segunda-feira, 3 de julho de 2023

Golpe militar evitaria comunismo, escravidão sexual e daria salvação espiritual, dizem presos no 8/1

Bolsonaristas presos na invasão ao Palácio do Planalto, em 8 de janeiro, não sabiam diferenciar qual sede pertencia a qual Poder e, inspirados em afirmações falsas, planejavam esperar sentados nos prédios até que fosse anunciada uma "solução militar" contra a posse de Lula (PT).

Os relatos estão espalhados em dezenas de depoimentos dados à Polícia Civil do Distrito Federal nos dias 8 e 9 de janeiro e entregues à CPI do Congresso que investiga os atos antidemocráticos.

As falas comprovam que o objetivo dos radicais era incitar as Forças Armadas a darem um golpe contra a democracia, diante da vitória de Lula na corrida presidencial contra Jair Bolsonaro (PL).

Apesar de poucos bolsonaristas citarem o nome de Bolsonaro nos depoimentos, os vândalos afirmavam que o incentivo para o golpe seria a desconfiança sobre o resultado proclamado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) --estímulo causado após uma série de ataques ao sistema eleitoral realizada pelo ex-presidente.

Cibele da Piedade Mateos, 60, moradora de São Paulo, foi uma das mulheres detidas no Palácio do Planalto. Ela conta que viajou a Brasília de graça, na véspera dos ataques, em uma excursão cujo organizador ela diz desconhecer.

A mulher nega que tenha depredado qualquer patrimônio dos palácios. Ela disse aos policiais que somente entrou no "prédio da rampa que não sabe o nome" porque militares lançaram gás de pimenta contra os bolsonaristas que estavam nos arredores do prédio.

"O objetivo era apenas ocupar os prédios, sentar e esperar até 'vir uma intervenção militar' para não deixar o Lula governar", disse Cibele, segundo o relato do delegado Jorge Teixeira de Lima.

"[A intenção] era apenas ocupar os prédios, sentar e esperar até [a] 'solução dos militares' para resolver o problema da eleição. Que 'foi para rua' porque não acreditou no processo eleitoral", disse Jucilene do Nascimento, 58.

Moradora de Palhoça (SC), ela chegou ao QG do Exército, em Brasília, em 6 de janeiro, numa excursão que custou cerca de R$ 300. Ela havia levado somente R$ 20 em espécie para "uma emergência". "A alimentação era doada dentro das barracas", explicou.

Rosely Monteiro, 53, deixou o pequeno município de Colíder (MT), de 32 mil habitantes, para participar das manifestações em Brasília inspirada em uma série de afirmações falsas sobre o que a vitória de Lula poderia representar ao país.

"Que veio para Brasília para protestar contra o novo governo, para tentar salvar o Brasil de um governo que quer acabar com a família, pela proteção das gerações futuras, pela manutenção das igrejas, para proteger seus filhos e netos, para impedir as mulheres e crianças de se tornarem escravas sexuais", disse Rosely em relato feito pela Polícia Civil.

Monteiro viajou a Brasília de carona com um desconhecido e chegou na véspera do Réveillon. Ficou acampada em frente ao QG do Exército, com R$ 300, mas não precisou gastar com alimentação porque recebia as refeições de graça.

"Que via várias pessoas quebrando e danificando objetos dentro do Palácio do Planalto e disse para não quebrarem nada, mas não a ouviram", defendeu-se, segundo o relato do delegado Marcelo Mesquita.

Havia ainda entre bolsonaristas presos uma concepção de que a derrubada do governo Lula seria uma vitória espiritual, um sacramento.

Essa era a visão de João de Oliveira Antunes Neto, 19. Ele deixou São Raimundo Nonato (PI) para procurar emprego em Brasília, mas, após servir como pedreiro, foi aconselhado por irmãos da Assembleia de Deus do Guará para participar do movimento golpistas em frente ao QG do Exército.

No dia 8, relatou aos delegados, Neto desceu à Esplanada dos Ministérios achando que a manifestação seria pacífica. O objetivo dele, porém, era derrubar Lula para subir ao céu.

"Que acreditava que o Governo Lula iria cair; que ainda acredita que o Governo Lula irá cair; que acredita que se fizer algo contra Lula irá para o céu; que acredita que vai ascender quando Jesus voltar, pois irá combater o Governo Lula; que acredita que Lula iria fechar as igrejas, pois vira Lula falando tais coisas", relatou à Polícia Civil, segundo a íntegra do depoimento, insuflado por afirmações falsas.

Alguns dos presos confirmaram à Polícia Civil que foram à Praça dos Três Poderes portando armas brancas. É o caso do marceneiro Gabriel Lucas Pereira, 21, morador de Belo Horizonte (MG).

