domingo, 9 de julho de 2023

General Heleno mentiu ao Congresso sobre uso de aviões da FAB pelo clã Bolsonaro, durante a farra aérea

Um cálculo matemático básico e uma checagem simples em documentos oficiais dá o resultado: o general Augusto Heleno Ribeiro, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Jair Bolsonaro, mentiu ao Congresso Nacional ao afirmar que, até outubro de 2019, só tinham ocorrido “dois apoios de deslocamento” a familiares do então presidente da República.

A prova de que o ministro não disse tudo está em dados oficiais do próprio GSI aos quais o Metrópoles teve acesso. O número correto é o quádruplo do que ele informou: foram, na verdade, oito voos.

O Ofício 463/2019 foi enviado por Augusto Heleno no dia 4 de outubro de 2019 à Câmara, em resposta a um requerimento de informação feito pelo então deputado federal Marcelo Calero sobre o uso de dois helicópteros oficiais para levar parentes do então presidente ao casamento de seu filho 03, o também deputado federal Eduardo Bolsonaro. A festa ocorreu no Rio de Janeiro, no dia 25 de maio daquele ano.

Heleno respondeu aos questionamentos de Calero citando normas que permitiam que as aeronaves fossem empregadas. Ao final, afirmou que, “mesmo com essa prerrogativa, o transporte de membros da família do senhor presidente não tem sido rotineiro, tendo ocorrido, até a presente data, somente dois apoios de deslocamentos da primeira-dama em aeronave da FAB, no trecho Brasília-Rio de Janeiro-Brasília”.

As planilhas oficiais do GSI, porém, mostram que o número não estava correto. Até a data do documento assinado pelo general, Michelle Bolsonaro já havia feito ao menos sete voos classificados na categoria “DISP PR” – é quando as aeronaves estão à disposição para serviços de interesse da Presidência.

O cálculo feito pela reportagem, com base em dados oficiais mantidos em sigilo até dias atrás, inclui viagens feitas desde o segundo mês de governo, em 2019.

Em fevereiro daquele ano, houve voos de Michelle nos dias 22 e 24 entre Brasília e Rio. A finalidade oficial que consta das planilhas é vaga: “apoio primeira-dama”. Na internet, há registros da participação de Michelle em um culto na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, no período. Em outro fim de semana, já em maio, ela usou jatos da FAB nos dias 10 e 12, no mesmo trecho. Novamente, esteve na igreja, sem sinais de compromissos oficiais.

Em junho, ela foi para o Rio no dia 28. Voltou para Brasília em 1º de julho. Na ocasião, participou do evento Vida Vitoriosa, da Igreja Batista. O sétimo voo foi feito um dia antes do casamento de Eduardo Bolsonaro. Em 24 de maio, ela saiu de Brasília às 8 horas e pousou às 9h30 na Base Aérea do Galeão, no Rio. Já o oitavo voo levou ao Rio Jair Renan Bolsonaro, o filho 04 do então presidente, que queria visitar a mãe no interior do estado.

“Nada tenho a explicar”, diz general

Na resposta enviada ao Congresso, o general Heleno afirmou ainda que as viagens foram feitas “sem o dispêndio adicional de recursos públicos”, dando a entender que Michelle aproveitou aeronaves que já estariam, por razões oficiais, indo para o mesmo destino que ela. Os chamados voos “DISP PR”, no entanto, não estão nessa categoria.

O ofício enviado ao Congresso pelo general, apesar de mencionar textualmente “dois apoios de deslocamentos”, é impreciso ao não esclarecer se os dois apoios se referem a dois voos simplesmente ou a duas viagens de ida e volta entre o Rio e Brasília, o que significaria quatro voos. Ainda assim, mesmo que estivesse se referindo a dois deslocamentos completos, com as aeronaves indo ao Rio e voltando para Brasília, Heleno passou longe do número real.

Procurado, o ex-ministro limitou-se a responder que o transporte dos familiares do ex-presidente atendeu “ao aspecto sigilo e segurança” e que não tem o que explicar. “Não estou mais no GSI, não tenho mais acesso à documentação e nada tenho a explicar”, disse Augusto Heleno.

•        A farra aérea do clã

Como o Metrópoles mostrou na última quarta-feira, listas de passageiros mantidas sob sigilo e um conjunto de mensagens internas mostram que, durante o governo Bolsonaro, a então família presidencial usou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para participar de eventos privados, como cultos religiosos, e para transportar amigos, parentes, pastores e até uma cachorra de estimação.

Com base em dados oficiais do GSI relativos aos quatro anos em que Bolsonaro esteve no Palácio do Planalto, a reportagem mapeou mais de 70 viagens da família — todas feitas sem que o próprio Bolsonaro estivesse a bordo.

