Colunista
de site investigado por fake news recebe dinheiro público em gabinete de Zucco
O gabinete do deputado federal Tenente Coronel Zucco, presidente da Comissão Parlamentar
de Inquérito que investiga o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), tem,
entre os funcionários, o militar da reserva da aeronáutica e administrador
Emílio Kerber Filho, que se apresenta como jornalista, apesar das formações
distintas. Ele tem um blog no Jornal da Cidade Online, site
investigado por propagação de notícias falsas, as
famosas fake news.
Autor de livros como O Mito III - Temos um
Presidente Motoqueiro, que louvam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),
Kerber é apresentador do programa Bastidores de Brasília,
veiculado em um canal do YouTube e publicado na página do Jornal
da Cidade Online. Entre os temas abordados está, claro, a CPI do MST. Ele é
figurinha carimbada em programas da emissora conservadora Jovem Pan.
Em seu perfil no LinkedIn, rede social voltada ao
mercado de trabalho, Kerber se apresenta ainda como apresentador do Manhã
de Notícias, programa da JCO TV, canal de vídeos do Jornal
da Cidade Online. Também oferece serviços como palestrante, com o tema
"A nova onda do conservadorismo no Brasil e suas possibilidades".
Kerber parece não ter tido tempo, ainda, para
atualizar seu perfil com a ocupação mais recente. Nomeado como Secretário
Parlamentar no gabinete de Zucco em fevereiro, ele teve uma boa notícia no fim
de abril: um generoso aumento de salário, com a mudança do cargo
"SP07" (com salário base de R$ 2.051,11) para "SP18" (R$
4.623,01 mensais). Nos dois últimos contracheques recebeu ainda R$
3.711,01 em "auxílios" (referentes a auxílio-alimentação,
auxílio-transporte, auxílio-creche, auxílio-natalidade e salário-família).
O Brasil de Fato entrou em contato com a
assessoria de imprensa do deputado federal Tenente Zucco com questionamentos
sobre a relação do secretário parlamentar com o site investigado por publicação
de notícias falsas e também para oferecer ao próprio Kerber um espaço para se
manifestar, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto. Caso haja
resposta, o texto será atualizado.
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Jornal da Cidade Online
Um dos principais canais de veiculação de vídeos e
"notícias" do bolsonarismo, o Jornal da Cidade Online esteve
na mira da CPI das Fake News, em 2020. O site teve o canal de YouTube
desmonetizado por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e chegou a ser
banido das plataformas. Segue no ar, publicando acusações difusas a inimigos do
bolsonarismo, como Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF).
A agência de checagem Aos Fatos destacou algumas
das notícias falsas publicadas pelo site. Durante
as eleições de 2018, por exemplo, publicou matéria afirmando que o então
candidato Ciro Gomes (PDT) teria declarado voto em Jair Bolsonaro e que o
TSE havia entregue os códigos de segurança das urnas eletrônicas a
venezuelanos.
Ø Financiado pelo Rei do Arroz, presidente da CPI do MST cultiva estilo
agressivo nas redes
Hoje presidente da quarta CPI do MST e deputado
federal, o Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS)
passou quatro anos discretos na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul,
mas se despediu com outro tom. No seu último pronunciamento, investiu contra o
TSE, a imprensa e o Judiciário, exaltou Jair Bolsonaro e defendeu os golpistas
que, acampados diante dos quartéis, pediam a intervenção das Forças Armadas
contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Investigado pela Polícia Federal por ordem do STF
sob a suspeita de ter estimulado atos antidemocráticos após o triunfo de Lula,
usou da tribuna para reclamar da “criminalização da legítima liberdade de
manifestação”.
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“O vitorioso
não tem legitimidade”
“Se o processo eleitoral está desvirtuado ou marcado
por dúvidas, sem esclarecimentos, então o vitorioso não tem a devida
legitimidade”, discursou na despedida, atacando Lula e o resultado da eleição
presidencial. Tudo isso em nome da “democracia e da liberdade” que estariam
ameaçadas no Brasil não por conta de quem perdeu o pleito, mas pelos seus
vencedores.
