quinta-feira, 4 de maio de 2023

Imprensa quer Brasil subordinado aos EUA e calado sobre temas geopolíticos, diz analista palestino

Após repudiar em uníssono declarações de Lula sobre a questão ucraniana, a mídia brasileira se une para criticar fala do presidente sobre a Palestina. Para o presidente da Federação Árabe Palestina, grande imprensa brasileira se subordina aos interesses dos EUA e quer presidente calado sobre assuntos geopolíticos internacionais.

Falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre acontecimentos internacionais têm sido algo de rechaço pela mídia tradicional brasileira, apontando para um descompasso entre a grande imprensa e a política externa lulista.

Durante o mês de abril, declarações de Lula sobre o conflito na Ucrânia foram recebidas com antipatia pelos grandes veículos de comunicação, que transmitiram a oposição da Casa Branca a possíveis negociações de paz.

O mês de maio começou com polêmica similar, desta vez sobre o conflito israelo-palestino. Durante visita à Espanha, Lula lamentou que organizações como a ONU não demonstrassem empenho na criação do Estado Palestino.

"A ONU era tão forte que, em 1948, conseguiu criar o Estado de Israel. Em 2023, não consegue criar o Estado palestino", disse Lula durante coletiva junto ao presidente da Espanha, Pedro Sánchez, em Madri.

A declaração do mandatário brasileiro foi criticada por instituições ligadas ao movimento sionista e pela Embaixada de Israel em Brasília. No entanto, para o presidente da Federação Árabe Palestina no Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, o mais preocupante foi a cobertura da imprensa brasileira, que propagou uma narrativa única sobre o tema.

"Há um alinhamento absolutamente acrítico [...] dos veículos de comunicação no Brasil quando o assunto é o Oriente Médio", disse Rabah à Sputnik Brasil. "A única verdade ouvida pelos veículos de comunicação no Brasil é aquela que interessa ao Ocidente político"

O presidente da FEPAL lamentou que nenhum jornal se mostrou interessado em veicular a posição da Embaixada da Palestina sobre o assunto, se limitando a veicular a posição da Embaixada de Israel.

A imprensa brasileira vem criticando as declarações de Lula, alegando que elas "geram desgaste" com aliados como EUA e União Europeia, considerando-as descuidadas e nocivas ao interesse nacional.

"Os veículos de comunicação não estão preocupados com o que o Lula está dizendo, mas sim com o que o Lula está fazendo", acredita Rabah, citando a recente assinatura de acordo entre Brasil e China para evitar o uso do dólar no comércio bilateral e a recepção do chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília, no mês de abril. "O problema não é o que Lula fala, mas o que ele faz."

•        Ativismo lulista

Apesar da forte oposição à fala de Lula, ela não representa uma ruptura com a posição tradicional do Brasil, que defende a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino.

"O que muda é a proatividade de Lula, que se propõe uma solução para a questão, retomando a política externa altiva e ativa dos seus primeiros mandatos", considerou Rabah. "O Brasil renova o momento proativo para resolver a grande questão ainda não resolvida no âmbito da ONU, que é a questão palestina."

Segundo ele, a posição brasileira não deve gerar oposição por parte da maioria dos países do mundo, que adotam a mesma postura.

"Só dois países não concordam com a formação do Estado da Palestina como membro da ONU: Israel e os EUA, que impõem o veto", disse Ualid.

Ele identifica, também, a oposição da mídia brasileira às diversas propostas de paz colocadas pelo governo brasileiro desde a posse de Lula.

"Quando Lula fala sobre a Ucrânia ou sobre a Palestina, ele não fala em guerra, mas sim em paz. As motivações desses conflitos podem, sim, ser seculares. No caso da Ucrânia, pode remontar a 2014 e ao sofrimento da população de Donbass, de fala russa", disse Rabah. "Mas quando ele fala em paz parece que o presidente irrita os veículos de comunicação."

