sábado, 23 de setembro de 2023

Almirante pôs tanques na rua com objetivo de dar golpe

Uma fotografia, a primeira, publicada em 14 de junho de 2021, mostrava o espírito do mais novo oficial tuiteiro do governo de Jair Bolsonaro. “As Forças Armadas são uma grande família a serviço da Pátria e assim vão permanecer até o fim dos tempos; sempre estarão unidas sob a direção do ministro da Defesa. Que ninguém se engane!” A imagem estava na então recém-aberta conta do Twitter do almirante Almir Garnier dos Santos, nomeado dois meses antes para comandar a Marinha.

Na foto, além do próprio marinheiro, estavam o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, futuro candidato à vice-presidência na chapa de Jair Bolsonaro (PL), o então comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior. Os quatro formaram a cúpula militar depois da crise que levou o presidente à demissão dos chefes anteriores, em março de 2021. Todos iriam desempenhar papéis importantes em outra crise: a que se seguiu à derrota do chefe nas eleições de 2022.

Braga Netto buscava manter o ânimo dos militantes bolsonaristas após a derrota. Paulo Sérgio, promovido a ministro da Defesa, pilotava a tarefa de “fiscalizar as urnas eletrônicas”, enquanto Baptista Júnior tivera a ideia de entregar o cargo ao seu sucesso antes da posse do presidente eleito – acabou sendo demovido da ideia. E Garnier? Qual o papel ocupado pelo comandante da Marinha? A delação do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid aponta que ao almirante coube o papel de garantir a prontidão de suas tropas para um golpe.

Mas quem era o almirante Garnier, o homem que, segundo o chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro se dispunha a enfiar a Força naval naquilo que o atual comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, classificou como “uma aventura maluca”? Com que tropas, questionou o comandante da Força Terrestre, o almirante esperava contar para a intentona bolsonarista?

Tomás já criticava Garnier muito antes de a delação de Cid se tornar conhecida. O general nunca perdeu de vista o episódio que ele qualificava como “ridículo”: o desfile de carros de combate SK-105 Kürassier e dos CLAnf (Carro Lagarta Anfíbio) AAV-7A1 do Corpo de Fuzileiros Navais pela Esplanada dos Ministérios no dia 10 de agosto de 2021, quando a Câmara dos Deputados ia votar a proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Voto Impresso, que acabou derrotada.

Proposto a Bolsonaro pelo almirante, o desfile foi, segundo os líderes da então oposição, um dos principais episódios de ameaças às instituições registradas no governo anterior. “Foi só uma coincidência de datas”, afirmou então Garnier. “Uma infeliz coincidência”, afirmou então o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O almirante dizia orgulhar-se de ter entrado na Marinha aos dez anos, em 1971 e, após mais de 900 dias passados no mar em fragatas como a Independência e União, ter sido responsável por projetos na área de tecnologia de informação e comunicações na Força Naval. Guarda Marinha da turma de 1981, Garnier passou ainda em sua carreira pela comissão naval em Washington e, durante quatro anos, assessorou quatro ministros da Defesa: Celso Amorim, Jaques Wagner, Aldo Rebelo – durante gestões petistas – e Raul Jungmann, no governo de Michel Temer (MDB).

Logo no começo do governo de Bolsonaro, em 2019, Garnier foi nomeado secretário-geral do Ministério da Defesa. Logo sua mulher e seu filho também ganhariam cargos no governo – ela na secretaria-geral da Presidência e ele no Empegron, a empresa estatal da Marinha. Com a queda do almirante Ilques Barbosa, em 2021, Garnier assumiu a Força Naval. Foi o momento em que Bolsonaro preencheu os cargos da cúpula militar com oficiais de sua confiança.

Depois de proporcionar ao país o desfile de carros de combate em Brasília, o almirante voltou à carga contra as urnas eletrônicas em maio do ano seguinte, durante uma entrevista ao jornal O Povo. “Como comandante da Marinha, eu quero que os brasileiros tenham certeza de que o voto deles vai valer.” O militar continuou com seu raciocínio, defendendo mais transparência e auditoria do voto. “Não é só o presidente que critica.” E alertou: “O presidente da República é meu chefe; é o meu comandante. Ele tem o direito de dizer o que quiser”.