No entanto, em quatro anos, Luciano Lorenzini Zucco,
sua graça, foi um parlamentar sem maiores arroubos político-ideológicos na
tribuna ou nas proposições apresentadas. Seus projetos trafegaram por temas de
saúde e de assistência social, além da defesa das chamadas escolas
cívico-militares, da qual foi o proponente junto a Jair Bolsonaro. E, claro,
militou pelo afrouxamento da vacinação e a abertura do comércio na pandemia.
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Dançando com a covid
No projeto de lei 1/2022, propôs a supressão da
apresentação da carteira de vacinação por parte dos alunos das escolas públicas
e privadas no momento da matrícula. A exigência seria, argumentou, “um ataque
frontal à liberdade individual”.
É também de sua lavra a proposta de impedir o
fechamento de casas comerciais durante a covid-19 sem reunião prévia com
representantes dos empregadores e empregados. No auge da pandemia, seu PL
93/2021 advogou a liberação “de atividades de dança, bem como as aulas de
música no formato individual”. Considerou as práticas como “essenciais para a
população”, alegando que “a saúde mental dá sinais de alerta com o grave
crescimento dos casos de depressão, ansiedade, surtos de desequilíbrio
emocional e até mesmo suicídios” devido ao confinamento.
Zucco lembrou-se também das homenagens. Nomeou Santa
Maria, na região central do estado e que abriga várias unidades militares, a
“Capital dos Blindados”. Provavelmente para não provocar ciúmes, designou
Canoas, na área metropolitana e sede de base aérea, a “Cidade do Avião”.
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O ajudante de ordens do Mourão
“Ao contrário do Ruy Irigaray (PSL, depois cassado)
e do Marcel Van Hatten (Novo), ele não criava caso”, compara um ex-colega no
Parlamento gaúcho. “Era um cara do Mourão (general Hamilton Mourão,
ex-vice-presidente, hoje senador). Na campanha, andava sempre colado no
general. Parecia mais um ajudante de ordens do Mourão do que um deputado”,
cutuca.
A expressão “um cara do Mourão” faz mais sentido
quando se sabe que Zucco trocou o PL de Bolsonaro pelo Republicanos do vice, o
que teria feito, segundo disse em entrevista, para “unir a direita”. Em quatro
anos, o militar transitou por três legendas já que se elegeu pelo PSL. Também
porque era um dos oficiais do Comando Militar do Sul quando Mourão era o
comandante. Dali saiu para ser candidato em 2018.
Zucco pertence à Turma 1996 da Academia Militar de
Agulhas Negras (AMAN) onde travou amizade com o atual governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas. Seu irmão mais velho, Marcelo Lorenzini Zucco, é general e
comanda a 1ª Brigada de Infantaria de Selva. Outro irmão, Rodrigo Lorenzini
Zucco, pegou carona na popularidade do deputado federal e emplacou sua
candidatura à Assembleia gaúcha em 2022 com o nome de “Delegado Zucco”, também
pelo partido de Mourão.
Alguém que o conhece há décadas opina que o
presidente da CPI não sabe lá muito da questão agrária, da importância da
reforma, da história e da gravidade do problema da concentração da terra no
país, sendo mais induzido pela demonização midiática do MST. “Por isso fala as
asneiras que fala”, interpreta. “O Zucco é de direita, mas eu não o vejo como
de extrema direita, digamos gado-gado, muito embora pareça ser”, considera.
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“Luiz Inácio Corrupto da Silva”
Se no Parlamento Zucco não polemizava, nas redes a
conversa era outra. Durante a campanha de 2022, em uma live com o também
deputado estadual Gustavo Victorino, também do Republicanos, apareceu um Zucco
diferente para descrever Lula como “criminoso” e “sempre condenado”.