A oposição às negociações de paz indica interesse de potências internacionais em prolongar os conflitos internacionais e em "adquirir bilhões de dólares em gastos militares" para destruir a Ucrânia e a Rússia.

"Os veículos de comunicação de massa no Brasil não veem com bons olhos quando o governo se manifesta sobre questões geopolíticas e intranacionais. Há um veto. Quem deveria falar sobre isso é os EUA, e caberia ao Brasil somente se subordinar a isso", concluiu Rabah.

No dia 26 de abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a inação da Organização das Nações Unidas (ONU) em relação à criação de um Estado Palestino, durante coletiva de imprensa ao lado do presidente espanhol, Pedro Sánchez. A declaração gerou repercussão negativa na grande mídia brasileira, entre representantes do governo de Israel e entidades vinculadas ao movimento sionista.

 

       Ajudar a Argentina significa ajudar o Brasil. Por Marcelo Zero

 

A nossa mídia tradicional tem muita dificuldade em entender que é do interesse brasileiro “ajudar” parceiros importantes.

É o que se pode deduzir das notícias sobre a vinda do presidente argentino Alberto Fernández ao Brasil para buscar auxílio, face à crise econômica que assola aquele país vizinho.

Há um questionamento generalizado sobre se o Brasil deveria “ajudar a Argentina”, inclusive com a possibilidade de comerciar sem o dólar. Argumentam que o Brasil poderia ser prejudicado, que o BNDES já foi afetado por empréstimos para países vizinhos etc.

Bom, em primeiro lugar, o BNDES não empresta dinheiro para governos ou países. O BNDES, por lei, só pode conceder empréstimos para empresas brasileiras exportarem bens ou serviços. Bancos de desenvolvimento ou “eximbanks” de muitos países fazem isso o tempo todo, de modo a assegurar a competitividade internacional de suas empresas. 

Há cerca de 200 grandes empresas brasileiras que exportam para a Argentina. Na maioria, são indústrias importantes, já que 90% das nossas exportações para aquele país são de manufaturas de alto valor agregado.

Saliente-se que, mesmo com a crise, a indústria de transformação brasileira exportou, no ano passado, mais de US$ 13 bilhões para a Argentina. Exportamos muitos automóveis, motores, partes de automóveis, caminhões, chassis, tratores, colheitadeiras, máquinas, celulares etc. para nosso vizinho. A Argentina é um dos poucos mercados, no qual nossas manufaturas são competitivas.

Entretanto, devido à crise financeira e à carência de dólares na Argentina, essas empresas estão com dificuldades em manter essa importante corrente de comércio.

O mesmo não ocorre, contudo, com empresas chinesas que exportam para a Argentina, as quais têm apoio financeiro decidido de seu governo.

Por isso, ou em boa parte por causa disso, as empresas brasileiras estão perdendo exportações para as chinesas, nesse estratégico mercado para o Brasil e sua indústria.

Em 2021, a China ultrapassou o Brasil no mercado argentino, embora nosso país continue a ser, em sentido contrário, o principal destino das exportações argentinas, já que a China importa relativamente pouco daquele país. 

Segundo cálculos do governo, o Brasil perdeu, nos últimos 5 anos, cerca de US$ 6 bilhões de exportações para a Argentina, em virtude da falta de apoio financeiro adequado para nossos exportadores. Por conseguinte, é do interesse do Brasil manter e estimular a corrente de comércio bilateral com a Argentina. 

Não se trata de ajudar gratuitamente um “governo amigo”. Trata-se, essencialmente, de ajudar o Brasil e suas empresas. Trata-se de evitar um prejuízo ainda maior e, talvez, irreversível. Uma vez que se perde espaço em um mercado, é muito difícil recuperá-lo depois.

Deve-se observar que a crise atual da Argentina não é uma crise causada por “gastanças” e “irresponsabilidade fiscal”. 

A crise atual da Argentina é, sobretudo, uma crise climática, como reconhece o próprio FMI.