O homem estava já acostumado ao uso das redes sociais. Tinha então 198 mil seguidores e quase 300 publicações. No dia seguinte ao segundo turno da eleição, escreveu aos seus seguidores: “Parafraseando o grande almirante Barroso, digo-lhes: ‘Não parem de lutar’.” O almirante parecia entrar no labirinto do questionamento do resultado das urnas enquanto o chefe se mantinha em silêncio no Palácio do Planalto.

As frentes dos quartéis se encheram de manifestantes enquanto, segundo o coronel Cid, minutas com decreto para se dar um golpe de estado eram apresentadas ao presidente Bolsonaro. Foi quando o tema teria sido tratado pelo presidente com o almirante. O golpe não houve. E, no dia 30 de dezembro, Garnier publicou em sua conta do Twitter uma mensagem para o almirante Marcos Sampaio Olsen, que assumiria a Força no governo Lula, desejando ao colega “bons ventos e boas águas”.

O desejo ficou restrito à rede social. No dia 5 de janeiro, quando devia passar o comando a Olsen, o almirante resolveu novamente inovar para o escândalo dos colegas. Garnier se tornou o primeiro comandante da Marinha da Nova República a não comparecer à cerimônia de passagem de comando para seu sucessor. Queria demonstrar – três dias antes da intentona do dia 8 de janeiro – que não prestaria continência ao governo de Lula.

Após os eventos do dia 8, o clima azedou de vez na Marinha. Dois ex-comandantes da Força – Ilques Barbosa e Eduardo Leal Ferreira – deixaram os grupos de WhatsApp com seus colegas almirantes em razão das discussões políticas. “Quem faz a opção pela violência, armada ou não, sempre perde”, escreveu Ilques. Ao deixar o serviço ativo, Garnier mergulhou no silêncio. Fez apenas nove publicações desde então, parte delas depois de ser dispensado do conselho da Câmara de Comércio Exterior (Camex) por Lula.

Nesta sexta-feira, dia 21, o almirante completará 63 anos. Antes teve tempo para ler a nota divulgada pela Marinha em que a Força afirmou “que eventuais atos e opiniões individuais não representam o posicionamento oficial da Força e que permanece à disposição da Justiça para contribuir integralmente com as investigações”. A grande família comemorada por Garnier na rede social parece se distanciar do almirante.

<><> Marinha não apoiou golpismo de Garnier

O ministro da Defesa José Múcio Monteiro afirmou que as defesas de um golpe militar apontadas por Mauro Cid durante a delação premiada seriam atos isolados, mesmo envolvendo pelo menos um nome do alto escalão das Forças Armadas durante o governo Bolsonaro. Em entrevista à revista Veja, Múcio comentou que o almirante Almir Garnier até pode ter sido favorável a um golpe, mas que isso não refletiu o resto da Marinha do Brasil. Eu acho que essa questão dos golpes eram questões isoladas. Podia o Garnier querer, mas a Marinha não queria. O Freire Gomes eu não sei se queria, não senti nenhuma tendência disso, nem do Batista Jr. Eles podem ter participado de reuniões porque o presidente da República os convocava. José Múcio Monteiro, em entrevista à Veja

Garnier “não tinha tropa” para dar um golpe, mesmo que tivesse a intenção. Sentiu resistência do almirante de conversar com ele durante o governo de transição, conseguindo uma reunião somente poucos dias antes da tentativa de golpe. ‘Neste governo, isso não acontece’, afirmou Múcio ao lembrar que o presidente, o ministro da Defesa e os líderes das Forças Armadas eram outros em dezembro de 2022.

 

       Do Dr.Ulysses para ex-comandante da Marinha, que teria apoiado o golpe: 'Traidor da Constituição é traidor da pátria'

 

Segundo a jornalista Bela Magale, no Globo, em sua delação o tenente-coronel Mauro Cid revelou que um assessor de Bolsonaro, Filipe Martins, entregou uma minuta de golpe de Estado ao ex-presidente, que a apresentou aos comandantes militares. Apenas o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria se declarado favorável ao golpe e posto a tropa a serviço.

Veja bem: o almirante teve todo sua formação militar bancada pelo povo brasileiro, que lhe paga o soldo, os uniformes, as condecorações, as férias, as pensões; que paga o mesmo a todos os seus comandados, inclusive as armas e navios de combate; e o almirante se volta contra a decisão do próprio povo e apoia um golpe de Estado contra um presidente recém e democraticamente eleito nas urnas. O que merece o almirante?

De início, ouvir, pois deve ter se esquecido, a máxima do doutor Ulysses Guimarães, que disse [confira no vídeo mais abaixo] que "Traidor da Constituição é traidor da pátria". Depois, confirmada a informação, o almirante deve ser exemplarmente punido.

