segunda-feira, 26 de junho de 2023

Marcelo Zero: O Brasil escolhe o Brasil

No último dia 21, esteve na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados do Brasil uma delegação da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Europeu. 

Na conversa que se seguiu, diversificada, um parlamentar estoniano, do grupo de direita “Identidade e Democracia”, afirmou, a respeito do conflito na Ucrânia e da geopolítica em geral, que o Brasil teria de decidir entre ficar do lado das “democracias”, isto é, o lado da Europa, dos EUA e aliados, ou do lado das “ditaduras”, a saber, Rússia, China e outros países. Não haveria meio-termo e equidistância possíveis.

Outro parlamentar europeu afirmou que a China tende a “escravizar” outros países, por meio de empréstimos e dívidas. Um parlamentar espanhol classificou o conflito da Ucrânia como uma “guerra imperialista” promovida unilateralmente pela Rússia, que, segundo ele, quer impor seu domínio autocrático em toda a Europa.

Essa visão simplória e maniqueísta do conflito na Ucrânia e da nova ordem mundial parece perpassar boa parte do espectro político europeu. Mesmo parte da esquerda europeia parece ter aderido a essa visão “atlanticista” e paranoica da nova conformação geopolítica e geoeconômica mundial, a qual conduz, invariavelmente, à nova Guerra Fria, que antepõe, como disse o parlamentar estoniano, o “bem”, as democracias ocidentais, e o “mal”, as “autocracias”, como China, Rússia, etc.

Pois bem, ao contrário do que afirmou o parlamentar estoniano, o Brasil e outros países do chamado Sul Global não têm de escolher entre quaisquer dos lados identificados por esse novo maniqueísmo diplomático.

Entre EUA e Europa, de um lado, e China e Rússia, de outro, o Brasil escolhe o Brasil, país com interesses próprios e independentes, que deseja ter boas relações com todas as nações e que procura contribuir para a conformação de uma ordem mundial multipolar, multilateral e simétrica, capaz de dar soluções para os graves problemas do planeta, como o aquecimento global, a fome, a pobreza, as desigualdades e as guerras. 

A maior parte dos países emergentes e em desenvolvimento do mundo concorda com essa posição brasileira e não tem motivos históricos para ser hostil, a priori, em relação à China, Rússia e outros países atualmente demonizados pela nova cruzada ocidental.

Não se deve esquecer que os países da América Latina, da África e de outras regiões do “Sul Global” não foram colonizados por Rússia ou China. Foram colonizados, essencialmente, pela Europa, o que, em alguns casos, deixou cicatrizes difíceis de serem esquecidas. 

Na África, continente que se livrou do colonialismo em tempos relativamente recentes, muitas vezes mediante guerras contra os colonizadores europeus, há alguma desconfiança em relação à Europa, mas não há suspeição relativamente à Rússia ou China. Este último país, frise-se, está investindo na África 2,5 vezes mais que todo o Ocidente combinado, o que vem beneficiando muitas economias daquele continente. Por qual, motivo, então, a África teria de ser hostil à China? Ou a América Latina?

Em relação às “dívidas escravizantes”, a experiência negativa da maior parte dos países do mundo tem mais a ver com dívidas contraídas com o Ocidente. Com o FMI, por exemplo, organismo controlado por EUA e Europa, que só desembolsava e desembolsa empréstimos mediante draconianas condicionalidades, impondo políticas econômicas ortodoxas e impopulares aos seus credores.

O Brasil, antes dos governos do PT, foi também uma vítima dessas dívidas. Ainda é fresca, na memória coletiva da América Latina, as “décadas perdidas” ocasionadas pelas “crises da dívida externa”.  China e Rússia nunca nos constrangeram dessa forma.

Rússia e China também não interviram nos assuntos internos dos países da América Latina. Nesse aspecto, há uma desconfiança histórica, no que tange aos EUA. Motivos não faltam.  

Em estudo publicado na Harvard Review of Latin America, em 2005, menciona-se que, apenas entre 1898 e 1994, os EUA conseguiram êxito em mudar governos da região 41 vezes, o que dá uma média de uma mudança de governo a cada 28 meses. Ressalte-se que, nesse estudo publicado na Universidade de Harvard, não se analisa as possíveis intervenções recentes, como as ocorridas em Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016).

