quarta-feira, 28 de junho de 2023

Vírus Oz: Japão confirma primeira morte pela infecção no mundo

Japão confirmou a primeira morte no mundo causada pela infecção pelo vírus Oz. O comunicado do Ministério da Saúde do país asiático foi divulgado na sexta-feira (23).

A mulher de 70 anos, da província de Ibaraki, tinha comorbidades, incluindo hipertensão e altos níveis de gordura no sangue. A paciente, que não tinha histórico de viagens ao exterior, apresentou mal-estar, perda de apetite, vômitos, dores nas articulações e febre alta. Testes para coronavírus foram negativos e ela foi medicada com antibióticos devido a suspeita de pneumonia, sendo liberada para observação em casa.

No entanto, a idosa voltou a ser internada em um hospital, com exames de sangue mostrando diminuição de plaquetas, distúrbios no fígado e nos rins e reação inflamatória intensa. Os médicos suspeitaram de infecção transmitida por artrópodes devido à observação de picadas de carrapatos no momento da admissão. Os testes foram negativos para infecção por bactérias riquétisias, como aquelas responsáveis pela febre maculosa.

A paciente apresentou problemas no coração e exames sugeriram um quadro de miocardite, que consiste na inflamação do músculo cardíaco. Apesar dos tratamentos, ela apresentou quadro súbito de fibrilação ventricular, que é um ritmo cardíaco anormal, e não resistiu.

·         Sobre o vírus Oz

O vírus Oz – chamado tecnicamente OZV – é um novo vírus do gênero Togotovírus, da família Orthomyxoviridae. De acordo com o Ministério da Saúde japonês, ele foi isolado e identificado em carrapato da espécie Amblyomma testudinarium no país em 2018.

Pesquisas de anticorpos no soro de animais no Japão detectaram anticorpos em algumas espécies animais, como macacos japoneses, javalis e veados, no Oeste e Leste do Japão, mas nenhum caso animal foi relatado até o momento.

Além disso, embora a investigação em humanos seja limitada, dois indivíduos com anticorpos foram encontrados em um estudo de 24 caçadores. Por outro lado, não houve relatos de detecção de anticorpos no soro ou detecção de vírus em animais ou humanos fora do Japão, segundo a pasta.

O Ministério da Saúde do país asiático afirma que este é o primeiro caso de morte pela infecção, associada ao quadro de miocardite. O diagnóstico foi confirmado por testes conduzidos no Instituto Nacional de Doenças Infecciosas.

Outros vírus pertencentes ao gênero Togotovírus incluem o vírus Bourbon (BRBV), o vírus Dhori (DHOV) e o vírus Thogoto (THOV) 3). Muitos dos vírus deste gênero foram detectados em carrapatos e acredita-se eles sejam os principais vetores aos vertebrados.

 

Ø  Conheça a história do homem imune a carrapatos

 

Há mais de 30 anos, o professor Richard Ostfeld, do Cary Institute of Ecosystem Studies, atua em pesquisas de campo e de laboratório sobre a ecologia de doenças transmitidas por carrapatos.

Carrapatos em todo o mundo são fontes importantes de agentes causadores de doenças em pessoas, animais de estimação e da pecuária e animais selvagens. Uma vez que um carrapato incorpora suas peças bucais em um hospedeiro, os microrganismos que residem nele podem entrar no hospedeiro, provocando diferentes tipos de doenças.

“Quando os carrapatos picam alguns hospedeiros da vida selvagem, eles também podem adquirir patógenos que podem transmitir posteriormente. Na América do Norte e na Europa, os carrapatos são a fonte mais importante de doenças humanas transmitidas por vetores, mais importantes que os mosquitos”, detalha o professor à CNN.

Um exemplo é o caso da febre maculosa, causada por bactérias do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato-estrela. Em 2023, o estado de São Paulo registrou 12 casos, incluindo seis mortes, duas em investigação e quatro pacientes curados. No Brasil, este ano já foram confirmados 53 casos da doença, dos quais oito resultaram em óbitos. A maior concentração de casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, e de maneira geral ocorrem de forma esporádica.

 “Aqui no Nordeste dos Estados Unidos estamos no epicentro de várias doenças transmitidas por carrapatos. Eu pesquiso os fatores ecológicos que afetam o risco de exposição humana a essas doenças. Nós nos concentramos na biologia de roedores, seus predadores, seus alimentos, reduções de biodiversidade causadas pelo homem e clima. Prevemos com sucesso anos ruins para a doença de Lyme, bem como lugares de risco na paisagem”, disse o pesquisador.

Um fato curioso envolve o pesquisador Richard Ostfeld: ele desenvolveu um tipo de imunidade à picada de carrapatos.

 “Quando sou picado por um carrapato, pareço montar uma resposta imune rápida ao próprio carrapato, provavelmente aos antígenos da saliva do carrapato. Isso resulta na morte do carrapato antes que ele seja capaz de engolir meu sangue. Percebo uma tentativa de picada de carrapato ao sentir uma coceira ou sensação de queimação no local da picada, forte o suficiente para me acordar durante a noite, se ocorrer durante o sono”, conta.

Ostfeld conta que, ao remover o carrapato, geralmente ele está morto e não alimentado. “Também formo um vergão no local da picada que pode durar vários dias, sugerindo que a inflamação persiste. Apesar das inúmeras picadas de carrapatos, nunca fui diagnosticado para a doença de Lyme ou qualquer outra doença transmitida por carrapatos”, relata.

·         Resistência contra picadas de carrapatos

A possibilidade de resistência de hospedeiros, incluindo pessoas, às picadas de carrapatos é um contexto que requer estudos científicos mais abrangentes.

“Alguns hospedeiros podem montar rapidamente uma resposta imune a proteínas, ou antígenos, na saliva do carrapato, permitindo que eles ataquem e até matem o carrapato. Se isso acontecer antes que os patógenos deixem o carrapato e entrem no hospedeiro, o resultado pode ser proteção contra doenças. Parece que tal resistência requer experiência prévia do sistema imunológico a esses antígenos, de modo que a resistência é adquirida após picadas de carrapatos anteriores, mas não em todos os hospedeiros”, explica Ostfeld.

O pesquisador avalia que o estudo da resistência pode ajudar desenvolvimento de potenciais vacinas.

“Se os antígenos certos puderem ser identificados, é pelo menos teoricamente possível projetar vacinas contra picadas de carrapatos. Como os carrapatos podem transmitir tantos patógenos, agentes da doença de Lyme, babesiose, anaplasmose, doença do vírus Powassan e mais, essa vacina poderia potencialmente proteger contra muitas doenças”, explica.

“As vacinas devem ser consideradas seguras e eficazes antes que seu uso seja permitido, mas espero que tais estudos sejam vigorosamente prosseguidos”, conclui.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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