terça-feira, 1 de agosto de 2023

PT define estratégia para firmar candidaturas a prefeito

A mais de um ano das eleições municipais, o PT decidiu antecipar o processo eleitoral e indicar todos os pré-candidatos para disputa das prefeituras até dezembro.

A cúpula do partido acredita que a definição antecipada fortalece os nomes colocados, quebra resistências locais e ajuda a evitar ruídos com a base governista ainda em consolidação no Congresso.

Mesmo contando com a força eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o entendimento é de que o PT deve priorizar alianças com legendas que integram o governo e encabeçar a chapa eleitoral apenas onde for realmente competitivo.

O Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), coordenado pelo senador Humberto Costa, já iniciou processo de mapeamento de cidades prioritárias para o partido.

 “Acreditamos que isso [antecipação dos nomes] vai fortalecer o processo. Importante dizer quem vai ser o candidato, em qual cidade e qual espaço pretendido. Vamos fazer as negociações até o fim do ano”, diz a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

A estratégia adotada é diferente de 2020.

Naquele ano, sob argumento de que “a mensagem de Lula” deveria estar presente na maior quantidade possível de municípios, a legenda lançou candidaturas próprias mesmo onde não havia chances reais de vencer a disputa.

O resultado político e eleitoral foi o pior da história: o partido saiu das urnas sem o comando de nenhuma capital e ainda acentuou conflitos com antigos aliados.

Dentro da nova lógica, em São Paulo e no Rio de Janeiro, as duas maiores capitais do Brasil, a legenda não deve ter candidato próprio. Inicialmente, terão prioridade para definição das chapas PSB, PCdoB e PV – integrantes de federação com PT -, Psol e Rede.

As duas últimas legendas também formam uma federação.

A ideia é, em um segundo momento, definir opções de alianças com partidos de centro e centro-esquerda, a exemplo do PSD, PDT, MDB e Solidariedade.

Nas eleições de 2020, PDT e PSB uniram-se estrategicamente em várias capitais brasileiras dificultando a viabilidade de candidaturas do PT.

“Nós vamos conversar com o PSB, com o PDT, queremos que esses partidos estejam juntos conosco. Ou apoiando as nossas candidaturas ou, onde eles tiverem mais viabilidade, apoiando a candidatura deles”, pontuou Gleisi.

Na capital paulista, o PT promete cumprir acordo firmado no ano passado com o deputado Guilherme Boulos (Psol) e apoiá-lo.

Há fortes resistências internas, mas a presidente do partido afirma que acordos existem para serem cumpridos.

Em 2022, numa negociação para apoiar o PT, Boulos retirou a candidatura ao governo de São Paulo e se aliou a Fernando Haddad, que acabou sendo derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Pelos entendimentos em curso, a maior possibilidade é de o partido apoiar no Rio de Janeiro a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD). Para isso, o PT negocia a vice. O posto é ainda mais valorizado porque Paes, se reeleito, deve deixar o cargo no meio do mandato para se candidatar ao governo fluminense em 2026.

As indefinições são ainda mais evidentes em Belo Horizonte.

Uma ala da legenda defende que o partido caminhe junto com o PSD para a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD). Outra possibilidade discutida é o apoio à candidatura da deputada Duda Salabert (PDT).

Vitória deve ser a única capital do Sudeste com candidatura própria do partido.

O mais provável é o PT lançar o nome do deputado João Coser. Ex-prefeito, ele foi derrotado em 2020 na disputa com o atual chefe do Executivo municipal, Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Mesmo nas capitais do Nordeste, onde a popularidade de Lula é elevada, o PT enfrenta obstáculos.

No Recife, por exemplo, a legenda deu início a tratativas para emplacar a vice do prefeito João Campos (PSB), que vai concorrer à reeleição.

Campos, se vencer a disputa, deve sair no meio do mandato para disputar o governo de Pernambuco.

O senador Humberto Costa, que tem bastante proximidade com o PSB no Estado, defende que o partido deve ter posição de relevo numa possível aliança com o PSB.

Em 2020, a contragosto do grupo político de Costa, o PT lançou a deputada Marília

Arraes. Ela chegou ao segundo turno, mas acabou derrotada por Campos.

Em Salvador, o PT também pode ficar sem um nome próprio.

Mesmo no comando do Estado desde 2007, o partido nunca conseguiu vencer as eleições municipais. Existe a possibilidade de composição com MDB, sigla que abriga o vice-governador baiano Geraldo Júnior.