Há três anos que a Argentina enfrenta uma seca severa, que afeta 55% de seu território. Obviamente, essa seca histórica, fruto de 3 anos seguidos de La Niña, está afetando fortemente as safras das commodities agrícolas argentinas e, consequente, o afluxo de dólares para o mercado interno daquele país.

A safra da soja, por exemplo, está em apenas 48% do seu potencial normal. Espera-se, para este ano, um prejuízo direto de pelo menos US$ 20 bilhões, somente para soja e o milho.

Isso é mortal para um país que depende da exportação de commodities para ter acesso a moedas fortes. As reservas internacionais próprias da Argentina estão em somente US$ 2, 7 bilhões.  Um nada. Embora a Argentina tenha obtido um empréstimo de US$ 44 bilhões com o FMI, a situação continua a se deteriorar.

Além, disso, o encarecimento do dólar provoca um grande aumento da inflação, que já está em mais de 100%.

Não obstante, a crise da Argentina será, em algum momento, superada. Essa seca não será eterna. Segundo os meteorologistas, este ano a La Niña deverá ser substituída por El Niño, o que deverá propiciar chuvas abundantes no Cone Sul.

Os chineses, que bobos não são, já concordaram em fazer um swap em renminbis para facilitar suas exportações para a Argentina. Apostam, acertadamente, numa relação de longo prazo mutuamente benéfica.

Bobos são aqueles que não têm visão estratégica e que não conseguem ver que as relações bilaterais Brasil/Argentina são fundamentais para nosso país. 

Para esses bobos, só restaria, como diria ironicamente Manuel Bandeira, tocar um tango argentino. Estão fadados à extinção.

 

       Lula diz que Brasil vai falar com FMI para 'tirar a faca do pescoço' da Argentina

 

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse na terça-feira (2) durante a visita de seu homólogo argentino, Alberto Fernández, que tentará conversar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a dívida do país vizinho.

"Eu pretendo conversar, através do meu ministro da Fazenda, com o FMI para tirar a faca do pescoço da Argentina", disse Lula em uma declaração conjunta com Fernández.

O presidente brasileiro acrescentou que o FMI "sabe como a Argentina se endividou, sabe para quem emprestou e não pode ficar pressionando. Um país que só quer crescer, gerar emprego e melhorar a vida do povo".

Lula também disse que dialoga com bloco do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) sobre como ajudar a Argentina. Segundo disse, está comprometido com o país vizinho e fará "todo e qualquer sacrifício" para ajudá-lo "neste difícil momento".

Na segunda-feira (1º), o governo brasileiro informou que estuda uma linha de crédito para estimular as exportações para Argentina, como uma forma de paliar a grave crise econômica que esse país enfrenta.

"Precisamos ajudar os empresários brasileiros que exportam para a Argentina e financiar as exportações brasileiras, como a China faz com os produtos chineses. Estamos discutindo uma forma para que nossos exportadores continuem com suas empresas vendendo para a Argentina", afirmou o presidente na terça-feira (2).

Lula disse que seu país precisa de garantias da Argentina e manter uma conversa institucional com os empresários brasileiros e o Congresso para concretizar a medida.

Fernández, por sua vez, comemorou e valorizou o apoio explícito que Lula lhes deu "como país e como governo".

"Eles tomaram a decisão de ajudar as empresas brasileiras a continuar a exportar para a Argentina e nos haviam pedido alguns deveres que fizemos, que tem a ver com garantias necessárias para que o Brasil possa favorecer esses créditos", disse ele.

O presidente peronista disse que nos anos que precederam "o Brasil perdeu nas exportações em relação à Argentina".

"Eu quero que o Brasil recupere esse terreno perdido e preciso que nos ajude a recuperá-lo."

Por fim, Fernández disse que uma viagem de Haddad a Buenos Aires foi acordada para continuar avançando no assunto.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Brasil 247

 

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