sexta-feira, 7 de julho de 2023

Bolsonaro e Tarcísio têm 1ª crise pública, e aliados avaliam sequelas

 Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), expuseram uma crise pública nesta quinta-feira (6) em meio à articulação da reforma tributária e no momento em que o ex-ministro é cotado como herdeiro político do ex-presidente, que está inelegível.

A defesa da aprovação da reforma colocou Tarcísio na mira de Bolsonaro e de parte da bancada do PL, que entendem que essa agenda é de Lula (PT) e, portanto, deve ser combatida. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o desentendimento ficou explícito em reunião do PL em que Tarcísio foi hostilizado.

Pela primeira vez, a artilharia digital do bolsonarismo se voltou de forma contundente contra Tarcísio, que vive a difícil missão de encabeçar uma gestão não ideológica, mas sem perder o apoio do seu padrinho Bolsonaro. Nas redes sociais, o governador foi chamado de traidor -diversos posts resgatavam uma foto sua ao lado de Lula.

Os principais aliados de Bolsonaro, como Fabio Wajngarten e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), fizeram uma série de publicações para criticar Tarcísio, como noticiou a coluna Painel, ironizando sua declaração, feita ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), de que era 95% a favor da reforma.

Na reunião do PL, o governador ainda ouviu de Bolsonaro que não tem experiência suficiente. Para deputados, a opinião do ex-presidente compromete a posição de Tarcísio como líder da direita para a eleição de 2026.

Bolsonaristas ouvidos pela reportagem afirmam que é cedo para falar em rompimento entre Bolsonaro e Tarcísio, mas ponderam que o racha pode caminhar para esse desfecho. Na opinião deles, o governador tem que aprender a ser oposição ao PT, principalmente se quiser se cacifar para a eleição presidencial.

Deputados dizem ainda que Tarcísio saiu desmoralizado do encontro. O deputado Ricardo Salles (PL-SP) foi um dos que discursou atacando o governador.

As rusgas entre Tarcísio e bolsonaristas vêm crescendo desde a vitória do ex-ministro em 2022. Apesar da cobrança de deputados radicais por cargos e participação no governo, Bolsonaro mantinha seu apoio ao afilhado e argumentava que era preciso ajudar Tarcísio diante dos desafios que a gestão de São Paulo impõe.

A série de gestos de Tarcísio ao centro e o fato de não adotar pautas da direita radical também incomodavam aliados, a ponto de gerar crises com a base do governador na Assembleia Legislativa. A leitura de deputados bolsonaristas é a de que Gilberto Kassab (PSD), secretário de Governo, tem influência no Palácio dos Bandeirantes, enquanto Bolsonaro não.

A reforma tributária, no entanto, colocou criador e criatura em lados opostos. No último dia 26, Bolsonaro esteve em São Paulo, onde reuniu a bancada do PL no estado para pregar contra a aprovação do texto.

Cinco dias depois, no domingo (2), foi a vez de Tarcísio reunir a bancada paulista em um jantar no Palácio dos Bandeirantes em que defendeu a aprovação da reforma, desde que alguns pontos fossem alterados. Já em Brasília, na quarta (5), o governador recuou em suas críticas após se reunir com Haddad e outros governadores.

•        “Quem era Tarcísio?”, questiona Bolsonaro em evento do PL

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) relembrou nesta 5ª feira (6.jul.2023) os políticos do partido e ex-ministros de seu governo que foram eleitos com seu apoio. Mencionou como exemplo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Jorge Seif (PL-SC).

“Quem era o Tarcísio? O Tarcísio não queria ser candidato. Eu o convenci com o argumento que só posso falar se ele me autorizar, e ele se convenceu”, disse. A declaração foi dada em evento do PL (Partido Liberal) realizado na sede da legenda em Brasília (DF).

“Nós podemos citar nomes aqui, com todo respeito ao Marinho, como é difícil uma eleição nos 9 Estados no Nordeste, uma eleição majoritária como foi a do Senado. Ele tem o mérito dele, mas o povo reconheceu o valor de direita no Brasil. Quem era, com todo respeito, na política Jorge Seif?”, afirmou.