Descrente das pesquisas que apontavam a preferência
pelo candidato da oposição, a dupla disse que as pesquisas não tinham
credibilidade, que Lula “não tem voto nenhum” e que não tinha coragem de sair à
rua. Haveria até “compra de pesquisas eleitorais” pelo PT. Sem provas ou mesmo
alguma defesa do argumento.
O parlamentar recatado entre seus pares muda de
comportamento para apelidar o petista de “Luiz Inácio Corrupto da Silva”. No
esquema “Um levanta e outro corta”, acusou Lula de desprezar “os valores da
família, da fé e da pátria”.
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Ataques a Leite e a Moro
No canal do hoje deputado federal no Youtube, Lula
continua sendo o alvo, tachado de “um criminoso corrupto que hoje se tornou
elegível”, diz Zucco. Ele afirma não entender como existem pessoas “que não
acham que esse cara não deveria estar preso”. Sobram ataques à vacinação
obrigatória, ao governador Eduardo Leite (PSDB), a Sérgio Moro (então ainda
distante do bolsonarismo) que “traiu o presidente”, à lei Rouanet, à imprensa e
ao STF que “tem tomado decisões absurdas”.
Na live “Brasil, Estado Policial”, deste ano, a
dobradinha ataca outra vez. Para Zucco e seu parceiro, o Brasil está prestes a
se tornar um “estado policial” como a Coréia do Norte. E exalta o armamentismo.
A pancadaria atinge o Senado e seu presidente
Rodrigo Pacheco (PSD). O Senado precisa “criar vergonha na cara”. A casa é tida
como omissa diante das decisões do ministro Alexandre de Moraes e do STF.
Victorino acusa a corte de ser “um balcão ideológico” e sugere “impicha um (no
STF) que eles param”.
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“Esse palhaço do Zucco”
Eleito na avalanche bolsonarista de 2018, Zucco
chegou ao Legislativo gaúcho pela legenda do PSL a bordo de 166.747 votos, a
maior votação no estado. Porém, mal sentara na sua cadeira quando trombou com
uma encrenca.
- Esse palhaço do Zucco, aí, quem ele tá pensando
que é? Tá na rua, o Zucco tá na rua. Sanderson também. Tão tudo fora, tá? Deixa
que nós vamos ajeitar tudo isso aí, fica tranquilo. Te falei. Esses palhaços aí
se deram mal, tão fora, desmoralizados agora, tá bom? Abraço.
Esta verve toda é do então manda-chuva do PSL no
estado, o apresentador de TV e deputado federal Bibo Nunes (PL). O áudio de uma
conversa pelo Whatsapp vazou e foi parar nas páginas dos jornais. Os “palhaços”
no dizer de Nunes eram Zucco e o também deputado pelo PSL, Ubiratan Sanderson.
Na marra, Nunes resolveu remover Zucco da presidência da executiva regional
expondo um racha violento em 2019.
- O Zucco tá fora, não é mais o presidente, tá fora!
Ele, o Sanderson, todos, tão fora, foram expulsos, não estão mais na executiva,
tá.
Conhecido pelo espalhafato, Nunes trazia experiência
no ramo de cortar cabeças no PSL. Inventada presidente estadual por Onyx
Lorenzoni e Bolsonaro, a lojista Carmen Flores foi decapitada após aplicar
parte das verbas do fundo partidário para mobiliar a sede do partido com móveis
comprados na sua própria loja.
Na fogueira de vaidades do bolsonarismo raiz, Nunes
e Zucco eram possíveis candidatos à Prefeitura de Porto Alegre em 2020,
candidaturas que não vingaram.
Zucco desembarcou no Congresso em 2023 como
recordista na preferência eleitoral no Rio Grande do Sul. Conquistou 257.975
votos. É uma carreira meteórica desenvolvida em apenas quatro anos.
