Pesquisa
mostra por que brasileiros deixam escola
Quando deixou Araioses, no Maranhão, de ônibus e
percorreu mais de 2 mil quilômetros até Brasília, em 2017, Maria de Fátima
Santos, então com 18 anos de idade, sonhava engatar em uma profissão no
comércio e voltar aos estudos. Aos 15 anos, Maria de Fátima tinha abandonado a
escola, no quinto ano fundamental, para ajudar em casa.
Ela trabalhava no interior maranhense como diarista.
Os livros não tinham espaço, nem eram prioridade na rotina da jovem. Hoje, em
Brasília, a escola é só um sonho distante. Atualmente, perto dos 25 anos de
idade, ela vive da coleta de objetos no lixo de condomínios para conseguir
algum recurso, pagar o aluguel e mandar ao menos R$ 50 para a mãe, que ficou em
Araioses.
Da escola, Maria de Fátima diz que sente falta das
aulas de matemática. “Eu gostava e iria me ajudar na minha vida hoje.”
Deixar a escola em plena juventude não é raro no
Brasil, conforme aponta uma pesquisa realizada pelo Sesi/Senai (Serviço Social
da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em parceria com o
Instituto FSB Pesquisa. Depois dos 16 anos, apenas 15% estão em salas de aula.
”Os dados são fortes. Só 15% da população atualmente
estuda. É claro que, na idade escolar, o número sobe para 53%”, afirmou o
diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.
Das pessoas que não estudam, 57% disseram que
abandonaram a sala de aula porque não tinham condições. A necessidade de
trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção dos estudos.
“Um número muito alto de pessoas deixa de estudar
por falta de interesse na escola que, muitas vezes, não tem elementos de atratividade
para os jovens e certamente esses números se agravaram durante a pandemia”,
afirmou Lucchesi.
O levantamento mostrou que apenas 38% das pessoas
com mais de 16 anos de idade que atualmente não estudam alcançaram a
escolaridade que gostariam.
Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para
deixar de estudar é a gravidez ou o nascimento de uma criança. A evasão escolar
por gravidez ou pela chegada de um filho é maior entre mulheres (13%),
moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional,
de 7%.
• Preparo
O levantamento revela também que a maioria dos
jovens acima dos 16 anos de idade considera que a maioria dos que têm ensino
médio ou ensino superior considera-se pouco preparada ou despreparada para o
mercado de trabalho.
O levantamento foi realizado com uma amostra de
2.007 cidadãos com idade a partir de 16 anos, nas 27 unidades da federação. As
entrevistas foram feitas entre 8 e 12 de dezembro do ano passado.
Entre as pessoas que responderam a pesquisa, 23%
disseram que a alfabetização deveria ser prioridade para o governo, seguida
pela instituição de creches (16%) e pela ênfase no ensino médio (15%).
A educação pública é vista como boa ou ótima por 30%
da população, índice que sobe para 50% quando se fala de educação privada.
Entre os fatores para aumentar a qualidade, os mais
citados são o aumento do salário dos professores, mais capacitação deles e
melhores condições das escolas.
• Avaliação
Pelo menos 23% das pessoas ouvidas na pesquisa
avaliaram a educação pública como ruim ou péssima e só 30% a consideraram ótima
ou boa. A educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos
entrevistados.
Para Rafael, Lucchesi, a pesquisa traz uma dura
reflexão sobre a necessidade de aumentar a qualidade da educação e também a atratividade
da escola e, “como resultado geral, melhorar a produtividade das pessoas na
sociedade”.
Intercâmbio
é vontade de 75% dos estudantes, revela estudo
Fazer intercâmbio para investir na carreira está nos
planos de 75% dos estudantes. Segundo o levantamento Selo Belta, realizado pela
Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio, 15,4% dos interessados
planejam a viagem para o segundo semestre deste ano, enquanto 28,6% estão de
olho em concretizar o plano no 1º semestre de 2024, e 21% esperam viajar em
2025 ou em data posterior .