Sem anistia para golpistas.

 

       Ministro da Defesa quer identificar militares golpistas

 

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou nesta sexta-feira (22) que precisa saber os nomes dos militares que debateram planos golpistas para que, de fato, eles sejam punidos.

Segundo os jornalistas Bela Megale, de “O Globo”, e Aguirre Talento, do UOL, em delação, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que militares de alta patente discutiram iniciativa golpista em reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após o segundo turno das eleições de 2022. As informações também foram obtidas pelo blog.

 “É preciso fulanizar para tomar providências”, disse Múcio. O ministro acrescentou que quer que os nomes citados por Mauro Cid na delação venham à tona para que as Forças Armadas possam agir.

Em outra frente a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Golpistas quer ouvir o general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional na gestão Bolsonaro, sobre o tema.

O colegiado também quer tomar o depoimento do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, que, segundo Cid, teria manifestado apoio a um plano golpista discutido em reunião com Bolsonaro.

Múcio disse ainda esperar que a CPI e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, enviem ao Ministério da Defesa nomes dos militares envolvidos para que as medidas cabíveis possam ser tomadas.

 

       Bolsonaro recebeu avalanche de minutas golpistas

 

Em um dos depoimentos prestados no âmbito da delação premiada firmada junto à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, relatou uma reunião do ex-presidente com a cúpula das Forças Armadas e ministros da ala militar de seu governo para discutir detalhes de uma minuta que abriria possibilidade para uma intervenção militar. O encontro, revelado pela colunista do GLOBO Bela Megale, aconteceu nas semanas seguintes ao segundo turno das eleições do ano passado, no qual Bolsonaro foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O documento debatido naquela ocasião, no entanto, não foi o único texto de teor golpista a rondar o ex-chefe do Executivo e seus aliados mais próximos após o revés nas urnas.

A primeira minuta a vir à tona foi encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Ele foi preso no início do ano, depois dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília, sob acusação de leniência com os extremistas — ele ocupava, à época, o posto de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

O documento achado por agentes da PF com Torres orientava a decretação de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e dava poderes a Bolsonaro para interferir na atuação da Corte — o que é flagrantemente inconstitucional. O texto fazia referências explícitas à corrida ao Palácio do Planalto. Ele dizia, por exemplo, que a medida teria por objetivo preservar “a lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022”.

A minuta sugeria ainda a suspensão do “sigilo de correspondência e de comunicação telemática e telefônica” de magistrados do TSE, presidido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, um dos principais desafetos do ex-chefe do Executivo. Se colocado em prática, a medida golpista criaria uma “Comissão de Regularidade Eleitoral” chefiada pelo Ministério da Defesa.

A minuta encontrada na casa Torres previa até mesmo o controle do “acesso às dependências do Tribunal Superior Eleitoral”. O texto frisava ainda que “entende-se como sede” do TSE “todas as dependências onde houve tramitação de documentos, petições e decisões acerca do processo eleitoral presidencial de 2022, bem como o tratamento de dados telemáticos específicos de registro, contabilização e apuração dos votos coletados por urnas eletrônicas em todas as zonas e seções disponibilizadas em território nacional e no exterior”. O documento também abria a possibilidade de que a validade das determinações fosse estendida “às sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais”.

A PF também localizou textos semelhantes, mas diferentes do conteúdo mantido por Torres, nos celulares do próprio Mauro Cid, onde havia, por exemplo, a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e alguns “estudos” que, segundo os investigadores, eram destinados a dar suporte a um eventual golpe de estado. Um decreto de GLO só é possível, segundo a legislação brasileira, nos casos em que há o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública, em graves situações de perturbação da ordem. O documento encontrado no telefone de Cid sugeria também a decretação do Estado de Sítio, uma das medidas mais extremadas previstas na Constituição para situações excepcionais, como em caso de guerra.Afinal, diante de todo o exposto e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o Estado de Sítio; e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem”, afirmava o texto.

Ainda não se sabe se o conteúdo mantido por Cid tem relação direta com a reunião citada por ele no âmbito da delação premiada, na qual também teria sido debatida a elaboração de documentos similares. Segundo o tenente-coronel, durante o encontro, o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento golpista do então presidente. Já o comando do Exército afirmou, naquela ocasião, que não embarcaria no plano.

 

Fonte: Agencia Estado/UOL/g1/Metrópoles

 

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