segunda-feira, 29 de maio de 2023

Brasil liderou suspeitas de fraudes em apostas online em 2022, diz consultoria

O Brasil é o país com o maior número de suspeitas de fraudes em apostas que visam acertar resultados de competições esportivas no mundo, de acordo com a Sportradar, uma empresa estrangeira que acompanha as possibilidades de fraude em 400 casas de apostas pelo mundo. Na sequência, aparecem a Rússia e a República Tcheca. A vizinha Argentina ficou seis posições abaixo.

A empresa compila dados sobre esportes para que os apostadores tenham informações para poderem tomar decisões, também diz que os jogos têm sinais de fraudes em apostas.

Só em 2022, o Brasil teve 152 casos de possíveis fraudes apontados no levantamento. A Rússia teve 92; a República Tcheca, 56; o Cazaquistão, 43; a China, 41; a Grécia, 40; e a Argentina, 39.

Esses números são referentes a todos os esportes, não apenas a futebol.

O banco de dados da Sportradar analisa informações de mais de 400 casas de apostas, de todos os esportes. Um dos pontos para investigar supostas fraudes são lances altos. Quando surgem valores elevados de apostas em comparação com a média, entende-se que há um problema em potencial que precisa ser investigado: a empresa acende o sinal de alerta toda vez que surge um valor fora da curva.

As próprias empresas de apostas também fazem alertas à Sportradar quando identificam que há um volume de dinheiro fora do normal.

Também são analisadas movimentações e possíveis alertas de manipulação. Mudanças drásticas nas possibilidades e picos na quantidade de apostas, por exemplo, acendem um sinal vermelho. A maioria dos casos acontece em jogos de torneios de terceira divisão ou de times pequenos.

Tom Mace, diretor de operações da Sportradar, diz ao g1 que a empresa analisa a movimentação nas apostas para detectar os possíveis alertas de manipulação. “Mudanças drásticas nas probabilidades (de resultados) e picos nos volumes de apostas são uma bandeira vermelha", ou seja, uma indicação de que os apostadores conseguiram manipular um jogo.

Esses picos de apostas muitas vezes só existem porque alguns apostadores têm conhecimento prévio de um determinado resultado de jogo, ele afirma. “A mesma lógica se aplica a apostas em cartões amarelos e número de escanteios, e vimos várias partidas suspeitas com esse tipo de manipulação aumentarem nos últimos anos”, afirma Mace.

A empresa dele já presta serviços para a própria CBF e para algumas entidades estaduais de futebol no Brasil.

O problema é que o grosso das fraudes em apostas não acontece nos principais campeonatos de um país. “No futebol global, 52% dos jogos suspeitos aconteceram na terceira divisão ou ainda mais baixa, inclusive os torneios regionais e juvenis”, afirma Mace.

Nessas competições, segundo ele, há um outro fator que contribui para um incentivo a fraudes: os salários já são muito mais baixos do que nos torneios importantes –muitas vezes, há até mesmo falta de pagamento.

O Ministério Público de Goiás já investiga desde fevereiro um grupo especializado em fraudar resultados de jogos da série B do Campeonato Brasileiro.

·         O que fazer?

Declan Hill, um jornalista canadense que já escreveu um livro sobre casos como esses no futebol, afirmou ao g1 que tem dito há anos que há problemas no futebol brasileiro, mas que nada foi feito a respeito disso até o momento.

A melhor política para tentar diminuir a vulnerabilidade dos torneios esportivos a fraudes de negociação de resultados é adotar diversas medidas ao mesmo tempo, afirma Tom Mace.

Uma delas é aumentar as penalidades para aqueles que forem descobertos, se possível na Justiça esportiva, mas também na Justiça comum.

Ele ainda afirma que é preciso ter uma estrutura de investigação para esse tipo de fraude, com pessoas capazes de identificar possíveis sinais de combinação de resultados.

·         Casos de fraudes em outros países

O histórico de fraudes e combinação de resultados em torneios é longo. No entanto, no passado recente, alguns desses casos tiveram implicações como a suspensão de times inteiros ou banimento de juízes que tinham sido cooptados por máfias de apostadores.