"A pesquisa Selo Belta 2023 mostrou que há um
interesse genuíno dos estudantes pela experiência internacional. Mas só isso
não basta. Todos os fatores do destino escolhido, como qualidade de vida do
país e do ensino escolhido, precisam ser pensados na hora de realizar a
experiência, pois impactarão diretamente no investimento final", explica
Alexandre Argenta, presidente da Belta, em entrevista ao
A lista de destinos que podem conciliar estudo e
trabalho ganham a preferência dos estudantes, como por exemplo, o Canadá
(21%), Estados Unidos (16,5%), Reino
Unido (11%) e Austrália (5,6%).
Outro destino que se destaca na busca dos viajantes
é a Argentina. O país tem uma moeda desvalorizada quando comparada ao real,
assim barateando o preço das passagens aéreas, o que se torna atrativo para o
bolso dos estudantes. Além disso, não é preciso do visto, caso o programa dure
até 90 dias.
Ministro
defende liberação de verba do FAT para alunos do ensino médio
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho,
defendeu nesta quinta-feira (25), no Rio de Janeiro, a destinação de parte dos
recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para bolsas de estudo voltadas
a estudantes de baixa renda do ensino médio.
A medida igualaria oportunidades dos jovens de baixa
renda com famílias de renda mais alta. “A bolsa daria equidade à juventude”,
afirmou, ao encerrar, na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
(Firjan), o seminário “Perspectivas para o Futuro do Trabalho”, comemorativo do
Dia da Indústria, celebrado hoje.
O ministro disse estar disposto a fazer um debate
internamente no governo e com a sociedade sobre esse tema, e considera “um
equívoco” o FAT financiar a previdência.
“O FAT tem que estar destinado para a proteção do
trabalhador, do seguro-desemprego, da qualificação, formação e educação dos
jovens”, afirmou. Ele acredita que pode estar aí uma solução para reduzir a
evasão escolar e elevar o nível de conhecimento do conjunto da sociedade,
visando atingir o desenvolvimento tecnológico.
Luiz Marinho esclareceu que o Brasil enfrenta o
desafio de melhorar o ensino médio, introduzindo aí também o ensino
profissionalizante. A ideia é universalizar o ensino integral, introduzindo
capacitação “para valer” no ensino médio.
“Que o jovem saia do ensino médio capacitado para o
mercado de trabalho”, opinou. Para reter o aluno, para que não deixe de
concluir o ensino médio, ele receberá uma bolsa com recursos do FAT e do
Ministério da Educação (MEC).
O ministro do Trabalho e Emprego reconheceu que não
daria para implantar a medida de uma vez, mas de forma gradativa. “Eu acho que
é um debate que temos de olhar para o futuro e não simplesmente no curto prazo.
Acho que o Brasil está devendo isso a nossa juventude”.
Ele citou ainda que, para melhorar a escolarização,
não precisa ser padrão Coreia do Sul, mas dos institutos federais de ensino.
“Nós temos experiência no Brasil. O jovem que tem
oportunidade de ir para o instituto federal sai gabaritado para o mercado de
trabalho, na medida em que conclui o ensino médio. Esse é o padrão que nós
temos que implantar em todo o ensino médio brasileiro”, assegurou.
• Contratos
coletivos
Luiz Marinho defendeu também a negociação coletiva
no mercado de trabalho brasileiro. Destacou que a última reforma instituiu o
mecanismo da negociação individual.
“Valorizou mais a negociação individual do que o
contrato coletivo. Isso é um equívoco da legislação e um ponto que o grupo
tripartite tem que visitar para trazer uma solução e valorizar a negociação
coletiva”, salientou.
Para isso, ele afirmou que é necessário ter
sindicatos representativos. “Tem que valorizar a presença dos sindicatos, sua
condição financeira de atuar e representar. Isso vale para trabalhadores e
empregadores”, ponderou.