Ele levava um riscador de fórmica, usado para cortar chapas de acrílico, e pedaços grandes de madeira com ponta fina para "caso fossem atacados por petistas, integrantes do MST e outros que pudessem atacá-los".

Pereira contou ainda que o objetivo dos atos seria a decretação de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, para que os militares aplicassem um golpe.

"Que estão aqui para protestar e pedir pela GLO e, com isso, fazer uma limpeza geral nos três Poderes; que gostaria que tirassem Lula, [Geraldo] Alckmin, Alexandre de Moraes, a cúpula do PT e os demais ministros do STF [...]; que não se arrepende de ter participado do movimento, pois está lutando por seu país", relata a Polícia Civil sobre o depoimento de Gabriel Pereira.

•        Datafolha: 52% dos eleitores acreditam que o Brasil pode ser tornar um país comunista

O Instituto Datafolha realizou uma pesquisa de opinião, publicada neste sábado, 1º de julho, a respeito do atrito entre os principais grupos políticos brasileiros, questionando principalmente sobre a possibilidade do Brasil se tornar um país comunista.

O levantamento aponta que 52% dos entrevistados acreditam na possibilidade do Brasil se tornar comunista, sendo 33% totalmente e 19% parcialmente, enquanto 42% discordam – 30% totalmente e 12% em parte; 7% não sabem ou não concordam nem discordam.

A pesquisa ouviu 2.010 pessoas com mais de 16 anos em 112 municípios entre os dias 12 e 14 de junho. A margem de erro máxima estimada é de dois pontos para mais ou menos.

•        Outras pesquisas divulgadas

A pesquisa também questionou sobre benefícios da ditadura militar no Brasil: Para 48% (15% totalmente, 21% em parte) não houve benefícios ao país com o regime instaurado em 1964, que durou 21 anos. Já 36% (35% totalmente, 13% parcialmente) acreditam em um legado positivo desse período; 17% não sabem ou não concordam nem discordam.

O Datafolha também identificou que 29% dos entrevistados se dizem “petistas raiz” e 25% se consideram “bolsonaristas de carteirinha”.

A maioria dos entrevistados (67% – 36% totalmente e 31% em parte) concorda que os governos petistas de Dilma Rousseff trouxeram benefícios para o Brasil. Já 29% discordam, sendo 19% totalmente e 10% parcialmente; 5% não souberam responder ou não concordam nem discordam.

Sobre o governo Bolsonaro, 57% (31% totalmente e 26% em parte) veem benefícios deixados pela gestão, e 41%, não, sendo 29% totalmente e 11% parcialmente. 4% não souberam responder ou não concordam nem discordam.

 

       Zema compartilha frase atribuída a Benito Mussolini e cita restrição à liberdade

 

O governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) publicou uma frase atribuída a Benito Mussolini, ditador italiano morto em abril de 1945. “Fomos os primeiros a afirmar que, quanto mais complexa se torna a civilização, mais se deve restringir a liberdade do indivíduo”, diz o texto postado em seu story no Instagram neste sábado, 1.º, ao lado da legenda de “bom dia”.

Mussolini foi um personagem central na história do fascismo europeu. Chamado de Il Duce (o líder), ele comandou a Itália por 22 anos e inspirou Adolf Hitler.

A mensagem foi compartilhada pelo governador um dia após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarar a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Zema, que apoiou Bolsonaro na eleição de 2022, é tomado pela direita como um dos nomes que pode concorrer à Presidência em 2026.

Zema costuma publicar frases “motivacionais” diárias em seu Instagram. Ainda neste sábado, compartilhou mensagem atribuída ao filósofo grego Epiteto: “Eis o nascimento da tragédia: quando os idiotas se deparam com as incertezas da vida”, escreveu.

Em entrevista ao jornal O Tempo publicada na sexta-feira, 30, Bolsonaro afirmou, porém, que Zema é uma opção para concorrer ao Planalto, mas apenas a partir de 2030. Também disse que o governador mineiro tem “direito de sonhar” com a Presidência.

Em segundo mandato, Zema pertence a uma ala do Novo mais próxima do bolsonarismo, mas não é visto pelo eleitorado como um radical. Como mostrou a Coluna do Estadão, o governador mineiro está desde o começo do ano no radar de Valdemar Costa Neto, com vistas à eleição de 2024 – quando o País terá disputas municipais –, e busca distância do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ratificando seu lugar de oposição.

A proximidade de Zema com Bolsonaro e a oposição a Lula mudaram a balança dentro do Novo, que suspendeu um dos seus fundadores, João Amoêdo, por causa da declaração de voto no petista na eleição passada. Diante da pressão dos pares e da declarada insatisfação com os rumos que a sigla tomou, o ex-candidato à Presidência deixou o Novo. Na época, em entrevista ao Estadão durante o período eleitoral, Zema negou o rótulo de bolsonarista.

