Peru: a rebeldia está voltando às ruas
O Peru voltou a se mobilizar neste 19 de julho pela
primeira vez desde os protestos ocorridos entre dezembro e fevereiro em todo o
país, após a destituição do presidente Pedro Castillo. As grandes marchas em
Lima e em 59 províncias do país voltaram novamente a exigir algumas
reivindicações claras e comuns: a renúncia de Dina Boluarte e o pedido de
justiça e reparação para as vítimas dos massacres que ainda permanecem impunes.
A “terceira tomada de Lima” estava sendo preparada
há meses com delegações organizadas para viajar à capital, principalmente das
regiões andinas, mas finalmente as mobilizações também foram realizadas em
muitas cidades como Cuzco, Apurímac, Puno, Ayacucho, Arequipa, Huancayo e Huancavelica,
onde a polícia começou cedo a dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo.
Em Lima, as delegações se reuniram na Praça 2 de
Maio à tarde, chegando das periferias norte, sul e leste da cidade para marchar
em direção ao Palácio da Justiça. O bloqueio do percurso com barricadas não
permitiu o avanço e a população seguiu pela avenida Abancay em direção ao
Congresso, onde a polícia reprimiu os manifestantes dividindo a marcha em duas,
que voltaria a se concentrar no final do dia na praça San Martín.
Segundo dados da Ouvidoria, houve oito feridos, dois policiais e seis manifestantes, entre eles
dois jornalistas. Números sugerem uma atuação diferente das forças de segurança
em relação ao que aconteceu no ciclo anterior de protestos, onde a repressão
foi brutal, 49 pessoas foram mortas por armas de fogo, houve mais de mil
feridos, detentos que ainda sem julgamento e o registro de inúmeras violações
de direitos humanos.
Para todas essas vítimas que ainda esperam por
justiça, a principal palavra de ordem que se ouviu durante a mobilização é: “o
sangue derramado jamais será esquecido” junto com o canto “Dina, assassina, o
povo te repudia”, mas o protesto também traz consigo uma série de outras
reivindicações que respondem à variada composição social dos que aderiram à
marcha. Há grupos que pedem a libertação de Pedro Castillo e outros com o lema
“que saiam todos”; muitos pedem o fechamento do Congresso e novas eleições, ou
em outros casos uma Assembleia para redigir uma nova Constituição. Entre os
cartazes nas ruas também se destacavam a reivindicação por melhores salários e
a saída das tropas militares dos Estados Unidos que treinam as Forças Armadas
do Peru.
Preso desde 7 de dezembro, Pedro Castillo continua
se considerando o presidente legal do Peru. Aqui você
pode ler uma entrevista feita El Salto com o presidente
destituído. Castillo exige um processo constituinte para
seu país e denuncia a repressão de Dina Boluarte.
Além dos coordenadores territoriais das províncias
e das associações de familiares das vítimas, numerosas organizações sindicais,
grupos da capital como as redes feministas e LGBTIQ, trabalhadores da cultura,
estudantes e até alguns representantes de partidos políticos progressistas como
Peru Libre e Nuevo Peru participaram desta terceira tomada de Lima. A
Universidad Nacional Mayor de San Marcos — que em janeiro foi invadida por um contingente policial com tanques para receber manifestantes no
campus — nesta ocasião suspendeu suas atividades presenciais, mas na manhã
desta sexta-feira havia pichações apoiando os protestos e contra o governo.
Também em Cajamarca e Huancavelica os estudantes ingressaram na universidade
aderindo ao convocatória.
No início de julho, a Central Única de Rondas
Campesinas do Perú (Cunarc) previa a chega de 30 mil pessoas a Lima, e as
expectativas foram cumpridas: o Ministério do Interior relatou 21 mil
participantes e a Coordenadoria Nacional Unitária de Luta do Perú (CNULP)
falava em 100 mil pessoas. As manifestações transcorreram de forma pacífica,
apesar da campanha de medo instalada pelas instituições e pela mídia contra
possíveis atos de vandalismo e de violência. A própria presidente Dina Boluarte
contribuiu para isso: após o encontro bilateral com o presidente do Equador,
Guillermo Lasso, em junho, ela lançou a polêmica pergunta “quantas
mortes mais eles querem?”, anunciando assim mais
repressão como única resposta ao legítimo direito ao protesto social.
Aguardando o dia 19 de julho, a polícia peruana implementou
medidas de segurança desproporcionais na capital, como o destacamento de 24 mil agentes ou barreiras
policiais nos principais acessos a Lima, identificando os
peruanos que entravam das regiões como se fossem estrangeiros em seu próprio
país. Além disso, na última sexta-feira as forças policiais formaram batalhões pelas avenidas da capital como “ensaio” para o desfile cívico-militar
durante as Festas Nacionais, nos dias 28 e 29 de julho.
