combatemos abusos e defendemos o Estado Democrático de Direito', afirma ainda o procurador.

 

       Aras deixa a PGR com apenas 19 processos judiciais

 

O procurador-geral da República, Augusto Aras, encerra, nesta terça-feira (26), seu mandato na Procuradoria-Geral da República (PGR), deixando os acervos das assessorias sob sua condução tecnicamente zerados.

Segundo o relatório do biênio, Aras deixa a procuradoria com apenas 19 processos judiciais nas assessorias a ele subordinadas. Elas são responsáveis pelos processos de controle concentrado, precedentes qualificados, trabalhistas e demais processos de competência do Plenário do STF, com exceção dos processos criminais.

Para Aras, concluir a gestão com recordes de acervo reduzido em todas as frentes de atuação é motivo de comemoração e resume a sensação de dever cumprido. “Trabalhamos diuturnamente para cumprir o dever constitucional do Ministério Público de servir e bem servir ao público, ao povo e a todos os brasileiros”, resume. A redução de acervo foi possível mesmo com um aumento também recorde de ajuizamento de novas ações. Havia um número expressivo de representações de inconstitucionalidade aguardando análise do PGR (820 no início da gestão), o que resultou em 475 novos ajuizamentos. Hoje há apenas 27 representações para exame.

A atuação criminal, nos dois biênios de Augusto Aras, foi delegada ao vice-procurador geral da República, posto ocupado por Bonifácio Andrada, Humberto Jacques e Lindôra Araújo. Nessa frente, o acervo recebido foi de 432 processos, sendo agora de 291.

O esforço para manter o trabalho em dia foi uma das diretrizes de Aras desde o início da gestão, em 26 de setembro de 2019. A redução de acervo foi possível graças a implantação de nova metodologia de trabalho no Gabinete do procurador-geral. As assessorias temáticas e estruturas de apoio ao gabinete antes existentes foram remodeladas e fortalecidas, passando a contar com equipes especializadas em cada uma das temáticas.

Além do reforço nas equipes, foi implantada uma metodologia inovadora para controlar toda a atuação em processos judiciais. Despachos semanais do PGR com cada uma das assessorias temáticas sob sua coordenação direta, além do mapeamento e compartilhamento diário dos casos já despachados com o procurador-geral da República entre unidades, permitiram debelar o acervo e manter a uniformidade e coerência entre pareceres, petições iniciais e recursos. Esse trabalho teve como resultado a edição de um ementário geral de pareceres, recursos e petições iniciais, objeto da publicação Ementário Jurídico. A publicação reúne mais de quatro mil posicionamentos defendidos perante o Supremo Tribunal Federal, boa parte deles acolhidos pela Corte.

Os processos de competência das duas turmas do STF foram delegados a seis subprocuradores-gerais, que são hoje os subprocuradores-Gerais da República Wagner Natal Batista, Claudia Sampaio Marques, Maria Caetana Cintra Santos, Alcides Martins, Juliano Baiocchi e Luiz Augusto Santos Lima. Esses procuradores têm hoje reunidos um acervo total de 140 processos aguardando manifestação. Eram 566 em 2019.

Uma das inovações nos processos de competência das Turmas do STF foi a estruturação da Assessoria Jurídica Trabalhista, que conta com procuradores de carreira do MPT. Diretamente subordinada a Aras, passou pela assessoria todos os processos afetos à matéria trabalhista, tanto de competência do Plenário quanto das turmas. A assessoria zerou o acervo.

Outra assessoria que conseguiu zerar o acervo foi a Assessoria de Gestão de Precedentes Qualificados, outra estrutura criada por Aras para dar um tratamento especializado sobretudo aos recursos extraordinários com repercussão geral. Quando criada, a assessoria reuniu cerca de 33 processos pendentes de exame, na maioria de alta complexidade.

Pelo Gabinete do PGR passam ainda os processos do Superior Tribunal de Justiça de competência da Corte Superior e da Presidência, sobretudo processos criminais, sentenças estrangeiras e cartas rogatórias, que foram delegados ao Subprocurador-Geral da República Carlos Frederico Santos.

O aprimoramento das ferramentas de extração de dados dos sistemas também tiveram um grande avanço, resultando na página MPF em números. Especificamente quanto ao Gabinete do PGR, a linha histórica de acervo mês a mês dos processos do Supremo Tribunal Federal em tramitação na PGR, considerados os dados registrados desde 2014, revelam redução de acervo em todas as frentes.

 

Fonte: Agencia Estado/Jornal de Brasilia

 

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