Em Fortaleza, há uma tentativa de reaproximação após rompimento no ano passado da aliança histórica entre PDT e PT no Ceará.

O prefeito José Sarto (PDT) pretende disputar a reeleição. O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e o senador Cid Gomes (PDT) tentam costurar uma saída.

É provável que o PT lance o deputado Edegar Pretto para disputa em Porto Alegre. O Grupo de Trabalho Eleitoral da legenda começou a se reunir no início do mês. A ideia é que, até as eleições, os integrantes se encontrem uma vez por semana.

 

       Pela extrema-direita, Braga Netto não quer disputar prefeitura carioca

 

Ministro no governo Jair Bolsonaro e candidato a vice na chapa do ex-presidente no ano passado, o general Walter Braga Netto virou a principal aposta do PL para a Prefeitura do Rio depois que Flávio Bolsonaro foi vetado pelo pai, mas tem se revelado um novo problema para o partido.

A intenção da sigla esbarra no interesse do militar em concorrer ao Senado por Minas Gerais em 2026.

Na prática, a relutância de Braga Netto impõe um desafio à direita no berço político do ex-presidente.

Diante da dificuldade interna do PL, outros partidos tentam construir candidaturas bolsonaristas.

O PL vê no militar atributos para disputar o comando do município contra o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD).

A imagem de general, avaliam entusiastas da candidatura, ajudaria a impor o discurso de “ordem”, apesar de as forças policiais serem de alçada estadual.

Em 2018, o militar foi interventor na Segurança Pública fluminense, medida decretada pelo governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).

Durante sua gestão, ocorreu o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, crime não esclarecido até hoje.

Atualmente, o domicílio eleitoral de Braga Netto é mesmo o Rio.

A interlocutores, contudo, o general demonstra mais interesse na empreitada mineira daqui a três anos.

Além de declarações públicas do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, o general tem sido estimulado por aliados – incluindo amigos das Forças Armadas – a topar a missão carioca.

Segundo integrantes do partido, ele ainda desconversa e cita o Senado, mas nunca declina.

No PL, a avaliação é de que o ex-ministro carrega consigo os atributos necessários para mobilizar os bolsonaristas, mas não os pontos fracos da família Bolsonaro – no Rio, os filhos Flávio e Carlos têm contra eles acusações de “rachadinha” em gabinetes no Legislativo.

Ciente de que passaria por alto grau de exposição e colheria o ônus de uma derrota, o ex-presidente vetou Flávio.

Até há quem acredite que o senador e filho do ex-mandatário possa voltar a aparecer como opção, mas no momento ele segue vetado.

Nas primeiras semanas de agosto, o PL começará a produzir pesquisas internas em vários municípios do Rio, mas um levantamento de outro partido obtido pelo Valor traz boas e más notícias para o general.

De bom, o fato de ter rejeição baixíssima, de apenas um dígito – o que costuma estar atrelado a um ainda tímido grau de conhecimento de determinado candidato entre a população.

De ruim, o dado de que pouco mais da metade dos cariocas descarta votar em alguém apoiado por Bolsonaro.

“Há menos de um ano, Bolsonaro ganhou a eleição presidencial na cidade do Rio. Não acreditamos nessa ideia de que vai ser um mau cabo eleitoral”, atenua um aliado.

A direita sabe que será uma eleição difícil e que Paes, com a máquina em mãos, é favorito. Por isso, considera positivo algum grau de fragmentação no primeiro turno, que pode dificultar uma vitória do prefeito logo na primeira rodada da disputa.

Nesse sentido, uma candidatura do Psol é vista com bons olhos, já que impede a esquerda de se unir em torno do postulante à reeleição – Paes caminha para ter o apoio do PT do presidente Lula.

Dentro do PL, o deputado federal Eduardo Pazuello e o senador Carlos Portinho estão entre os quadros que tentam construir candidaturas.

Fora, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB, mas de mudança para o União Brasil) e o federal Otoni de Paula (MDB) buscam se viabilizar.

“O importante no momento é ter pré-candidaturas que façam contraponto ideológico ao Eduardo Paes, que hoje representa a esquerda”, alega Amorim.

Entre políticos como Amorim, a leitura é de que Paes está hoje à esquerda e, portanto, vale a pena ter uma candidatura mais ideologizada à direita para enfrentá-lo.

Já nomes como Portinho entendem que a direita precisa estar mais ao centro para disputar um eleitorado de perfil parecido com o do atual prefeito, além de saber debater detalhadamente aspectos da cidade – uma das principais características de Paes.

 

Fonte: Valor Econômico 

 

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