O recente apoio do governo Biden à democracia brasileira, muito bem-vindo, não invalida o fato de que a América Latina não tem razões para ter desconfianças em relação à Rússia ou China, nesse campo. 

Ao pressionar o Brasil e os demais países do mundo a se alinhar a um dos polos dessa nova Guerra Fria, com argumentos maniqueístas e pueris, EUA e Europa cometem um grave erro de avaliação, que poderá produzir efeitos contrários aos pretendidos.

Com efeito, essa pressão belicista poderá ser interpretada como uma atitude arrogante e neocolonial.

Melhor seria investir em cooperação franca, sem condicionalidades geopolíticas, moralistas e maniqueístas, as quais colocariam obstáculos de monta à construção de uma ordem mundial pacífica, sustentável, multipolar e simétrica. Colocariam obstáculos, em última instância, a um mundo efetivamente mais democrático e igualitário. 

Melhor seria abrir as burras e pagar suas dívidas históricas, como a relativa ao meio ambiente.

Lula, agora em Paris, referindo-se à famosa e ofensiva side letter do assimétrico Acordo Mercosul-EU, deixou claro: parceiros estratégicos não devem ser ameaçados. Muito menos submetidos a regras de outros países, que nem eles mesmos conseguem cumprir.

Da mesma forma, parceiros estratégicos não devem ser pressionados a se posicionar contra seus próprios interesses e contra os interesses da maior parte dos países do mundo. 

E “falsos amigos” são aqueles que impõem vassalagem para serem “amigos”. Viu, Liberátion?

A nova cruzada política-ideológica que EUA e Europa parecem querer impor ao mundo não interessa ao planeta. Nem ela, nem as posições protecionistas e as pretensões hegemônicas a ela associadas.

A maior parte dos países do mundo, como Brasil, quer paz e pão. Quer ter a oportunidade de crescer, prosperar e de dar às suas populações o mesmo nível de bem-estar das populações europeias.

Os antigos colonizados querem ter tratamento igual aos dos antigos colonizadores. Querem respeito. Não se submeterão a bullyng diplomático, venha de onde vier.

O Brasil escolhe o Brasil. O Brasil escolhe o mundo. Só isso. 

 

Ø  Lula assume lugar na cena mundial. Por Paulo Moreira Leite

 

Sem empregar malabarismos retóricos, o discurso de Lula na manhã desta sexta-feira, 23 de junho, em Paris, mostrou a força única de um estadista capaz de conversar com a História presente.

O Valor Econômico informa que naquele dia o presidente brasileiro fez o discurso mais aplaudido de um encontro de nome pomposo e finalidade nebulosa ("Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global)", que reuniu uma centena de chefes de governo do planeta.

Palmas sempre querem dizer alguma coisa mas não dizem tudo.

Sem deixar-se intimidar pelas personalidades que falam pelos maiores PIBs (e maiores exércitos) do planeta, Lula consumiu 20 minutos num discurso sobre o ponto realmente fundamental.

Ao se referir a acordos economicos e compromissos morais que pareciam tão promissores no final da  Segunda Guerra Mundial, quando se venceu os horrores do nazismo que hoje ameaça retornar em várias partes do planeta, com a cumplicidade de várias parcelas do poder mundial,  o presidente brasileiro mostrou uma postura insubstituível.

Abriu um debate único e indispensável para uma conversa sem hipocrisia, capaz de discutir os impasses e perplexidades de um planeta em fase nitidamente regressiva, pois já debateu "investimento em países pobres e hoje debate o protecionismo dos países ricos". 

Evitando o papel conveniente de enfeite ecológico que costuma ser a fantasia mais agradável de representantes de um país que abriga a Amazonia, cobrou responsabilidades de todos e cada um quando fez o esclarecimento fundamental.

“Eu não vim aqui para falar somente da Amazônia," disse. "Eu vim aqui para falar que, junto com a questão climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que, numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça. A desigualdade salarial, a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, a desigualdade na educação, a desigualdade na saúde ".  

“Ou seja, nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente," disse.

Deixando claro que, sem abrir caminho para um debate honesto sobre as condições materiais de existência da humanidade, em todas as latitudes do planeta, Lula mostrou-se capaz de cumprir um papel insubstituível.