Relembre abaixo alguns desses casos:

  • Em 2004, Robert Hoyzer, um árbitro alemão, deu dois pênaltis inexistentes em um jogo entre os times do Hamburg e Paderborn. Meses depois, em janeiro de 2005, quatro outros árbitros denunciaram Hoyzer, que havia procurado colegas para interferir em resultados de jogos. Durante o processo, ele confessou que estava a serviço de mafiosos da Croácia.
  • Na temporada de 2014 – 2015, o time romeno Gloria Buzau, da segunda divisão do país, entregou diversos jogos para que apostadores ganhassem dinheiro. Três técnicos e 14 jogadores foram punidos com suspensões de mais de dois anos do esporte.
  • Em 2016, o juiz de uma partida entre África do Sul e Senegal que era jogada pelas Eliminatórias da Copa do Mundo deu um pênalti não existente para os sul-africanos. O juiz depois foi condenado por tentar fraudar o resultado do jogo e expulso do esporte. Os dois times jogaram novamente.
  • Em 2018, um dos principais times da Albânia, o Skenderbeu e todos os jogadores foram expulsos de uma competição por dez anos por terem entregado um jogo.

 

Ø  Como funcionava a máfia das apostas

 

Uma investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO) levantou centenas de provas que trouxeram à tona um dos maiores escândalos do futebol brasileiro. A “Operação Penalidade Máxima” apontou o envolvimento de jogadores em um esquema de manipulação de resultados de partidas.

Segundo as investigações, para cometer as fraudes, os atletas eram acionados por apostadores, que prometiam dinheiro por penalidades específicas:

  • número determinado de faltas;
  • levar cartão amarelo;
  • garantir um número específico de escanteios para um dos lados;
  • atuar para a derrota do próprio time.

Foram identificadas fraudes em partidas do Campeonato Brasileiro da Série A e da Série B de 2022 e de campeonatos estaduais realizados em 2023.

·         A operação

As investigações da Operação Penalidade Máxima começaram no final de 2022, quando o volante do Vila Nova, em Goiás, Romário, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Na época, a situação foi denunciada pelo presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que entregou as provas ao MPGO.

Segundo o Ministério Público, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 500 mil para que cometessem lances específicos nos jogos, como um número determinado de faltas, levar cartão amarelo, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time.

O órgão explicou que o esquema funcionava sobre uma divisão de quatro núcleos: os apostadores, que contratavam e aliciavam jogadores, além de pagarem os jogadores e fazerem as apostas nos sites esportivos; os financiadores, que asseguravam a existência de verbas para o pagamento dos jogadores aliciados e também nas apostas manipuladas; os intermediadores, que indicavam contatos e facilitavam a aproximação entre apostadores e atletas; o núcleo administrativo, que fazia transferências financeiras aos integrantes do grupo.

A investigação mostrou que o grupo tinha uma série de estratégias para cometer as fraudes. Entre elas, o uso de robôs que entravam em até 35 contas ao mesmo tempo para fazer apostas. Além disso, usavam contas nos sites de apostas em nome de laranjas que ganhavam porcentagens depois pelo empréstimo. Segundo o MP, para manter apostas de alto valor sem chamar a atenção para a fraude das casas de apostas, eles precisavam fazer vários jogos com valor menor.

·         Quais são as penas previstas?

Os jogadores denunciados vão responder pelo artigo 41-C do Estatuto do Torcedor:

  • crime com pena de reclusão de dois a 6 seis anos e multa: solicitar ou aceitar, para si ou para outro, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competições esportivas.
  • Já os integrantes dos núcleos devem responder por organização criminosa, podendo ter pena de 3 a 8 anos de prisão e multa.

 

Ø  CPI das Apostas: deputado requer convocação de 7 empresas

 

Integrante da CPI das Apostas Esportivas, Luciano Vieira apresentou requerimento para convocar sete empresas do setor. O deputado quer que prestem depoimento representantes da Pixbet, SportingBet, Bet 365, Betfair, Betano, Parimach e Betsson.

“O escândalo das apostas esportivas no Brasil só começou após essas empresas se instalarem no país, há cerca de seis anos. Não vamos prejulgar ninguém, mas é importante que alguns pontos sejam esclarecidos”, diz Vieira.

O presidente da CPI, Felipe Carreras, contudo, não demonstra disposição de pautar a votação dos requerimentos. Diante do imbróglio, Vieira diz que atuará para “obstruir” as demais votações da comissão.

 

Fonte: Metrópoles/g1

 

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