quarta-feira, 26 de julho de 2023

Peru: a rebeldia está voltando às ruas

O Peru voltou a se mobilizar neste 19 de julho pela primeira vez desde os protestos ocorridos entre dezembro e fevereiro em todo o país, após a destituição do presidente Pedro Castillo. As grandes marchas em Lima e em 59 províncias do país voltaram novamente a exigir algumas reivindicações claras e comuns: a renúncia de Dina Boluarte e o pedido de justiça e reparação para as vítimas dos massacres que ainda permanecem impunes.

A “terceira tomada de Lima” estava sendo preparada há meses com delegações organizadas para viajar à capital, principalmente das regiões andinas, mas finalmente as mobilizações também foram realizadas em muitas cidades como Cuzco, Apurímac, Puno, Ayacucho, Arequipa, Huancayo e Huancavelica, onde a polícia começou cedo a dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo.

Em Lima, as delegações se reuniram na Praça 2 de Maio à tarde, chegando das periferias norte, sul e leste da cidade para marchar em direção ao Palácio da Justiça. O bloqueio do percurso com barricadas não permitiu o avanço e a população seguiu pela avenida Abancay em direção ao Congresso, onde a polícia reprimiu os manifestantes dividindo a marcha em duas, que voltaria a se concentrar no final do dia na praça San Martín.

Segundo dados da Ouvidoria, houve oito feridos, dois policiais e seis manifestantes, entre eles dois jornalistas. Números sugerem uma atuação diferente das forças de segurança em relação ao que aconteceu no ciclo anterior de protestos, onde a repressão foi brutal, 49 pessoas foram mortas por armas de fogo, houve mais de mil feridos, detentos que ainda sem julgamento e o registro de inúmeras violações de direitos humanos.

Para todas essas vítimas que ainda esperam por justiça, a principal palavra de ordem que se ouviu durante a mobilização é: “o sangue derramado jamais será esquecido” junto com o canto “Dina, assassina, o povo te repudia”, mas o protesto também traz consigo uma série de outras reivindicações que respondem à variada composição social dos que aderiram à marcha. Há grupos que pedem a libertação de Pedro Castillo e outros com o lema “que saiam todos”; muitos pedem o fechamento do Congresso e novas eleições, ou em outros casos uma Assembleia para redigir uma nova Constituição. Entre os cartazes nas ruas também se destacavam a reivindicação por melhores salários e a saída das tropas militares dos Estados Unidos que treinam as Forças Armadas do Peru.

Preso desde 7 de dezembro, Pedro Castillo continua se considerando o presidente legal do Peru. Aqui você pode ler uma entrevista feita El Salto com o presidente destituído. Castillo exige um processo constituinte para seu país e denuncia a repressão de Dina Boluarte.

Além dos coordenadores territoriais das províncias e das associações de familiares das vítimas, numerosas organizações sindicais, grupos da capital como as redes feministas e LGBTIQ, trabalhadores da cultura, estudantes e até alguns representantes de partidos políticos progressistas como Peru Libre e Nuevo Peru participaram desta terceira tomada de Lima. A Universidad Nacional Mayor de San Marcos — que em janeiro foi invadida por um contingente policial com tanques para receber manifestantes no campus — nesta ocasião suspendeu suas atividades presenciais, mas na manhã desta sexta-feira havia pichações apoiando os protestos e contra o governo. Também em Cajamarca e Huancavelica os estudantes ingressaram na universidade aderindo ao convocatória.

No início de julho, a Central Única de Rondas Campesinas do Perú (Cunarc) previa a chega de 30 mil pessoas a Lima, e as expectativas foram cumpridas: o Ministério do Interior relatou 21 mil participantes e a Coordenadoria Nacional Unitária de Luta do Perú (CNULP) falava em 100 mil pessoas. As manifestações transcorreram de forma pacífica, apesar da campanha de medo instalada pelas instituições e pela mídia contra possíveis atos de vandalismo e de violência. A própria presidente Dina Boluarte contribuiu para isso: após o encontro bilateral com o presidente do Equador, Guillermo Lasso, em junho, ela lançou a polêmica pergunta “quantas mortes mais eles querem?”, anunciando assim mais repressão como única resposta ao legítimo direito ao protesto social.

Aguardando o dia 19 de julho, a polícia peruana implementou medidas de segurança desproporcionais na capital, como o destacamento de 24 mil agentes ou barreiras policiais nos principais acessos a Lima, identificando os peruanos que entravam das regiões como se fossem estrangeiros em seu próprio país. Além disso, na última sexta-feira as forças policiais formaram batalhões pelas avenidas da capital como “ensaio” para o desfile cívico-militar durante as Festas Nacionais, nos dias 28 e 29 de julho.

