PT define estratégia para firmar candidaturas a prefeito
A mais de um ano das eleições municipais, o PT
decidiu antecipar o processo eleitoral e indicar todos os pré-candidatos para
disputa das prefeituras até dezembro.
A cúpula do partido acredita que a definição
antecipada fortalece os nomes colocados, quebra resistências locais e ajuda a
evitar ruídos com a base governista ainda em consolidação no Congresso.
Mesmo contando com a força eleitoral do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, o entendimento é de que o PT deve priorizar alianças
com legendas que integram o governo e encabeçar a chapa eleitoral apenas onde
for realmente competitivo.
O Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), coordenado
pelo senador Humberto Costa, já iniciou processo de mapeamento de cidades
prioritárias para o partido.
“Acreditamos
que isso [antecipação dos nomes] vai fortalecer o processo. Importante dizer
quem vai ser o candidato, em qual cidade e qual espaço pretendido. Vamos fazer
as negociações até o fim do ano”, diz a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
A estratégia adotada é diferente de 2020.
Naquele ano, sob argumento de que “a mensagem de
Lula” deveria estar presente na maior quantidade possível de municípios, a
legenda lançou candidaturas próprias mesmo onde não havia chances reais de
vencer a disputa.
O resultado político e eleitoral foi o pior da
história: o partido saiu das urnas sem o comando de nenhuma capital e ainda
acentuou conflitos com antigos aliados.
Dentro da nova lógica, em São Paulo e no Rio de
Janeiro, as duas maiores capitais do Brasil, a legenda não deve ter candidato
próprio. Inicialmente, terão prioridade para definição das chapas PSB, PCdoB e
PV – integrantes de federação com PT -, Psol e Rede.
As duas últimas legendas também formam uma
federação.
A ideia é, em um segundo momento, definir opções de
alianças com partidos de centro e centro-esquerda, a exemplo do PSD, PDT, MDB e
Solidariedade.
Nas eleições de 2020, PDT e PSB uniram-se
estrategicamente em várias capitais brasileiras dificultando a viabilidade de
candidaturas do PT.
“Nós vamos conversar com o PSB, com o PDT, queremos
que esses partidos estejam juntos conosco. Ou apoiando as nossas candidaturas
ou, onde eles tiverem mais viabilidade, apoiando a candidatura deles”, pontuou
Gleisi.
Na capital paulista, o PT promete cumprir acordo
firmado no ano passado com o deputado Guilherme Boulos (Psol) e apoiá-lo.
Há fortes resistências internas, mas a presidente
do partido afirma que acordos existem para serem cumpridos.
Em 2022, numa negociação para apoiar o PT, Boulos
retirou a candidatura ao governo de São Paulo e se aliou a Fernando Haddad, que
acabou sendo derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Pelos entendimentos em curso, a maior possibilidade
é de o partido apoiar no Rio de Janeiro a reeleição do prefeito Eduardo Paes
(PSD). Para isso, o PT negocia a vice. O posto é ainda mais valorizado porque
Paes, se reeleito, deve deixar o cargo no meio do mandato para se candidatar ao
governo fluminense em 2026.
As indefinições são ainda mais evidentes em Belo
Horizonte.
Uma ala da legenda defende que o partido caminhe
junto com o PSD para a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD). Outra
possibilidade discutida é o apoio à candidatura da deputada Duda Salabert
(PDT).
Vitória deve ser a única capital do Sudeste com
candidatura própria do partido.
O mais provável é o PT lançar o nome do deputado
João Coser. Ex-prefeito, ele foi derrotado em 2020 na disputa com o atual chefe
do Executivo municipal, Lorenzo Pazolini (Republicanos).
Mesmo nas capitais do Nordeste, onde a popularidade
de Lula é elevada, o PT enfrenta obstáculos.
No Recife, por exemplo, a legenda deu início a
tratativas para emplacar a vice do prefeito João Campos (PSB), que vai
concorrer à reeleição.
Campos, se vencer a disputa, deve sair no meio do
mandato para disputar o governo de Pernambuco.
O senador Humberto Costa, que tem bastante
proximidade com o PSB no Estado, defende que o partido deve ter posição de
relevo numa possível aliança com o PSB.
Em 2020, a contragosto do grupo político de Costa,
o PT lançou a deputada Marília
Arraes. Ela chegou ao segundo turno, mas acabou
derrotada por Campos.
Em Salvador, o PT também pode ficar sem um nome
próprio.
Mesmo no comando do Estado desde 2007, o partido
nunca conseguiu vencer as eleições municipais. Existe a possibilidade de
composição com MDB, sigla que abriga o vice-governador baiano Geraldo Júnior.
Em Fortaleza, há uma tentativa de reaproximação
após rompimento no ano passado da aliança histórica entre PDT e PT no Ceará.
