Trump vira réu por tentar mudar resultado de eleição nos EUA
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald
Trump virou réu em um caso criminal mais uma vez,
agora em um processo no qual ele é acusado de tentar reverter de forma ilegal
as eleições presidenciais de 2020, que foram vencidas por seu opositor, Joe
Biden.
Ele precisará se apresentar à Justiça na
quinta-feira (3) em Washington D.C.
A invasão do Congresso americano, em 6 em janeiro
de 2021, fez parte das tentativas de alterar o resultado das urnas.
No dia da insurreição, a vitória eleitoral de Biden
estava sendo formalmente certificada no Capitólio (o prédio do Congresso dos
EUA) quando o edifício foi invadido por uma multidão de apoiadores de Trump.
Eles interromperam a sessão em que a certificação acontecia e ameaçaram o então
vice-presidente Mike Pence, que conduzia o processo, por ter se recusado a
reverter o resultado das urnas.
Trump foi acusado formalmente nesta terça-feira
(1º) de participar de três conspirações para cometer crimes:
- Conspiração para fraudar os Estados Unidos;
- Conspiração para obstruir um processo oficial;
- Conspiração contra os direitos dos americanos.
Esses crimes todos teriam como propósito
interromper o processo de coletar e contar votos e certificar o resultado de
uma eleição presidencial.
O ex-presidente dos EUA nega que tenha cometido
crimes.
A procuradoria disse que o ex-presidente teria tido
6 cúmplices, mas não mencionou nomes. O processo foi liderado pelo procurador
Jack Smith.
·
Procurador: ataque de 6 de
janeiro foi motivado por mentiras
De acordo com os procuradores, o
ex-presidente sabia que suas alegações a respeito das eleições eram
mentiras, mas as repetia mesmo assim "para criar uma atmosfera
intensa de falta de confiança e raiva e, assim, erodir a confiança pública na
condução das eleições". Ou seja: Trump mentia para causar um tumulto.
O procurador Jack Smith, que lidera o processo, fez
um curto discurso: "O ataque de 6 de janeiro de 2021 foi um ataque sem
precedentes à democracia, foi motivado por mentiras do réu porque ele não
queria a contagem e a certificação do resultado das eleições", afirmou
Smith.
Ele elogiou as pessoas que defenderam o Capitólio
naquele dia, afirmando que colocaram suas vidas na linha de frente pelo
país".
Por fim, Smith afirmou que quer um processo rápido
e que, por enquanto, Trump é considerado inocente.
·
Reação de Trump
Após o anúncio da acusação criminal, o
ex-presidente publicou um texto na rede social Truth Social.
Trump afirma que a acusação da procuradoria faz
parte de uma perseguição do atual presidente dos EUA, Joe Biden --no ano que
vem, há novas eleições presidenciais, e Biden e Trump já afirmaram que são
candidatos.
O ex-presidente dos EUA diz que as acusações
poderiam ter sido feitas antes, mas que o procurador só fez isso agora por
motivos políticos.
Ele, então, se comparou às vítimas do nazismo e de
regimes autoritários como a União Soviética: "A ilegalidade dessas
perseguições ao presidente Trump e seus apoiadores lembra a Alemanha nazista na
década de 1930, a ex-União Soviética e outros regimes autoritários e
ditatoriais".
·
Outros processos
O ex-presidente dos EUA enfrenta outros processos
criminais.
- Na Justiça federal, ele é réu por ter levado para casa documentos
sigilosos.
- Na Justiça de Nova York, ele enfrenta um processo ligado à compra
de silêncio de uma atriz pornô durante as eleições de 2016.
Ele ainda pode ser acusado formalmente na Justiça
do estado da Geórgia por tentar adulterar o resultado da votação
especificamente lá.
·
Indicações de que Trump
seria acusado novamente
Na semana passada, advogados que representam Donald
Trump encontraram-se com membros da procuradoria. Já se esperava que o
ex-presidente fosse acusado criminalmente por tentar reverter os resultados das
eleições de 2020.
Mais cedo, o ex-presidente tinha afirmado em sua
rede social Truth Social que sabia da iminência da acusação pelo procurador
Jack Smith.
Ø Quem é o promotor que já investigou crimes de guerra e indiciou Trump
em 40 acusações
Ele atualmente está supervisionando duas
investigações criminais separadas envolvendo um ex-presidente americano. Mas,
para Jack Smith, não é nenhuma novidade lidar com casos de alto risco.
Nas últimas duas décadas, Smith, de 54 anos,
investigou funcionários públicos nos Estados Unidos e no exterior – com um
histórico misto de sucessos e fracassos.
O promotor veterano tem se mantido discreto desde
sua nomeação como procurador especial nas duas investigações de Donald Trump
pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Ao anunciar sua escolha em novembro passado, o
procurador-geral Merrick Garland o chamou de "a escolha certa para concluir
esses assuntos de maneira imparcial e urgente".
Enquanto isso, Trump caracterizou Smith como um
homem "enlouquecido" na vanguarda de uma "caça às bruxas
política" contra ele.
O procurador especial já indiciou o ex-presidente
em 40 acusações criminais por seu suposto manuseio incorreto de documentos
confidenciais. Ele também deve acusar Trump separadamente por seus esforços
para questionar os resultados da eleição de 2020.