Além disso, continua o “terruqueo” por parte de diferentes instituições e meios de comunicação, uma prática que consiste em rotular como terrorista qualquer expressão de protesto social usando o fantasma do Sendero Luminoso, apesar de esta organização ter sido derrotada na década de 1990. Por exemplo, o chefe da Direcção contra o Terrorismo (Dircote) José Zavala assegurou que o Sendero Luminoso está presente em todo o país e que a alteração da Constituição é um pedido que parte deles.

Por outro lado, em 11 de julho, o governo teve que demitir o vice-ministro da Interculturalidade, Juan Reátegui, depois que ele se reuniu com o grupo extremista de direita La Resistencia, ligado ao fujimorismo e já protagonista de ações violentas contra jornalistas, ONGs e grupos de esquerda.

Enquanto isso, as últimas pesquisas do IEP de junho mostram um governo e um Congresso sem legitimidade: 80% da população desaprova a gestão de Boluarte; este é o pior índice desde que assumiu, enquanto a reprovação do Legislativo chega a 91% e a aprovação permanece em 6%.

Embora a mobilização de 19 de julho não tenha tido características nem dimensões para poder influenciar as decisões de um Executivo surdo às suas reivindicações, o Defensor Público Josué Gutierrez Condor referiu-se ao dia das marchas, saudando “a atitude pacífica de todos os cidadãos que ontem se mobilizaram de forma cívica e altiva na sua grande maioria, e manifestaram as suas reivindicações” acrescentando que agora cabe ao Executivo e ao Legislativo atendê-los e procurar uma abordagem.

“Isso está indo de menos para mais”, explicou Jaime Borda, secretário-executivo da Red Muqui, que promove os direitos das comunidades e populações afetadas pela mineração nas regiões andinas do Peru. “Se a convocação para o dia 19 é ampla, significa que outras mobilizações podem acontecer e que a reivindicação vai se espalhar”.

Com efeito, a Coordenação Nacional Unitária de Luta, composta por sindicatos e organizações sociais, já anunciou uma jornadas de mobilização estão marcadas para os feriados nacionais, de 27 a 29 de julho. Agora Lima e as principais províncias estão em alerta para ampliar as reivindicações que já estão há seis meses sem qualquer tipo de resposta.

 

Ø  Mauro Vieira garante que Brasil não pode ser mediador na Ucrânia: 'Não é tarefa para um país só'

 

O Brasil não pretende ser mediador entre a Ucrânia e a Rússia, pois a resolução desse conflito exige esforços de muitos países, disse o chanceler brasileiro Mauro Vieira em entrevista ao Congresso em Foco.

Conforme o chanceler explicou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem apenas postulando a "necessidade urgente de se falar na paz, e não só na guerra" e, segundo ele, esse objetivo vem sendo alcançado.

"Não somos candidatos à mediação. O que temos dito é que estamos dispostos a apoiar qualquer esforço de paz, e que a guerra na Ucrânia requer um esforço coletivo de vários países, não é tarefa para um país só", disse Vieira.

O diplomata observou que o objetivo do Brasil de falar sobre a paz na Ucrânia está sendo alcançado, citando como exemplo os esforços dos países africanos que enviaram uma delegação de alto nível a Kiev e Moscou, bem como as conversas do líder brasileiro com o papa Francisco no Vaticano.

"A evolução desse processo depende fundamentalmente dos países envolvidos, e da sua disposição em negociar, mas o avanço recente fez com que o debate global não esteja mais exclusivamente focado no conflito", acrescentou chanceler.

Por sua vez, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse, na cúpula entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) na semana passada, que a comunidade mundial está se cansando do conflito na Ucrânia, ao mesmo tempo em que observa a importância dos esforços de todos os países para resolvê-lo.

·         Lula quer fechar clubes de tiro no país: 'População brasileira não precisa se armar'

Em seu programa semanal Conversa com o Presidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta terça-feira (25), ter pedido ao ministro da Justiça, Flávio Dino, o fechamento dos clubes de tiro no país, que proliferaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 3ª feira (25.jul.2023) ter pedido ao ministro da Justiça, Flávio Dino, o fechamento dos clubes de tiro no país, que proliferaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o Lula, a prática de tiros deveria ser para o aprimoramento do aparato das forças de segurança e não para a população que se preocupa com a alimentação e educação de seus filhos. O presidente afirmou ainda que a população não precisa se armar porque não existe uma preparação de uma "revolução" para acontecer no Brasil.