•        ‘Colecionador de frases’

Ao Estadão, a assessoria de Zema afirmou que “o governador é um colecionador de frases, então ele sempre compartilha de várias personalidades e não significa concordância, como nesse caso acima”. Em nota, disse ainda que o governador é um “defensor das liberdades individuais” e que a citação era um “alerta sobre os riscos de um Estado inchado”. O ex-presidente Bolsonaro e o julgamento no TSE não foram mencionados.

<<<< Confira a nota na íntegra:

O governador Romeu Zema é um defensor das liberdades individuais, incluindo o direito de ir e vir e o acesso à propriedade privada, as eleições livres, condições possibilitadas apenas pela democracia. A citação em questão foi postada como um alerta sobre os riscos de um estado inchado, com altas cobranças de impostos e gastos desregulados, mas sem capacidade de investimentos básicos para a população. Este cenário significa, na prática, que quanto mais burocrático e complexo o estado for, maiores serão os riscos de colocar em xeque as liberdades de todos os brasileiros. O governador Romeu Zema reafirma seu compromisso com a democracia e com um estado que sirva às necessidades do povo, sobretudo, sempre com o intuito de melhorar a vida dos cidadãos.

 

       Decisões nos EUA desanimam governo Lula sobre extradição de Allan dos Santos

 

Decisões da Suprema Corte dos EUA na última semana em relação a casos relacionados ao tema da liberdade de expressão desanimaram ainda mais o Ministério da Justiça do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu objetivo de conseguir a extradição do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, que está no país desde 2020.

Allan é considerado foragido desde que foi ordenada sua prisão preventiva no inquérito das fake news, em 2021, a pedido da Polícia Federal. Ele é alvo de apurações que tramitam no Supremo Tribunal Federal sobre a existência de uma milícia digital para atacar a democracia e as instituições.

Após a ordem de prisão, o Brasil acionou os Estados Unidos, por meio do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional), e enviou o pedido à Interpol para inclusão na difusão vermelha. Em geral, a inclusão ocorre de maneira célere, o que não ocorreu dessa vez --de forma inédita, como mostrou a Folha de S.Paulo.

Como revelou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, em janeiro, a pasta de Flávio Dino procurou o governo dos Estados Unidos e a Interpol, em Lyon (França), com o objetivo de acelerar o processo de extradição.

Desde então, no entanto, os trâmites não evoluíram, e a percepção no ministério é a de que um desfecho exitoso é improvável. Isso porque a maneira que os Estados Unidos abordam juridicamente o tema da liberdade de expressão, no qual se insere o caso do influenciador, é bastante distinto da maneira brasileira, comparativamente mais restritiva.

Os dois casos da última semana foram vistos por representantes do Ministério da Justiça brasileiro como emblemáticos em relação às dificuldades que encontram em conseguir que Allan dos Santos seja enviado para o Brasil.

Na terça-feira (27), a Suprema Corte dos EUA reverteu a condenação de um homem do estado do Colorado, Billy Counterman, que enviou milhares de mensagens pelo Facebook --incluindo afirmações antes interpretadas como ameaças de morte-- a uma cantora que nunca chegou a encontrar pessoalmente. O entendimento foi de que o réu estaria protegido pela Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de expressão.

Lorie Smith, designer evangélica do mesmo estado, foi beneficiada por interpretação similar da Suprema Corte, que determinou que o direito à liberdade de expressão permite que ela se recuse a criar produtos para casais gays.

Nos últimos anos do Brasil, durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), o Supremo Tribunal Federal e outras instâncias da Justiça agiram no sentido de afirmar que a liberdade de expressão não é absoluta e não comporta o cometimento de crimes.

A tensão desembocou na declaração de inelegibilidade do ex-presidente. Bolsonaro e seus aliados argumentam que ele fez uso da liberdade de expressão ao convidar embaixadores estrangeiros para uma reunião em julho do ano passado, a três meses das eleições, e fazer afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, alegando estar se baseando em dados oficiais, além de buscar desacreditar ministros do TSE.

No entendimento da maior parte dos ministros do TSE, no entanto, ele cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

Ministro da Justiça, Flávio Dino tem também reforçado o argumento de que a liberdade de expressão não pode ser absoluta em seu embate com as grandes empresas de tecnologia que atuam no Brasil, especialmente o Twitter, pressionando-as no sentido de criar mais mecanismos para prevenir a disseminação de conteúdo que possa incentivar atos de violência e articulando para a implementação de uma regulamentação como a prevista no PL das Fake News.

Levantamento do Datafolha divulgado neste sábado (1º) mostrou o posicionamento dos brasileiros a respeito do assunto. Para 61%, não é possível postar qualquer coisa em redes sociais, enquanto 38% creem que a regra deveria ser esta.

 

Fonte: FolhaPress

 

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