Bolsonaro também declarou que ficou “chateado” com Tarcísio por conta da reforma tributária. Eles divergem sobre a proposta que tramita no Congresso Nacional. Enquanto o ex-presidente e integrantes do PL se posicionaram contra o texto, o governador de São Paulo sinalizou apoio à mudança no sistema tributário brasileiro.

“Tem que ser estudada essa questão da reforma tributária […] Ontem, sim, muita gente ficou chateada com o Tarcísio, até eu. Mas temos que conversar. Conversei com ele”, declarou. Também afirmou que falou por ligação com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que é contrário à reforma tributária. 

 “Se não tivermos um proposta que realmente faça justiça e diminua a carga tributária, a tendência nossa é votar contra”, declarou o ex-presidente.

Eis abaixo outras declarações de Bolsonaro:

•        Julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral): “Quando entra na minha cassação dos direitos políticos, logicamente eu não gostei. Esperaram mudar 2 ministros do TSE, que nós sabemos como foi. No mesmo dia, o presidente da República indicou os 2 pra lá a pedido de outro ministro e formou-se maioria.”

•        Daniel Silveira e 8 de Janeiro: “Queremos democracia? Queremos. Corremos risco? Corremos. Onde está o Daniel Silveira agora? Preso porque falou aquilo que nós não concordamos. Onde estão 300 pessoas no momento, como diz o Magno Malta? Na Papuda, na Colmeia. “Querem botar na nossa conta. Isso tudo é tentar matar a direita. Ninguém precisa unir a direta. A direita está unida. E, mais do que nunca, a direita está informada”; e

•        Luiz Inácio Lula da Silva (PT): “Temos um presidente que o problema não é quando sai do Brasil, é quando volta”.

 

       Por defender reforma tributária, Tarcísio é hostilizado em reunião do PL e atacado por Bolsonaro

 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi hostilizado na manhã desta quinta-feira ao defender em reunião do PL apoio à reforma tributária e ainda ouviu do ex-presidente e seu mentor político, Jair Bolsonaro, que ele não tem experiência política, disseram à Reuters fontes que participam do encontro a portas fechadas em Brasília.

Conforme relato de três fontes, Tarcísio fez um discurso em defesa da reforma que, no seu entender, não seria de governo, mas do Estado brasileiro, no encontro com dirigentes e parlamentares do PL a portas fechadas na sede do partido, em Brasília.

Contudo, o governador foi interrompido durante seu pronunciamento pelo deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) e outros parlamentares da ala bolsonarista da legenda, contrários à reforma. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, teve de intervir para garantir a fala dele.

Em outro momento, foi o próprio Bolsonaro quem constrangeu o governador paulista, segundo duas dessas fontes. Diante de Tarcísio, o ex-presidente afirmou que ele não tem experiência política e atacou o que o chamou de reforma tributária "do PT".

O governador de São Paulo, que lidera o Estado de maior economia do país e tem sido um dos principais defensores da reforma, deixou o encontro e se reuniu posteriormente com o secretário estadual de Fazenda, Samuel Kinoshita, para analisar a última versão da proposta, segundo uma fonte.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), trabalha para garantir a votação da PEC da reforma em primeiro turno na noite desta quinta.

Uma fonte ligada a Tarcísio negou que ele tenha sido hostilizado na reunião do PL. Disse que ele conversou com a base do PL, esclareceu os pontos que defende e procurou manter o diálogo. Segundo essa fonte, há divergências e isso é normal para um assunto que é complexo e que historicamente não tem tido consenso, como é o caso da reforma tributária.

O encontro foi convocado por Valdemar para tentar fechar uma posição do PL, partido com a maior bancada da Câmara, 99 deputados, sobre a reforma tributária, entre outros assuntos.

Entretanto, segundo uma fonte, o partido não conseguiu fechar um posicionamento único do encontro e há quem vá trabalhar para adiar a votação da proposta para cobrar mais tempo para análise.

CHATEADO COM TARCÍSIO

Em um vídeo de quase 22 minutos publicado pelo deputado Bibo Nunes (PL-RS) em sua conta no Instagram com o discurso do ex-presidente, Bolsonaro admitiu ter ficado "chateado" com a posição do governador de São Paulo em apoio à reforma tributária.