"Já disse para Dino que temos que fechar quase todos e deixar aberto aqueles que são da Polícia Militar, do Exército e da Polícia Civil. É organização policial que tem que ter lugar para treinar tiro. Não é a sociedade brasileira. Não estamos preparando uma revolução. Eles tentaram preparar um golpe. 'Se fu'", disse Lula.

Segundo Lula, o objetivo de seu governo é preparar a democracia para momentos de crescimento econômico com base nas reformas que tem preparado para o país e para a participação dos cidadãos nas decisões políticas do Brasil.

Na última sexta-feira (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um decreto parte do Programa de Ação na Segurança (PAS) — cujo objetivo é diminuir a violência no país — e que tem sido defendido pelo governo como um controle "responsável" de armas no país.

Entre seus objetivos o decreto busca reduzir a quantidade de armas e munições que podem ser acessadas por civis e diminuir o número de armas e munições que podem ser adquiridas pelos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores).

 

Ø  Prévias presidenciais da Argentina: candidato governista lidera pesquisa com 26%

 

O Instituto Atlas Intel divulgou nesta segunda-feira (24/07) o resultado de uma pesquisa relacionada às prévias presidenciais da Argentina, marcadas para o dia 13 de agosto. O estudo indica um panorama favorável ao candidato governista Sergio Massa, ao menos nessa primeira eleição, já que ele aparece como provável vencedor dessa instância da disputa eleitoral.

Atual ministro da Economia, Massa teria 26% das intenções de voto, suficientes para que seja eleito como representante da coalizão peronista União Pela Pátria, de centro-esquerda.

O segundo nome com melhor performance é o da presidente do partido conservador Proposta Republicana (PRO), Patricia Bullrich, com 22,2%. Ela, no entanto, pode sair representando a coalizão direitista Juntos Pela Mudança.

Uma das características das pesquisas da Atlas Intel é a margem de erro de apenas um ponto percentual para mais ou para menos, razão pela qual não há um empate técnico com Massa, mas sim com o terceiro colocado, o candidato de extrema direita Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, que aparece com 21,3%.

Além disso, a pesquisa mostra empate entre a soma dos candidatos das das coalizão peronista e da aliança conservadora, ambas com 33,8% dos votos. 

·         Primeiro e segundo turnos

O favoritismo de Massa nas prévias não seria repetido no primeiro e, se tiver, num segundo turno, segundo a pesquisa Atlas Intel.

Em simulações de primeiro turno, Massa continuaria superando os candidatos da coalizão Juntos Pela Mudança no primeiro turno, mas teria apenas 3% de vantagem contra Bulrrich (32,4% contra 29,4%), cenário que configura quase um empate técnico – só não seria de fato devido à baixa margem de erro da pesquisa, de apenas 1%.

No caso de o candidatura do Juntos Pela Mudança ser encabeçada por Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aires (distrito federal argentino, razão pela qual seu cargo tem status de governador), esta cairia para o terceiro lugar no primeiro turno, razão pela qual o principal adversário do governista seria Milei. 

Nesse cenário, o atual ministro da Economia venceria o líder da extrema direita por 31,9% a 25,2%, enquanto o prefeito de Buenos Aires ficaria com 23,5%.

Nas simulações de segundo turno, Massa aparece vencendo Rodríguez Larreta (38,1% contra 35,7%), empatando com Milei (ambos com 39%) e perdendo para Bullrich (38,6% contra 43% da hipotética adversária).

·         Como funcionam as primárias argentinas

Vale lembrar que as prévias presidenciais na Argentina – conhecidas no país pela sigla PASO, de Prévias Abertas Simultâneas Obrigatórias –, definem quais serão os candidatos de cada coalizão e que disputarão o primeiro turno no dia 22 de outubro.

No caso da aliança peronista União Pela Pátria, a disputa será entre Massa e o ativista social Juan Grabois, que aparece na pesquisa Atlas Intel com 7,8%. Quem vencer será o candidato oficial do peronismo na missão de manter a coalizão governista no poder.

Nesse sentido, Massa conta com a vantagem de ter o apoio do presidente Alberto Fernández – que decidiu não concorrer à reeleição – e da vice-presidente e ex-mandatária Cristina Kirchner.

Entre os setores opositores, a maior coalizão é a Juntos Pela Mudança, que reúne os partidos ligados ao ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019). Nessa disputa, Bullrich precisa vencer Larreta, que aparece na pesquisa desta segunda com 11,6% das intenções de voto.

Já no caso de Milei, seu partido não concorre em coalizão, razão pela qual sua candidatura não depende de superar nenhuma outra para estar no primeiro turno.

 

Fonte: El Salto/Outras Palavras/Sputbik Brasil/Opera Mundi

 

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