Além disso, continua o “terruqueo” por parte de
diferentes instituições e meios de comunicação, uma prática que consiste em
rotular como terrorista qualquer expressão de protesto social usando o fantasma
do Sendero Luminoso, apesar de esta organização ter sido derrotada na década de
1990. Por exemplo, o chefe da Direcção contra o Terrorismo (Dircote) José
Zavala assegurou
que o Sendero Luminoso está presente em todo o país e
que a alteração da Constituição é um pedido que parte deles.
Por outro lado, em 11 de julho, o governo teve que
demitir o vice-ministro da Interculturalidade, Juan Reátegui, depois que ele
se reuniu com
o grupo extremista de direita La Resistencia, ligado
ao fujimorismo e já protagonista de ações violentas contra jornalistas, ONGs e
grupos de esquerda.
Enquanto isso, as últimas pesquisas
do IEP de junho mostram um governo e um Congresso sem
legitimidade: 80% da população desaprova a gestão de Boluarte; este é o pior
índice desde que assumiu, enquanto a reprovação do Legislativo chega a 91% e a
aprovação permanece em 6%.
Embora a mobilização de 19 de julho não tenha tido
características nem dimensões para poder influenciar as decisões de um
Executivo surdo às suas reivindicações, o Defensor Público Josué Gutierrez
Condor referiu-se ao dia das marchas, saudando “a atitude pacífica de todos os
cidadãos que ontem se mobilizaram de forma cívica e altiva na sua grande
maioria, e manifestaram as suas reivindicações” acrescentando que agora cabe ao
Executivo e ao Legislativo atendê-los e procurar uma abordagem.
“Isso está indo de menos para mais”, explicou Jaime
Borda, secretário-executivo da Red Muqui, que promove os direitos das
comunidades e populações afetadas pela mineração nas regiões andinas do Peru.
“Se a convocação para o dia 19 é ampla, significa que outras mobilizações podem
acontecer e que a reivindicação vai se espalhar”.
Com efeito, a Coordenação Nacional Unitária de
Luta, composta por sindicatos e organizações sociais, já
anunciou uma jornadas de mobilização estão marcadas para os
feriados nacionais, de 27 a 29 de julho. Agora Lima e as principais províncias
estão em alerta para ampliar as reivindicações que já estão há seis meses sem
qualquer tipo de resposta.
Ø Mauro Vieira garante que Brasil não pode ser mediador na Ucrânia: 'Não
é tarefa para um país só'
O Brasil não pretende ser mediador entre a Ucrânia
e a Rússia, pois a resolução desse conflito exige esforços de muitos países,
disse o chanceler brasileiro Mauro Vieira em entrevista ao Congresso em Foco.
Conforme o chanceler explicou, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva vem apenas postulando a "necessidade urgente de se falar na
paz, e não só na guerra" e, segundo ele, esse objetivo vem sendo
alcançado.
"Não somos candidatos à mediação. O que temos
dito é que estamos dispostos a apoiar qualquer esforço de paz, e que a guerra
na Ucrânia requer um esforço coletivo de vários países, não é tarefa para um
país só", disse Vieira.
O diplomata observou que o objetivo do Brasil de
falar sobre a paz na Ucrânia está sendo alcançado, citando como exemplo os
esforços dos países africanos que enviaram uma delegação de alto nível a Kiev e
Moscou, bem como as conversas do líder brasileiro com o papa Francisco no
Vaticano.
"A evolução desse processo depende
fundamentalmente dos países envolvidos, e da sua disposição em negociar, mas o
avanço recente fez com que o debate global não esteja mais exclusivamente
focado no conflito", acrescentou chanceler.
Por sua vez, o presidente brasileiro Luiz Inácio
Lula da Silva disse, na cúpula entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de
Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) na semana passada, que a
comunidade mundial está se cansando do conflito na Ucrânia, ao mesmo tempo em
que observa a importância dos esforços de todos os países para resolvê-lo.
·
Lula quer fechar clubes de tiro no país: 'População
brasileira não precisa se armar'
Em seu programa semanal Conversa com o Presidente,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta terça-feira (25), ter
pedido ao ministro da Justiça, Flávio Dino, o fechamento dos clubes de tiro no
país, que proliferaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse
nesta 3ª feira (25.jul.2023) ter pedido ao ministro da Justiça, Flávio Dino, o
fechamento dos clubes de tiro no país, que proliferaram durante o governo do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o Lula, a prática de tiros deveria ser para
o aprimoramento do aparato das forças de segurança e não para a população que
se preocupa com a alimentação e educação de seus filhos. O presidente afirmou
ainda que a população não precisa se armar porque não existe uma preparação de
uma "revolução" para acontecer no Brasil.
"Já disse para Dino que temos que fechar quase
todos e deixar aberto aqueles que são da Polícia Militar, do Exército e da
Polícia Civil. É organização policial que tem que ter lugar para treinar tiro.
