Os alisadores de
cabelo que levaram consumidores a processar empresas nos EUA
O
relaxamento capilar existe há mais de 100 anos. Em questão de minutos, produtos
químicos são capazes de alisar cabelos crespos ou cacheados.
Mas
agora mais de 100 processos judiciais foram abertos nos Estados Unidos contra
empresas que fabricam alguns desses produtos.
A
filial americana da L'Oréal e os proprietários de outros relaxantes capilares
são citados nos processos — as marcas incluem Dark & Lovely, ORS Olive
Oil e Motions.
As
ações alegam que os produtos contêm substâncias químicas perigosas que podem
causar câncer e outros problemas de saúde. Também afirmam que as empresas
sabiam disso, mas comercializaram e venderam os produtos mesmo assim.
O
primeiro processo foi aberto dias após a divulgação de um estudo em outubro de
2022 pelo
National Institutes of Health, uma agência de pesquisa biomédica do governo dos
Estados Unidos.
Eles
investigaram uma possível ligação entre o uso de relaxantes capilares e o
câncer de útero.
Quase
34 mil participantes foram acompanhadas por mais de 10 anos. Nesse período,
foram diagnosticados 378 casos de câncer de útero. O estudo concluiu que
pessoas que usaram os alisadores mais de quatro vezes em um ano apresentaram um
risco ligeiramente maior de desenvolver a doença.
A
principal autora do estudo, Alexandra White, explica que os pesquisadores
"estimaram que 1,64% das mulheres que nunca usaram alisante capilar
desenvolveria câncer de útero aos 70 anos".
"Mas
para usuárias frequentes, esse risco sobe para 4,05%", ela acrescenta.
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Mais pesquisas são necessárias
No
entanto, Karis Betts, gerente sênior de informações de saúde da organização
Cancer Research UK, diz que, embora o estudo sugira uma ligação, não oferece
evidências claras sobre se os produtos para alisamento de cabelo podem
realmente aumentar o risco de uma pessoa desenvolver câncer de útero ou, se for
este o caso, quão maior pode ser o risco.
"No
momento, não há evidências científicas suficientes de qualidade para mostrar
que esses produtos causam câncer", afirma.
"São
necessárias mais pesquisas em estudos maiores e de maior qualidade para
confirmar se existe uma ligação. É importante lembrar que, mesmo que houvesse
um maior risco de câncer devido ao alisamento capilar, provavelmente seria
menor do que as causas conhecidas de câncer, como idade, tabagismo e
obesidade."
Karis
acrescenta que o câncer de útero é relativamente raro — portanto, mesmo com um
risco ligeiramente maior, ainda não seria comum.
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Como funcionam os relaxantes capilares?
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Os relaxantes são cremes ou loções formulados com produtos químicos para alisar
cabelos crespos e cacheados;
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Eles quebram as pontes de dissulfeto — um tipo de ligação química encontrada no
interior das fibras capilares — reestruturando os padrões do cabelo crespo ou
cacheado;
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Há diferentes tipos de relaxamento: os relaxantes de lixívia usam hidróxido de
sódio, os sem lixívia utilizam outros ingredientes ativos, como hidróxido de
cálcio ou hidróxido de guanidina; e há ainda aqueles que usam tioglicolato de
amônia;
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Eles são permanentes, mas o cabelo novo que nasce e cresce vai continuar em sua
textura natural;
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Algumas empresas oferecem produtos alternativos para mulheres com cabelos
texturizados.
Os
cientistas não conseguiram identificar um produto químico ou ingrediente
específico nas fórmulas dos relaxantes capilares que poderia ser perigoso — e
disseram que mais pesquisas são necessárias.
Mas
os processos judiciais também alegam que outros problemas de saúde, como
miomas, foram causados pelos produtos.
Esses
tumores benignos no útero podem causar um fluxo menstrual forte e cólicas
intensas.
Uma
mulher citada nos processos judiciais afirma que foi submetida a uma
histerectomia (retirada total ou parcial do útero) como resultado da condição.
Ela
é uma das pelo menos 20 clientes representadas pelo advogado especializado em
danos pessoais James Foster e sua firma.
"Ela
acabou sendo uma das modelos na capa da embalagem de um dos produtos que
usava", diz ele. "Ela realmente acreditava nesses produtos e estava
disposta a se colocar na embalagem deles."
"E
agora que isso veio à tona, tem sido bastante devastador para essa cliente em
particular. Ela é muito jovem e, obviamente, foi muito difícil para ela."
Alguns
acreditam que as substâncias químicas encontradas em certos produtos para
relaxamento capilar podem interferir na produção de hormônios no corpo.
Alguns
tipos de câncer são sensíveis a hormônios, como o câncer de ovário, de mama e
de útero.
Em
2021, um estudo publicado no Carcinogenesis
Journal da Universidade de Oxford, no Reino Unido, encontrou algumas
evidências de que o uso intensivo de relaxantes capilares que incluem lixívia (lye,
em inglês) como ingrediente pode estar associado a um risco maior de um tipo
específico de câncer de mama.
No
entanto, o estudo afirmava que mais pesquisas precisariam ser feitas para ter
certeza se é realmente o caso.
O
estudo inspirou o grupo ativista Level Up a lançar a petição #NoMoreLyes em
2021, pedindo a grandes marcas como a L'Oreal que parassem de usar o
ingrediente.
A
Level Up afirma que ainda não obteve resposta da empresa a um pedido de
informações mais detalhadas sobre a segurança dos produtos químicos em seus relaxantes
capilares.
O
grupo divulgou agora uma carta aberta à L'Oréal, pedindo à companhia que retire
de venda os produtos contendo lixívia e invista mais em pesquisas.
Também
foi assinada por 10 parlamentares.
"Sinto
que estamos sendo deliberadamente ignorados", diz a ativista Ikamara
Larasi. "Com uma carta aberta, espero que eles dediquem tempo para
responder."
"Isso
me deixa frustrada", acrescenta. "Acho que as pessoas têm uma atitude
de 'tudo bem, não use [relaxantes] então', mas há tantas razões pelas quais as
pessoas optam por alisar o cabelo que simplesmente não é um argumento
útil."
Um
porta-voz da L'Oreal no Reino Unido disse à BBC que, embora não importe ou
venda produtos Dark & Lovely
no país, respondeu a todas as solicitações
de consumidores do Reino Unido que recebeu, "confirmando que mantemos os
mais altos padrões de segurança para todos os nossos produtos".
Eles
acrescentaram que a maior prioridade da L'Oréal é a "saúde, bem-estar e
segurança" de todos os seus consumidores e que seus produtos foram
submetidos a uma rigorosa avaliação científica de sua segurança por
especialistas que também garantem que eles sigam rigorosamente todos os
regulamentos em todos os mercados em que operam. E acredita que as ações
movidas contra a empresa "não têm mérito legal".
O
podcast If You Don't Know, da BBC, também entrou em contato com a Godrej SON
Holdings Inc e a Dabur International Ltd. Essas empresas também fabricam
produtos químicos para relaxamento capilar e foram citadas nos processos
judiciais — mas não responderam aos nossos pedidos de comentários.
No
Brasil, para identificar se um alisante é seguro, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda que os consumidores verifiquem se a
embalagem do produto contém o número de Autorização de Funcionamento da Empresa
(AFE) e o número do processo (número de registro do produto). A consulta pode
ser feita no site da Anvisa.
Alisantes
sem registro estão irregulares, segundo a Anvisa, já que todos os alisantes
capilares, inclusive os importados, devem ser registrados.
Fonte:
Por Paige Neal-Holder e Kamilah McInnis, para BBC Newsbeat
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