Filho de um sargento do exército, nasceu em
Alegrete, na Campanha gaúcha. Depois, pela transferência do pai, a família se
mudou para São Gabriel da Cachoeira/AM. No retorno, Zucco cursou o Colégio
Militar, em Porto Alegre, onde, já formado, foi professor de educação física.
Na cidade natal, obteve somente 5,64% dos votos em
2022. Sua votação mais expressiva ocorreu em cidades com fortes guarnições
militares. Foi o segundo mais votado em Porto Alegre (48.536 votos), Canoas
(11.064) e Santa Maria (9.418).
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O homem do dinheiro
A campanha de Zucco foi bancada principalmente por
verba partidária, mas, entre os doadores individuais, o maior foi o empresário Celso Rigo, da Pirahy Alimentos, que produz o arroz Prato Fino, além das marcas Bem Solto e Sempre &
Bom.
Zucco recebeu R$ 60 mil de Rigo, como demonstra o
site divulgandcontas.tse.jus.br. Generosidade maior de Rigo ocorreu somente com Mourão, então candidato
ao Senado, aquinhoado com R$ 118,3 mil. Prova de fidelidade, o arrozeiro foi
também o maior doador individual de Zucco em 2018. Irrigou com R$ 30 mil sua
campanha para deputado estadual.
Dono de fazendas em São Borja, na região das
Missões, Rigo enriqueceu na indústria e comércio do grão. Começou em 1975 e
hoje é dono de uma gigantesca planta de beneficiamento, sem contar suas
fazendas que somam 11,5 mil hectares, o que equivale a quase 14 mil campos de
futebol, onde pastam cerca de sete mil cabeças de gado de alta linhagem. É o
que relatou em longa entrevista à Zero Hora.
A prosperidade da empresa sofreu certo arranhão em
2021 quando uma postagem no Twitter de Fábio Rigo, filho do bilionário, causou
alvoroço.
Nela, o herdeiro da Pirahy, em meio à pandemia,
desfechava um ataque violento ao Sistema Único de Saúde, o SUS, aos cuidados
para enfrentar a emergência sanitária e à necessidade da imunização. Jactava-se
de ter adquirido a doença e nada ter sofrido, o que alardeava com a ênfase do
palavrão.
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“Prefiro o covid do que essa merda de vacina”
"Quero mais que [o SUS] seja vendido. Quem pode
mais chora menos. Lei da selva. Tive covid e não me fez cócegas. Prefiro o
covid do que essa merda de vacina”, tuitou.
O post correu como um rastilho nas redes e provocou
repulsa imediata. Logo, surgiram as propostas para um boicote ao Prato Fino.
Coincidência ou não, imediatamente Fábio Rigo correu a informar que sua conta
teria sido invadida.
“Tive a conta do Twitter hackeada hoje à tarde, fato
que está causando bastante transtorno. Estamos tomando as devidas providências.
Já peço desculpas de antemão", publicou no Instagram. Seu perfil no
Twitter foi desativado e a Pirahy também soltou uma nota tratando o episódio
como um ataque hacker.
Para quem não lida com negócios e política, o homem
do arroz desfruta de certo conceito por suas investidas no futebol. Celso Rigo
tem sido parceiro do Grêmio em contratações de impacto como as do meia
Giuliano, hoje no Corinthians, e do atacante equatoriano Miller Bolaños,
atualmente no Emelec, com participação também nas vindas recentes do volante
uruguaio Carballo, do meia argentino Cristaldo e do atacante Luis Suárez.
Na terra do benfeitor do tenente coronel, seus votos
não foram tão fartos. Zucco foi o sexto mais votado, somando 4,40% da votação.
Chão de Getúlio Vargas e de João Goulart, a trabalhista São Borja deu 16 pontos
de vantagem a Lula sobre Bolsonaro. Também triunfaram os concorrentes petistas
ao governo estadual Edegar Pretto, e ao Senado, Olívio Dutra. Lá, como dizem os
gaúchos, foi uma vitória de rebenque em pé.
Fonte: Brasil de Fato
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