Em relação aos trabalhadores de aplicativos, o
ministro considerou equivocada a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), que negou vínculo empregatício a um motorista
de aplicativo, determinando que o caso seja apreciado pela Justiça Comum e não
pela Justiça do Trabalho.
“Acho um grande equívoco. Se for assim, manda fechar
a Justiça do Trabalho”, disse. Na avaliação do ministro, o Ministério Público
vai entrar com recurso. “Nós vamos conversar com o ministro (Moraes) para
sensibilizá-lo, porque acho que não é a decisão mais adequada”. Considerou que
Alexandre de Moraes tem sensibilidade e a decisão pode ser revista. “É um
processo em debate”, assegurou.
• Regulação
As negociações dos trabalhadores de aplicativos
constituem um processo que o Ministério do Trabalho está discutindo com
trabalhadores e empregadores para construir um mecanismo de regulação.
“Temos que regular esse processo. Regular do ponto
de vista de enquadramento econômico. Qual é a atividade econômica dessas
empresas, porque há desde empresas que dizem ser do sistema financeiro, de
tecnologia, até locação de veículos. O Brasil tem que enquadrá-las em uma única
atividade econômica e, a partir daí, ver qual a forma de trabalho. É possível
pensar, como eu costumo chamar, de cesta de possibilidades, onde o trabalhador
pode ter opção, negociando com a empresa. Se trabalha de forma exclusiva, tem
vínculo; se trabalha de forma eventual, pode ser enquadrado como autônomo”,
indicou.
“O que precisa garantir é a proteção social acima de
tudo. Hoje, esses trabalhadores não têm nenhuma proteção social. Isso tem que
ser garantido. É preciso olhar a valorização do trabalho, como ter um processo
de transparência por parte das plataformas, estabelecendo qual é a base da
remuneração, o mínimo. Não pode uma corrida ser apropriada pela plataforma em
cerca de 60%, como dizem que é o caso. Tem que dar transparência a isso. Não
pode um trabalhador sofrer uma punição e não saber qual é essa punição. E, ao
dialogar, não dialoga com uma pessoa, mas com uma máquina. É preciso que tenha
uma pessoa do lado de lá para dar explicação, para dar a ele um conforto, uma
justificativa”, apontou o ministro.
Para ele, a situação é bastante nebulosa em relação
a essas relações e a regulação tem que trazer solução para isso. Afirmou que
tem havido reuniões de escuta em separado com trabalhadores e empresas de
aplicativos e, no próximo dia 5 de junho, será feito o lançamento do grupo de
trabalho conjunto, de onde será tirado um calendário de debates.
“Esperamos chegar em uma construção conjunta para
submeter ao Congresso Nacional”, antecipou. A estimativa é que os trabalhadores
de aplicativos cheguem a dois milhões de pessoas no país, mas o ministro
afiançou que, “independentemente da quantidade, é preciso tratar com carinho”.
FGTS
Em relação ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS), o ministro reiterou sua decisão de “salvar” o Fundo de Garantia porque,
“no patamar em que estamos, nós estamos destruindo o fundo sob dois aspectos:
um fundo que proteja o trabalhador no infortúnio do desemprego e um fundo de
investimento, habitação e saneamento que, na outra ponta, gera oportunidades de
emprego”.
Assegurou que o sistema financeiro está criando uma
ilusão e uma armadilha para esse trabalhador que antecipa o seu fundo e, quando
é demitido, “conforme já aconteceu com muita gente, se dá conta que gastou não
em uma função tão nobre sob o seu ponto de vista, como seria a proteção no
infortúnio do desemprego”.
O ministro completou que “nós estamos enfraquecendo
o FGTS sob esses dois aspectos”. Para salvar o FGTS, reiterou que precisa ser
revisto o que foi feito no governo anterior. Ele mostrou confiança em que essa
revisão pode ser feita ainda este ano.
Fonte: Agencia Brasil/Terra
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