"Quarta, sim, muita gente ficou chateada com Tarcísio, até eu, mas vamos conversar, conversei com ele", disse Bolsonaro, que é presidente de honra do PL. Nesse momento da reunião, segundo uma fonte, Tarcísio já não estava mais na sede do partido e tinha ido para uma reunião com o presidente da Câmara.

O ex-presidente sugeriu aos presentes que poderia buscar atrasar a votação para tentar incluir no corpo da proposta às mudanças propostas pelo PL, e não buscar fazê-las por meio de destaques.

Em outro momento, Bolsonaro citou uma série de políticos que venceram eleições passadas no embalo da sua força política, como os ex-ministros e agora senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Jorge Seif (PL-SC). Mencionou também o caso do ex-ministro e atual governador paulista.

"Quem era o Tarcísio? O Tarcísio não queria ser candidato", disse ele, citando que foi ele quem o convenceu.

Em sua fala, Bolsonaro também procurou atrelar a votação da reforma à outra pauta de interesse do governo Lula, o projeto que muda as regras de funcionamento do Carf para recriar o voto de qualidade a favor da Receita Federal em caso de empates nas decisões do colegiado.

Uma mudança legislativa feita na gestão passada acabou com o chamado voto de qualidade, o que indiretamente beneficiou as empresas nas disputas contra a União.

Bolsonaro, que nos últimos dias fez uma série de postagens em redes sociais contra a reforma, disse aos partidários que não se pode achar que a legenda está recuando em relação ao texto apresentado.

"Se não tivermos uma proposta que faça justiça e diminua a carga tributária, nossa tendência é votar contra", afirmou. Segundo o ex-presidente, se a proposta interessar ao Brasil, a legenda será favorável. "Se o partido votar unido, não passa", sentenciou.

•        Eduardo Bolsonaro provoca Tarcísio em publicação contra a reforma

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) escreveu na 4ª feira (5.jul.2023), no Twitter, que não é 95% contrário à reforma tributária proposta pelo governo federal, mas sim “100% contra”. O post foi em provocação ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, mais cedo, se disse “95%” a favor do texto.

Depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na 4ª feira (5.jul), o governador afirmou concordar com “95%” da reforma tributária que está na Câmara. Contou ter feito apenas sugestões em “questões pontuais” e se colocou como um “parceiro” no processo de aprovação do projeto.

Tarcísio se reúne com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta 5ª feira (6.jul.2023) para tentar convencê-lo a apoiar a reforma. “Vou trazer argumentos que me fizeram acreditar na reforma tributária”, disse o governador.

Um dos argumentos que Tarcísio defende e deve usar é de que a tributária é fruto de um esforço da gestão do ex-presidente. As PECs (propostas de emenda a Constituição) 45 e 110, que baseiam a atual reforma, são de 2019, 1º ano do mandato de Bolsonaro.

 

       Aproximação de Haddad e Tarcísio leva Bolsonaro à loucura

 

A tão esperada e temida reforma tributária que começou a ser debatida na Câmara nesta quarta, 5, será retomada hoje, 6. Entre suas principais questões está a alteração do modelo de tributação “origem e destino”. Ou seja, de os impostos cobrados pelos produtos serem destinados ao Estado em que forem consumidos.

Neste caso, São Paulo sai na frente pois é uma das unidades da federação que mais possui consumidores.

Olhando por esse lado, o texto atual acabou sendo interessante para ambos os lados – seja o de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, seja o de Fernando Haddad, ministro da Fazenda.

Embora o retorno financeiro comece a fazer diferença somente daqui a 50 anos, a união entre os dois é muito importante para o momento político que vivemos. Em um país com tantos conflitos e tão polarizado como o Brasil, essa união do governador bolsonarista com o ministro lulista vem em boa hora.

Aliás, a reunião dos dois foi objetiva – e uma ótima cena para o governo Lula, que diz querer pacificar o povo. Mas isso acabou irritando Jair Bolsonaro.

O ministro da Fazenda chegou a elogiar a atuação do governador de São Paulo por ter colocado os interesses nacionais acima de questões regionais e partidárias, mas o bolsonarismo, como se sabe, não aceita essa justificativa.

O líder da extrema direita e seus apoiadores – que fazem questão de se posicionar de forma contrária e ideológica, sem pensar no que é o melhor para o Brasil – começaram uma mobilização ainda na noite de quarta, 5.