Como o ex-presidente que ele está investigando,
John Luman Smith é nascido em Nova York.
Formado pela Harvard Law School, ele começou sua
carreira de procurador em 1994 como promotor público assistente no escritório
do promotor distrital de Manhattan.
Na década seguinte, subiu na hierarquia do
escritório do procurador dos EUA no Brooklyn, onde perseguiu gangues violentas,
fraudadores de colarinho branco e casos de corrupção pública.
Certa vez, ele passou um fim de semana dormindo no
corredor de um prédio de apartamentos para convencer uma mulher a testemunhar
em um caso de violência doméstica, informou a Associated Press (AP).
Durante esse tempo, Smith também estava entre
aqueles que investigaram a infame tortura do imigrante haitiano Abner Louima
com um cabo de vassoura pela polícia de Nova York.
Seu trabalho na equipe levou em parte à sua
recomendação como procurador especial nos casos de Trump, de acordo com o New
York Times.
Em 2008, Smith foi para Haia, na Holanda, onde
supervisionou investigações de crimes de guerra como investigador júnior do
Tribunal Penal Internacional.
Voltou ao Departamento de Justiça dois anos depois
como chefe da unidade de integridade pública do Departamento de Justiça, que
processa crimes federais como suborno público e fraude eleitoral.
Em uma entrevista à AP em 2010, ele descreveu a
transição de carreira como "trocar o emprego dos sonhos por outro ainda
melhor".
Mas quando ele assumiu, a unidade estava se
recuperando de um fracasso da promotoria, que teve uma condenação criminal
exemplar rejeitada por um juiz.
A passagem de Smith começou com o encerramento sem
acusações de algumas investigações de longa data sobre membros do Congresso,
mas ele prosseguiu com outros esforços.
Sob seu mandato, os promotores abriram um processo
de corrupção pública contra o ex-governador da Virgínia Bob McDonnell, um
republicano, em um caso anulado por unanimidade pela Suprema Corte dos EUA em
2016.
A unidade também processou o ex-candidato democrata
à vice-presidência John Edwards, mas um júri o absolveu de uma acusação e
chegou a um impasse em outras, e ele nunca mais foi julgado.
Trump aproveitou esses exemplos para argumentar que
Smith "destruiu muitas vidas", ao mesmo tempo em que o criticou por
seu envolvimento em um escândalo fiscal envolvendo uma suposta perseguição da
Receita Federal americana a grupos conservadores.
"O que ele fez é simplesmente horrível",
disse o ex-presidente ao site Breitbart na quinta-feira (27/7). "O abuso
de poder – é uma má conduta da procuradoria."
Smith também teve muitas vitórias notáveis,
incluindo o envio do ex-presidente da Assembleia do Estado de Nova York,
Sheldon Silver, para a prisão por acusações de corrupção.
Ele também condenou o ex-congressista do Arizona
Rick Renzi, um republicano, por corrupção. Mais tarde, Renzi recebeu um perdão
presidencial de Trump.
·
'Destemido'
Em 2015, Smith aceitou um cargo na promotoria
federal em Nashville, Tennessee, para ficar mais perto da família.
Ele saiu em 2017 para uma empresa privada de
assistência médica depois de ser preterido para um cargo permanente durante o
governo Trump.
Em 2018, estava de volta a Haia, onde assumiu o
cargo de promotor-chefe do tribunal para acusações de crimes de guerra no
conflito de Kosovo na década de 1990.
Quando Garland ofereceu a Smith o cargo de
procurador especial em Washington, sua equipe estava se preparando para o julgamento
do ex-presidente de Kosovo, Hashim Thaci, informou o Times.
Embora ansioso para retornar ao Departamento de
Justiça, Smith estava se recuperando de uma cirurgia na perna esquerda após um
acidente de bicicleta e não voltou aos Estados Unidos até janeiro de 2021.
É pelo menos a segunda lesão grave que ele já
sofreu andando de bicicleta.
Na década de 2000, ele fraturou a pélvis após ser
atropelado por um caminhão, um incidente que ele afirmou em uma entrevista que
o levou a múltiplas sessões de fisioterapia.
Tão ávido corredor quanto ciclista, Smith completou
mais de 100 triatlos (modalidade esportiva que combina natação, ciclismo e
corrida) desde 2002, representando até a equipe dos EUA no campeonato mundial
World Triathlon.
Seu amigo e ex-colega, o advogado novaiorquino Moe
Fodeman, descreveu Smith à CNN no ano passado como um triatleta
"literalmente insano" e "um dos melhores advogados que já
vi".
Outros ex-colegas de trabalho falam do jeito
destemido e proativo de Smith, e muitos dizem que os esforços de Trump para
difamá-lo não darão em nada.
"Se eu fosse o tipo de pessoa que poderia ser
intimidada – [que pensa] 'Eu sei que devemos abrir este caso, sei que a pessoa
fez isso, mas podemos perder, e isso vai ser ruim para nossa imagem' – eu iria
para outro campo de trabalho", disse Smith em uma entrevista de 2010 ao
Times.
"Não consigo imaginar como alguém que faz o
que faço ou já trabalhou comigo pode pensar isso."
Fonte: g1
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