Não é a sociedade brasileira. Não estamos preparando uma revolução. Eles
tentaram preparar um golpe. 'Se fu'", disse Lula.
Segundo Lula, o objetivo de seu governo é preparar
a democracia para momentos de crescimento econômico com base nas reformas que
tem preparado para o país e para a participação dos cidadãos nas decisões
políticas do Brasil.
Na última sexta-feira (21), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) assinou um decreto parte do Programa de Ação na
Segurança (PAS) — cujo objetivo é diminuir a violência no país — e que tem sido
defendido pelo governo como um controle "responsável" de armas no
país.
Entre seus objetivos o decreto busca reduzir a
quantidade de armas e munições que podem ser acessadas por civis e diminuir o
número de armas e munições que podem ser adquiridas pelos CACs (caçadores,
atiradores e colecionadores).
Ø Prévias presidenciais da Argentina: candidato governista lidera
pesquisa com 26%
O Instituto Atlas Intel divulgou nesta
segunda-feira (24/07) o resultado de uma pesquisa relacionada às prévias
presidenciais da Argentina, marcadas para o dia 13 de agosto. O estudo indica
um panorama favorável ao candidato governista Sergio Massa, ao menos nessa
primeira eleição, já que ele aparece como provável vencedor dessa instância da
disputa eleitoral.
Atual ministro da Economia, Massa teria 26% das
intenções de voto, suficientes para que seja eleito como representante da
coalizão peronista União Pela Pátria, de centro-esquerda.
O segundo nome com melhor performance é o da
presidente do partido conservador Proposta Republicana (PRO), Patricia
Bullrich, com 22,2%. Ela, no entanto, pode sair representando a coalizão
direitista Juntos Pela Mudança.
Uma das características das pesquisas da Atlas
Intel é a margem de erro de apenas um ponto percentual para mais ou para menos,
razão pela qual não há um empate técnico com Massa, mas sim com o terceiro
colocado, o candidato de extrema direita Javier Milei, do partido A Liberdade
Avança, que aparece com 21,3%.
Além disso, a pesquisa mostra empate entre a soma
dos candidatos das das coalizão peronista e da aliança conservadora, ambas com
33,8% dos votos.
·
Primeiro e segundo turnos
O favoritismo de Massa nas prévias não seria
repetido no primeiro e, se tiver, num segundo turno, segundo a pesquisa Atlas
Intel.
Em simulações de primeiro turno, Massa continuaria
superando os candidatos da coalizão Juntos Pela Mudança no primeiro turno, mas
teria apenas 3% de vantagem contra Bulrrich (32,4% contra 29,4%), cenário que
configura quase um empate técnico – só não seria de fato devido à baixa margem
de erro da pesquisa, de apenas 1%.
No caso de o candidatura do Juntos Pela Mudança ser
encabeçada por Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aires (distrito
federal argentino, razão pela qual seu cargo tem status de governador), esta
cairia para o terceiro lugar no primeiro turno, razão pela qual o principal
adversário do governista seria Milei.
Nesse cenário, o atual ministro da Economia
venceria o líder da extrema direita por 31,9% a 25,2%, enquanto o prefeito de
Buenos Aires ficaria com 23,5%.
Nas simulações de segundo turno, Massa aparece
vencendo Rodríguez Larreta (38,1% contra 35,7%), empatando com Milei (ambos com
39%) e perdendo para Bullrich (38,6% contra 43% da hipotética adversária).
·
Como funcionam as primárias argentinas
Vale lembrar que as prévias presidenciais na
Argentina – conhecidas no país pela sigla PASO, de Prévias Abertas Simultâneas
Obrigatórias –, definem quais serão os candidatos de cada coalizão e que
disputarão o primeiro turno no dia 22 de outubro.
No caso da aliança peronista União Pela Pátria, a
disputa será entre Massa e o ativista social Juan Grabois, que aparece na
pesquisa Atlas Intel com 7,8%. Quem vencer será o candidato oficial do
peronismo na missão de manter a coalizão governista no poder.
Nesse sentido, Massa conta com a vantagem de ter o
apoio do presidente Alberto Fernández – que decidiu não concorrer à reeleição –
e da vice-presidente e ex-mandatária Cristina Kirchner.
Entre os setores opositores, a maior coalizão é a
Juntos Pela Mudança, que reúne os partidos ligados ao ex-presidente Mauricio
Macri (2015-2019). Nessa disputa, Bullrich precisa vencer Larreta, que aparece
na pesquisa desta segunda com 11,6% das intenções de voto.
Já no caso de Milei, seu partido não concorre em
coalizão, razão pela qual sua candidatura não depende de superar nenhuma outra
para estar no primeiro turno.
Fonte: El Salto/Outras Palavras/Sputbik Brasil/Opera
Mundi
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