Sem medo de falar claro sobre assuntos graves, Lula repetiu, em escala universal, aquele comportamento que marca uma história iniciada há meio século sob uma ditadura militar que torturava no andar debaixo e afinava a voz para as camadas de cima.

Com uma estatura política que raros estadistas do planeta podem exibir, esculpida pelo conhecimento infinito que a vida lhe trouxe -- na pobreza de Garanhuns, nas lutas metalúrgicas do ABC, no  Planalto e na cela de Curitiba --, ele retorna ao país depois de lembrar ao planeta que não haverá saída sem a emancipação dos mais pobres e a libertação dos oprimidos.

Foi essa a lição que Lula deixou em Paris, num discurso histórico e sem enrolação, de quem fala o que é preciso dizer sem perder a simpatia,  como se estivesse entre velhos e bons amigos numa mesa de bar em qualquer botequim do planeta.

Alguma dúvida?  

·         Efeito Lula: “dólar já está na direção dos R$ 4,40”, diz economista

 Em entrevista ao Metrópoles, o professor Márcio Holland, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), afirmou que o dólar está em queda e a moeda já está a caminho dos R$ 4,40.

"Não é tarefa trivial prever o câmbio. Mas a moeda americana pode chegar a R$ 4,00? Sim, pode. Há uma série de fatores que estão contribuindo para a tendência de valorização do real. Mas o fato é que o dólar já está na direção de R$ 4,40, ou mesmo, algo entre esse valor e R$ 4,50", enfatizou o economista.

Questionado por que o dólar está caindo, Holland disse que questões externas têm peso nessa queda, mas o cenário interno está favorecendo.

"O cenário interno no Brasil também favorece a queda. No primeiro Relatório Focus deste ano (que reúne projeções semanais de agentes do mercado sobre indicadores econômicos) a previsão de crescimento do PIB brasileiro era de 0,78% em 2023. Agora, ela está em 2,14%. A nota de risco dada pela agência internacional S&P para o país também passou de neutra para positiva. O arcabouço fiscal foi encaminhado e, agora, a discussão já se concentra na reforma tributária, com um substitutivo em análise na Câmara dos Deputados. Isso tudo cria um otimismo típico do mercado", afirmou.

 

Ø  Lavareda diz que Bolsonaro não 'desaparecerá' com inelegibilidade: "próximo candidato da direita dependerá de Jair"

 

O cientista político Antonio Lavareda analisou o possível cenário das eleições presidenciais de 2026 sem Jair Bolsonaro (PL), prestes a ser considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com o estudioso, o bolsonarismo ainda representa "um movimento muito grande" da política brasileira e seu peso eleitoral não poderá ser desconsiderado. 

"É óbvio que o Bolsonaro vai perder substância [se declarado inelegível], ocorre que perder substância não é a mesma coisa que desaparecer. A sociedade brasileira é invertebrada do ponto de vista político, porque quem daria ossatura, uma estrutura de estabilidade, são os partidos", introduziu Lavareda.

O cientista político explicou que a falta de partidos relevantes na política nacional foi compensada por muito tempo por um fenômeno chamado 'identidade partidária negativa', representado pelo antipetismo: "as pessoas da direita ficavam procurando candidatos que fossem antagônicos ao PT; quanto mais contundentes, mais apoio teriam neste segmento. Isso foi encapsulado pelo bolsonarismo, que é hoje o movimento que substitui o 'partido da direita'. Esse partido tem cerca de 1/4 da sociedade, 25%, ele pode declinar, chegar a 20%, mas é um partido muito grande".

"Bolsonaro teve 37% dos votos no segundo turno. Ele teve esses 25% de eleitores mais duros, com valores próximos à direita - parte deles da extrema direita, como nós vimos, com as concentrações nas frentes dos quartéis e estradas - e mais uns 12% de pessoas mais liberais, hostis à esquerda, mas não autoritários radicais, etc. Mas isso aí nos permite entender o peso que o bolsonarismo terá nos próximos ciclos eleitorais. Eu tenho convicção de que o próximo candidato que vai ser hegemônico à direita será menos radical do que Bolsonaro, mas com certeza dependerá do apoio de Jair Bolsonaro", concluiu o cientista político. 

 

Fonte: Brasil 247

 

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