Para além de informações sobre essas viagens, como detalhes dos deslocamentos e as listas detalhadas dos passageiros convidados, mensagens de um grupo de WhatsApp usado como canal oficial de comunicação pelos funcionários do GSI encarregados de providenciar os jatinhos revelam que os pedidos eram tratados como verdadeiras ordens — tudo sob a coordenação de altos oficiais das Forças Armadas que chefiavam o setor.

 

       Aliados de Bolsonaro relataram ao TSE desconhecerem fraudes em urnas

 

Os depoimentos de aliados, testemunhas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em ação que o deixou inelegível no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), têm em comum a afirmação de que nenhuma fraude nas urnas eletrônicas foi constatada. Embora live realizada pelo ex-presidente, na presença de aliados e, também, durante reunião com embaixadores, em julho de 2022, trouxessem informações da possibilidade de “invasão hacker” em urnas, impossibilidade de verificação de votos, entre outros, os aliados disseram à Corte que apenas sugeriam, em seus discursos, aperfeiçoamento do sistema.

As declarações de nomes importantes dentro da investigação que levou 5 dos 7 ministros do TSE a deixarem Bolsonaro inelegível até 2030 foram tornadas públicas nesta sexta-feira (7/7), após o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, determinar a suspensão do sigilo de documentos e depoimentos colhidos durante instrução da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije).

Questionado em oitiva sobre documento que também está dentro do processo, a investigação sobre vazamento de dados sigilosos sobre ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE),o deputado bolsonarista Filipe Barros (PL) relatou ter conseguido acesso a inquérito da Polícia Federal por ser relator da PEC do voto impresso e ter feito a requisição legal pelo papel que exercia.

O vazamento dos dados é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e entrou na Aije do TSE para análise de relação entre os fatos para desmerecer o sistema eleitoral. Na oitiva de Barros, ele defendeu nunca ter indicado ao ex-presidente que as urnas foram fraudadas.

Durante o processo de instrução, em que são ouvidas testemunhas e colhidas provas, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, também foi questionado sobre live realizada, em 2021, na qual foram vazados os dados sigilosos.

O ex-ministro respondeu ao TSE que os peritos da Polícia Federal “jamais afirmaram ali haver fraude, ou qualquer coisa no sentido. Isso não é afirmação dos peritos e muito menos nossa ali. A gente fez foi ler os questionamentos e as considerações feitas por eles”.

Nessa transmissão específica, Bolsonaro, o deputado federal Filipe Barros (PL) e Anderson Torres falaram. Do Palácio da Alvorada, foram feitas diversas acusações sobre fraudes nas urnas, além de críticas infundadas ao sistema eleitoral brasileiro.

Torres, no entanto, disse ao TSE que apenas leu um resumo sobre o que sabia de documentos públicos da Polícia Federal e que nunca teve acesso a qualquer documentação sobre “ataque hacker”. “Os trechos que eu selecionei ali para poder falar são dos peritos da PF. Mas foi colocado por eles como aperfeiçoamento do sistema eleitoral”, completou Torres em seu depoimento

“Meios para difundir dúvidas”

A live em questão foi citada pelo ministro Benedito Gonçalves, no julgamento de Bolsonaro, como “sequência de meios para difundir dúvidas sobre o sistema eleitoral”.

A Aije que deixou Bolsonaro inelegível foi de autoria do Partido Democrático Trabalhista (PDT). O sigilo dos depoimentos foi levantado após a conclusão do julgamento.

O TSE tornou Bolsonaro inelegível por oito anos, em 30 de junho. O ex-mandatário foi condenado, com o placar de 5 a 2, pelos ataques que fez ao sistema eleitoral brasileiro durante reunião com embaixadores, em julho de 2022. O TSE entendeu que houve abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

•        Aliados aconselham Cid a ficar em silêncio na CPMI do 8 de janeiro, dizem fontes

Advogados orientaram o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), a ficar em silêncio no depoimento previsto na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, previsto para a próxima terça-feira (11).

Segundo fontes ouvidas pela CNN e ligadas a Cid, a exposição do militar será inevitável na CPMI. E, para evitar frases fora de contexto que possam comprometê-lo ainda mais, a orientação é o silêncio, relatou à reportagem uma pessoa próxima a familiares do coronel.

No mês passado, uma decisão da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que Mauro Cid seja obrigado a prestar depoimento à comissão, mas que o militar tem o direito de ficar em silêncio.

Mensagens encontradas após perícia da Polícia Federal (PF) no celular de Mauro Cid, nas quais ele conversava com o coronel Jean Lawand Júnior, motivaram a convocação do ex-ajudante de ordens à CPMI.

As mensagens tratavam do acionamento do artigo 142 e de um suposto estado de defesa.

Mauro Cid está preso desde o dia 3 de maio por acusações de fraude em cartões de vacinação.

O tenente-coronel seria ouvido nesta semana. Entretanto, em função da pauta econômica na Câmara dos Deputados, a convocação foi remarcada para semana que vem.

 

Fonte: Metrópoles/CNN Brasil

 

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