Inteligência
artificial desenvolvida na Unicamp mapeia danos da Covid-19 em pulmões
infectados
Aplicando
inteligência artificial a imagens obtidas por meio de tomografia
computadorizada, pesquisadores do Laboratório de Computação de Imagens Médicas
da Unicamp, em Campinas (SP), conseguiram mapear com precisão os danos da
Covid-19 nos pulmões de pacientes infectados.
A
pesquisadora Letícia Rittner, professora da Faculdade de Engenharia Elétrica e
de Computação, explica que o método começou a ser desenvolvido em 2020, no
ápice da pandemia, a fim de possibilitar o acompanhamento da evolução da doença
com mais exatidão.
"Os
médicos tinham necessidade de estimar quão comprometido o pulmão estava e
acompanhar se a pessoa estava melhorando ou piorando. Para que isso
acontecesse, existe uma necessidade de você, a partir de uma tomografia, medir
a área comprometida. Isso até então era feito visualmente. O médico olhava e
dizia 'isso é leve, isso é severo', de uma forma subjetiva, sem um
número", afirma.
Frente
a imagens obtidas por meio de tomografia computadorizada, a inteligência
artificial desenvolvida pelos pesquisadores foi treinada para separar a imagem
do pulmão do restante do corpo. A partir disso, o algoritmo encontra e sinaliza
as partes não saudáveis do órgão.
"As
regiões 'borradas' na imagem são as que estão comprometidas por conta de
doenças. A Covid é uma delas, mas a pneumonia e outras doenças respiratórias às
vezes têm efeito parecido. O método encontra essas regiões, delimita as bordas
e consegue dar um número preciso dizendo, por exemplo, que 82% do pulmão está
comprometido", diz a professora.
Treinamento
intensivo
Para
que a inteligência artificial aprendesse a diferença entre pulmões saudáveis e
infectados, os pesquisadores realizaram um treinamento que consistiu na
apresentação de diversas imagens de exemplo ao algoritmo, permitindo a
identificação do perímetro do órgão.
A
partir desse aprendizado, o método passou identificar as "bordas" dos
pulmões e, na sequência, calcular automaticamente o volume de áreas afetadas
considerando a quantidade de pixels em cada imagem.
"No
começo o nosso método se saía muito bem nas imagens do nosso hospital, mas não
no conjunto de dados vindos de outro hospital. Levou um tempo para fazermos o
método funcionar em diferentes contextos, imagens e equipamentos de tomografia
de diferentes países. Para isso, ele foi treinado em imagens do mundo
todo", explica a pesquisadora.
A
pesquisa foi desenvolvida pelo aluno Diedre Santos do Carmo sob orientação,
além de Rittner, do pesquisador Roberto de Alencar Lotufo. Recentemente, Carmo
foi aos Estados Unidos e passou seis meses estudando a aplicação do método em
pacientes na Universidade de Iowa.
Membros
da equipe médica com trajes de proteção e máscaras faciais fazem raio-X do
pulmão de paciente em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em um hospital de
campanha criado para tratar pacientes com coronavírus (COVID-19) — Foto: Amanda
Perobelli/Reuters
Aplicações
futuras
Em
Iowa, o aluno utilizou a inteligência artificial com um novo propósito:
acompanhar os efeitos da Covid longa, condição em que os sintomas da doença
persistem por mais de três meses após a infecção, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS).
Os
resultados relacionados ao estudo ainda são preliminares e requerem confirmação
e investigação mais detalhada por outros grupos de pesquisa, mas indicam um
nível menor de acometimento dos pulmões entre pacientes vacinados contra o
coronavírus.
Atualmente,
o método está disponível na internet para uso de pesquisadores. Em relação à
aplicação na rede pública de saúde, Letícia Rittner explica que, no momento,
questões tecnológicas - como a existência de computadores adequados nas
unidades de atendimento - são o maior impeditivo para a ampla utilização do
recurso.
"Em um primeiro momento, já sendo usado para pesquisa, o método já traz bastante ganho porque os pesquisadores ainda estão estudando efeitos como a Covid longa e outras questões pulmonares, e a nossa ferramenta permite que pesquisadores testem suas hipóteses", ressalta.
Fonte:
g1
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