Depois de saber o resultado da reunião entre Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad, o ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro Fabio Wajngarten publicou um texto assinado por Jair Bolsonaro cobrando oposição plena aos projetos do governo Lula no Congresso:

“a todos aqueles que se elegeram com nossas bandeiras de ‘Deus, Pátria, Família e Liberdade’, peço que votem contra a PEC da Reforma Tributária”. “Não à Reforma Tributária. Lula se reúne com o Foro de SP (criado em 1990 por Fidel Castro, Lula, FARC, …), diz ter orgulho de ser comunista, que a Venezuela impera a democracia, é amigo de Ortega que prende padres e expulsa freiras, seu partido fez ferrenha oposição a nós por 4 anos e comemorou a minha inelegibilidade. Só por isso, caso fosse deputado, votaria ao longo de todo o meu mandato contra tudo que viesse do PT”, diz o texto assinado pelo ex-presidente.

A publicação de cunho totalmente ideológico foi compartilhada pelos deputados federais Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, e Mario Frias, ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro.

A artilharia disparada por Jair Bolsonaro e seu entorno é um recado tanto para Tarcísio quanto para a base do PL – que já afirmou que não deve liberar seus parlamentares, orientando-os a votar contra, mas sem punição para dissidentes. Tarcísio e Haddad se enfrentaram civilizadamente em debates para o governo de São Paulo sem partir para ofensas pessoais.

Agora atuam – até aqui – como políticos sérios, sentando numa mesa e conversando sobre um tema fundamental para todos. Bem diferente do que a gente viu durante o mandato do inelegível ex-presidente.

•        Bolsonaro diz que ficou ‘chateado’ por apoio de Tarcísio à reforma tributária

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira, 6, que “ficou chateado” com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pelo apoio público ao texto da reforma tributária. Aliado de Bolsonaro, o chefe do Executivo paulista disse que concorda com “95%” do texto da reforma após se encontrar com o ministra da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

“Ontem (quarta, 5), muita gente ficou chateada com o Tarcísio, até eu. Mas vamos conversar, pô. Conversei com ele”, afirma.

Como mostrou a Coluna do Estadão, o ex-ministro de Bolsonaro, considerado seu herdeiro na política após a inelegibilidade, foi hostilizado nesta quinta-feira em uma reunião do PL, o partido do ex-presidente, após costurar um acordo com o governo Lula para aprovar a reforma tributária.

“O Tarcísio não tem, com todo o respeito, uma experiência política que muitos de vocês têm. Nós não queremos, nesta proposta que tá aí, dizer que vai ser melhorada por emendas. Não tem garantia nenhuma de aprovação. O que o Tarcísio está expondo e eu conversei longamente com ele, é essas possíveis emendas entrarem agora no corpo da PEC”, afirmou Bolsonaro durante a reunião com integrantes do PL.

De acordo com relatos da reunião do PL, Tarcísio foi interrompido várias vezes pelo deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP). O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, teve de intervir.

Bolsonaro, por sua vez, afirmou durante o encontro que Tarcísio não tem experiência política, o que expõe seu descontentamento com o afilhado político.

Tarcísio chegou a ser aplaudido ao defender que a reforma tem de ser de Estado, e não de governo. Também agradou ao dizer que não defende a votação do texto hoje.

Ontem, após se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Tarcísio decidiu manifestar apoio ao texto da reforma tributária – que tem Bolsonaro como uma das principais vozes contrárias. O movimento do governador, que pediu poucos ajustes no texto, irritou o PL e as figuras mais leais ao ex-presidente. Como mostrou a Coluna, Bolsonaro tenta transformar o embate em torno da reforma tributária na nova guerra entre oposição e governo.

“A gente tem falado que a espinha dorsal da reforma – a tributação sobre base ampla, o princípio do destino, que é fundamental, a transição federativa – sempre teve a concordância de São Paulo. O que a gente sempre ponderou foram questões pontuais, ou seja, a gente concorda com 95% da reforma”, disse ontem o ex-ministro da Infraestrutura.

 

Fonte: FolhaPress/Reuters/Poder 360/Veja/IstoÉ

 

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