O prefeito José Sarto (PDT) pretende disputar a
reeleição. O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e o senador Cid Gomes
(PDT) tentam costurar uma saída.
É provável que o PT lance o deputado Edegar Pretto
para disputa em Porto Alegre. O Grupo de Trabalho Eleitoral da legenda começou
a se reunir no início do mês. A ideia é que, até as eleições, os integrantes se
encontrem uma vez por semana.
Pela
extrema-direita, Braga Netto não quer disputar prefeitura carioca
Ministro no governo Jair Bolsonaro e candidato a
vice na chapa do ex-presidente no ano passado, o general Walter Braga Netto virou
a principal aposta do PL para a Prefeitura do Rio depois que Flávio Bolsonaro
foi vetado pelo pai, mas tem se revelado um novo problema para o partido.
A intenção da sigla esbarra no interesse do militar
em concorrer ao Senado por Minas Gerais em 2026.
Na prática, a relutância de Braga Netto impõe um
desafio à direita no berço político do ex-presidente.
Diante da dificuldade interna do PL, outros
partidos tentam construir candidaturas bolsonaristas.
O PL vê no militar atributos para disputar o comando
do município contra o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD).
A imagem de general, avaliam entusiastas da
candidatura, ajudaria a impor o discurso de “ordem”, apesar de as forças
policiais serem de alçada estadual.
Em 2018, o militar foi interventor na Segurança
Pública fluminense, medida decretada pelo governo do ex-presidente Michel Temer
(MDB).
Durante sua gestão, ocorreu o assassinato da
vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, crime não esclarecido
até hoje.
Atualmente, o domicílio eleitoral de Braga Netto é
mesmo o Rio.
A interlocutores, contudo, o general demonstra mais
interesse na empreitada mineira daqui a três anos.
Além de declarações públicas do presidente nacional
do PL, Valdemar Costa Neto, o general tem sido estimulado por aliados –
incluindo amigos das Forças Armadas – a topar a missão carioca.
Segundo integrantes do partido, ele ainda
desconversa e cita o Senado, mas nunca declina.
No PL, a avaliação é de que o ex-ministro carrega
consigo os atributos necessários para mobilizar os bolsonaristas, mas não os
pontos fracos da família Bolsonaro – no Rio, os filhos Flávio e Carlos têm
contra eles acusações de “rachadinha” em gabinetes no Legislativo.
Ciente de que passaria por alto grau de exposição e
colheria o ônus de uma derrota, o ex-presidente vetou Flávio.
Até há quem acredite que o senador e filho do
ex-mandatário possa voltar a aparecer como opção, mas no momento ele segue
vetado.
Nas primeiras semanas de agosto, o PL começará a
produzir pesquisas internas em vários municípios do Rio, mas um levantamento de
outro partido obtido pelo Valor traz boas e más notícias para o general.
De bom, o fato de ter rejeição baixíssima, de
apenas um dígito – o que costuma estar atrelado a um ainda tímido grau de
conhecimento de determinado candidato entre a população.
De ruim, o dado de que pouco mais da metade dos
cariocas descarta votar em alguém apoiado por Bolsonaro.
“Há menos de um ano, Bolsonaro ganhou a eleição
presidencial na cidade do Rio. Não acreditamos nessa ideia de que vai ser um
mau cabo eleitoral”, atenua um aliado.
A direita sabe que será uma eleição difícil e que
Paes, com a máquina em mãos, é favorito. Por isso, considera positivo algum
grau de fragmentação no primeiro turno, que pode dificultar uma vitória do prefeito
logo na primeira rodada da disputa.
Nesse sentido, uma candidatura do Psol é vista com
bons olhos, já que impede a esquerda de se unir em torno do postulante à
reeleição – Paes caminha para ter o apoio do PT do presidente Lula.
Dentro do PL, o deputado federal Eduardo Pazuello e
o senador Carlos Portinho estão entre os quadros que tentam construir
candidaturas.
Fora, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB, mas
de mudança para o União Brasil) e o federal Otoni de Paula (MDB) buscam se
viabilizar.
“O importante no momento é ter pré-candidaturas que
façam contraponto ideológico ao Eduardo Paes, que hoje representa a esquerda”,
alega Amorim.
Entre políticos como Amorim, a leitura é de que
Paes está hoje à esquerda e, portanto, vale a pena ter uma candidatura mais
ideologizada à direita para enfrentá-lo.
Já nomes como Portinho entendem que a direita
precisa estar mais ao centro para disputar um eleitorado de perfil parecido com
o do atual prefeito, além de saber debater detalhadamente aspectos da cidade –
uma das principais características de Paes.
Fonte: Valor Econômico
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